sem revisão
Joice não conseguia dormir, passou parte da noite rolando de um lado para o outro na cama, pensando em uma solução, Queria correr para o colo do irmão e pedir ajuda. No entanto, Vini provavelmente não poderia fazer muita coisa. Apenas apoiá-la na sua decisão de não levar adiante esse casamento arranjado pelos pais.
Joice escutou sua janela sendo aberta, olhou a hora no celular que estava no criado mudo ao lado da cama, era 3h55. Ele não perdia a gostosa mania de entrar sorrateiramente no seu quarto, através da janela, no meio da noite. Sorriu ao ver Pedro se esgueirar para a cama, deitando ao seu lado e a puxando para si.
- Estava ansioso de mais para esperar até amanhã. O que seus pais falaram sobre o nosso casamento? - perguntou depois de beija-la com paixão e saudade.
Jojo travou, como dizer a ele que seus pais revelaram que a cinco anos ela estava prometida ao filho do patrão dele? Era tudo tão absurdo e inaceitável que no interior ainda existiam casamentos arranjados pelas famílias. Isso era tão século XVIII.
- Eles... - ela começou mas travou.
Escondeu o rosto contra seu peito magro e começou a chorar compulsivamente pela injustiça que estavam sendo vítimas.
- O que foi meu amor? Eles ainda acham que devemos esperar mais um pouco? - ele pergunta a apertando com força.
Joice não respondeu, continuou chorando.
- Vida, estou preocupado. O que aconteceu? - Pedro estava começando a ficar aflito com a falta de resposta da sua namorada.
- Eles não podiam, não podiam. - foi tudo o que ela disse e continuou a chorar, até seu corpo não suportar e então, Jojo adormeceu nos braços do namorado sem nem ao menos explicar-lhe o motivo do seu pranto.
Joice acordou junto com as galinhas, Genevieve tinha o péssimo hábito de subir na calha de cima do seu quarto e cantar Cocoricó. Estendeu o braço para o seu lado da cama e abriu os olhos, estava vazio.
Sorriu tristemente ao pensar no desespero do seu namorado em saber o motivo das suas lágrimas e a sua aflição em deixa-la antes do nascer do dia. Joice Não queria ir para o trabalhar, não estava com cabeça para lhe dar com o senhor Gurjão e muito menos correr o risco de esbarrar com o tio Maciel ou Miguel, este último duvidava que fosse possível. Ele jamais se rebaixaria a ralé, sempre foi assim, nunca se envolvia com os inferiores a si, ainda não compreendia o porquê aceitou esse acordo absurdo entre as famílias.
Se levantou, pegou sua toalha, saiu para o corredor e pra sua sorte, o banheiro estava livre...
Seu estômago roncou pela terceira vez e dessa vez mais alto. Seu Gurjão a olhou pelo canto dos olhos e ela afundou na sua cadeira, envergonhada. Saiu de casa sem tomar o café da manhã, estava fazendo birra para mostrar aos pais o quanto estava chateada com toda a situação que eles a envolveram sem o seu consentimento. Kevin, assistente do veterinário, no caso, de Pedro. Entrou no pequeno escritório e seguiu até ela, entregando-lhe um bilhete.
- Ele sabe que você só olha as mensagens de texto no seu intervalo. - o rapaz explica e se afasta, indo até Gurjão e falando algo para o velho administrador. Seu chefe franze o cenho e assente.
- Tenho que ir até a casa principal, parece que Miguel quer falar comigo. - o homem avisa com certa preocupação.
O homem não suporta o filho do seu patrão.
- Me ajuda a organizar uma papelada... - ele pede a moça.
No estábulo, Pedro está na baia de Thor, o examinando.
- Está tudo certo, o rapaz está em perfeita saúde e pronto para ser selado e montado por seu dono. - ele fala para o capataz da fazenda, Francisco.
- Tá bem. - o matuto fala. - Xavier, leva o Thor pra selar, o patrão quer montar agora pela manhã. - o capataz fala para um rapaz franzino que carregava feno para o celeiro.
Pedro sorriu, o velho capataz não tinha jeito. Avistou Kevin vindo em sua direção, com certeza entregou o recado com sucesso.
- Desculpa a demora, encontrei Nádia no caminho e ela pediu para dar um recado para o senhor Gurjão. - o rapaz explica.
- Não esquenta. Vamos, temos muito trabalho pela frente...
Como uma manhã que tinha tudo pra ser tranquila virou uma zona? Joice se perguntou.
