02/02/2020 - São Francisco, Califórnia.
Enquanto o sol brilhava timidamente pela janela do apartamento, Olivia se preparava para mais um dia de trabalho na loja de conveniência. Ela ajustava seu uniforme desgastado, tentando ignorar a sensação de desânimo que a acompanhava todas as manhãs. Seu emprego na loja não era exatamente o que ela sonhava, mas era o que lhe permitia pagar o aluguel e as contas.
Ana, sua companheira de apartamento, estava ocupada na cozinha preparando o café da manhã. O aroma de café fresco e torradas quentes permeava o ar, trazendo um pouco de conforto para a manhã cinzenta. Sentadas à pequena mesa da cozinha, Olivia e Ana compartilhavam um café rápido antes de seguir para seus compromissos do dia.
— Estou tão cansada deste emprego. — suspirou Olivia, brincando com a colher em sua xícara de café. — Sinto que estou presa em um ciclo interminável de monotonia.
Ana, sendo a melhor e praticamente única amiga de Olivia, não mede suas palavras.
— Se você tivesse escutado a sua mãe...
— Ah, não começa!
— Começo sim. — Ana responde. — Sua mãe sempre ficou no seu pé, para que estudasse ou até mesmo começasse um pequeno negócio. Você mesmo disse. — Olivia faz uma careta, enquanto bebe seu café. — A pequena fortuna que sua avó deixou de herança para você, poderia ter feito diferença na sua vida. E o que você fez?
— Ana...
— O que você fez, Olivia?
Olivia rola os olhos.
— Viajei para o Brasil.
— EXATAMENTE! — Ana berra. — Você pegou sua herança e foi passar o final do ano EM OUTRO PAÍS.
— Ana... — Olivia choraminga, indo até a pia e começando a lavar a pequena louça que estava ali. Ela já conhecia cada letra do que sua amiga iria falar. — Por favor!
— Ah... e por que mesmo você decidiu ir para outro país?
— Porque uma cigana disse que eu encontraria fortuna em um lugar com sol.
Ana b**e palmas e gargalha. Olivia nunca sabia se sua amiga achava aquilo divertido ou apenas zombava dela.
— UMA CIGANA! — a cabeleira loira de Ana se sacode, conforme ela esfrega o rosto. — MEU DEUS. Liv, você foi para o Brasil, gastou todo o seu dinheiro e não ganhou nada em troca.
Olhando para a xicara em suas mãos, Olivia sorri de lado.
— Não é bem assim... eu ganhei algo.
— Ah, é. Uma longa e tórrida noite de amor, com um britânico gostosão. Como era mesmo o nome dele?
— Jason.
Dois meses se passaram desde aquela noite mágica na Praia de Copacabana, mas as lembranças de Jason ainda assombravam os pensamentos de Olivia, como uma suave brisa que acaricia a pele em uma noite de verão.
— A pessoa vai para outro país e ao invés de conhecer um brasileiro lindo, cheio de gingado, cruza justamente com um britânico azedo?
— Ele não era azedo. — Olivia murmura e se vira para a amiga. — Jason era... perfeito.
— Perfeito... o homem simplesmente acordou, se vestiu e foi embora. Como se você não fosse nada!
As palavras de Ana cortavam fundo, atingindo pontos sensíveis na consciência de Olivia. Ela se sentia cada vez mais frustrada com a situação em que se encontrava, e as críticas de sua amiga apenas amplificavam seu sentimento de impotência.
— Você não entende, Ana. — retrucou Olivia, sua voz carregada de emoção. — Aquela viagem significou muito para mim. Foi uma chance de escapar da rotina sufocante e descobrir um mundo totalmente novo e diferente.
Ana, com um olhar desafiador, não recuou.
— E você acha que descobrir um mundo novo significa passar uma noite com um estranho em uma praia? Você está enganada, Olivia. Você jogou fora uma oportunidade de ouro para se estabelecer, para investir em seu futuro, com base no que uma charlatã falou.
