sem revisão
Pedro aumentava o aperto em volta da namorada a medida que ela avançava em seu relato. Ele queria matar os patrões e os sogros. Queria matar qualquer um que ousou pensar, em afasta-lo do amor da sua vida, jamais permitiria que os separassem, ficariam juntos para sempre.
– O Miguel já marcou a data do casamento tanto no civil como no religioso. – ela fala entre soluços. – Nem sequer me consultaram e meus pais... Não consigo entender porque eles concordaram com isso sabendo o quanto nos amamos e o quanto isso acabaria conosco. – Jojo afundou o rosto no peito magro do namorado.
Quando ela começou a falar sobre o acordo entre as famílias, ele realmente acreditou que poderiam sentar com Miguel e seu Maciel para explicar a situação, eles passaram quase a vida toda juntos e não poderiam se separar agora por causa de um capricho de dois velhos idiotas, mas agora que sua namorada terminou de falar, percebeu que não tinha conversa. Simplesmente estavam impondo a ela algo que Joice não queria.
– Ainda tem o jantar de noivado na sexta. – ela lembra.
Pedro pediu a Kevin mais cedo aquele dia, pra levar um recado para sua namorada pois estava muito preocupado com a crise de choro da madrugada. Agora, depois de quase uma hora ele compreendia. Se sentia tão desesperado e perdido quanto ela, sabia que Joice amava muito sua família mais eles também se amavam incondicionalmente, eram almas gêmeas.
– Acha que podemos chegar a um acordo ou terei que simplesmente me recusar a continuar com essa história? – ela pergunta.
– Acredito que não vai ter acordo, se fosse assim eles teriam feito isso quando sua irmã fugiu com o circo. – o rapaz responde. – Foi o que pensei. – Joice já havia tomado sua decisão e não voltaria atrás, porém ela não conseguia parar de pensar nos pais.
– Vamos embora, pra bem longe de Santa Maria. – ele declara.
Se ficassem, jamais teriam paz na vida.
– E a sua família? – Jojo pergunta preocupada, assim como ela, seu namorado era muito apegado aos pais, além de ser filho único.
– Eles entenderão, eu sei disso. – Pedro não pareceu muito seguro disso.
Joice se afasta um pouco e o olha orgulhosa, ela sabia que seu amor não a abandonaria e que jamais aceitaria que fossem separados de maneira brusca e injusta. Ela põe uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha, sorrindo e o beija, o abraçando em seguida.
– Até amanhã a noite eu resolvo isso. – ele fala beijando o pescoço da namorada.
– Meu amor, porque não vamos embora hoje? Agora? – ela pergunta desesperada.
– Tem razão, seus pais podem desconfiar e acabar trancando você até o dia do casamento, não podemos correr riscos. Vamos embora hoje a noite.
Joice não voltou para o trabalho, foi para casa e alegou que estava se sentindo mal. Trancou-se no quarto e começou a arrumar apenas o necessário.
Era um absurdo duas pessoas adultas fugirem no meio da noite como dois adolescentes. Mas a atitude de Miguel ao marcar o jantar de noivado e data do casamento sem nem ao menos falar com ela deixou bem claro que não havia outra escolha, se ficasse e se recusasse a casar, jamais teria sossego de novo.
Ir pra Belém era a melhor opção, ela teria uma chance num escritório administrativo e Pedro, poderia abrir seu próprio consultório veterinário. Eles tinham suas economias e poderiam construir um pequeno negócio, daria tudo certo...
Para a surpresa de Joice, no início da tarde sua mãe bateu na porta do seu quarto desesperada.
– Anda garota, abre logo essa porta. – ela ordena. – Maciel e Miguel estão aqui, querem falar com você.
Joice ficou parada de frente para a porta, o coração batendo acelerado.
– Mande-os embora, não quero falar com eles e com ninguém, além do meu irmão e do meu... Ouviu bem mãe, Meu noivo, Pedro. – ela fala furiosa.
– Minha filha, por favor. Não faça isso com sua família, Joice... Abre essa porta, talvez se você explicar a situação, eles decidam se compadecer de nós e abrir mão desse acordo. – sua mãe tenta convencê-la mentindo na cara dura.
– Miguel já marcou a data do casamento, nem ao menos teve a decência de falar comigo e saber a minha opinião, acha mesmo que ele vai ligar para o amor que sinto pelo Pedro? Mande-os embora e diga que não vai haver casamento. – ela pede com a alma em pedaços, pois estava condenando sua família a ruína.
Dona Raimunda segurava a maçaneta da porta com força, aquilo não podia está acontecendo de novo...
Miguel escutou a desculpa esfarrapada da futura sogra em silêncio.
– Realmente sinto muito mas... Está sendo difícil pra ela toda essa situação. Veio cedo do trabalho pois estava se sentindo mal, aposto que sua cabecinha está quase para explodir.
Maciel estava contrariado e deixou bem claro isso.
– Eu avisei a vocês para não deixarem esse namorico dela com o veterinário durar muito tempo e muito menos esconder dela o noivado com meu filho. Temos um acordo e sabe muito as consequências se não o cumprirem. – o velho Foster estava cansado e ainda tinha que lhe dá com a birra de uma mulher mimada que acreditava no amor, ele mesmo casou com a esposa devido a um acordo entre suas famílias.
