Os passos de Elise ecoavam pelo corredor enquanto ela seguia em direção aos aposentos reais, o coração batendo com uma intensidade que quase fazia seus joelhos fraquejarem. Apesar de todo o seu preparo mental, de todas as camadas de autodefesa que havia construído ao longo da semana, a ideia de compartilhar a noite com os reis era insuportável. Não pelo ato em si, mas pelo simbolismo. Era uma rendição. Um reconhecimento de que, por mais que tentasse, estava encurralada.Havia passado o dia anterior tentando se convencer de que não tinha outra escolha. Repassara as ameaças veladas, os olhares carregados de julgamento do conselho e os sussurros incessantes que circulavam pelo palácio. Mesmo o leve consolo do chá que tomava diariamente para inibir uma possível gravidez não era suficiente para acalmar o turbilhão em sua mente.Ao passar pelas portas maciças que levavam à câmara principal, foi recebida por um serviçal silencioso que indicou onde deveria esperar. A sala era ampla, com uma l
O sol da manhã penetrou pelas cortinas pesadas, iluminando os aposentos de Elise em tons dourados. Ela estava sentada na beira da cama, os dedos entrelaçados sobre o colo, enquanto fitava o chão de pedra com uma expressão indecifrada. A noite anterior ainda pesava em sua mente. Cada palavra, cada toque, cada silêncio compartilhado entre ela, Astor e Lucian parecia ter deixado marcas invisíveis em sua pele e em sua alma.O cheiro sutil do chá que havia tomado mais cedo ainda pairava no ar. Elise não se esquecia de sua rotina: garantir que não houvesse um herdeiro. O pensamento era sua única ancora, o único lembrete de que ainda possuía algum controle sobre o caos em que sua vida havia se tornado.Ela inspirou profundamente e levantou-se, caminhando até o espelho. Seus olhos estavam cansados, mas havia algo ali que se recusava a quebrar: sua determinação. "Não vou ceder mais do que o necessário", murmurou para si mesma, ajeitando os cabelos com dedos firmes. Precisava manter as aparênci
O amanhecer trouxe consigo uma luz pálida que mal conseguia atravessar as pesadas cortinas do quarto de Elise. Ela estava acordada há horas, encarando o teto ornamentado, os pensamentos girando em sua mente como folhas em um redemoinho. A noite anterior a havia deixado marcada, mas não da maneira que os reis ou o conselho esperavam. Seu corpo podia ter cedido, mas sua mente permanecia intacta, firme na determinação de escapar daquela prisão dourada.Levantou-se lentamente, os movimentos calculados. Ainda havia o chá para tomar. Com mãos experientes, preparou a infusão, o aroma das ervas familiares enchendo o quarto. Sentada à beira da cama, ela bebeu o líquido quente em pequenos goles, como se cada um deles reforçasse sua resistência interna. "Não vou ceder", murmurou para si mesma, como um mantra silencioso.A manhã prometia ser longa. A convocação do conselho ecoava em sua mente como um tambor incessante. Eles exigiriam respostas, controle, submissão. Elise sabia que aquele era um j
Lucian estava sentado em uma das varandas do castelo, a luz dourada do amanhecer banhando sua figura com um calor que ele raramente sentia. Sua mente, no entanto, estava longe de qualquer sensação de tranquilidade. As palavras ditas no conselho na noite anterior ecoavam em sua mente como uma melodia dissonante que ele não conseguia ignorar. Elise, a rainha que deveria trazer estabilidade ao reino, parecia ser tanto uma solução quanto um problema em potencial.Ele tamborilava os dedos contra o braço da cadeira, observando os jardins abaixo. Havia algo intrigante nela, algo que ele não conseguia desvendar completamente. Desde o início, a postura de Elise era desafiadora, mas também estratégica. Ela não era apenas uma jovem assustada jogada em um ninho de cobras; era alguém com um propósito. E esse propósito o preocupava tanto quanto o fascinava.Astor entrou na varanda com passos firmes, interrompendo os pensamentos de Lucian. O irmão, como sempre, parecia uma força da natureza, carrega
Lucian sempre acreditara que sua maior arma era a mente. Diferente de Astor, cuja força física e determinação o tornavam um líder formidável, Lucian confiava em sua astúcia e habilidade de enxergar o que os outros não viam. Mas ultimamente, o jogo político do conselho e as ações enigmáticas de Elise estavam tirando-o do eixo. Ele não admitiria para ninguém, mas a presença dela o desestabilizava de um modo que nenhum oponente jamais conseguira.Naquela manhã, ele estava em seu escritório particular, cercado por relatórios, mapas e cartas codificadas. O sol invadia o ambiente através das janelas altas, mas a luz não parecia dissipar a escuridão crescente em sua mente. Ele passara a noite revisando informações sobre os movimentos dos conselheiros. Pequenos detalhes começavam a formar um quadro inquietante: reuniões realizadas em horários não oficiais, trocas de correspondências entre membros que raramente se falavam, e, mais alarmante, a ausência de alguns nomes em ocasiões estratégicas.
