Lucian estava sentado em uma das varandas do castelo, a luz dourada do amanhecer banhando sua figura com um calor que ele raramente sentia. Sua mente, no entanto, estava longe de qualquer sensação de tranquilidade. As palavras ditas no conselho na noite anterior ecoavam em sua mente como uma melodia dissonante que ele não conseguia ignorar. Elise, a rainha que deveria trazer estabilidade ao reino, parecia ser tanto uma solução quanto um problema em potencial.Ele tamborilava os dedos contra o braço da cadeira, observando os jardins abaixo. Havia algo intrigante nela, algo que ele não conseguia desvendar completamente. Desde o início, a postura de Elise era desafiadora, mas também estratégica. Ela não era apenas uma jovem assustada jogada em um ninho de cobras; era alguém com um propósito. E esse propósito o preocupava tanto quanto o fascinava.Astor entrou na varanda com passos firmes, interrompendo os pensamentos de Lucian. O irmão, como sempre, parecia uma força da natureza, carrega
Lucian sempre acreditara que sua maior arma era a mente. Diferente de Astor, cuja força física e determinação o tornavam um líder formidável, Lucian confiava em sua astúcia e habilidade de enxergar o que os outros não viam. Mas ultimamente, o jogo político do conselho e as ações enigmáticas de Elise estavam tirando-o do eixo. Ele não admitiria para ninguém, mas a presença dela o desestabilizava de um modo que nenhum oponente jamais conseguira.Naquela manhã, ele estava em seu escritório particular, cercado por relatórios, mapas e cartas codificadas. O sol invadia o ambiente através das janelas altas, mas a luz não parecia dissipar a escuridão crescente em sua mente. Ele passara a noite revisando informações sobre os movimentos dos conselheiros. Pequenos detalhes começavam a formar um quadro inquietante: reuniões realizadas em horários não oficiais, trocas de correspondências entre membros que raramente se falavam, e, mais alarmante, a ausência de alguns nomes em ocasiões estratégicas.
Os dias seguintes no castelo eram envoltos em uma atmosfera de crescente inquietude. Elise sentia que os corredores estavam mais silenciosos, mas, paradoxalmente, o silêncio parecia ecoar com murmúrios invisíveis. Servos apressavam-se em suas tarefas, desviando os olhos sempre que ela passava, enquanto guardas pareciam mais atentos, como se esperassem por algo iminente. Elise não era tola; sabia que algo estava em movimento, algo que fugia de seu controle. E isso a deixava desconfortável.Naquela manhã, ao caminhar pelo jardim do castelo, Elise avistou Lucian ao longe, encostado em uma das colunas de pedra, com os olhos fixos no horizonte. Ele parecia distante, o maxilar tenso, e as sobrancelhas franzidas denunciavam pensamentos que ele claramente não compartilharia facilmente. Decidida, Elise aproximou-se com a confiança de quem sabe manipular situações, mas também com a curiosidade genuína de quem quer compreender as peças de um tabuleiro em constante mudança.— Está cedo para tanta
A porta do quarto de Elise foi aberta com um estrondo, fazendo o chá em sua mão tremer. Ela mal teve tempo de reagir antes que os reis, Astor e Lucian, ultrapassassem os limites como uma tempestade, com expressões de fúria e determinação. Os guardas ficaram postados do lado de fora, garantindo que ninguém interrompesse ou que estivesse prestes a acontecer.Elise Congelou. Por um momento que pareceu durar uma eternidade, ela olhou para o chá, depois para Astor e Lucian. Não havia saída fácil.— Isso… é só chá. — Sua voz, normalmente firme, tão frágil, quase inaudível.— Não minta para nós! — trouxe Astor, cruzando os braços com força, como se isso fosse um impedimento de avanço. Seus olhos azuis, gélidos como o inverno, eram capazes de cortar qualquer defesa. — Sabemos o que foi feito, Elise. Você tem sabotado o reino, nosso legado! Não é só desonesto, é traição!O sangue de Elise gelou com a palavra "traição". Ela sabia o peso que isso carregava.— Traição? — sua voz recuperou algum v