As palavras de Ana atingiram Olivia como um soco no estômago. Ela sentiu-se traída e magoada pela amiga, cujas palavras pareciam mais uma punhalada do que um conselho bem-intencionado. — Pelo visto, você não sabe nada sobre mim, Ana. — respondeu Olivia, sua voz trêmula de raiva e mágoa. — Você está tão envolta na sua vida de luxo e privilégio, que não faz ideia do que é lutar todos os dias para sobreviver. Você tem tudo servido de bandeja pelo seu pai, enquanto eu estou aqui, lutando para pagar as contas com um salário de merda. Olivia agarra em sua bolsa e caminha pesadamente em direção a porta. Antes que ela pudesse sair, ela se deu conta de que não havia exposto tudo o que pensa. — Aliás, quando foi que você virou essa senhora puritana? Pelo que eu bem me lembro, era você que dormia com um homem diferente, TODO FINAL DE SEMANA! Após gritar aquelas últimas palavras, Olivia saiu do apartamento e sequer esperou o elevador. Ela desceu os três lances de escada rapidamente e foi
Do outro lado da praia, perto de uma barraca de drinks, Olivia observava o movimento frenético ao seu redor com um sorriso nos lábios. Seus olhos brilhavam com a energia contagiante da cidade, enquanto ela se deixava envolver pelo clima de festa que pairava no ar. — Obrigada. — ela murmurou para a vendedora, com o português enrolado. Com seu drink nas mãos, Olivia caminhou pelas areias, buscando um lugar mais vazio para aguardar a queima de fogos. Olhando para cima, ela não notou a criança deitada a sua frente e acabou tropeçando, caindo nos braços do homem que vinha na direção dela. — Meu Deus! Olivia arfa, segurando nos braços fortes do homem que a salvara de cair e encarando a criança assustada no chão. — O que faz aí? — ela pergunta para o menino. — Cadê seus pais? A criança, sem entender uma única letra do que saíra da boca de Olivia, se levantou da areia e correu para longe dali. Em um inglês tão bom quanto o dela, o homem falou: — Acredito que ele não tenha e
Ele sentiu uma conexão inexplicável com ela desde o momento em que a segurou após o tropeço na areia, como se o destino estivesse tecendo seus fios invisíveis para uni-los naquela noite especial. O som dos fogos de artifício começou a estourar no céu, iluminando a praia com uma cascata de cores deslumbrantes. Enquanto a multidão vibrava de excitação ao seu redor, Jason e Olivia compartilharam um momento fugaz de tranquilidade, envolvidos pelo encanto daquele instante mágico. Quando os primeiros segundos do novo ano finalmente chegaram, Jason e Olivia se abraçaram em um gesto de celebração, inconscientes do que o futuro reservava para eles além daquela efêmera noite de festa no Rio de Janeiro. Os fogos de artifício explodiam no céu noturno e um olhar intenso trocado entre os dois, revelava uma conexão jamais sentida por ambos. Com o coração batendo descompassado e a eletricidade no ar, Jason se aproximou lentamente de Olivia, sentindo a atração magnética que os unia. Em um movim
Olivia decidiu subir pelas escadas, com uma tentativa frustrada de demorar para chegar ao banheiro. Assim que ela entrou no apartamento, Ana estava sentada no sofá. A loira olhou por cima do ombro e estranhou a falta da embalagem da padaria. Sem falar nada, Olivia largou sua bolsa no chão, caminhou até onde Ana estava e se sentou ao seu lado. Ana ficou apenas observando, enquanto Olivia abria a embalagem da farmácia e colocava a caixa do teste de gravidez em cima da mesa. — Não! — Ana exclama, sentando-se virada para sua amiga. — Olivia! Não! — Eu sei... Olivia entra em desespero e solta o choro que estava preso durante todo o dia. Ana envolveu a amiga em um abraço reconfortante, sentindo o desespero dela irradiar por todo o ambiente. Ela não sabia o que dizer, apenas queria estar ali para oferecer apoio e conforto a Olivia nesse momento difícil. — Você já fez? — Não. — Olivia limpa o rosto com as mãos, se afastando o abraço de Ana. — Estou com medo, Ana... eu não tinha nem perc