Os dias seguintes no castelo eram envoltos em uma atmosfera de crescente inquietude. Elise sentia que os corredores estavam mais silenciosos, mas, paradoxalmente, o silêncio parecia ecoar com murmúrios invisíveis. Servos apressavam-se em suas tarefas, desviando os olhos sempre que ela passava, enquanto guardas pareciam mais atentos, como se esperassem por algo iminente. Elise não era tola; sabia que algo estava em movimento, algo que fugia de seu controle. E isso a deixava desconfortável.Naquela manhã, ao caminhar pelo jardim do castelo, Elise avistou Lucian ao longe, encostado em uma das colunas de pedra, com os olhos fixos no horizonte. Ele parecia distante, o maxilar tenso, e as sobrancelhas franzidas denunciavam pensamentos que ele claramente não compartilharia facilmente. Decidida, Elise aproximou-se com a confiança de quem sabe manipular situações, mas também com a curiosidade genuína de quem quer compreender as peças de um tabuleiro em constante mudança.— Está cedo para tanta
A porta do quarto de Elise foi aberta com um estrondo, fazendo o chá em sua mão tremer. Ela mal teve tempo de reagir antes que os reis, Astor e Lucian, ultrapassassem os limites como uma tempestade, com expressões de fúria e determinação. Os guardas ficaram postados do lado de fora, garantindo que ninguém interrompesse ou que estivesse prestes a acontecer.Elise Congelou. Por um momento que pareceu durar uma eternidade, ela olhou para o chá, depois para Astor e Lucian. Não havia saída fácil.— Isso… é só chá. — Sua voz, normalmente firme, tão frágil, quase inaudível.— Não minta para nós! — trouxe Astor, cruzando os braços com força, como se isso fosse um impedimento de avanço. Seus olhos azuis, gélidos como o inverno, eram capazes de cortar qualquer defesa. — Sabemos o que foi feito, Elise. Você tem sabotado o reino, nosso legado! Não é só desonesto, é traição!O sangue de Elise gelou com a palavra "traição". Ela sabia o peso que isso carregava.— Traição? — sua voz recuperou algum v
Os dias que se seguiram ao confronto foram insuportáveis para Elise. Cada passo pelo castelo parecia ecoar pelas paredes, como um lembrete cruel de que tudo ao seu redor estava desmoronando. As investigações sobre o chá estavam em andamento, conduzidas sob ordens diretas de Lucian e Astor, além de supervisionadas de perto pelo conselheiro real. E Elise estava, confinada aos aposentos sob vigilância constante, mal conseguia dormir ou comer.Na noite que marcou o quarto dia desde o incidente, o resultado chegou. Lucian encontrou-se com Astor em uma sala reservada, os dois rostos tensos com o peso da verdade que carregavam.Lucian deslizou o pergaminho lacrado para Astor, mas foi o primeiro a falar. — Os resultados são claros. — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — O chá realmente contém propriedades contraceptivas. Elise estava, de fato, tentando evitar uma gravidez.Astor abriu o pergaminho com força, sua mandíbula cerrada. Ele não disse nada por um momento, os olhos fixos no va