Voltei a dormir na sala, por garantia. Não acho que Bella se lembre de tudo o que ela me disse no dia em que saímos para dançar.
As confissões secretas que eu não deveria contar para ninguém. Eu sabia que não era certo deixá-la falar naquele estado, dava para ver que ela nem estava se dando conta do que estava fazendo.
Ela confessou que se masturbou pensando em mim. Eu deveria ter ficado quieto, mas ao invés disso, perguntei onde ela estava quando se tocou.
Por que eu fiz isso? Para me torturar, aparentemente.
“Na sua cama, com a sua coberta e o seu cheiro. Você é tão cheiroso, eu sinto falta disso.”
Eu sei que eu devia só ter fingido que não ouvi, poderia ter mudado de assunto, feito qualquer coisa.
Meu Deus, o que acabou de acontecer?Dante ainda está sustentando seu sorriso convencido enquanto seu braço firme em minha cintura sustenta meu corpo.Não consegui nem fingir dessa vez, saí cambaleando do quarto, como se estivesse bêbada. Pelo menos ele teve a decência de não falar nada. Só me envolveu com carinho e me ajudou a chegar no hall do apartamento para recepcionar nosso primeiro convidado.Há funcionários ao nosso redor e preciso me lembrar de parecer confortável com toda essa mentira.Mas agora mesmo não tinha ninguém no quarto, ainda é uma mentira quando estamos só nós dois?Respiro fundo, tentando me acal
— É, não tem como essa noite ficar pior — meu pai murmura. — Está feliz, Alberto? Seu filho finalmente concorda com você em alguma coisa.— Você fala como se não tivesse cometido o mesmo erro — meu avô devolve a provocação.Franzo as sobrancelhas e meu pai tenta dispensar minha curiosidade gesticulando com as mãos.Enzo serve 4 doses de whisky e recebo seu pedido de desculpas silencioso. É o whisky que guardo no escritório para ocasiões muito especiais. Essa não é uma ocasião especial, mas algo forte é bem-vindo.— Não minta para mim, Dante. Se eu vasculhar seus bolsos ago
Daniela serve duas taças de vinho como se não se importasse de colocar ela mesma a mão na massa. Na verdade, pensando bem, acho que nunca se importou, eu que nunca tinha reparado.A vida era bem diferente e minha atenção estava sempre em outras coisas, na maior parte do tempo estava em seu filho, essa é a verdade. Mas eu também percebia o mundo de outra maneira, sem tanta consciência de classe, talvez.— Sei que você já sabe disso, mas sinto a necessidade de avisar… — ela diz, me entregando uma das taças. — Não vai ser fácil.— Eu sei… — murmuro desanimada.Tomo fôlego para dizer mais alguma coisa, tomada pela ânsia de desabafar
Fico dividido entre querer matar Enzo ou ser eternamente grato. Acho que se ninguém intervisse, eu acabaria fazendo merda.Isabella fraca daquele jeito nos meus braços, era exatamente como eu me lembrava, o jeito entregue com que ela cedia quando eu tocava o ponto certo. E dessa vez eu nem tinha tocado nela.Quer dizer, tinha, mas não do jeito que eu gostaria.E, por Deus, como quero tocá-la.Mas passamos o jantar inteiro tentando ser sociáveis e contidos. Por mais que Bella ainda não consiga desapegar completamente do rancor e do ciúme, quando nossos olhares se cruzam, ela parece esquecer os motivos pelos quais está irritada comigo.É assim que sobrevivemos ao ja
Suas mãos envolvem meu corpo, parecem estar em todos os lugares. É tão irritantemente familiar, como se elas nunca tivessem me deixado, como se por uma fração de segundos estivéssemos continuando de onde paramos.Ou melhor, como se isso que a gente tem, esse calor que nos torna uma coisa só, essa sincronia como se fosse uma dança antiga, uma coreografia do universo… é como se isso nunca tivesse acabado.Deixo meus dedos se embrenharem em seu cabelo, os cachos largos e macios fugindo revoltos por entre meus dedos. A aliança pesando uma tonelada.O frio no meu estômago começa a se alastrar pelos ossos, alcançando as extremidades e me dei
O cheiro de café requentado se mistura ao som do telefone tocando insistentemente no balcão de metal, as vozes falam todas ao mesmo tempo, formam um zunido constante e desconfortável, como se fosse um enxame de insetos.Meu celular vibra no bolso da calça, mas respiro fundo e ignoro tudo enquanto equilibro uma bandeja cheia de xícaras e pratos sujos.O café onde trabalho está lotado nesse fim de tarde e meu chefe, Olavo, um homem baixinho e rabugento, já está bufando impaciente atrás do balcão.— Isabella, se demorar mais um segundo, os clientes vão ter que comer os guardanapos! — resmunga, deslizando outro pedido na minha direção.Respiro fundo, conto mentalmente até três e forço um sorriso simpático.— Eles sabem que sua comida vale a pena esperar, chefe.Ele quase sorri com orgulho, mas deve ter algum código de conduta pessoal que o impeça de ser querido pelos funcionários, o mais perto que consigo de sua simpatia é ser ignorada. O que pode significar que não estou fazendo nada err
Odeio pensar que talvez Enzo esteja certo: estou ficando velho. Minhas ressacas estão se tornando cada vez mais insuportáveis.Aperto os olhos puxando as memórias da noite passada, mas tudo se embaralha. O despertador toca, mas o que me desperta é a mão quente e macia no meu peito.Espio para confirmar que trouxe duas mulheres para casa, e elas sorriem entre si, depois para mim, rastejando pela cama, cada uma cobrindo uma lateral do meu corpo. Tento alcançar o celular para desativar o toque irritante do alarme. Só quando meu dedo tateia a tela onde deveria estar o botão é que percebo que, na verdade, estou recebendo uma chamada.Alberto Vasconcellos só me liga para duas coisas: desejar parabéns e arrancar meu couro. Digamos que hoje não é meu aniversário…Dispenso as meninas, contornando a situação para não ter que citar o nome de nenhuma das duas, já que não lembro quais são. Bebo um litro inteiro de água e lavo o rosto na água fria da pia do banheiro.Abro as redes sociais e mergulh
Entro no apartamento sem me dar o trabalho de acender as luzes. A luz da TV na pequena sala de estar ilumina o rosto pálido e ossudo de meu pai. Seu olhar está fixo na tela, mas não de um jeito concentrado, só de um jeito… vazio.— Oi, pai. — Tento forçar uma simpatia na voz, uma falsa felicidade por estar de volta nesse muquifo apertado e mofado.Como se fosse uma recompensa chegar em casa e encontrar meu pai, que nem levantou do sofá o dia inteiro, porque é como se já fossem uma coisa só, fundidas num ranço de depressão e descaso.Sinto a culpa me consumir quando penso nisso e me repreendo mentalmente.— Você comeu alguma coisa? — pergunto, tirando os sapatos perto da porta e largando as sacolas do mercado em cima do pequeno balcão da cozinha.Nada.Solto um suspiro cansado, aprendi a me acostumar com seu silêncio. Quase não me lembro mais do homem forte que ele costumava ser, um líder nato. O que me sobrou foi um homem pálido, apático, uma versão desgastada do homem que eu admirava