Astor atravessou os corredores do castelo com passos medidos, as mãos cruzadas atrás das costas, a expressão impenetrável. O encontro com Lucian e Seraphine havia lhe dado muito em que pensar. A corte se agitava como um ninho de serpentes, e Elise era o epicentro de tudo.Se já não bastasse ser rainha, agora ela carregava dentro de si as vidas que decidiriam o futuro do reino.Ele parou diante da porta dos aposentos da rainha e, sem cerimônia, entrou. Elise estava sentada à beira da lareira, os olhos fixos nas chamas trémulas, mas ele não perdeu os pequenos sinais de cansaço que marcavam seu rosto. A pele ligeiramente pálida, os lábios pressionados num silêncio calculado.Ela sabia que ele viria.— De quantas visitas inesperadas terei de suportar essa noite? — Ela ergueu os olhos, o cansaço evidente, mas sua voz não fraquejou.Astor sorriu de lado e caminhou até a mesa, servindo-se de vinho sem pedir permissão. Ele girou o líquido escuro na taça antes de responder.— Quem sabe? Se for
O castelo nunca parecia silencioso. Mesmo em meio à noite, entre sussurros de criados e a vigília constante dos guardas, Elise sentia o peso do trono pressionando sobre seus ombros. Sentada diante da lareira em seus aposentos, seus dedos deslizavam distraídos sobre o ventre, onde crescia o futuro do reino.As palavras de Astor ainda ecoavam em sua mente. "Proteger você e os bebês." Uma promessa ou uma advertência? Conhecia bem o rei. Astor não era um homem que se movia sem propósito. Por que agora, de repente, demonstrava uma preocupação tão direta? Sempre soubera que os filhos que carregava seriam um ponto central de disputas, mas a forma como ele olhara para ela naquela noite sugeria algo mais profundo. Algo que talvez nem ele estivesse disposto a admitir.Uma batida leve na porta interrompeu seus pensamentos.— Entre — disse, sem desviar o olhar das chamas.Seraphine surgiu, sua presença sempre discreta, mas carregada de uma intensidade contida. A dama de companhia observou Elise p
Elise caminhava lentamente pelo salão de mármore, os dedos roçando a superfície fria da mesa ornamentada com mapas e documentos. A luz das tochas tremulava contra as paredes, lançando sombras longas e dançantes que pareciam ecoar os pensamentos que fervilhavam em sua mente. A corte estava inquieta, e ela sabia que a paz era apenas uma ilusão tênue, prestes a se estilhaçar. Ainda mais por conta dos acontecimentos da última reunião.Seraphine aguardava à sua frente, a postura impecável, os olhos tão expressivos quanto insondáveis. A mulher vinha se aproximando cada vez mais, sempre com palavras bem escolhidas e gestos calculados, como uma tecelã fiando sua influência sobre aqueles ao redor. Elise sabia que precisava manter-se em alerta, mas ainda dava corda para a jovem Lady provar a sua lealdade.— Minha rainha — Seraphine começou, sua voz sedosa, envolvente. — Há rumores correndo pelos corredores. Sobre sua segurança... e a de seus filhos.Elise ergueu o olhar, avaliando a mulher com
Os corredores do castelo eram frios e silenciosos, mesmo durante o dia. Elise atravessava-os com passos firmes, guiada por uma das damas de companhia que lhe fora enviada. O chamado da Rainha Viúva a surpreendera. Ninguém mencionava a mãe de Lucian e Astor abertamente. Ela se isolara no lado mais afastado do castelo anos atrás, sem sequer comparecer ao casamento dos filhos. Seu repentino desejo de ver Elise não podia ser por mero acaso.Lucian reagira com frieza ao saber do convite.— Se for, tenha cuidado. Minha mãe não fala sem motivo e nunca joga sem ter uma vantagem.Astor apenas sorriu de lado.— Ela é fascinante. Mas não espere afeto.O aviso de ambos ressoava na mente de Elise enquanto ela se aproximava das portas pesadas que levavam aos aposentos da Rainha Viúva. A dama de companhia fez uma reverência silenciosa antes de abrir a porta, deixando Elise entrar sozinha.A sala estava banhada por uma luz difusa, filtrada por cortinas de veludo púrpura. O cheiro de incenso e ervas p
