capítulo 4

𝙴𝚖𝚖𝚊 𝙽𝚊𝚛𝚛𝚊𝚗𝚍𝚘.

Dias depois.

QUATRO NOITES. Quatro noites de olhos fixos no teto, observando as sombras dançarem enquanto o relógio impiedoso marcava cada segundo. Quatro noites desde que a insanidade invadiu minha vida na forma de um telefone fixo tocando a noite inteira no andar de baixo, ou de um celular vibrando incessantemente na mesa de cabeceira.

Thomas Mitchell. O nome ressoava na minha mente como um eco constante, uma praga que se infiltrava em cada pensamento, cada suspiro. Meu novo chefe. A razão por trás das minhas olheiras profundas e da minha mente em frangalhos.

— Collins, espero não estar atrapalhando seu sono. Claro, isso não importa muito... — ele começou na primeira noite, sua voz rude e penetrante no silêncio da madrugada. — Preciso de um favor, estou precisando de um documento urgente, especificamente aquele que lhe pedi para digitalizar esta tarde. Bem, como sei que o levou para casa para terminar, gostaria de pedir que me enviasse novamente. De preferência em cinco minutos. Acho que é o tempo suficiente para que você consiga acessar o sistema.

— Senhor Mitchell, não sei dizer se em sua casa tem relógio, mas gostaria de ressaltar que são duas horas da madrugada. Que ser humano em sua sã consciência ligaria para outro às duas da madrugada atrás de documento de projetos da empresa? — digo com irritação, minha voz com um misto de raiva e frustração.

— O mesmo que está falando com você nesse exato momento. Estou no aguardo, por favor seja breve, eu odeio esperar. — após as palavras educadas e delicadas vindas do mesmo, ele simplesmente desligou o telefone na minha cara.

E assim começou o ciclo vicioso de pedidos ridículos que ele tinha a ousadia de me fazer às duas da manhã. "Collins, preciso que passe em meu apartamento pela manhã e pegue minha correspondência, pois não estarei em casa" ou "Collins, preciso que passe em Sy & Savor antes de vir para a empresa e pegue alguns cafés especiais."

Oh, como eu desejava ter a coragem de responder com o sarcasmo que fervilhava dentro de mim. "Claro, senhor Mitchell, porque a vida de um entregador de café e correio é o que eu sempre sonhei."

Acreditem quando eu digo que tentei ignorar, sim, eu tentei a todo custo, acontece que quando eu ignorei foi pior, levando em consideração que, na terceira noite, quando eu decidi não atender. A campainha tocou cerca de uma hora depois, eram três da madrugada e lá estava ele.

Me olhando com um olhar irritado enquanto invadia minha casa em busca de um maldito relatório que eu havia trazido comigo, pelo simples fato de que não queria ficar na empresa até tarde e optei por trazê-lo comigo. Afinal, faltavam apenas algumas linhas para editar.

O que quero dizer é que, além de um tremendo babaca, começo a notar que meu chefe pode ter leves distúrbios mentais. Ou quem sabe ele só quer me enlouquecer e está usando todas as forças para conseguir isso.

Finalizo mais uma ligação, um maldito terno, ele só queria me pedir para buscar seu maldito terno na lavanderia quando eu saísse pela manhã. Respiro profundamente, observo o relógio no móvel ao lado da cômoda, o ponteiro marcando cerca de 02h38 A.M., céus, eu realmente irei enlouquecer se tudo continuar assim.

Após sair de casa quase uma hora e meia mais cedo, apenas para ir até os confins da terra em busca do bendito terno do meu querido chefe, acabo por chegar à empresa cerca de trinta minutos atrasada. Cumprimento brevemente Violet na recepção e sigo para o elevador que me levaria ao meu andar.

Não fui apenas buscar o bendito terno, na verdade estava saindo da lavanderia quando meu telefone tocou e Thomas me enviou a outra extremidade da cidade para buscar seu café.

Caminho apressadamente pelo imenso corredor, parecendo uma doida literalmente, nunca fiquei tão feliz quanto estou agora apenas por ver minha mesa.

— Emma, você está bem? Parece ter vindo correndo. Aconteceu algo? — a voz de Margot chegou aos meus ouvidos, trazendo-me para a realidade.