Miguel permaneceu calado, era nítido que Joice não se casaria com ele e isso pouco importava. No entanto, seu pai estava dando os primeiros sinais de velhice e ele se recusaria a se aposentar e passar o controle de tudo para o filho sem que este estivesse casado com a mulher do seu agrado e ao que parecia, as mulheres da família Bentes eram essas mulheres.
– Eu vou falar com ela. – Miguel fala perdendo a paciência e se ela continuasse irredutível, faria o pai fazer valer as consequências da quebra do acordo.
– Acho melhor não, sugiro esperar meu marido voltar, ele foi buscar nosso filho na rodoviária. – a mulher estava aflita e para piorar, escutou um trovão. Sinal de que cairia um temporal.
Joice percebeu que o céu escureceu rapidamente, pegou suas coisas e jogou pela janela. Desceria pela ameixeira que fica bem de frente a janela do seu quarto. Orou a Deus para que os galhos suportasse seu peso. Mas antes mandou uma mensagem para Pedro avisando que estava de saída, ela recebeu outra com instruções para que o encontrasse no início da estrada que levava para o rio, onde havia um barco os esperando.
Claro, se viajassem pela estrada seriam alcançados rapidamente, concluiu Joice. Ela subiu pela janela, rezou um pai nosso e pulou, agarrando-se ao galho, Jojo começou a se mover até ao tronco mas quando estava perto, o galho cedeu e caiu de bunda no chão. Pegou sua mochila e ao levantar, percebeu que havia dado mal jeito no tornozelo.
Escutou alguns peões vindo em sua direção e ela, aguentou a dor e se pôs a andar.
sem revisãoPedro já estava à sua espera, os olhos dela só faltaram entrar em órbita ao ver o barco que ele conseguiu, se é que aquilo poderia ser chamado de barco. Era um popopo, uma canoa com motor.– Não, não e não. – ela se negou a subir naquilo, seu namorado sabia o quanto ela tinha medo de entrar num troço daquele.Pedro se aproximou dela, segurou seu rosto e a beijou, depois que soltou sua boca, olhou bem em seus olhos e disse:– Confia em mim, vamos até o sítio do Clóvis, onde vamos passar a noite e bem cedo pela manhã... Vamos seguir caminho até a fazenda dois corações, papaia vai nos esconder no celeiro até que seja seguro chegarmos a rodoviária e pegar um ônibus até Belém e quando chegarmos lá, ninguém vai nos encontrar.Joice o abraçou com força, ela morria de medo de atravessar o rio em uma canoa, ainda mais com uma tempestade a caminho.– Podemos voltar e enfrentar meus pais e os Foster juntos, eles não podem me obrigar a fazer o que não quero. Posso aguentar as consequê
sem revisãoJoice se jogou na água e permitiu que a correnteza a levasse, desesperada, gritava a plenos pulmões pelo nome do seu amor enquanto as turbulentas águas do Santa Maria permitiam. O pânico de não conseguir enxergar Pedro a fazia gritar ainda mais, a fazendo engolir água e a engasgar, mas aquilo não foi o suficiente para fazê-la desistir de se fazer ouvir por seu amor. Ele deveria estar agarrado a algum galho, tronco ou qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a sobreviver aquele rio, não conseguia ouvi-la devido ao barulho da chuva e da correnteza do rio, por isso, em meio a tudo aquilo era precisava gritar, porque ele tinha que ouvi-la, ela precisava que ele a ouvisse. O corpo de Joice começou a cansar de lutar contra a correnteza e tudo o que ela conseguia pensar e sentir era desespero. Joice não estava conseguindo alcançar Pedro e nem sequer sabia para onde as águas o levaram...Na manhã seguinte, a chuva era apenas uma recordação, dando lugar a um novo dia repleto de nuvens b
sem revisãoFazia três dias que Jojo acordará atordoada no leito do hospital. Seu corpo doía até os ossos, sua visão estava turva e tudo indicava que tinha hematomas por todo o corpo, isso incluía o tornozelo machucado. No entanto, nem uma dessas coisas importou quando ela perguntou por Pedro.– Ele está bem? Se feriu muito? Posso vê-lo? – Joice perguntou aflita a mulher que via todas as manhãs de domingo, na igreja e que era uma das enfermeiras do hospital local.A enfermeira se compadeceu da paciente, os olhos aflitos, angustiados. Eles eram tão jovens e apaixonados, sentia muito pela tragédia que se abateu entre eles. Todos na cidade conheciam a história de amor de Pedro e Joice, todos ansiavam para testemunhar a união de casal tão estimado e agora… tudo o que a enfermeira poderia fazer era amenizar um pouco a situação, então, Edilene, disse que estavam a procura do rapaz e que logo, ele estaria ao lado dela, segurando sua mão e rindo sobre toda aquela situação que haviam se metido
