Eu não achei que os hormônios da gravidez agissem tão cedo, mas tem sido um exercício e tanto tentar manter o controle das minhas próprias emoções.
Quando notei que meu plano de despedida com Dante não daria certo, entrei em colapso, só o que conseguia fazer era chorar. Foram dias até me recuperar da frustração.
E agora um envelope repousa sobre a mesa de jantar recém-adquirida. O brasão dos Vasconcellos estampado no canto superior esquerdo brilha sob a luz da manhã e meu coração martela no peito.
Mesmo que eu esteja com a cabeça nas nuvens, ainda não estou ignorante a ponto de achar que esse convite é de Dante. O que só me deixa ainda mais angustiada, porque com certeza e
Nunca imaginei que ver essa casa sendo mobiliada pudesse me causar essa mistura de sentimentos. A entrada não é só mais um espaço vazio e caixas empilhadas. Há um vaso com flores frescas sobre a mesa de entrada e uma manta jogada casualmente sobre o sofá novo. Coisas pequenas e cotidianas, fazem parecer que alguém realmente vive aqui e que quer muito que o lugar se torne um lar.Pelo visto, Isabella está fazendo bom uso do cartão que dei para ela.Percebo alguns quadros nas paredes e me surpreendo a ver que entre eles, algumas fotos ocupam espaço. Fotos nossas, algumas antigas, outras atuais. Estou tão absorto pela visão que nem ouço seus passos, só me surpreendo quando ela diz:— Achei que alguém poderia m
Não é que eu não esteja nervosa, mas acho que eu não deveria estar tão calma.O salão parece diminuir quando Alberto se aproxima, com seu sorriso quase afável, estendendo a mão primeiro para Dante, que a aperta com relutância. Depois para mim, com seu toque seco, mas firme.— Isabella — ele diz. — Que prazer vê-la aqui. Eu temia que você estivesse… indisposta.Fecho a mão em punho disfarçadamente, só para conter a vontade de proteger meu ventre. Ele não pode estar falando disso. Ninguém sabe disso, eu não fui nem ao médico ainda, por medo de ele estar me investigando e descobrir, sei que isso seria um trunfo e tanto para ele me manipular. A música já se tornou ruído de fundo, misturado às vozes, taças tilintando e passos sobre o mármore. Tudo misturado numa coisa só, do tipo que mais atrapalha do que ajuda, embaralhando meus pensamentos e tirando minha concentração.Meu olhos percorrem o salão pela décima vez em menos de cinco minutos e nada de Isabella. Onde foi que ela se meteu?Reconheço o garçom que nos serviu logo que chegamos e arrisco perguntar se ele viu minha esposa. Ele responde que não, mas não sei se foi só por educação ou por não ter prestado atenção o suficiente em nós.Puxo o celular do bolso e mando uma mensagem, mas ela nem recebe. Tento ligar e cai direto na caixa postal. Meu peitoCapítulo 106 - Dante Vasconcellos
Assisti pacientemente, e angustiada, a pasta do “Conselho administrativo” ser acessada como se o computador tivesse vida própria. Vi documentos financeiros, mapas de fusão, processos em andamentos, e-mails trocados com advogados, termos comprometedores e palavras chaves suspeitas como: neutralizar oposição, obstrução de fiscalização ou estratégia de aquisição silenciosa, seja lá o que isso signifique.Tento filmar o que posso com meu celular, mas não há sinal nenhum aqui para que eu envie as provas para Maicon e Enzo, ou pelo menos suba os arquivos na nuvem.Meu sinal com certeza foi bloqueado manualmente, quanto mais tempo passo nessa sala, mais percebo que é a gaiola da armadilha perfeita. Não há nenhuma rota de fuga, a varanda, a