— Estou bem... Ah, o senhor Mitchell já chegou? — pergunto enquanto tento recuperar o fôlego.

— Chegou há alguns minutos. — Ela diz com incredulidade e as sobrancelhas erguidas.

— Já volto.

Me recompondo, pego o copo de café em minha mão esquerda enquanto seguro o cabide com terno na mão direita, sigo em direção à porta da sala, entrando sem bater, até porque estava um pouco difícil, digamos assim.

Esperava por tudo ao entrar no escritório, tudo menos encontrar meu chefe debruçado sobre sua mesa, algumas fileiras de um pó branco distribuídas sobre a mesa.

Entrei rapidamente, dando um jeito de fechar a porta atrás de mim. O barulho um tanto quanto alto ecoou pela sala, atraindo a atenção de Thomas. Respiro profundamente quando seu olhar recai sobre mim, me observa de forma fria e intrigante.

— Está atrasada. — Sua voz ecoou com firmeza, causando-me arrepios.

— O trânsito estava terrível. — digo me recuperando, e me aproximando de sua mesa. — Aqui está o que me pediu.

— Sabe que não tolero atrasos. — Seus olhos castanhos fitaram os meus por um momento. — Eu poderia demiti-la.

— Por qual motivo? Me atrasar por estar fazendo algo que você mandou fazer? — digo um pouco irritada. — Saí de casa quase duas horas mais cedo esta manhã, apenas para atender a seus caprichos e tentar chegar na hora. E você vem me dizer que estou atrasada? — faço uma pausa e acabo rindo ao ver a expressão em seu rosto. — Talvez eu conseguisse chegar na hora, se você não me ligasse no meio da madrugada para me pedir favores ridículos... ou quem sabe se eu não precisasse ir até o outro lado da cidade apenas para atender seus caprichos. Talvez assim eu chegasse no horário correto.

Eu poderia ser demitida, sim, poderia na terceira semana de trabalho ainda mais, contudo eu não pensei nisso quando resolvi abrir a boca e despejar em meu querido e adorável chefe, toda minha indignação.

— Vá até o quarto andar, diga a Dominique que preciso de sua análise sobre a proposta para a aprovação da construção do novo hospital na área leste da cidade. — ele diz calmamente, exibindo um meio sorriso em seu rosto e ainda focando em mim. — E a propósito, senhorita Collins, você não viu nada. — ele finaliza, tomando um gole de seu café e me deixando perplexa com sua mudança de humor.

Saio de sua sala e volto para minha mesa, Margot me observa com as sobrancelhas erguidas, um ar de curiosidade se mostra nítido em seu semblante.

— Emma, tem certeza que você está bem? — ainda me observando com a mesma expressão.

— Sim, eu apenas... bem, tenho de ir até o quarto andar buscar um projeto. — Digo tentando parecer o mais normal possível.

— Você viu, não é? — ela insiste.

— Não sei do que está falando.

— Thomas, ele estava usando drogas novamente. Ou seja lá o que for aquilo sobre sua mesa, ele faz isso às vezes. Coincidência ou não, ele ficará mais calmo pelo resto do dia. — ela diz, como se tal ato fosse a coisa mais normal do mundo.

— Quem sou eu para julgar seus hábitos. — digo dando de ombros. — Já volto, vou buscar o que ele me pediu. — digo saindo em direção ao elevador.

~~¤~~

Caminhava lentamente pela avenida movimentada em direção à empresa, havia optado por almoçar em um restaurante que ficava descendo a rua. Um lugar bastante aconchegante, diga-se de passagem, e com uma comida maravilhosa.

Seguia em direção à entrada da empresa, cumprimentei alguns seguranças e, ao passar pelas grandes portas de vidro, dirigi-me à recepção onde Violet estava, imersa no computador à sua frente.

Antes que pudesse me aproximar da recepção, ouvi meu nome sendo chamado por uma voz masculina, uma voz que eu conhecia muito bem. Respirei profundamente e virei-me para encontrar Pietro, parado a alguns metros com seus olhos esverdeados focados em mim.

— O que fazes aqui? — perguntei, aproximando-me dele.

— Vim busca-lá para que pudéssemos almoçar e resolver algumas coisas. Mas pelo visto, suponho que cheguei tarde.

