capítulo 1

Emma.

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Os primeiros raios de sol rompem a cortina do meu quarto, forçando meus olhos a se ajustarem à luz da manhã. Com um bocejo cansado, verifico a hora no celular: 06h30 A.M. Levantar-se parece uma tarefa árdua demais para um dia que mal começou.

Sinto meu corpo pesado, a cabeça latejando em um ritmo descompassado. Definitivamente, este não é o meu dia. Arrasto-me até a imensa janela do quarto e encosto-me nela, observando a rua além.

O sol esgueira-se timidamente entre as nuvens, enquanto uma brisa fresca da manhã brinca suavemente com a minha pele, arrepiando-a. "Inverno é a melhor estação", murmuro para mim mesma, apreciando a tranquila movimentação lá fora. Alguns poucos transeuntes desfilam pela calçada, envoltos em seus casacos sóbrios, conferindo um certo charme à época. Ah, como eu amo o frio.

Desvio-me da janela e encaminho-me para o banheiro. Despindo-me das roupas, entro no chuveiro e deixo a água morna acariciar cada centímetro do meu corpo, dissolvendo as tensões em uma sensação reconfortante.

Após um banho prolongado, enrolo-me no roupão, realizo minha rotina de cuidados com a pele e seco os cabelos. De volta ao quarto, dirijo-me ao closet e escolho cuidadosamente minha vestimenta para a entrevista. Com uma maquiagem discreta e os cabelos soltos, pego minha bolsa e a pasta com documentos importantes.

Guardo o celular na bolsa e saio do quarto, seguindo pelo corredor e descendo as escadas em direção à cozinha.

— Bom dia, princesa, toda produzida assim, para onde vai? — A voz de Pietro rompe o silêncio, saudando-me na cozinha.

— Bom dia, anjo. Tenho outra entrevista hoje. — Respondo enquanto acomodo minha bolsa sobre a bancada, abrindo a geladeira e retirando uma garrafa de suco.

— Hmm, muito chique para uma entrevista. — Ele comenta, observando-me da porta da cozinha.

— Sério? Nem percebi. — Reviro os olhos enquanto preparo alguns sanduíches.

— Estava pensando, que tal irmos visitar minha família esta noite? — Ele se aproxima e se senta ao meu lado.

— Estava considerando sair para algum lugar diferente, faz um tempo que não temos um programa só nós dois. — Digo antes de morder um pedaço do sanduíche.

— Minha mãe pediu especialmente para nos ver. Ela disse que faz tempo desde a sua última visita e sente sua falta. — Pietro dá de ombros, pegando um copo de suco e uma fatia de bolo de cenoura.

— Você lembra da última vez que estive lá, sua mãe já estava me perguntando sobre filhos. — Suspiro, deixando meu sanduíche de lado e fixando meu olhar nele.

— Tudo bem, podemos passar lá e depois sair para algum lugar. — Ele concorda, sorrindo diante da minha expressão séria. — Mas vou pedir para ela não tocar mais nesse assunto.

— Espero que cumpra sua palavra, Pietro. — Dou-lhe um rápido beijo e pego minha bolsa e pasta, dirigindo-me à porta de entrada.

O táxi que chamei já me aguarda do lado de fora. Entro no carro e cumprimento o motorista, enquanto partimos em direção ao endereço da entrevista. Sentada no banco de trás, observo atentamente a cidade se desdobrar diante dos meus olhos.

●●

— Pietro, você conversou com seus pais, certo? Sobre não falarem mais do casamento? — Pergunto enquanto o carro para em frente à casa deles.

— Claro, Emma, já falei isso mil vezes. Eles vão respeitar sua vontade. — Ele responde, preparando-se para sair do carro.

— Ótimo. Vamos logo antes que eu mude de ideia. — Digo, abrindo a porta do carro e descendo.

Ele segue meu exemplo e juntos caminhamos pelo jardim bem cuidado até a entrada da casa.

Assim que entramos, percebo que a noite promete ser longa. Além dos pais de Pietro, alguns primos e tios estão presentes. Respiro fundo, contendo a vontade de cravar minhas unhas no pulso de Pietro enquanto ele sorri com uma expressão desconfortável.

— Você disse que seria apenas um jantar com seus pais. — Murmuro, aplicando uma leve pressão no pulso dele.

— Eu não sabia que viriam todos eles. — Ele responde entre dentes, mantendo um sorriso forçado.

Alguns parentes se aproximam para nos cumprimentar, e eu encerro a ameaça sutil a Pietro, prometendo conversar em casa. Volto minha atenção para o tio dele, que se aproxima.

O tempo parece arrastar-se enquanto tentamos passar pela noite. O jantar é servido, e enquanto meus sogros discutem negócios com os tios de Pietro, sua avó bombardeia-me com perguntas sobre minha vida. Descubro inadvertidamente a história de vida dela e o motivo de ter tantos filhos. Mesmo assim, ela insiste em convencer-me sobre casamento e filhos com Pietro.

O jantar transcorreu, e eu estava prestes a pegar minha bolsa e sair daquele lugar, não por falta de gentileza, mas porque já antecipava o que viria quando Pietro descesse as escadas.

— Já está de saída, Emma? — Lilian, minha sogra, perguntou enquanto eu vestia meu casaco.