O cheiro de café requentado se mistura ao som do telefone tocando insistentemente no balcão de metal, as vozes falam todas ao mesmo tempo, formam um zunido constante e desconfortável, como se fosse um enxame de insetos.Meu celular vibra no bolso da calça, mas respiro fundo e ignoro tudo enquanto equilibro uma bandeja cheia de xícaras e pratos sujos.O café onde trabalho está lotado nesse fim de tarde e meu chefe, Olavo, um homem baixinho e rabugento, já está bufando impaciente atrás do balcão.— Isabella, se demorar mais um segundo, os clientes vão ter que comer os guardanapos! — resmunga, deslizando outro pedido na minha direção.Respiro fundo, conto mentalmente até três e forço um sorriso simpático.— Eles sabem que sua comida vale a pena esperar, chefe.Ele quase sorri com orgulho, mas deve ter algum código de conduta pessoal que o impeça de ser querido pelos funcionários, o mais perto que consigo de sua simpatia é ser ignorada. O que pode significar que não estou fazendo nada err
Odeio pensar que talvez Enzo esteja certo: estou ficando velho. Minhas ressacas estão se tornando cada vez mais insuportáveis.Aperto os olhos puxando as memórias da noite passada, mas tudo se embaralha. O despertador toca, mas o que me desperta é a mão quente e macia no meu peito.Espio para confirmar que trouxe duas mulheres para casa, e elas sorriem entre si, depois para mim, rastejando pela cama, cada uma cobrindo uma lateral do meu corpo. Tento alcançar o celular para desativar o toque irritante do alarme. Só quando meu dedo tateia a tela onde deveria estar o botão é que percebo que, na verdade, estou recebendo uma chamada.Alberto Vasconcellos só me liga para duas coisas: desejar parabéns e arrancar meu couro. Digamos que hoje não é meu aniversário…Dispenso as meninas, contornando a situação para não ter que citar o nome de nenhuma das duas, já que não lembro quais são. Bebo um litro inteiro de água e lavo o rosto na água fria da pia do banheiro.Abro as redes sociais e mergulh
Entro no apartamento sem me dar o trabalho de acender as luzes. A luz da TV na pequena sala de estar ilumina o rosto pálido e ossudo de meu pai. Seu olhar está fixo na tela, mas não de um jeito concentrado, só de um jeito… vazio.— Oi, pai. — Tento forçar uma simpatia na voz, uma falsa felicidade por estar de volta nesse muquifo apertado e mofado.Como se fosse uma recompensa chegar em casa e encontrar meu pai, que nem levantou do sofá o dia inteiro, porque é como se já fossem uma coisa só, fundidas num ranço de depressão e descaso.Sinto a culpa me consumir quando penso nisso e me repreendo mentalmente.— Você comeu alguma coisa? — pergunto, tirando os sapatos perto da porta e largando as sacolas do mercado em cima do pequeno balcão da cozinha.Nada.Solto um suspiro cansado, aprendi a me acostumar com seu silêncio. Quase não me lembro mais do homem forte que ele costumava ser, um líder nato. O que me sobrou foi um homem pálido, apático, uma versão desgastada do homem que eu admirava
— Como requisito indispensável à manutenção da condição de herdeiro legítimo blablablá o beneficiário deverá contrair matrimônio com e manter o vínculo conjugal pelo período mínimo de doze meses a contar da data da celebração da união civil.— Eu sei, eu já li — murmurei, afundando no sofá de couro.— Não terminei — meu melhor amigo, Enzo, ralha. — Durante a vigência do matrimônio, o beneficiário deverá preservar a integridade e a reputação pública do nome Vasconcellos, abstendo-se de condutas que possam comprometer a imagem da família ou da empresa, direta ou indiretamente.— Traduzindo: um marido não vai pra balada, não traí, não bebe, não trepa…— Trepa com a esposa pelo menos.— Que esposa? Você acha mesmo que eu vou conseguir seguir qualquer coisa que esteja aí? — Minha voz sai mais aguda do que eu gostaria.Passei o dia inteiro pensando nisso. Ou mais especificamente, pensando em como me livrar disso.— Seria mesmo tão ruim eu recusar? Eu ainda teria as coisas que estão no meu n