sem revisão
Joice estava a mais de uma semana parada na frente da janela do seu quarto, olhando para o vazio, à espera da notícia que lhe devolveria o sorriso na face, que lhe devolveria a vontade de viver. A notícia que faria seu coração parar de doer. Não ter nenhuma notícia dele doía tanto em seu peito que ela sentia que poderia morrer de tanta dor, mas a esperança de que ele estava bem era o que a mantinha de pé e não permitia que desistisse, ela não poderia desistir, eles tinham a vida toda pela frente e muitos planos para realizar juntos.O pai e o irmão, estavam engajados na busca por Pedro e a mãe, lutava para que a filha comesse algo, Raimunda não suportava ver a filha parada na frente da janela do seu quarto desde que saiu do hospital, a espera de notícias de Pedro. Não adiantava, Joice não falava com ela e não se alimentava, a mulher pensava seriamente em levar a filha de volta para o hospital, ao menos para tomar um soro para se hidratar.A última vez que viu sua menina reagir, demonstrando assim que estava consciente, foi quando os sogros apareceram para uma visita. Ao perceber a aflição que tomou conta do rosto da filha, Raimunda pediu para os amigos de longa data voltarem em outro momento, a presença deles não fez bem a ela.– Mas, precisamos falar com ela. Saber o que aconteceu. – A sogra da filha disse em protesto. Ela só queria saber como foi os últimos momentos do filho, mesmo que em seu coração houvesse esperança. Ela estava se preparando para o pior.– Não estamos aqui para julgá-la, só queremos saber o que aconteceu antes do meu filho ser levado por Iara – o homem pediu com súplica.– Sinto muito – lamentou dona Raimunda.Sua filha não estava bem e por mais que entendesse o que os sogros queriam, ela não pôde permitir que permanecessem. A simples presença deles lhe causava angústia e com certeza a fazia se sentir culpada.O pai e o irmão, estavam engajados na busca por Pedro e a mãe, lutava para que a filha comesse algo. Não adiantava, Joice não falava com ela e não se alimentava, era desesperador ver sua filha naquele estado. O sentimento de culpa por ter compactuado com o que levou a sua menina naquela situação despedaçou o seu coração.– Por favor, Raimunda. Precisamos entender o que aconteceu! – A sogra da filha protestou.– Mas, minha filha está muito abalada com toda essa situação e vê-los agora, só vai piorar tudo. Voltem outro dia, sei que ela os receberá. – A mulher garantiu ao casal, era uma garantia que ela não tinha certeza, mas faria de tudo para que sua filha não sofresse ainda mais com toda aquela situação. – Tenho certeza que a mãe d’água não levou o filho de vocês, tenho certeza que ...– Não tente nos confortar. – Dona Jacilene pediu a mulher. – Você e seu marido são responsáveis por isso, na cidade... Todos já sabem o porquê minha nora e meu filho fugiram. - A mãe de Pedro acusou, furiosa, pela traição da mulher para com a própria filha. Não acreditava que uma mãe tivesse dito a coragem de vender o seu sangue.– Vocês mentiram para a sua filha por dinheiro, sequer devem sentir pelo desaparecimento do meu filho. Devem está felizes porque agora nada os impedem de obrigar Joice a se casar com o filho daquele homem. – Seu Jacinto acusa a mãe de sua nora. Ele também estava muito magoado, tudo aquilo era tão injusto.O homem abraçou a esposa e a levou para fora da casa. Sentia por sua nora não recebê-los, mas entendia o motivo. Ela tinha receio de encará-los, medo de ser acusada das piores coisas. Eles jamais fariam isso com aquela menina. Só queriam abraçá-la e dizer que estava tudo bem, que a amavam e nunca deixariam de amar, não importando se Pedro tivesse sobrevivido ou não.Os dias estavam passando e nada de Pedro ser encontrado, Vinícius e Vitor estavam exaustos e acabaram sucumbindo ao cansaço de dias sem dormir e comer direito. O homem mais velho também tinha a pressão do prazo para cumprir o acordo com os Fosters, era aterrador saber que todo o seu plano estava indo por água abaixo por causa daquela tragédia, ele não poderia obrigar a filha quando ela estava destruída e faltavam apenas dois dias para Maciel executar a posse das suas terras, caso sua filha não se casasse com Miguel.Quando voltou para a casa aquela noite, ordenou a esposa que começasse a empacotar suas coisas. A mulher assentiu, não tinha coragem de explorar a filha para fazer algo na situação atual. Joice estava devastada.No final do dia seguinte, Bento estava na porta da casa dos pais de Pedro, segurando firme seu boné da polícia. Respirou fundo e bateu a porta.