Seu Gurjão ligou pra ela pedindo o pendrive onde havia documentos importantes salvos, Jojo deveria levar a casa principal, ela não encontrou o pendrive e acabou tendo organizar os documentos em papéis. Joice ainda não estava pronta pra enfrentar Miguel, então se agarrou a esperança de que Nádia pudesse entregar as pastas. Teve sorte e a mulher fez como ela pediu mas antes que pudesse colocar os pés pra fora da casa principal, foi abordada por ninguém menos que Salete Foster, mãe de Miguel.
- Isso sim é uma surpresa. - a mulher alta e esguia, de cabelo longo, negro e liso comenta polidamente.
Jojo nunca ia a casa principal desde que sua irmã fugiu. A mulher a olhou dos pés a cabeça e torceu a boca em desaprovação.
- Você precisa de uma dieta com urgência, senão seu vestido de noiva vai parecer mais uma capa de botijão. - fala como se mandar alguém fazer dieta fosse algo normal.
Joice sentiu o choque diante de tais palavras, esse era um dos motivos que sempre evitou a casa principal. Dona Salete sempre a ofendia, desde que era uma menina. Fazia tempo que Jojo não sabia o que era ser alvo de preconceito, sempre tão amada por sua família, bem querida por seus amigos e tinha Pedro, que sempre a amou do jeitinho que era.
- Eu tenho que voltar ao trabalho. - a moça fala na tentativa de se afastar da mulher.
- Que isso. Temos muito o que conversar e planejar, Miguel foi hoje bem cedo a igreja e ao cartório, conseguiu marcar ambos os casamentos para daqui a duas semanas. - a mulher revela.
Os olhos de Joice se arregalam, como assim marcaram a data de um casamento que nem sequer foi confirmado?
- Como?- pergunta sem acreditar.
- Vêm. - a mulher ignora a pergunta da futura nora. - Ia mesmo roubar você do seus afazeres para tirar as medidas do vestido de noiva e do vestido do jantar de noivado que vai ser nessa sexta. - dona Salete puxa Joice pelo braço e a leva para o ateliê de Meg.
Margareth está sentada em sua mesa, fazendo um desenho exclusivo para uma atriz italiana. Ela vai mandar o desenho por e-mail para que o Marceline o confeccione. Não se surpreendeu ao ver a mãe arrastando a noiva do irmão mas se surpreendeu ao ver o rosto pálido da futura cunhada. Ambas eram muito próximas quando crianças até Joice começar a namorar o Pedro, filho de um feirante.
- Você não mudou muito. - a moça fala olhando para Joice. - Não cresceu muito, exceto pelos lados. - comenta maldosa.
- Vou chamar Maria, minha nutricionista e ela vai passar uma dieta milagrosa para a Joice, agora preciso que tire suas medidas e desenhe os vestidos dela para sábado e o de noiva. - sua mãe fala autoritária.
- Já? - a garota pergunta para a mãe.
Como ela pretendia fazer Jojo emagrecer em duas semanas? Nem um milagre daria conta desse feito.
- Sim, seu irmão disse que não tem porquê adiar o inevitável. - Salete responde.
Joice está estagnada, ela não consegue falar. É do seu destino que as duas mulheres estão falando, da sua vida. Antes que as duas pudessem dizer mais alguma coisa saiu correndo sem se importar em ser taxada de maluca, acabou esbarrando em alguém mais isso não foi o suficiente pra fazê-la parar, estava desesperada de mais para se gentil...
Miguel entrou no ateliê, parou na porta e cruzou os braços acima do peito, olhando sério para as duas mulheres paradas olhando de uma para outra, perdidas. Esbarrou com a noiva e ela nem sequer olhou pra ele de tão aflita que estava, talvez nem o tenha reconhecido.
- O que aconteceu? - perguntou frio.
- Não sei, sua irmã ia tirar as medidas dela para os vestidos. - sua mãe responde.
- A senhora falou a ela que já marquei a data do casamento?- ele pergunta olhando fixo no rosto fino da mãe.
Só então a mulher entendeu, Joice até pouco tempo não sabia do seu noivado com o filho.
- Merda. - a mulher xinga para a surpresa dos filhos.
- O que foi? - Meg pergunta sem entender.
-Eu ia falar com ela hoje a noite, a senhora como sempre não pode esperar não é mesmo? - então se volta para a irmã. - Desenhe os vestidos e começa a confecção, até amanhã ela estará vindo tirar as medidas. -ordena.
Miguel da meia volta e sai do ateliê sem esperar pela resposta da mãe.