O dia estava particularmente frio, e Elise envolveu-se melhor no manto antes de sair de seus aposentos. Havia algo inquietante no ar, mas ela escolheu ignorar essa sensação. Caminhou pelos corredores, distraída em seus próprios pensamentos, até que uma voz familiar a interrompeu.— Anda fugindo de mim, minha rainha? — Astor apareceu ao seu lado, com aquele sorriso presunçoso que ela conhecia bem.Elise ergueu uma sobrancelha, sem diminuir o passo. — Se estivesse fugindo, você não teria me encontrado tão facilmente.— Ah, então quer dizer que estou ficando bom nisso — brincou ele, acompanhando-a.Ela revirou os olhos, mas não conteve um pequeno sorriso. Desde a conversa com a Rainha Viúva, algo dentro dela parecia estar sempre alerta. No entanto, a presença de Astor tinha um efeito peculiar sobre ela, e ultimamente, ele parecia determinado a testar sua paciência.— Você tem se mantido ocupada — comentou ele, olhando-a de lado. — E distante.Elise suspirou. — Tenho muito com o que me pr
Lucian caminhava pelos corredores do palácio, seus passos ecoando no silêncio opressor da madrugada. A reunião com Elise e Astor havia sido um desastre. O olhar de fúria dela ainda queimava em sua mente, e ele sentia a tensão entre os três crescer a cada dia. Ela estava irada por Viktor ainda estar preso sob condições que ela considerava cruéis, e sua revolta transbordara em palavras afiadas, acusando-os de hipocrisia.Ele passou a mão pelos cabelos, exalando um suspiro pesado. Elise sempre fora teimosa, mas agora parecia mais convicta do que nunca. Desde que retornara, sua postura desafiadora havia se tornado mais intensa. E, para sua irritação crescente, Astor estava sempre por perto, absorvendo cada olhar e cada expressão dela com interesse descarado.Lucian não era tolo. Ele via a forma como Astor a olhava ultimamente. Não era apenas uma questão de casamento ou política—Astor a desejava, e Elise, mesmo sem perceber, estava começando a responder a essa aproximação.A ideia de outro
Lucian não gostava da forma como Elise insistia no assunto de Viktor. O desfecho daquele problema já deveria ter sido encerrado, mas ela parecia determinada a arrancar mais informações. A sala onde estavam parecia menor conforme a tensão aumentava, o olhar dela cravado nele como lâminas afiadas. Astor, ao lado, observava sem intervir, mas Lucian sabia que o outro rei também não gostava de ser questionado dessa maneira.— Quero detalhes. — Elise cruzou os braços, o olhar duro. — O que exatamente pretendem fazer com Viktor?Lucian expirou devagar, tentando manter o controle da própria paciência.— Ele será transferido para um local onde não possa mais representar uma ameaça.— E onde seria esse "local"? — A voz dela era fria, desafiadora. — E em que condições ele será mantido? Porque, pelo que ouvi antes, ele estava sendo tratado de forma deplorável enquanto eu estava livre. Isso me parece injusto.Astor recostou-se na cadeira, seus olhos brilhando com um interesse cauteloso. Ele não pa
O corredor estava silencioso, mas Elise sentia o peso da tensão no ar. Depois da discussão com Lucian e Astor sobre Viktor, ela precisava de respostas. A incerteza sobre o destino do homem que, de certa forma, ajudou em sua fuga a corroía. Por que ainda o mantinham preso? Por que as condições eram tão severas? Mais do que tudo, por que ela não podia intervir?Seus pensamentos estavam tumultuados quando alcançou os aposentos que dividia com os reis. Esperava encontrá-los ali, mas o lugar estava vazio. O cansaço pesava em seus ombros, mas sua mente estava longe do descanso. Decidiu esperá-los, mas não demorou para que sua paciência se esgotasse.Ao se virar para sair, a porta se abriu. Lucian entrou primeiro, com Astor logo atrás. O olhar do primeiro era intenso, enquanto o segundo trazia um meio sorriso no rosto.— Você está nos esperando? — perguntou Astor, fechando a porta atrás de si.— Quero respostas — disse Elise, cruzando os braços. — O que vai acontecer com Viktor?Lucian suspi