Astor aparece ao lado da janela, observando o céu enegrecido pelo fim da tarde. O clima parecia refletir o estado de sua mente: nublado, carregado, prestes a sofrer em uma tempestade. As palavras de Elise ainda ecoavam em seus pensamentos:"Eles não vão parar até conseguirem o que querem."Ele fechou os olhos, apertando o punho contra a pedra fria da parede. Apesar de sua postura sempre firme, ele não conseguia ignorar o turbilhão de sentimentos que crescia dentro de si. O que antes parecia apenas um jogo de alianças políticas agora tomava uma dimensão completamente diferente. Elise era uma peça fundamental nesse tabuleiro, e a criança que ela carregava — o herdeiro ou heirdeira — poderia ser tanto uma vitória quanto uma maldição.Houve um ruído suave atrás de si, e ele se virou no tempo de ver Lucian entrando no gabinete. O outro rei carregava consigo a mesma expressão que Astor reconhecia no próprio rosto: cansaço misturado com preocupação.— Não consegue descansar? — perguntou Luci
As chamas da lareira dançavam diante dos olhos de Elise, mas o calor que emanava parecia incapaz de alcançar seu coração. O frio que a tomava era muito mais profundo, enraizado no turbilhão de sentimentos e memórias que insistiam em persegui-la.Tudo aconteceu tão rápido. Desde a descoberta sobre uma criança até o ataque que quase lhe tirou a vida, Elise sentiu como se estivesse à deriva em uma tempestade, sem tempo para recuperar o fôlego. Fechou os olhos, deixando os pensamentos fluírem.Ela se lembrava do momento em que seus olhos brilharam naquele dourado vivo, algo que ela nunca havia experimentado antes. Era como se uma força desconhecida houvesse emergido de dentro dela, um instinto feroz que não apenas a protegia, mas também à vida que crescia em seu ventre. Mas essa força trazia perguntas que a consumiam aos poucos: O que sou, afinal? E o que será dessa criança?Astor e Lucian. Dois reis, tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes, agora unidos por um propósito que nem e
O silêncio do quarto era quase opressor. Elise estava deitada na cama, olhando para o teto ornamentado, mas sua mente estava a mil. Apesar das exaustivas ordens de segurança dadas pelos médicos reais, sua mente se recusou a descansar. O que havia acontecido no jardim não parava de se repetir como um looping em sua cabeça.Ela sentiu, mais do que viu, aquela força que havia emergido de dentro dela. Não era apenas instinto de sobrevivência. Era algo maior, mais poderoso. Algo que, obviamente, ela não compreendia. O medo que sempre vinha à tona em momentos como aquele agora parecia confuso a uma centelha de curiosidade."Eu sou a chave... Mas a chave de quê?"Ela levou a mão até o ventre, em um gesto quase automático. Apesar de todo o caos, havia uma conexão ali que ela não conseguia explicar. Um fio invisível que parecia mais forte a cada dia.Os pensamentos foram interrompidos pela porta que se abriu lentamente. Lucian entrou primeiro, o olhar cuidadoso pousando sobre ela. Logo atrás,
A tensão era quase palpável no ar enquanto Elise, Astor e Lucian seguiam os guardas pelos corredores do castelo. O pedaço de tecido que ela segurava parecia estar queimado em suas mãos, como se carregasse uma energia maligna impregnada nele. O símbolo bordado não saiu de sua mente, evocando memórias distantes e pesadelos que ela mal conseguiu compreender.Quando chegou ao salão onde os invasores estavam detidos, Elise sentiu um arrepio percorrendo sua espinha. O ambiente foi tomado por uma energia opressiva, algo que ela não sabia dizer se era medo, ameaça ou um aviso silencioso.Os três homens estavam ajoelhados no chão de pedra fria, seus pulsos presos por correntes de ferro encantadas. Os guardas mantinham espadas apontadas para suas costas, mas os prisioneiros indiferentes à ameaça, como se informassem algo que os outros não sabiam.Astor foi o primeiro a falar, sua voz dura e sem paciência. — Quem foi que mandou vocês?Silêncio.Lucian se movia lentamente, sua presença imponente
