Parte 3...
Aurora
— Me promete que você não vai contar o que houve pra ninguém, filha - ela me pedia com uma certa tristeza na voz — De forma alguma seu tio Pietro pode saber disso... Ele vai... Mandar seu pai embora - ela sentou na cama ao meu lado — E... Ele vai nos matar, você entende, não é querida? Seu pai vai nos matar se isso sair de casa... - ela engoliu pesado.
O que eu poderia dizer? Meu coração está apertado e dói mais do que os machucados em meu corpo. Minha mãe está com medo, eu vejo e sinto isso. Eu também estou. Eu só tenho nove anos, o que posso fazer?
Eu posso ser nova, mas eu sei que isso é errado e que minha mãe não deveria pedir isso pra mim. Mas ela pediu.
— Está bem, mamãe... - respondi com tristeza e já chorando. A abracei — Eu não vou contar pra ninguém, eu prometo.
— Nem mesmo para a Diana, me promete? Ela pode contar ao pai.
Diana é a minha melhor amiga. Ela é filha mais nova de meu tio Pietro e a gente sempre se deu muito bem. Nascemos quase no mesmo dia e nossa amizade começou quando ainda éramos bebês.
— Não vou contar - sequei os olhos, mas as lágrimas continuavam — Não vou contar...
— A história que estamos contando é essa, dos cachorros, não esqueça de contar do mesmo jeito pra ninguém contestar.
Eu só fiz que sim, engolindo meu choro e sufocando a tristeza de não entender porque ela ainda quer ficar com meu pai. Eu estou com mais medo agora do que já tive antes, mas ainda assim, eu queria contar ao tio Pietro. Papai não vai matar a gente se ele souber.
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— Oi, podemos entrar?
Eu virei o rosto para ver quem era e fiquei feliz em ver Diana e a mãe dela, minha tia Luísa, que vieram me fazer uma visita.
— Claro que podem - minha mãe estava na cadeira perto da janela e levantou com um sorriso forçado — Que bom que vocês vieram.
Mamãe deu um abraço na tia Luísa e Diana veio para meu lado, fazendo uma careta.
— Nossa, Aurora... Como você se machucou - ela tocou meu braço enfaixado — Está toda roxa e seu rosto está inchado, feio...
— Diana! Isso é jeito de falar com sua melhor amiga? Não vê que ela se machucou muito?
— Desculpa, Rora... Eu só fiquei triste de ver você assim... Você é tão bonita e agora está toda cheia de machucados - ela segurou minha mão — Olha, até seus dedos estão roxos.
Eu queria muito chorar e por isso me mantive o mais quieta possível, pra não estragar minha promessa pra minha mãe. Ela já me olhava com uma cara nervosa.
— É que os cachorros são muito grandes... - minha mãe começou a falar — E eles a arrastaram por vários lugares da casa e...
— Está tudo bem, Marlene - tia Luísa alisou o braço de minha mãe — Eu entendo bem. Não precisa se preocupar comigo - olhou para mim — Mas eu me preocupo com vocês.
— Não precisa... De verdade... Foi só um tropeço, vai ficar tudo bem - minha mãe tentava segurar a voz.
— É claro que vai - tia Luísa sorriu e veio até mim — E você, lindinha, como está se sentindo? - me deu um beijo na testa.
— Dói tudo, tia - fiz uma cara de dor, mas tentei segurar o choro por causa de minha mãe.
— É normal quando você é arrastada pela casa por cachorros tão fortes.
Eu entendi que ela estava fingindo que acreditava na história. Olhei para mamãe, mas o olhar dela foi de súplica pra que eu não abrisse a boca sobre a verdade. Apertei os lábios e engoli o bolo em minha garganta.
— Eu não vou mais brincar com eles quando estiver sozinha.
— Você foi boba, Rora, não deve brincar com esses bichos grandes - Diana sorriu ao meu lado — Eu vou te dar uma boneca do seu tamanho pra você brincar, não é mamãe?
