30 outonos atrás
Ao ver Hatark desaparecer, fugindo pela floresta, Garred voltou sua atenção para o pai ao chão. Largou a espada e debruçou sobre ele, buscando algum sinal de vida. Furtado de uma última despedida, abraçou-se ao corpo sem vida do homem e chorou silenciosamente. A vida nunca lhes deu momentos de verdadeira relação paternal. E embora tenha sempre encontrado no pai um afastamento desnaturado, nutria um imenso respeito e admiração no reflexo do que pretendia ser como soldado. Desde cedo acreditou que destacar-se no serviço real seria o caminho para o desejoso reconhecimento paterno. Via, entretanto, sua oportunidade desaparecer com aquele cruel assassinato. Foi tomado por um misto de incapacidade, frustração e dor. Mas por fim prevaleceu o ódio daquele que um dia chamou de amigo. E do ódio nasceu uma incontrolável necessidade de v
Com um grito alto, Garred Derewolf investiu contra o Lican, espada em punho prestes a golpeá-lo quando foi interrompido por vultos que cruzaram entre as árvores e os cercaram. O iminente perigo fez com que tanto Garred quanto Hatark alterassem seu foco. Os dois sabiam que estavam cercados. E que seus novos inimigos eram fortes demais para que derrotassem sozinhos. Em um acordo tácito, os dois deram-se as costas, preparando-se para o ataque iminente. Então, cientes de que já haviam sido notados, dentre as árvores da floresta revelou-se uma Alcateia de três Licans brancos. – Finalmente o encontramos, traidor. – O maior, que parecia ser o alfa, dirigiu suas agressivas palavras para Hatark. – Soubemos que virou animal de estimação dos humanos. E veja aí um!Os dois permaneciam quietos, atentos a qualquer ofensiva. Enquanto isso, os Licans circundav
Na aldeia da Ordem do Capuz, as guerreiras sobreviventes haviam acabado de enterrar as guerreiras tombadas e estavam prestes a deixar o local em busca de uma nova morada. E enquanto as outras recolhiam tudo, Ni'La permanecia diante do túmulo de sua mentora, chorando por sua morte e questionando o significado de tudo aquilo.– Ni'La – Dai'Ha repousou a mão em seu ombro. – Precisamos ir.– Eu não vou. – Respondeu surpreendendo a amiga. – Preciso resolver isso de uma vez por todas.– Podemos ir com você e caçar este Lican...– Não. – Interrompeu-a. – Nossa aldeia está fragilizada e precisa de vocês. Além disso, este assunto só diz respeito a mim.– Tudo bem, irmã. Eu entendo. – As duas se abraçaram em despedida e se separaram.Tudo já estava pronto e as guerreiras de partida q
Oculta no entretempo, em um pedaço fora da realidade conhecido ali como REM, uma sala reunia um conselho secreto de uma alta cúpula, cujo mistério transcendia o tempo e a tarefa guardava a mais elevada importância para aquele e os demais universos. Seu conhecimento vasto era ilimitado e o que faziam com este conhecimento poderia ser facilmente confundido com atos divinos enquanto eram eles quem moviam as peças e moviam as cordas invisíveis de toda Fábula e além.A pequena fada cruzou apressada a teia da realidade, sacudindo suas asas e pousando sobre a entrada do salão. Suspirou fundo e entrou, sendo encarada pelos três já presentes, sentados em três das cinco cadeiras dispostas. Ignorando os olhares ela caminhou sobre a mesa até o centro, carregando consigo todos os olhares. E foi ela mesma quem começou a falar.– Está feito. As peças já estã
Ah, faça-me o favor! Só mesmo em Fábula pra um escritor explicar ao fim o que deveria ter sido esclarecido no começo. Mas enfim (ou em começo, já não sei) vamos fazê-lo entender a loucura dos universos e expandir seus conhecimentos. Pra começar: esqueça tudo o que sabe sobre o universo. Sim, você foi enganado desde sempre. A verdade é esta aqui:Teoria PoliversalNosso universo não é único. Vários universos coexistem no mesmo tempo e espaço. A todo momento estes universos se cruzam, mas como são formados por energias e matérias diferentes, eles nunca se chocam. Eles se cruzam imperceptíveis e inconscientes da existência um do outro. Um universo atravessa o outro de forma imaterial, intangível e invisível. O chamado “efeito fantasma”. Isso quer dizer que neste momento u