Joice correu sem olhar para trás, ela era uma covarde por não ter acabado com aquela farsa quando teve a chance, sentiu-se aliviada ao ver a trilha que levava para o rio. Só parou de correr quando estava na segurança da trilha, sua respiração estava acelerada, seu peito queimava e ainda estava sentindo aquela m*****a dor de veado. Se viu obrigada a parar e tomar fôlego, suas pernas também estavam acabadas, sua condição física em nada ajudou na sua fuga.
Depois de recuperar um pouco a energia, voltou a seguir pelo caminho que levava ao ponto de encontro com o seu amor. Sentou na grama e esperou, ela contaria toda a verdade a Pedro e que se dane seus pais, bastou uns minutos com as mulheres Foster e ela soube que aquele lugares aquela família jamais seriam a sua...
sem revisãoPedro aumentava o aperto em volta da namorada a medida que ela avançava em seu relato. Ele queria matar os patrões e os sogros. Queria matar qualquer um que ousou pensar, em afasta-lo do amor da sua vida, jamais permitiria que os separassem, ficariam juntos para sempre.– O Miguel já marcou a data do casamento tanto no civil como no religioso. – ela fala entre soluços. – Nem sequer me consultaram e meus pais... Não consigo entender porque eles concordaram com isso sabendo o quanto nos amamos e o quanto isso acabaria conosco. – Jojo afundou o rosto no peito magro do namorado.Quando ela começou a falar sobre o acordo entre as famílias, ele realmente acreditou que poderiam sentar com Miguel e seu Maciel para explicar a situação, eles passaram quase a vida toda juntos e não poderiam se separar agora por causa de um capricho de dois velhos idiotas, mas agora que sua namorada terminou de falar, percebeu que não tinha conversa. Simplesmente estavam impondo a ela algo que Joice n
sem revisãoPedro já estava à sua espera, os olhos dela só faltaram entrar em órbita ao ver o barco que ele conseguiu, se é que aquilo poderia ser chamado de barco. Era um popopo, uma canoa com motor.– Não, não e não. – ela se negou a subir naquilo, seu namorado sabia o quanto ela tinha medo de entrar num troço daquele.Pedro se aproximou dela, segurou seu rosto e a beijou, depois que soltou sua boca, olhou bem em seus olhos e disse:– Confia em mim, vamos até o sítio do Clóvis, onde vamos passar a noite e bem cedo pela manhã... Vamos seguir caminho até a fazenda dois corações, papaia vai nos esconder no celeiro até que seja seguro chegarmos a rodoviária e pegar um ônibus até Belém e quando chegarmos lá, ninguém vai nos encontrar.Joice o abraçou com força, ela morria de medo de atravessar o rio em uma canoa, ainda mais com uma tempestade a caminho.– Podemos voltar e enfrentar meus pais e os Foster juntos, eles não podem me obrigar a fazer o que não quero. Posso aguentar as consequê
sem revisãoJoice se jogou na água e permitiu que a correnteza a levasse, desesperada, gritava a plenos pulmões pelo nome do seu amor enquanto as turbulentas águas do Santa Maria permitiam. O pânico de não conseguir enxergar Pedro a fazia gritar ainda mais, a fazendo engolir água e a engasgar, mas aquilo não foi o suficiente para fazê-la desistir de se fazer ouvir por seu amor. Ele deveria estar agarrado a algum galho, tronco ou qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a sobreviver aquele rio, não conseguia ouvi-la devido ao barulho da chuva e da correnteza do rio, por isso, em meio a tudo aquilo era precisava gritar, porque ele tinha que ouvi-la, ela precisava que ele a ouvisse. O corpo de Joice começou a cansar de lutar contra a correnteza e tudo o que ela conseguia pensar e sentir era desespero. Joice não estava conseguindo alcançar Pedro e nem sequer sabia para onde as águas o levaram...Na manhã seguinte, a chuva era apenas uma recordação, dando lugar a um novo dia repleto de nuvens b
sem revisãoFazia três dias que Jojo acordará atordoada no leito do hospital. Seu corpo doía até os ossos, sua visão estava turva e tudo indicava que tinha hematomas por todo o corpo, isso incluía o tornozelo machucado. No entanto, nem uma dessas coisas importou quando ela perguntou por Pedro.– Ele está bem? Se feriu muito? Posso vê-lo? – Joice perguntou aflita a mulher que via todas as manhãs de domingo, na igreja e que era uma das enfermeiras do hospital local.A enfermeira se compadeceu da paciente, os olhos aflitos, angustiados. Eles eram tão jovens e apaixonados, sentia muito pela tragédia que se abateu entre eles. Todos na cidade conheciam a história de amor de Pedro e Joice, todos ansiavam para testemunhar a união de casal tão estimado e agora… tudo o que a enfermeira poderia fazer era amenizar um pouco a situação, então, Edilene, disse que estavam a procura do rapaz e que logo, ele estaria ao lado dela, segurando sua mão e rindo sobre toda aquela situação que haviam se metido