A escuridão parecia não ter fim. Elise flutuava em um vazio sem forma, incapaz de distinguir o tempo ou o espaço ao seu redor. Vozes sussurravam ao longe, mas eram apenas ecos distantes, como se alguém tentasse alcançar-la através de uma névoa impenetrável.Então, um som mais forte cortou o silêncio.— Elise...A voz era grave, firme, transmitiu uma emoção que ela não conseguiu identificar de imediato.Lucian?Ela tentou abrir os olhos, mas as suas pálpebras pesavam como se fossem feitas de chumbo. Um segundo depois, sentiu algo quente segurando sua mão.— Ela está reagindo.Dessa vez, foi Astor quem falou. Houve um tom de interrupção, mas também tensão. Era tudo tão confuso, mas por um momento se sentiu segura.Com um esforço quase sobre-humano, Elise conseguiu abrir os olhos, piscando algumas vezes até a visão se ajustar à luz fraca do ambiente. O teto de pedra ornamentada indicava que estava em um dos aposentos do castelo, mas sua mente ainda estava nebulosa, incapaz de lembrar com
Elise suspirava pela décima vez consecutiva, enquanto apertava suas mãos suadas uma contra a outra. O vestido branco de tecido fino e caro parecia ter o caimento perfeito em seu corpo na frente do espelho, mas a jovem não conseguia sorrir ou ao menos se sentir bela. O véu de seda, delicado e impecável, cobria parcialmente seu rosto, um lembrete cruel de que ela deveria se manter quieta, pelo menos até o momento do voto de sangue. Este, que selaria sua vida com os dois lobos mais poderosos de todo o reino de Vittoria.Casamento. O dia que para muitas jovens deveria ser o mais mágico de suas vidas era para Elise uma mistura de pavor e repulsa. Mesmo que ela soubesse desde os catorze anos o motivo de ter sido adotada após a morte trágica de seus pais, nunca havia conseguido aceitar seu destino. Não era uma filha para aquela família, mas uma peça no tabuleiro político, um peão cuidadosamente moldado para se encaixar no lugar da filha verdadeira dos Delacroix. O pior de tudo? Ela aceitara.
O silêncio que tomou o salão era quase ensurdecedor. Elise sentia seu coração martelar contra o peito enquanto a lâmina reluzente pairava entre ela e os reis lycans. O frio do metal se aproximava de sua pele quando, pela primeira vez, sua voz rompeu a tensão.— Esperem! — Sua própria ousadia surpreendeu até a si mesma.Os murmúrios se espalharam como fogo entre os convidados. Nobres trocaram olhares, soldados se moveram discretamente, como se aguardassem uma ordem para intervir. Os reis não esboçaram reação imediata, mas os olhos predatórios cravaram-se nela, avaliando cada detalhe de sua expressão.— Você tem algo a dizer? — a voz do rei de cabelos escuros cortou o silêncio. Não havia raiva, apenas um interesse calculado.Elise engoliu em seco. Sabia que qualquer palavra errada poderia selar seu destino de forma ainda mais cruel. Inspirou fundo, tentando manter sua compostura.— Eu… só gostaria de entender. Por que este ritual é necessário? — Ela tentava soar respeitosa, mas sua hesi
A noite avançava enquanto Elise era levada pelos corredores do castelo, escoltada por guardas silenciosos. O peso do ritual ainda impregnava seu corpo, como se seu sangue estivesse queimando sob a pele. Ela tentou ignorar a sensação, mantendo o olhar fixo no caminho à frente, mas a atmosfera ao redor parecia diferente, carregada de algo invisível, mas opressivo.Antes disso, no salão principal, a cerimônia havia chegado ao seu ápice. O silêncio pesado que dominava o ambiente foi quebrado quando os reis finalmente se aproximaram para retirar o véu que cobria seu rosto. Elise prendeu a respiração, o coração martelando no peito. O medo de ser descoberta era esmagador, assim como a incerteza do que eles veriam ao olhar para ela sem o tecido que a separava do mundo.Os dedos firmes deslizaram com delicadeza ao remover o véu, revelando seu rosto pálido e os olhos arregalados pelo nervosismo. O que Elise não esperava era a reação dos reis. Nenhuma expressão de desagrado, nenhum olhar desconf