— É sim, minha filha - tia Luísa pegou Diana no colo — Quando a Aurora sair do hospital, nós vamos fazer um passeio e escolher uma boneca do tamanho dela. - lhe deu um beijo no rosto e a colocou na cama comigo — Fique quieta para machucar a Aurora.
— Está certo, mãe. - Diana deitou ao meu lado — Quando você vai pra casa?
— Eu não sei... - respondi.
— Amanhã de manhã - minha mãe respondeu e alisou o cabelo de Diana — Aí vocês vão poder brincar com a boneca nova que comprarem. - suspirou.
Que triste que sinto minha mãe. Ela está sofrendo, eu também estou, mas tenho que fazer o que me pede.
— Mamãe, a Aurora pode ficar comigo até ela ficar boa? - Diana pediu — Eu não quero que os cachorros machuquem ela de novo.
Nesse momento eu comecei a chorar. Estava segurando a vontade de antes e ouvir o pedido da Diana me fez desabar. Ela me abraçou e me deu um beijo no rosto com carinho. Foi nesse instante que eu entendi, que Diana e eu seríamos amigas pra sempre.
— Ela precisa descansar na casa dela minha filha - tia Luísa alisou seu braço — Mas depois ela pode ficar uns dias com a gente em nossa casa, não é mesmo, Marlene?
Minha mãe ficou um pouco travada, mas conseguiu concordar com a cabeça.
— Claro que ela pode - deu um sorriso curto, me olhando.
Tia Luísa e Diana ficaram comigo por mais um tempo e a conversa ficou mais leve. Uma enfermeira entrou para trazer meu remédio e medir minha pressão. Diana também conversou com ela um pouco e a enfermeira foi muito legal com a gente. Também falou sobre ter se machucado quando era pequena e depois saiu, dizendo que voltava mais tarde.
Não demorou e tia Luísa também teve que ir embora. Diana me deu outro beijo no rosto e saiu. Eu aproveitei a saída delas e criei coragem pra falar com mamãe.
— Mãe... Eu não quero ficar naquela casa - falei até um pouco manhosa — Vamos sair de lá.
— Não podemos, meu amor - ela respondeu com peso na voz.
— A gente pode ir embora, só nós duas. Podemos ir pra casa da vovó. - ela fez que não com a cabeça — Por favor, mãe... A casa da vovó está fechada, a gente pode morar lá.
— Filha, não é assim fácil - ela puxou o ar — Eu sei que você está sofrendo, mas isso não vai mais acontecer. Seu pai me ama muito e ama você também - não senti essa certeza dela — E fugir seria muito pior. Aí sim, seu pai iria atrás da gente iria nos matar por faltar com respeito a ele. Não podemos abandonar a casa - pegou minha mão — Vai ficar tudo bem.
Eu não senti que ia ficar tudo bem. E também não entendo como minha mãe diz que meu pai nos ama. Como ele pode me amar e me bater tanto, me colocando em um hospital?
Não é desse jeito que eu vejo os pais de minhas amigas tratarem elas. Se for assim, eu não quero que ninguém me ame e nem quero amar ninguém. É muito ruim, machuca.
— Você é muito jovem ainda, mas um dia vai entender e vai se casar, ter sua família. Seu pai não é um homem ruim, ele só está estressado, mas não vai mais fazer isso.
Eu não sei se isso e verdade, mas agora eu sei que nunca vou querer me casar na vida.
