Capítulo 3

Emma.

. A brisa fria da manhã toca minha pele, como uma breve saudação matinal. Estico-me ainda na cama, alongando meus braços e coluna, tentando evitar problemas na coluna aos vinte e poucos anos.

Dirijo-me à grande janela que se abre para a rua, abrindo as cortinas grossas e deixando o ar fresco entrar livremente no quarto.

Concluo o d******d que traz minha alma de volta ao meu corpo e vou para o banheiro, seguindo minha rotina matinal que consiste em me preparar para o trabalho tão rápido quanto o personagem Flecha de Zootopia.

Depois de terminar, volto para o quarto e me visto com algo formal, porém confortável, adequado para o meu primeiro dia de trabalho como a nova secretária do CEO de uma das maiores multinacionais do país.

Pego minha bolsa e celular, saio do quarto, tranco a porta e guardo a chave na bolsa.

Descendo as escadas, percebo que estou sozinha em casa. Sirvo-me de suco e alguns sanduíches, sentando-me no pequeno banco próximo à ilha da cozinha para saborear meu café da manhã.

Deveria estar preocupada por não ter falado com Pietro desde sua encenação na casa dos pais dele, ou pela forma como o mandei embora dois dias atrás, ou talvez pelas 250 mensagens e 75 ligações perdidas. Bem, talvez devesse, mas para ser sincera, não faz muita diferença para mim. Pietro e eu estamos nesse jogo de vai e volta há três anos e pouco.

E recentemente sua mãe começou a pressioná-lo sobre casamento, jurando que se ele se casar, se tornará mais responsável. E no fim, toda essa pressão cai sobre mim. Ainda não encontrei uma forma de dizer à mãe dele que não sou a Madre Teresa dos relacionamentos para realizar milagres.

Enfim, termino meu café, lavo a louça, pego minhas coisas e saio de casa em direção ao táxi que já me esperava na porta.

~¤~

Caminho em direção à recepcionista, que abre um grande sorriso ao me ver. Ela me cumprimenta brevemente, trocamos uma ou duas palavras e então sigo em direção ao elevador, tentando controlar a respiração, mas prestes a ter um ataque cardíaco.

Respiro fundo novamente antes de sair do elevador, caminho com confiança pelo enorme corredor em direção à sala do Senhor Mitchell. Ao chegar à mesa em frente à sua sala (que agora será minha), sou recebida pela voz alegre de Margot, que ecoa ao meu redor, contagiando meu dia.

Encontrei Margo sentada em sua mesa e, ao me ver chegar, ela levantou-se e veio ao meu encontro.

— Bom dia Emma, como vai ? — me saudou Margot com um sorriso estampando sua face. — Animada para começar o dia?

— Eu estaria mentindo se lhe dissesse que não estou ansiosa.  — Digo sorrindo e me acomodando no que agora seria minha mesa. — Céus, acho que posso surtar a qualquer momento de tão eufórica que estou.

— Não se preocupe, você parece ser esperta, se sairá bem. — ela diz sorrindo. — Se serve como concelho, evite as investidas do Senhor Mitchell.  Ele tem a fama de mulherengo aqui dentro e bem costuma da em cima de todas as funcionárias que chegam aqui.

Arquei as sobrancelhas, prestes a responder algo. Achando estranho suas palavras, porém optei por guardá-las para mim e tirar minhas próprias conclusões eu mesma.

Margot me explicou minuciosamente minhas funções e responsabilidades. Eram bem mais coisas que uma secretária normal faria e admito que isso me deu um pouco de medo, pois nunca lidei diretamente com investidores desse jeito.

— Isso é bem mais do que eu pensava. Nunca lidei com investidores assim tão de perto. Na verdade, nem em reuniões minha antiga chefe me permitia participar. —  confessei um pouco sem jeito.

— Não se preocupe tanto, logo você pega o jeito. Aqui estão as senhas dos nossos computadores e quando uma de nós falta, a outra cobre. Então, você aprende o seu e o meu — explicou ela, passando-me as informações. — O trabalho é tranquilo, exceto nos dias em que o senhor Mitchell parece ter incorporado o coisa ruim, mas logo passa.