sem revisão Na casa dos Fosters, a família estava reunida para o jantar. Salete esperava o momento oportuno para tocar no assunto que fora proibido a alguns dias, quando Meg implorou ao pai para financiar as buscas a Pedro, seu colega de infância.Miguel estava calado, aguardava o momento de assumir ambas as terras e somente depois, tomaria uma decisão referente a família Bentes. Talvez uma casa na cidade até se reerguer.Maciel estava pensativo, foram anos desejando e esperando o momento para essa união. Anos para não ter desculpas de estar com... Ele balançou a cabeça e despachou os pensamentos para longe. Seu filho era incapaz, não conseguiu que nenhuma das filhas de Vitor subisse ao altar com ele.– São nossos amigos, poderia dar mais um tempo a eles. – Salete finalmente toma a iniciativa para interceder pela família Bentes.O homem ignorou a mulher e quando a filha ia abrir a boca, virou-se para ela com um olhar de alerta. Margareth logo se calou e abaixou a cabeça. Era assim qu
sem revisãoJoice estava a mais de uma semana parada na frente da janela do seu quarto, olhando para o vazio, à espera da notícia que lhe devolveria o sorriso na face, que lhe devolveria a vontade de viver. A notícia que faria seu coração parar de doer. Não ter nenhuma notícia dele doía tanto em seu peito que ela sentia que poderia morrer de tanta dor, mas a esperança de que ele estava bem era o que a mantinha de pé e não permitia que desistisse, ela não poderia desistir, eles tinham a vida toda pela frente e muitos planos para realizar juntos.O pai e o irmão, estavam engajados na busca por Pedro e a mãe, lutava para que a filha comesse algo, Raimunda não suportava ver a filha parada na frente da janela do seu quarto desde que saiu do hospital, a espera de notícias de Pedro. Não adiantava, Joice não falava com ela e não se alimentava, a mulher pensava seriamente em levar a filha de volta para o hospital, ao menos para tomar um soro para se hidratar.A última vez que viu sua menina r
sem revisãoSeu Jacinto observava o corpo com atenção, desde que Bento levantará o lençol, o homem teve certeza que aquele corpo sem vida e completamente deteriorado, não era o seu filho. O policial estava de cabeça baixa, sem coragem de encarar o homem que sempre lhe estendeu a mão quando precisou.– O que é isso? – o idoso perguntou, apontando para o corpo na mesa fria.Bento não responde.– Esse não é meu filho, mesmo em estado de decomposição... Eu sei que não é meu filho. – O homem disse sem conseguir entender, Bento e ele são amigos. Pedro e ele eram amigos.– É o Pedro. – Bento afirma com a voz baixa.– Não, não é. – o idoso fala firme.O celular de Bento tocou e ao atender, ele olhou sério para o homem idoso.– Seu Jacinto, venha comigo. – ele pediu com a voz trêmula.Havia algo de muito errado - pensou o homem de pele parda, olhos meio puxados e cabelo liso de um negro bem vivaz. Neto e filho de índio, o homem foi criado longe de seu povo, sabia bem pouco de suas tradições ou
sem revisãoJoice estava parada em frente a janela do seu quarto, olhando para a estradinha que traria notícias de Pedro. Ela ficou parada lá, desde que retornou para casa. Não comia, nem bebia. Muito raro fazia sua higiene, somente quando Vinícius subia e a arrastava para o banheiro, a obrigando a tomar banho, lavar o cabelo, escovar os dentes. Era difícil para ele ver a irmã definhar, mas obrigá-la a tomar banho e a comer, além de ajudar nas buscas por Pedro era a única coisa que o rapaz podia fazer por ela. Infelizmente, não podia fazer passar a dor que sua irmãzinha sentia no coração.A moça ficava sempre no mesmo lugar, esperando por qualquer notícia do seu namorado. Aquele dia, um sábado.Foi o dia.Ela viu o carro do delegado surgir na pequena estrada de terra. Seu coração ficou em alerta, Joice não via Bento desde que esteve internada no hospital.Ao ver o carro estacionar, e de dentro sai seu sogro do lado do passageiro e Bento do lado do motorista, ela se animou. Sorriu espe
sem revisãoJoice se retraiu, parando à porta da casa dos sogros. Segurando firme o braço do irmão, como apoio. Sua respiração antes fraca e imperceptível, tornou-se pesada e acelerada, podendo ser ouvida por quem passasse por eles.- Não posso. – disse a Vinícius – Não estou pronta para dizer adeus. Me tira daqui, por favor. – ela pediu numa súplica que acabou com o irmão.Ele assentiu e a levou para a praça, que fica a uns metros dali.Vinícius a levou para sentar atrás de uma árvore, ao lado do coreto grande, para que pudessem ficar escondidos dos olhares curiosos de quem passava por eles, a caminho do velório de Pedro.- Vamos dar um tempo aqui. – o rapaz sugeriu, sentando ao lado da irmã.Ela assentiu, seu olhar estava vazio e distante.Joice deixou seus pensamentos vagarem nas lembranças de seu relacionamento com o noivo, na vida que planejou com ele, nos sonhos não realizados, na casa que não comprariam e não iriam mobiliar juntos. Pensou nos dias de casados que tanto ansiavam,