— Não há o que resolver, já disse que não vou jantar com seus pais novamente. Meus planos para esta noite são outros.

— Eu já disse, conversei com eles e ambos entenderam que não iremos nos casar agora. Quem sabe mais à frente, porém não agora.

— Pietro, vai embora. Amanhã conversamos.

— Irei para tua casa esta noite. — ele disse, exibindo um grande sorriso. — Passaremos a noite juntos e resolveremos tudo.

— Qual parte de "tenho planos para esta noite" você não entendeu ?

— O que poderia ser melhor do que passar um tempo com teu homem amor? — Ele disse convencidamente, aproximando-se para me beijar.

— Ava está na cidade, marcamos de sair. — digo, me afastando do mesmo. — Você sabe que não gosto de demonstrações de afeto em público. Vá embora, Pietro, conversamos outra hora. — digo, dando-lhe as costas em seguida e me dirigindo-me ao elevador enquanto ouvia-o falar algo mais, algo que não me esforcei para prestar atenção.

Minutos se passaram quando finalmente cheguei ao meu andar, caminhei de volta para minha mesa e mal me aproximei quando percebi a porta da sala de Thomas sendo aberta. Logo em seguida, ele surgiu, exibindo o mesmo semblante fechado de sempre.

— Collins, minha sala agora. — ele disse severamente, antes de desaparecer dentro de sua sala novamente.

Respirei fundo enquanto me dirigia à sua sala, pensando no que diabos eu havia feito de errado dessa vez. Entrei na sala já esperando pelo próximo pedido ridículo ou pela bronca não merecida.

Involuntariamente, meus olhos se voltaram para a mesa de Thomas, onde pela manhã havia diversas fileiras de pó; agora estava coberta por documentos. As pessoas me chamariam de louca se eu por um acaso falasse o que vi aqui.

— Não deverias ser tão curiosa, senhorita Collins. — Sua voz atraiu minha atenção.

— Não disse nada.

— Seu olhar demonstra as inúmeras perguntas que estão se formando em sua mente, e antes que de continuidade, devo avisá-la para medir suas palavras e sua curiosidade, pois até onde sei o que faço ou deixo de fazer em minha sala não te diz respeito. — ele disse com sarcasmo, exibindo um breve sorriso. — Acho que deve está se perguntando o motivo pelo qual te chamei em minha sala.

— Sem dúvidas, essa é minha maior curiosidade no momento. — disse, dando um sorriso falso para ele.

— Serei breve. Gostaria de pedir apenas que evitasses qualquer tipo de exposição ou demonstração de afeto em público nas dependências da empresa. — ele disse com certo sarcasmo em sua voz.

— Não entendi, senhor Mitchell. Em momento algum mantive demonstrações de afeto...

— No hall de entrada, senhorita Collins. Voce e aquele que creio ser seu namorado, noivo, esposo, ficante. Não me importa o que ele seja seu, apenas peço que tenhas respeito pela minha empresa e evite situações desse tipo nas dependências dela. Não me importo com a vida de meus funcionários fora destas paredes, contudo, aqui dentro peço que o respeito prevaleça acima de tudo. — ele disse tais palavras com tamanha convicção que por um momento quase acreditei que havia feito algo de errado.

Respirei fundo e mantive a calma antes de responder-lhe, ainda precisava desse emprego.

— Está bem, senhor Mitchell. Não voltará a acontecer. — disse, tentando parecer o mais sincera possível.

— Ótimo. — ele disse, mostrando um sorriso ladino que me fez erguer as sobrancelhas ainda mais. — A propósito, senhorita Collins, mantenha teu telefone ligado esta madrugada, quem sabe eu possa precisar dos seus serviços. — ele disse sorrindo e dirigindo-se até sua mesa para pegar algo em uma das gavetas.

— Espero realmente que o senhor não precise, caso contrário, não tenho certeza se poderei ajudar. — disse calmamente, dando-lhe as costas e saindo da sala em direção à minha mesa.

Era só o que me faltava, viver grudada no telefone porque meu chefe é maluco e pegou a mania de me ligar toda madrugada. Céus, eu realmente estou pagando por algo que não me lembro de ter feito.

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