Fiz o sinal da cruz, mesmo que ela não percebesse, ao ouvi-la mencionar isso.

O som de passos no corredor indicou sua chegada, e Margo fez uma careta, avisando-me. Sentei-me e examinei os documentos que ela me passara. Quando ele entrou na sala, observei-o, notando como seu terno preto parecia feito sob medida.

— Bom dia, Senhor Mitchell — cumprimentamos em uníssono.

— Senhoritas — ele respondeu cordialmente, muito diferente do homem que havia me entrevistado.

Olhei para Margo confusa, e ela arqueou as sobrancelhas.

— Aí tem coisa — murmurou ela baixinho, pegando o tablet para anotar a agenda. — Vamos, se não estivermos na sala dele em cinco minutos, ele nos devora. — dei um sorriso ao ouvir isso, e ela riu também. — Não assim, Emma.

Peguei o tablet e segui Margo até a sala do Senhor Mitchell, que parecia ainda mais sombria do que na entrevista. Ele estava de costas quando entramos.

— Margôt, ligue para alguns investidores e marque uma reunião para esta tarde. Cancela a reunião com o pessoal do marketing. Preciso dos documentos revisados até as 14h e telefone para minha irmã, peça para que entre em contato comigo rapidamente. Por enquanto é só — ditou ele, virando-se para nos observar. — Senhorita Collins, busque meu café. Não começo o dia sem ele, e hoje não será diferente.

Suas palavras simpáticas me surpreenderam.

— Claro, senhor Mitchell.

— Ótimo. Vá até a East 43rd street buscar meu café. Café com leite, dois cubos de açúcar, e antes da próxima reunião, que é daqui a uma hora. Sugiro que seja rápida se quiser manter seu emprego.

Ele sorriu brevemente antes de voltar a se sentar. Margoth me puxou pelo braço, trazendo-me de volta à realidade, e saímos da sala.

— É só um teste — explicou ela. — Ele está te avaliando. Os primeiros dias serão difíceis, mas depois você se acostuma.

— Volto em quarenta minutos — disse, pegando minha bolsa e saindo. Se o Senhor Mitchell queria seu café, ele o teria, não importa onde eu tivesse que ir buscá-lo.

~~▪︎~~

Durante todo o dia, senti-me como a "moça do café". Mal pus os pés na empresa e já estava a caminho da cafeteria. Nem faço ideia do estado da minha mesa, tomada por documentos que não sei nem por onde começar.

Quando voltei da Sip & Savor com o café do Senhor Mitchell, o relógio marcava vinte minutos para a sua reunião. Entreguei-lhe o café e vi um breve sorriso surgir em seus lábios.

— Esteja na sala de reuniões em cinco minutos, Senhorita Collins. Vou precisar da sua ajuda — ele disse, dando um gole em seu café.

Só tive tempo de ir ao banheiro antes de seguir para a sala de reuniões, onde já havia algumas pessoas. Talvez investidores e sócios. Assim que entrei, uma mulher bem vestida se aproximou com um papel nas mãos.

— Olá, você deve ser Emma. Me chamo Amber, do setor jurídico. — ela se apresentou com um sorriso e apertou minha mão rapidamente. — Thomas avisou que você viria. Preciso que pegue essa lista com os tipos de café que cada um dos homens presentes gosta, e como gostam. Alguns você encontrará facilmente na cantina, outros terá que ir até as cafeterias listadas aqui. Volte antes do fim da reunião, que deve durar cerca de três horas. Sinto muito, Thomas insistiu que você fosse.

Observo a lista em minhas mãos, com mais de vinte nomes e diferentes tipos de café, alguns marcados em vermelho com nomes de cafeterias espalhadas pela cidade.

Respiro fundo e digo algumas palavras a Amber antes de sair e voltar para minha mesa, onde pego minha bolsa. Margot me olha com as sobrancelhas arqueadas, sem entender.

— Acabei de ser promovida a "garota do café" — digo com ironia, dirigindo-me ao elevador.