— Sim, Lilian. Foi um prazer estar aqui hoje, mas preciso dormir cedo. Tenho algumas coisas para resolver no centro amanhã. — Respondi, sorrindo docemente para ela.

Antes que eu pudesse me virar, senti os olhares curiosos de todos sobre mim. Respirei fundo, mentalizando um pedido silencioso aos céus para que Pietro não estivesse prestes a protagonizar um momento constrangedor. Mas parece que o universo tem um senso de humor peculiar ou simplesmente acredita que eu tenho uma aparência adequada para situações embaraçosas.

Respirei fundo ao ouvir sua voz atrás de mim, já antecipando o que estava por vir. Ele estava ajoelhado, segurando um buquê de rosas e um anel solitário.

Travei, sem saber onde enfiar minha cara. Inspirei profundamente enquanto ele declamava seu discurso ensaiado, observando-o com um sorriso fixo enquanto ele profere suas palavras apaixonadas. Tudo isso para, no final, eu ser forçada a dizer um sim constrangedor apenas para evitar deixá-lo mal diante dos outros.

Agradeço mentalmente quando a noite finalmente chega ao fim. No caminho de volta para casa, não trocamos uma palavra sequer. Pietro sabe da besteira que fez, então que se vire para consertar tudo.

Desço do carro e bato a porta com força, ouvindo a porta do lado do motorista se abrir.

— Não ouse sair desse carro, Pietro Herandes Fleymont. Desapareça da minha vista por hoje. — Ordeno, dirigindo-me à porta de entrada e trancando-a assim que entro em casa.

Consulto o relógio digital no canto da sala: 21h39. Ainda é cedo, mas preciso acalmar os nervos.

Subo as escadas rapidamente, troco de roupa por algo mais confortável e desligo o celular antes de me atirar na cama. Coloco uma jaqueta sobre os ombros e desço as escadas em direção à porta de entrada, pegando minhas chaves e o dinheiro que deixei na bolsa jogada no sofá.

Ao sair de casa, não tenho muitos amigos e não sou de sair muito, mas me sinto sufocada ultimamente e preciso deste tempo para mim.

●●

Uma casa noturna lotada, algumas bebidas duvidosas, e um homem em roupas descontraídas observando-me ao longe. A música latina envolvente faz todos na pista dançarem em um ritmo frenético.

Eu amo este lugar, fundado por dois cubanos há alguns anos e desde então um grande sucesso. Bebo vodka de uma só vez, dirigindo-me à pista de dança enquanto meu corpo se move no ritmo da música.

Não demora para sentir mãos em minha cintura, meu corpo sendo pressionado contra outro maior e mais robusto. Suas mãos deslizam pelo meu corpo de forma inconveniente.percebi quando o mesmo roçou sua barba em minha nuca me causando alguns arrepios.

Não digo nada ou demonstro alguma reação, apenas me afasto indo em direção ao meio da multidão e me perdendo em meio às inúmeras pessoas que ali haviam.

Fecho os olhos, deixando-o guiar-me na dança. Nada aconteceria, eu ainda estava no controle.

A noite segue tranquila, já passa das três e meia quando pego um táxi de volta para casa. Observo a cidade agitada pela janela, sem interesse em participar daquela agitação.

Pago ao taxista e entro em casa, trancando tudo antes de subir para o banho. Depois, me jogo na cama, cansada. Ligo o celular antes de adormecer, vendo uma enxurrada de mensagens de Pietro, mas não respondo. Tenho uma leve esperança de dormir bem naquela madrugada.

Acordo com o som insistente do celular, grato por não estar lidando com uma ressaca, já que minha ingestão de bebida na noite passada foi bastante moderada. A única coisa que me acompanha é o desejo de voltar a dormir.

Estico o braço e pego o celular, notando um número desconhecido piscando na tela. Um número de telefone fixo. Sem muita reflexão, decido atender.

— Alô. — Minha voz soa sonolenta enquanto me sento na cama, um bocejo escapando involuntariamente.

— Senhorita Collins, bom dia. Aqui é Margot, secretária do Senhor Mitchell. Estou entrando em contato para remarcar a entrevista para hoje. A que não foi possível realizar ontem devido a motivos pessoais. Se ainda estiver interessada, seu horário foi reagendado para as 11:40 da manhã. — A voz da mulher do outro lado da linha ecoa, e eu escuto atentamente cada palavra.

— Sim, ainda estou interessada. Estarei lá. Agradeço desde já pelo aviso. — Respondo, e a voz de Margot confirma a informação antes de desligar.

Com a determinação de uma preguiça despertada, me levanto e rumo ao banheiro. Um banho frio me ajuda a afastar o restante do sono, e logo sigo minha rotina de higiene. De volta ao quarto, escolho uma roupa apropriada para a entrevista.

Já são 09h54, e não quero correr o risco de chegar atrasada. Conhecendo minha tendência, prefiro me organizar com antecedência e sair mais cedo.

Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo alto após vestir-me, optando por uma maquiagem leve para disfarçar as olheiras da noite mal dormida.

Organizo minha bolsa, pego minha pasta e guardo o celular no bolso da calça. Descendo as escadas, dirijo-me à cozinha. Faço um lanche rápido, lembrando-me mentalmente de que preciso fazer compras em breve.

Chamo um táxi pelo aplicativo e, quando ele está próximo, saio pela porta da frente, trancando-a antes de seguir em frente.

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