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sem revisão

Joice se jogou na água e permitiu que a correnteza a levasse, desesperada, gritava a plenos pulmões pelo nome do seu amor enquanto as turbulentas águas do Santa Maria permitiam. O pânico de não conseguir enxergar Pedro a fazia gritar ainda mais, a fazendo engolir água e a engasgar, mas aquilo não foi o suficiente para fazê-la desistir de se fazer ouvir por seu amor. Ele deveria estar agarrado a algum galho, tronco ou qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a sobreviver aquele rio, não conseguia ouvi-la devido ao barulho da chuva e da correnteza do rio, por isso, em meio a tudo aquilo era precisava gritar, porque ele tinha que ouvi-la, ela precisava que ele a ouvisse. O corpo de Joice começou a cansar de lutar contra a correnteza e tudo o que ela conseguia pensar e sentir era desespero. Joice não estava conseguindo alcançar Pedro e nem sequer sabia para onde as águas o levaram...

Na manhã seguinte, a chuva era apenas uma recordação, dando lugar a um novo dia repleto de nuvens brancas, um céu azul e límpido, iluminado pela luz do sol, um dia perfeito após uma noite chuvosa que fez as pessoas ficarem trancadas na segurança do seu lar, pedindo a Deus para que o rio não subisse muito para não alagar as casas e destruir tudo o que conquistaram com muito esforço. O pescador Camilo estava animado para iniciar o dia depois da tempestade da noite anterior, e se sentia otimista, dessa vez, apenas o seu cajueiro foi derrubado pela força da chuva e não teve nem um estrago na sua propriedade, apenas a árvore que teria que desgalhar e queimar. Foi para a margem do rio, onde seu pequeno barco estava ancorado. Seu cachorro carvão o acompanhava, ele sempre ia na pescaria com o dono. O cãozinho era muito esperto e danado, corria todo foguento a sua volta, até que pareceu sentir o cheiro de algo, o cão começou a latir e a farejar, saiu correndo em disparada para a margem onde parecia ter encontrado algo. Latiu a plenos pulmões até seu dono o alcançar e ver o que ele havia encontrado. Camilo exclamou ao ver uma mulher molhada, desacordada à margem do rio Santa Maria. Estavam na fronteira da cidade vizinha que levava o nome do rio que abastecia São Bento.

– Será que ela está morta? – o homem perguntou ao cachorro, que latiu e depois começou a cheirar a mulher.

– Acho que ela se afogou, mas... – ele se ajoelhou diante dela, pegou seu pulso e o sentiu, estava bem fraco. Notou os ferimentos no corpo inerte e quase sem vida da desconhecida. Pescou a sua vida toda naquele rio, morou a vida toda em São Bento, conhecia as pessoas que eram daquela terra e as que vieram de fora e aquela mulher, não era de sua cidade, o rio a levou até ali, como ainda estava viva? Aquilo com certeza era um milagre.

– Você vai ter que buscar ajuda essa mulher ainda tem chance de sobreviver. – Falou para o seu amigo de quatro patas, que latiu e saiu correndo, o homem entrou em desespero quando percebeu que segundos depois, a respiração fraca da moça parou. Ele olhou para a mulher, tão jovem e com a vida toda pela frente, não poderia permitir que ela morresse sem tentar ajudar. Entendeu que foi o poder divino que o fez encontrá-la, o homem sabia primeiros socorros.

Mas como um pescador, aprendeu os primeiros socorros para casos de emergência no rio? Fez isso alguns anos depois de perder um amigo afogado. Ele não perdeu tempo, ajeitou o corpo da moça de forma reta, depois inclinou sua cabeça para trás levantando seu queixo logo em seguida, apertou o nariz da moça com o polegar e o indicador de uma mão e com a outra mão abriu a boca dela. O homem respirou normalmente antes de colocar sua boca sobre a da mulher e começou a inflar ar para que chegasse aos pulmões da jovem.

Carvão que havia saído correndo, latiu para a primeira pessoa que encontrou, todo mundo conhecia o cachorro do pescador Camilo, então o homem baixinho, cabeça raspada e pele morena queimada pelo sol devido ao passar dias e dias sobre a proa de um barco jogando redes ao rio, gritou para uma criança que estava indo ao longe. A menininha parou e olhou para trás, era seu João.