~~¤~~

Estou pensando seriamente em fazer uma visita ao hospital psiquiátrico localizado na 1500 S. Fairfield Ave. depois de passar horas com Thomas. Margot teve que sair mais cedo para resolver algumas coisas a pedido dele, e então eu o aturei sozinha a tarde inteira, entre pilhas de documentos para passar para o sistema, analisar os documentos de Margot e buscar seu "lanche da tarde" em uma lanchonete próxima à empresa.

Após essa tarde tranquila, minha sanidade mental definitivamente fez as malas e partiu, dizendo que não estava sendo paga o suficiente para aguentar aquilo.

Guardo minhas coisas e arrumo minha bolsa, então me levanto da cadeira e pego as pastas que estavam em minha mesa, dirigindo-me à sala do Senhor Mitchell. Abro a porta com cuidado e entro sem bater, notando que ele estava concentrado em seu computador.

— Educação é uma virtude rara hoje em dia — ele diz, sem tirar os olhos da tela.

— Concordo, é uma pena que não seja mais valorizada como deveria — respondo, colocando as pastas sobre a mesa. — Aqui estão os documentos que você pediu. Algum outro serviço que precise?

— Sua mãe não te ensinou a ter educação, garota? — ele solta, em um tom sarcástico que me faz cerrar os punhos. — Deve ter faltado aulas de boas maneiras.

Engulo em seco, lutando para manter a calma. Não posso deixar que ele me provoque.

Sem proferir uma palavra, viro-me para sair quando ouço a voz de Thomas novamente preencher o ambiente.

— Nunca me dê as costas quando eu estiver falando, Senhorita Collins — ele diz, com sua voz estridente ecoando pelo escritório.

Respiro fundo e lanço um olhar para o relógio na parede. 19:30. O andar onde estamos já está vazio, somos os únicos ali.

— O silêncio muitas vezes é a melhor resposta — respondo, mantendo a calma. Por um momento, reina um silêncio desconfortável até que ele se pronuncia novamente.

— Está dispensada, Senhorita Collins — ele diz, num tom mais sereno do que antes, o que me deixa intrigada.

Sem hesitar, saio da sala e retorno à minha mesa. Ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de falar sobre minha mãe daquela maneira. Quem ele pensa que é, só porque é o dono da empresa? Não vou deixar que ele me intimide.Pego meu celular, que estava dentro da bolsa, e vejo o nome de Pietro na tela.

— Emma falando.

— Finalmente, Emma! Tentei te ligar o dia todo ontem. Não atendeu minhas chamadas nem respondeu minhas mensagens — uma torrente de palavras desesperadas de Pietro ecoa em meus ouvidos.

— Desculpe, Pietro. Cheguei em casa exausta ontem, depois de um dia longo. Mas, enfim, o que quer?

— Quero te levar para sair, amor. Precisamos conversar e acertar os detalhes do casamento.

— Pietro, não haverá casamento. Você não percebeu que aceitei seu pedido apenas para te poupar de passar vergonha na frente de sua família?

— Não, Emma, você está brincando, querida. Sempre teve um ótimo senso de humor. Estou indo para sua casa agora, vamos conversar.

— Hoje não, Pietro. Foi meu primeiro dia de trabalho e estou esgotada. Acabei de sair, então podemos falar outro dia. Te amo, cuide-se.

Desligo o telefone antes que ele possa insistir em seus planos.

— Parece que não sou só eu que você trata com delicadeza, Senhorita Collins — ouço a voz de Thomas, sua voz carregada por puro sarcasmo.

— Para alguém que presa tanto por educação Senhor Mitchell, você deveria saber que é falta dela— respondo, pegando minha bolsa e saindo apressadamente em direção ao elevador, sem dar tempo para que ele revidasse.

Ele me segue até o elevador, e o silêncio paira entre nós enquanto descemos. Quando as portas se abrem, saio rapidamente, cumprimento a recepcionista e me dirijo para fora da empresa, onde consigo um táxi.

Entro no carro e cumprimento o motorista, indicando o endereço para onde quero ir. O táxi parte, levando-me rumo ao meu destino.

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