Parte 4...Aurora - hoje em diaBocejei e me espreguicei. Eu já tinha acordado há uns quinze minutos, mas a preguiça me pegou de jeito. O voo até que foi tranquilo, tirando o cara ao meu lado, que ficou puxando conversa, até que eu coloquei os fones de ouvido e ele finalmente entendeu que eu não queria conversar.Não há voos diretos e frequentes saindo da Calábria para Palermo. Tive que fazer uma conexão em Roma e isso demora mais umas três horas, então no total, fico cerca de cinco horas, pra ir e voltar. Mas vale a pena a ida.Eu poderia ter voltado de avião particular, que Carlo me ofereceu, como outras vezes, mas achei melhor não. Apesar dele ser um homem muito legal comigo e de termos uma certa amizade, sei que meu pai iria me encher a paciência se eu ficasse usando esse favor, todas as vezes em que eu fosse até Palermo para visitar Diana, que agora tem um lindo garotinho de nove meses.O pequeno é um pouco dos dois. Os olhos e o nariz são iguais aos do pai, Carlo. Já o cabelo, a
Parte 5... Aurora— Aurora, o que você tem?— Não sei, Gisele - suspirei e apoiei as mãos na bancada, olhando meu reflexo — Eu me sinto desanimada.— Mas você acabou de chegar de Palermo. A viagem não foi boa?— Foi sim, foi ótima - saí e ela veio atrás de mim — É só que... Sei lá... Eu fiquei feliz em ver a Diana com o Giancarlo e como ela está bem com o marido. Isso foi bem legal.— Então, não entendi querida.Entrei no closet para escolher uma roupa.— Ai, Gisele... Eu não sei, talvez eu esteja só exagerando ou então é cansaço mesmo.Não é bem um cansaço normal. É que já faz um tempinho que minha vida meio que deu uma estagnada em alguns pontos. E também, eu já deveria ter saído dessa casa há muito tempo, mas não o fiz para não deixar minha mãe sozinha com esse homem cruel que por um azar, é meu pai. Triste verdade.— Aconteceu alguma coisa por lá que te deixou aborrecida?Olhei para ela com um pequeno sorriso. — De certa forma... Mas é algo que eu já sabia que iria acontecer, nã
Parte 6...AuroraQuando vi o que ele fez, minha mãe gritar e abaixar o rosto machucado, esqueci que ele era meu pai de vez.— É bom que você me mate - eu quase rosnei, apontando o dedo — Porque se me deixar de pé, eu vou sair por aí, contando a cada pessoa que eu encontrar, o homem covarde, mentiroso e abusador que você é! - bati o pé no chão.De imediato a cara dele mudou. Piorou, na verdade. Seus olhos se apertaram e ele comprimiu os lábios, erguendo o punho fechado.— Sua vagabunda abusada - sua voz saiu rouca — Todos esses anos eu tive que aguentar você em minha casa, fingir que gosto de você e para quê? Você não serve pra nada, é igual a sua mãe... Uma qualquer, que se deita com qualquer um e por isso aquele idiota do Domenico Barone se deita com você, mas nunca te assume - jogou o cinto no chão — Você não presta nem para arranjar um casamento rentável, como fez Diana - se afastou de mim — Ela sim, deu orgulho ao pai dela, não é uma puta como você.Aquilo doeu, não vou negar, ma
Parte 7...Aurora— Não vai dizer que me avisou antes, vai?— Não, eu não quero que fique triste.— Nem sei se é tristeza mesmo, Gisele... Acho que é Melancolia, sabe... Indecisão.— Sobre?— Sobre minha vida, sobre o que preciso fazer... - encolhi os ombros — Eu não quero deixar minha mãe, mas depois de tanto tempo, nem sei se vale mais a pena continuar aqui.— Como assim, querida?— Venho pensando em me afastar... De tudo e de todos.— Mas... E sua mãe, como vai ficar?Cocei a nuca fazendo uma careta. — Gisele, depois de tanto tempo, você acha que tem jeito para minha mãe?— É... Mas e ele?— Quem, meu pai? - franzi a testa.— Não - balançou a cabeça — Ele... Ele!Ah! Sei quem é ele. Domenico. Sempre Domenico para tirar minha paz. E minha raiva é que não deveria ser assim. Eu me preparei para que não fosse, então é até ridículo que justo eu, agora estou com a cabeça cheia.Tudo funcionava bem entre nós dois, mas eu acabei vacilando. Eu sempre tive apenas Domenico, por minha vontade