Os dias que se seguiram ao confronto foram insuportáveis para Elise. Cada passo pelo castelo parecia ecoar pelas paredes, como um lembrete cruel de que tudo ao seu redor estava desmoronando. As investigações sobre o chá estavam em andamento, conduzidas sob ordens diretas de Lucian e Astor, além de supervisionadas de perto pelo conselheiro real. E Elise estava, confinada aos aposentos sob vigilância constante, mal conseguia dormir ou comer.Na noite que marcou o quarto dia desde o incidente, o resultado chegou. Lucian encontrou-se com Astor em uma sala reservada, os dois rostos tensos com o peso da verdade que carregavam.Lucian deslizou o pergaminho lacrado para Astor, mas foi o primeiro a falar. — Os resultados são claros. — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — O chá realmente contém propriedades contraceptivas. Elise estava, de fato, tentando evitar uma gravidez.Astor abriu o pergaminho com força, sua mandíbula cerrada. Ele não disse nada por um momento, os olhos fixos no va
O ar parecia pesado nos aposentos de Elise, como se cada molécula conspirasse para esmagá-la. Ela permanecia sentada à beira da cama, em silencio, em meio ao vazio de sua própria mente que girava em um turbilhão de pensamentos. O médico já havia dito para todos que quissem saber, a verdade que havia abalado as fundações de tudo: ela estava grávida. O som de passos ecoou no corredor. Passos firmes, certos, Elise recebeu de imediato que Astor estava vindo. Ele sempre tem vindo ao seu encontro nos ultimos dias — com perguntas, acusações, olhares que faziam sua pele arder. Mas dessa vez era diferente. Dessa vez, tudo que ela vinha tentando evitar estava escancarado diante de todos.A porta abriu-se bruscamente, e Astor entrou, acompanhado de Lucian, que mantinha sua expressão habitual de frieza calculada. Elise encolheu-se instintivamente, mas manteve a cabeça erguida, recusando-se a mostrar fraqueza, mesmo naquela situação.— Então é realmente verdade — começou Astor, sua voz como um
O dia amanheceu com uma estranha quietude, o tipo de silêncio que antecede uma tempestade. Elise permanece em seus aposentos, o corpo frágil, mas a mente inquieta. Desde a descoberta da gravidez, a tensão no castelo parecia ter se intensificado. Os guardas passavam apressados pelos corredores, e as criadas cochichavam, lançando olhares curiosos.Ela olhou para o espelho à sua frente, tentando refletir sobre a mulher que via no vidro. Havia olheiras sob seus olhos, a pele estava pálida, e o cabelo, antes impecável, caía em ondas desalinhadas. O mundo parecia mais pesado, e ela se perguntava quanto tempo conseguiria suportar tudo aquilo."O destino dessa criança será decidido pelo que é melhor para o reino".As palavras de Astor ecoavam em sua mente, arrancando-lhe o pouco de paz que restava. Como eles puderam falar daquela vida como se fosse apenas uma peça em um jogo de poder? Uma peça que ela mesma sentiu tão frágil e preciosa.Se sentia mal por ter falhado em seu plano. Condenar u
O silêncio do castelo parecia pesar mais do que o habitual, tudo estava tão quieto que parecia que se uma simples pena caisse no chão faria um estrago incalculável. Astor estava em seu gabinete, sentado em sua poltrona de couro enquanto encarava a luz difusa que entrava pela janela. A imagem de Elise inconsciente em seus braços, os olhos dourados brilhando como um sol intenso, ainda estava viva em sua mente.Nos últimos dias, os acontecimentos foram se desenrolando como uma tempestade impossível de controlar. Primeiro, a descoberta sobre o chá. Por mais que houvesse suspeitado em seu íntimo, confirmar que Elise vinha tentado de uma forma deliberada evitar uma gravidez despertara algo nele, uma raiva que ele não sabia ao certo de onde vinha. Elise tinha se tornado tanto em tão pouco tempo, ela já não era apenas uma peça central em suas estratégias, mas também o caos em mente.Agora como ela poderia estar carregando algo tão frágil e precioso sem sua proteção? Tudo sobre ela o deixava i