– Bento, notícias do meu filho? – Seu Jacinto perguntou logo após abrir a porta e se deparar com o homem a quem confiava inteiramente. O homem que viu crescer e correr pelas ruas da cidade desde que usava cuias.– Sim. – o policial respondeu tenso. – Preciso que venha comigo. Encontramos um corpo...Aquilo não era real - pensou o idoso ao ouvir aquilo. Passou os últimos dias se preparando para aquela notícia e ainda assim, foi algo que o devastou. Seu filho, seu menino, seu sangue. Ele sabia que só teria que reconhecer o corpo do seu menininho para que Pedro fosse declarado morto e passasse a não existe mais para as pessoas a sua volta, para a sua amada que naquele momento estava esperando na janela de seu quarto por notícias do seu amor, sentiu o peito apertar ao entender que a notícia que Joice receberia iria destruir para sempre o seu coração. Aquela notícia iria destruir para sempre o coração da sua amada esposa que mesmo se preparando para aquela notícia, sua Jacilene não só ficaria devastada, parte dela também iria se perder, assim como ele tinha consciência que o mesmo aconteceria com ele, eles perderam uma parte importante de si. Afinal, ele era o seu único filho…sem revisãoSeu Jacinto observava o corpo com atenção, desde que Bento levantará o lençol, o homem teve certeza que aquele corpo sem vida e completamente deteriorado, não era o seu filho. O policial estava de cabeça baixa, sem coragem de encarar o homem que sempre lhe estendeu a mão quando precisou.– O que é isso? – o idoso perguntou, apontando para o corpo na mesa fria.Bento não responde.– Esse não é meu filho, mesmo em estado de decomposição... Eu sei que não é meu filho. – O homem disse sem conseguir entender, Bento e ele são amigos. Pedro e ele eram amigos.– É o Pedro. – Bento afirma com a voz baixa.– Não, não é. – o idoso fala firme.O celular de Bento tocou e ao atender, ele olhou sério para o homem idoso.– Seu Jacinto, venha comigo. – ele pediu com a voz trêmula.Havia algo de muito errado - pensou o homem de pele parda, olhos meio puxados e cabelo liso de um negro bem vivaz. Neto e filho de índio, o homem foi criado longe de seu povo, sabia bem pouco de suas tradições ou
sem revisãoJoice estava parada em frente a janela do seu quarto, olhando para a estradinha que traria notícias de Pedro. Ela ficou parada lá, desde que retornou para casa. Não comia, nem bebia. Muito raro fazia sua higiene, somente quando Vinícius subia e a arrastava para o banheiro, a obrigando a tomar banho, lavar o cabelo, escovar os dentes. Era difícil para ele ver a irmã definhar, mas obrigá-la a tomar banho e a comer, além de ajudar nas buscas por Pedro era a única coisa que o rapaz podia fazer por ela. Infelizmente, não podia fazer passar a dor que sua irmãzinha sentia no coração.A moça ficava sempre no mesmo lugar, esperando por qualquer notícia do seu namorado. Aquele dia, um sábado.Foi o dia.Ela viu o carro do delegado surgir na pequena estrada de terra. Seu coração ficou em alerta, Joice não via Bento desde que esteve internada no hospital.Ao ver o carro estacionar, e de dentro sai seu sogro do lado do passageiro e Bento do lado do motorista, ela se animou. Sorriu espe
sem revisãoJoice se retraiu, parando à porta da casa dos sogros. Segurando firme o braço do irmão, como apoio. Sua respiração antes fraca e imperceptível, tornou-se pesada e acelerada, podendo ser ouvida por quem passasse por eles.- Não posso. – disse a Vinícius – Não estou pronta para dizer adeus. Me tira daqui, por favor. – ela pediu numa súplica que acabou com o irmão.Ele assentiu e a levou para a praça, que fica a uns metros dali.Vinícius a levou para sentar atrás de uma árvore, ao lado do coreto grande, para que pudessem ficar escondidos dos olhares curiosos de quem passava por eles, a caminho do velório de Pedro.- Vamos dar um tempo aqui. – o rapaz sugeriu, sentando ao lado da irmã.Ela assentiu, seu olhar estava vazio e distante.Joice deixou seus pensamentos vagarem nas lembranças de seu relacionamento com o noivo, na vida que planejou com ele, nos sonhos não realizados, na casa que não comprariam e não iriam mobiliar juntos. Pensou nos dias de casados que tanto ansiavam,