Parte 8...AuroraPra me deixar ainda mais ansiosa sobre meu futuro, não demorou nem meia hora e Domenico me ligou. Meu coração já bateu forte só de olhar a foto dele na tela.Não sei como, mas Domenico consegue ser o homem mais charmoso e lindo que eu conheço. Não consigo encontrar outro para comparar e isso também é ruim. Se pelo menos eu pudesse ter outro que fosse igual ou superior a ele, eu poderia me afastar sem problema.Não atendi a chamada, deixei que caísse na caixa postal.— Vai sair, filha?Minha mãe estava sentada na sala, mexendo com seu novo hobbie. Bordado russo. Era o que vinha distraindo a mente dela no último mês.— Vou sim, mãe.— E posso saber onde você vai?— Vou dar uma volta. Preciso comprar algumas coisas para meu ateliê.Era melhor mentir e dizer a ela que era isso, do que contar a verdade. Que estou terminando de organizar as coisas para minha mudança. Eu não quero que ela comece a ter pensamentos depressivos, porque sabe que vai ter que aguentar meu pai soz
Parte 9...Aurora— Onde você estava, sua vadia?Eu mal cheguei em casa e meu pai já me recebe dessa forma.— Oi, papai, querido - dei um sorriso bem cínico — Fui dar uma volta, fazer umas compras.— E porque diabos você não atende ao celular, quando aquele Barone liga? Ele deve estar querendo marcar uma nova transa com você - ele disse de modo bem desagradável — É só para isso que você serve mesmo. Se for depender de você para um bom casamento com algum membro das famílias associadas, já vi que vamos morrer de fome.— Realmente, não deve contar comigo para isso - fui passando e ele me puxou pelo braço.— Sua criatura cínica, imprestável - sua cara se transformou de raiva — Eu disse à sua mãe que deveria ter tirado você, quando soube que era uma menina. Não me serve de nada.— Pois é! E ainda bem que ela não pôde mais ter filhos com alguém tão ruim como você.Eu nem esperava. O tapa veio rápido e me acertou em cheio na bochecha.— Imunda! Se não sair dessa casa, eu mesmo vou arranjar
Parte 10...Aurora— O que você tem, Aurora? - ele segurou meu rosto — Parece que está lenta, não está aqui comigo de verdade.Merda. Eu não queria que ele percebesse o que se passa dentro de mim. Ainda não. Segurei seu rosto e lhe dei um beijo rápido, lambendo seus lábios.— Não é nada... - forcei um sorriso — É que estou com um começo de enxaqueca, por causa da minha TPM - joguei essa — Meu período já está na porta e fico assim. Coisa de mulher.Eu nunca tive problema para falar com ele sobre assuntos normais, como menstruação. Inclusive ele já comprou absorventes para mim, mais de uma vez, quando eu estava em Palermo.Ele não tem frescuras com relação a esse tipo de coisa como vejo outros homens, como o namorado de uma amiga, que nem quer ouvir que ela está menstruada.Aliás, nos já transamos enquanto eu estava menstruada. Não que eu curtisse isso, mas ele teve esse desejo e me mostrou que não tinha nenhum problema com sangue. Somos abertos sobre coisas que são normais da vida.Sex
Parte 11...AuroraDepois Domenico subiu e me beijou. Eu senti meu gosto em sua boca e isso me deu vontade de chorar, mas me segurei. Ele acariciava meu corpo devagar e cada ponto que me tocava, me fazia sentir a mulher mais feliz do mundo, mesmo eu sabendo que isso tinha um tempo para acabar.Estiquei a mão e encontrei seu membro, tocando seu comprimento até sua base e comecei a fazer movimentos. Ele gemeu contra minha boca e depois se posicionou melhor entre minhas pernas e se afundou em minha carne.Foi como se eu estivesse no céu de tão bom. Ele entrava e saía de mim sem pressa, como eu disse que queria. Nosso sexo calmo, baunilha. Com penetrações longas, demoradas. Ele deslizava dentro e fora de meu corpo com um ritmo constante.Nós dois gememos quase que por igual, nosso som enchendo o quarto. Olhei para as cortinas que balançavam com o vento entrando e o momento foi mágico pra mim. Eu guardaria mais esse comigo.Domenico saiu de cima de mim e me virou de lado, voltando a me pen