sem revisão Na casa dos Fosters, a família estava reunida para o jantar. Salete esperava o momento oportuno para tocar no assunto que fora proibido a alguns dias, quando Meg implorou ao pai para financiar as buscas a Pedro, seu colega de infância.Miguel estava calado, aguardava o momento de assumir ambas as terras e somente depois, tomaria uma decisão referente a família Bentes. Talvez uma casa na cidade até se reerguer.Maciel estava pensativo, foram anos desejando e esperando o momento para essa união. Anos para não ter desculpas de estar com... Ele balançou a cabeça e despachou os pensamentos para longe. Seu filho era incapaz, não conseguiu que nenhuma das filhas de Vitor subisse ao altar com ele.– São nossos amigos, poderia dar mais um tempo a eles. – Salete finalmente toma a iniciativa para interceder pela família Bentes.O homem ignorou a mulher e quando a filha ia abrir a boca, virou-se para ela com um olhar de alerta. Margareth logo se calou e abaixou a cabeça. Era assim qu
sem revisãoJoice estava a mais de uma semana parada na frente da janela do seu quarto, olhando para o vazio, à espera da notícia que lhe devolveria o sorriso na face, que lhe devolveria a vontade de viver. A notícia que faria seu coração parar de doer. Não ter nenhuma notícia dele doía tanto em seu peito que ela sentia que poderia morrer de tanta dor, mas a esperança de que ele estava bem era o que a mantinha de pé e não permitia que desistisse, ela não poderia desistir, eles tinham a vida toda pela frente e muitos planos para realizar juntos.O pai e o irmão, estavam engajados na busca por Pedro e a mãe, lutava para que a filha comesse algo, Raimunda não suportava ver a filha parada na frente da janela do seu quarto desde que saiu do hospital, a espera de notícias de Pedro. Não adiantava, Joice não falava com ela e não se alimentava, a mulher pensava seriamente em levar a filha de volta para o hospital, ao menos para tomar um soro para se hidratar.A última vez que viu sua menina r
sem revisãoSeu Jacinto observava o corpo com atenção, desde que Bento levantará o lençol, o homem teve certeza que aquele corpo sem vida e completamente deteriorado, não era o seu filho. O policial estava de cabeça baixa, sem coragem de encarar o homem que sempre lhe estendeu a mão quando precisou.– O que é isso? – o idoso perguntou, apontando para o corpo na mesa fria.Bento não responde.– Esse não é meu filho, mesmo em estado de decomposição... Eu sei que não é meu filho. – O homem disse sem conseguir entender, Bento e ele são amigos. Pedro e ele eram amigos.– É o Pedro. – Bento afirma com a voz baixa.– Não, não é. – o idoso fala firme.O celular de Bento tocou e ao atender, ele olhou sério para o homem idoso.– Seu Jacinto, venha comigo. – ele pediu com a voz trêmula.Havia algo de muito errado - pensou o homem de pele parda, olhos meio puxados e cabelo liso de um negro bem vivaz. Neto e filho de índio, o homem foi criado longe de seu povo, sabia bem pouco de suas tradições ou
sem revisãoJoice estava parada em frente a janela do seu quarto, olhando para a estradinha que traria notícias de Pedro. Ela ficou parada lá, desde que retornou para casa. Não comia, nem bebia. Muito raro fazia sua higiene, somente quando Vinícius subia e a arrastava para o banheiro, a obrigando a tomar banho, lavar o cabelo, escovar os dentes. Era difícil para ele ver a irmã definhar, mas obrigá-la a tomar banho e a comer, além de ajudar nas buscas por Pedro era a única coisa que o rapaz podia fazer por ela. Infelizmente, não podia fazer passar a dor que sua irmãzinha sentia no coração.A moça ficava sempre no mesmo lugar, esperando por qualquer notícia do seu namorado. Aquele dia, um sábado.Foi o dia.Ela viu o carro do delegado surgir na pequena estrada de terra. Seu coração ficou em alerta, Joice não via Bento desde que esteve internada no hospital.Ao ver o carro estacionar, e de dentro sai seu sogro do lado do passageiro e Bento do lado do motorista, ela se animou. Sorriu espe