– Chama ajuda, acho que aconteceu alguma coisa com o seu Camilo. – o homem gritou e apontou para o cachorro.

A garotinha entendeu e assentiu, saiu correndo em disparada para a casa mais próxima, a de dona Maria. Lá havia um telefone e a idosa saberia o que fazer.

O homem seguiu o cachorro e encontrou o pescador sobre alguma coisa ou melhor, sobre alguém.

– O que aconteceu? – João perguntou ao amigo.

O homem se afastou para tomar ar e respondeu:

– Carvão a encontrou, o rio a trouxe. – Então voltou a inflar ar para os pulmões da mulher que não reagia.

– Deixa eu te ajudar. – o homem fala...

A ambulância chegou meia hora depois, seu Camilo, carvão, seu João e a mulher estavam cercados por uma multidão de curiosos que ficaram sabendo através da menina que algo havia acontecido com o pescador Camilo. Todos se surpreenderam ao ver uma mulher deitada na terra enquanto os dois pescadores, João e Camilo tentavam reanimá-la. Eles não desistiram apesar dela não ter dado nenhum sinal de que aquele procedimento estava dando certo.

Os paramédicos abriram espaço entre as pessoas e pediram para os dois homens se afastar.

– Ela cuspiu água? – um deles perguntou.

Os dois homens negaram.

– Mas ela tem pulso, bem fraco mais tem. – Seu Camilo contou.

Os paramédicos deram continuidade ao salvamento da mulher desconhecida. Enquanto dois deles tomavam as medidas necessárias para salvar a vida dela, o terceiro verificava os bolsos da vítima e encontrou o RG da mulher, completamente encharcado, mas conseguiu ler o nome, mesmo embaçado. Joice Bentes.

Eles conseguiram, Joice deu sinal de vida e acabou vomitando parte da água que ingeriu quando estava no rio, mas logo perdeu a consciência. Os homens agradeceram aos dois pescadores. Eles a mantiveram viva até o socorro chegar.

– Vamos levá-la para o hospital de Santa Maria. – O paramédico avisa aos homens...

As buscas para encontrar Joice e Pedro entraram pela madrugada, Vitor Bentes acionou a polícia local e os bombeiros para sair a procura da filha. Ele tinha certeza que sua menina e o namorado haviam fugido pelo rio, se fosse pela estrada já teriam sido alcançados. Depois de um tempo encontraram destroços de um popopô (pequeno barco de madeira que funciona com motor) e mais adiante uma mochila flutuava nas águas agitadas do rio Santa Maria. Ele conseguiram pegar a mochila, havia roupas de homem, eram de Pedro.

– Pai? – Vinícius, que acompanhou o pai nas buscas o olhou assustado, aquilo não era um bom sinal.

– Que eles estejam bem, por favor Deus. – o homem pediu aflito, com medo de encontrar algum corpo boiando mais adiante.

– Tenta manter a calma pai. – o rapaz pediu, tentando não deixar o desespero tomar conta dele.

– Eu sou o culpado, não deveria ter feito esse acordo, colocado nossa família a mercê dos Fosters, suas irmãs... As duas... Eu não deveria ter concordado com esse absurdo, não quando... Sua irmã já havia entregado o coração a Pedro. – O homem estava arrependido, se ao menos pudesse voltar no tempo, mas Vitor sabia que não poderia voltar no tempo, não adiantava se arrepender das suas escolhas, aquilo não traria suas garotas de volta.

Naquele momento, Vinícius sentiu que era o único culpado por não ter alertado a irmã sobre as intenções dos pais. O acordo selado e a tentativa fracassada do pai de tentar ingressar em outro negócio, onde perdeu uma quantia exorbitante de dinheiro e que os afundou ainda mais em dívidas com os Fosters. Vinícius deveria tê-lo impedido e não foi capaz de fazê-lo, agora sua irmã poderia estar morta e era tudo culpa sua.

Voltaram para a terra firme tarde da noite, os celulares estavam fora de área e só quando se aproximaram da pacata cidade, o sinal de telefonia voltou. Não demorou a chegar diversas mensagens de textos da operadora, a maioria do mesmo número. Tanto para Vitor quanto para Vinícius haviam chamadas perdidas de dona Raimunda. O homem cansado e abatido retorna a ligação para esposa, que ao atender dá a notícia tão esperada.

– Joice foi encontrada.

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