PINÓQUIOEra uma vez um velho carpinteiro chamado GepetoNunca teve filhos, ocupado cada dia com um novo inventoE de tudo o que criava, fazer bonecos era o que mais o agradavaAté que um dia construiu um tão belo que da perfeição se aproximavaTão logo terminou, encarou seus olhinhos pintados– Serás o filho que não tive – pensou alto encantado– E claro, precisas de um nome! Mas que nome eu te darei?De tanto pensar decidiu: – Pinóquio, assim o chamarei!E ao deitar-se Gepeto as estrelas pediuQue o boneco virasse um menino de verdadeE ainda pedindo virou-se e dormiuSem saber da visita que viria mais tardeFada Azul ouviu seu pedido, decidindo então atende-lo Disse: – Vou-te dar vida, boneco. Da pontinha do pé ao fio de cabeloE prometo mais do que isso: Em poucos
Uma folha vermelha se desprendeu da frondosa árvore que me refugiava sombra. Por trás da montanha o sol se despedia, sangrando o azul celeste e convidando o anoitecer. Desviando o olhar para a passagem há alguns metros de mim, senti meu rosto se transformar em um sorriso tímido. A grama se estendia entre ela e eu, formando um tapete verde sombreado pelas copas das muitas árvores que se projetavam ao céu. Mas naquele momento só me importava aquele vulto que se projetava, anunciando a chegada da donzela tão aguardada.A jovem me observou por um instante, retribuindo meu tímido sorriso com um mais largo e atrevido. Seu rosto alvo de pele sedosa rosava pelo esforço através do dificultoso trajeto. Ela ergueu-se assim que conseguiu sair do buraco, sacudiu o vestido azul fazendo voar alguns pedaços de grama e, após ajeitar os cachos dourados, apressou-se em minha direção.
"O som alto e rítmico do machado ecoava por toda a floresta, espantando os animais que buscavam abrigo. Os musculosos braços do incansável guerreiro tremiam ante a força dos seus próprios golpes. E apesar de toda a sua truculência, a criatura permanecia imóvel, firme e aparentemente inabalável. O inimigo era gigante, muitas vezes maior e parecia ser bem mais forte. Era evidente que travava uma batalha desigual. Mas então alguns potentes golpes acompanhados de grunhidos pareceram surtir algum efeito. O monstro balançou, primeiro quase que imperceptivelmente. Mas mesmo aquela sutil fraquejada foi suficiente para que o guerreiro reunisse toda a força que lhe restava em um último golpe devastador. Foi o suficiente para seu imenso inimigo gemer e tombar vagarosamente como qualquer gigante que se preze. E então ele finalmente encontrou o chão, fazendo toda floresta tremer e os pássaros mais distantes partirem em revoada, sob o alto grito do vitorioso guerreiro:" - MADEIRAAAA!!!
A fresta de luz que entrava pela porta aberta iluminava o corpo sem vida de Dora, fazendo cintilar a poça de sangue sob ele. Uma visão quase poeticamente bela, não fosse aquela sua esposa. Uma fúria crescente ascendia do peito do lenhador, que olhava fixamente seu inimigo.Do outro lado, a criatura grotesca de pelugem negra emitia um crescente som cavernoso. Ergueu lentamente as garras, evidenciando o sangue da mulher que as banhava até encharcar os pelos das patas. Súbito uma gota escorreu projetando-se e morrendo ao chão, produzindo um som que precedeu o início da batalha.emitindo um alto grito, Honor saltou contra o Lican com seu machado estendido, procurando-lhe o peito. A criatura avançou em confronto em uma velocidade surpreendente. Agarrou o aço afiado do machado despreocupado em cortar-se e com a outra garra desferiu um golpe que passou a milímetros do rosto do lenhador, tendo este de