sem revisãoTodos os olhares estavam voltados para a sua família, menos um, que estava imerso no retrato que pousava em cima do caixão. Até que o estouro de Jacinto, chamou a atenção dela. Miguel nunca se importou com quem seria sua esposa, até aquele momento. Desejou que fosse qualquer uma da cidade, menos Joice.O olhar de desprezo que destinou a eles causou-lhe arrepios. Ele tinha certeza que seria com esses olhos que teria que lidar depois de casados. Porém, aqueles olhos carregados de desprezo e dor, foram focados no seu pai, que ignorou por completo todos os murmúrios, olhares chocados e de desprezo, entrou na casa e foi até ao casal de idosos que ficaram ainda mais abatidos com a chegada da sua família. Seu pai estava louco, assim como ele por ter feito o que fez.Miguel voltou sua atenção para a futura esposa e notou que ela havia voltado para a posição que se encontrava quando entraram. Estava com a atenção para o porta retrato do namorado, perdida em alguma lembrança.Meg es
sem revisãoUm dia após o velório de Pedro…- Está folgado - Margareth comenta, ela tinha certeza que o vestido cairia perfeitamente no corpo da futura cunhada e não que fosse ficar frouxo.Sua mãe também notou que a nora perdeu peso. Salete conseguiu manter a boca fechada antes de comentar que o luto estava fazendo maravilhas para o peso de Joice, no entanto... Comentar as circunstâncias que as levou ali, na sala da moça. Não era conveniente.- Sua aparência está horrível, espero que a melhore até o dia da cerimônia. - Salete fala olhando para o reflexo de Jojo no espelho. Joice estava calada desde que Meg anunciou que estava lá para fazer os ajustes do vestido de noiva.- Claro, a aparência é tudo o que importa. - Jojo retrucou, odiando o que estava vendo a sua frente. O vestido de noiva dos sonhos, para o casamento de seus pesadelos.- Aparência é tudo. - a mulher confirma e, de súbito, deseja agradecer a ela por está salvando a sua família.Porém, não tinha certeza se deveria cont
Sem revisãoJoice pulou da janela para a árvore e com cuidado, desceu até ao chão. Seguiu direto ao o estábulo, encontrou sua égua na baía, afagou seu focinho e a selou. Depois a montou e saiu em disparada pelas terras da fazenda até chegar ao seu destino. À beira do igarapé da sua fazenda, ela desceu e soltou tucumã para pastar. Respirou fundo, tirou as botas e sentou-se à margem, permitindo que os pés mergulhassem na água gelada, inclinou o corpo para trás permitindo que a calmaria daquele lugar secreto penetrasse em seu corpo e a relaxasse. De olhos fechados, sentiu os raios solares que transpassam pelas árvores, atingindo seu corpo. Era um ritual de anos e ela sempre o fazia quando discutia com Pedro. Nem ele sabia do seu lugar secreto.Uma pessoa tinha conhecimento dele, pois essa pessoa a levou aquele lugar. Por isso Joice não corria o risco de ser descoberta, sua irmã estava bem distante para dizer o seu paradeiro.A uma hora, estava no seu quarto olhando a galeria do seu celul
Sem revisão– Tem certeza que vai confiar nele? – Vinícius perguntou, preocupado com o que a irmã acabou de relatar. – Não acredito que o patife pretenda construir uma fábrica nas nossas terras. Porquê não usa as dele? – o rapaz estava revoltado.– Não vou permitir que isso aconteça. Sei que ele não poderá tomar nenhuma decisão sem antes falar comigo, Miguel também precisa do meu consentimento para construir a fábrica e eu estou decidida a não dá-la. – Joice garantiu ao irmão.– Não deveria ter cursado medicina veterinária, deveria ter feito administração ou agronomia e assumido o controle das nossas terras. Mas, antes tudo estava encaminhado. Josiele ia casar, você optou por administração e eu, segui o meu sonho. – o rapaz lamenta.– Vêm cá. – Jojo o chama para a cama.Ela está sentada na beira.O rapaz senta no chão, de frente pra ela e deita a cabeça nas pernas grossas da irmã.– Me sinto um incapaz. – confessa. – Eu deveria te proteger, cuidar de você e não ao contrário. Pelos céu
Sem revisãoA igreja estava lotada, seu Jacinto, dona Jacilene, Joice e Vinícius ocupavam o primeiro banco da igreja. Os pais de Joice, ocupavam o segundo banco ao lado de alguns conhecidos. Todos os olhares estavam voltados para a moça de expressão triste, que se casaria naquela mesma igreja, na tarde seguinte.Joice sentia os olhares sobre ela e apesar de conhecer e adorar a maioria daquelas pessoas. Se sentia incomodada. Dona Jaci soluçava baixinho, o Padre Cristiano fez uma missa exclusiva para o seu filho, seu marido apertou a mão da mulher. Era nela que buscava forças para manter aquela mentira, pelo futuro deles.- Vai almoçar conosco? – a idosa pergunta a nora, na porta da igreja.- Claro. – a moça estreita ainda mais seu braço com o da mulher.- Joice, é seu último dia com a nossa família. Pensamos em fazer algo juntos. – sua mãe, que estava ao lado dela, fala num tom de protesto.- Depois mãe, agora eu vou com eles. – Joice rejeita a mãe.- Joice? – dona Raimunda chamou ao vê