— Como, Ana? Eu estou grávida. Grávida! Eu não sei o que fazer... Olivia se agarra ao abraço reconfortante de Ana, deixando suas lágrimas fluírem livremente. — Não é o fim do mundo, Liv. Nós vamos encontrar uma maneira. Você é forte e corajosa, e não está sozinha nessa jornada. Eu estarei aqui para você, não importa o que aconteça. Vamos enfrentar isso juntas, como sempre fizemos. Você é capaz de lidar com qualquer desafio que a vida colocar em seu caminho, e com esse não será diferente. — Obrigada... — Olivia sussurra entre soluços, sentindo-se grata por ter uma amiga tão incrível ao seu lado. — Eu não sei o que seria de mim sem você. As palavras reconfortantes de Ana envolvem Olivia como um abraço caloroso em meio à tempestade de emoções que a consome. Ela se sente um pouco mais fortalecida pela fé e pelo apoio de sua amiga, sabendo que juntas elas podem superar qualquer obstáculo. As amigas permaneceram sentadas no chão do banheiro, por mais algum tempo, até que Ana decidiu da
As noites eram mal dormidas, com pensamentos turbulentos invadindo sua mente, e os dias pareciam uma sequência interminável de incertezas e ansiedades. Ela passava horas pesquisando na internet sobre gravidez, maternidade, e todas as possíveis opções que tinha pela frente. Cada artigo, fórum e depoimento que lia oferecia uma perspectiva diferente, mas nenhum parecia fornecer a resposta definitiva que ela tanto buscava. Além disso, o fantasma de Jason continuava a assombrá-la. Ela se perguntava se ele se importaria, se aceitaria a criança, se estaria disposto a assumir a responsabilidade, caso tivesse a chance de encontrá-lo. Enquanto isso, Ana permanecia ao seu lado, oferecendo apoio incondicional e tentando encontrar maneiras de aliviar o fardo que Olivia carregava. Elas continuavam assistindo a filmes, rindo e chorando juntas, mas no fundo Olivia sabia que não podia fugir para sempre. Ela precisava tomar uma decisão. Um dia ensolarado, proporcionou a oportunidade perfeita para O
05/09/2023 — Daqui uma semana, você vai fazer três aninhos, meu amor! O que quer fazer? — hmmm... shopping! E brincar. Olivia sorri. Era óbvio que aquela seria a escolha. Não havia nada que o pequeno Ethan gostasse de fazer mais, do que ir ao shopping e brincar em pula-pulas. — Está combinado. — ela diz, beijando o baixo cabelo preto dele. — Mas agora a mamãe precisa ir trabalhar e você vai ficar com a tia Ana. Tudo bem? — Tia Ana faz pipoca? — Está muito cedo para comer pipoca, não acha? — Não... Ethan dá de ombros, brincando com o carro que estava em suas mãos. Olivia beija o menino no rosto e deixa o quarto que dividem, indo diretamente para a cozinha, onde Ana estava. Enquanto Ana terminava de preparar os ovos mexidos, Olivia começou a arrumar a mesa, colocando pratos, talheres e sucos frescos. — Você parece preocupada, Liv. — observou Ana, notando a expressão preocupada no rosto da amiga. — Aconteceu alguma coisa? Olivia suspirou, decidindo compartilhar suas preocup
Com passos pesados, ela deixou o escritório e saiu da loja, com a sensação de que seu mundo havia virado de cabeça para baixo. Depois de receber a notícia devastadora de sua demissão, Olivia voltou à área dos funcionários para reunir suas coisas do armário. Cada item que ela colocava na caixa parecia representar uma parte de sua vida na loja de conveniência que agora chegava ao fim. Seus pensamentos estavam turvos com a tristeza e a incerteza sobre o que o futuro reservava para ela e Ethan. Enquanto ela organizava suas coisas, Lily, uma colega de trabalho mais próxima, se aproximou com uma expressão preocupada. Ela sabia o que havia acontecido e queria oferecer algum conforto. — Liv, sinto muito ouvir sobre o que aconteceu. — disse Lily gentilmente, colocando uma mão no ombro de Olivia. — Olhe, eu sei que você tem o Ethan e precisa de um trabalho... não sei se você se importa, mas minha mãe trabalha em um prédio muito chique no centro, e eles estão procurando por uma faxineira...