01 - Thomas Eu tenho vontade de destruir cada parte do corpo daquele maldito.Coloco os cotovelos na mesa do escritório, apoio o rosto nas palmas das mãos e puxo o cabelo com força. Eu falhei. Pela primeira vez em muitos anos, eu falhei.Sempre administrei meus negócios muito bem, melhor do que as expectativas do meu pai. Melhor do que ele mesmo fez. Fiz o que devia fazer, sem me preocupar em ter que destruir algumas pessoas no caminho. No mundo do sucesso, empatia e compaixão não existem. Contratei gente de confiança e me certifiquei de que os transformaria em menos que nada se algum deles falhasse ou traísse a minha confiança. O que eu não fiz foi imaginar que ia ser traído pelo homem que está comigo desde que nós éramos pirralhos. Foi exatamente aí que falhei.César Magalhães, meu quase irmão, amigo de longa data, estava me roubando há anos. Anos. Como gestor financeiro da minha empresa, ele tinha métodos de desviar o dinheiro sem que ninguém percebesse. E meu erro foi confiar nel
02 - Thomas Uma semana se passou desde que confrontei César e o informei sobre meus planos. Ele não apareceu na empresa novamente, mas está na minha mira. Não vou permitir que fuja ou se esconda antes que meus planos de vingança sejam concretizados. Aposto que acha que estava blefando quando disse que ia tomar seu bem mais precioso, provavelmente contando com a amizade, mas eu não estava. Apenas tinha coisas mais importantes para fazer, como me reunir com diversos especialistas para ver a melhor forma de sair desse golpe sem perder muito.Eu odeio perder qualquer coisa. Odeio que as coisas não estejam ao meu alcance, que eu não tenha o controle de cada respiração dentro da empresa. As coisas vão voltar ao que eram antes, custe o que custar. Custe quem custar.Alarmo o carro depois de estacionar na frente o prédio que já visitei mais vezes do que consigo contar. Ando até a portaria e sou facilmente recebido pelo porteiro que me conhece muito bem e nunca me anuncia. Subo o elevador olh
03 - Cecília Parece que foi ontem que eu me mudei para cá, que minha mãe estava chorando no aeroporto e prometendo que ia me ligar todos os dias. Eu fiquei com muito medo no começo porque nunca tinha morado sozinha, ainda por cima em um país onde não conhecia ninguém. Foi por isso que eu decidi morar em uma sororidade, igual às meninas dos filmes das universidades americanas que eu adorava assistir quando era mais nova. Pelo menos assim eu não ia ficar sozinha.Meu pai não queria. Ele é muito ciumento e cismou que eu ia passar todo o meu tempo livre enfiada em festas e bebendo ao invés de estudar. Precisei prometer que ia me comportar para ele concordar. César Magalhães nunca conseguiu dizer não para mim mesmo. Mas era verdade, eu realmente ia me comportar. Até porque nunca me interessei em ir em festas nem encher a cara.Eu terminei o ensino médio bem cedo, com dezesseis anos, e sempre quis estudar para poder trabalhar com ele, então quando ele decidiu que ia me mandar aqui para Nov
04 - CECÍLIAAs aulas começaram tem pouco mais de um mês, mas já é começo de outubro e está começando a esfriar. O inverno aqui é muito diferente do que o que eu cresci acostumada em São Paulo, e eu simplesmente amo a neve. Mal posso esperar para a cidade estar toda coberta em branco.Quando saio da aula já está no final da tarde e eu ando pelo campus da faculdade em direção à casa da minha sororidade. Só então lembro do celular que comprei mais cedo e vasculho a minha bolsa atrás do aparelho que ainda está desligado. Vou caminhando e configurando o celular, e só termino quando já estou na porta de casa.Tudo finalmente conecta e meu celular sincroniza. Dezenas de mensagens dos meus pais começam a pular na tela. Eu estranho. Tudo bem que fiquei alguns dias sem celular, mas nem eles tentam falar tanto assim comigo. Abro as mensagens enquanto entro na casa. Várias delas só pedem para eu ligar para casa e dizem que precisam falar comigo.Começo a ficar preocupada e estou tão distraída qu
Cecília— Pronto, a gente pode conversar aqui.Eu fecho a porta do meu quarto e o lugar parece muito pequeno. Não é, é bem espaçoso que nem todos os quartos dessa casa, mas Thomas é grande, alto e forte, e parece que toma todo o lugar. Ele está olhando ao redor, para a decoração do quarto, e eu não sei por que fico tão nervosa, mas fico. Ele anda pelo quarto e vai até a penteadeira que fica no canto da parede. Pega um porta-retratos com uma foto minha com meus pais e abre um sorriso que arrepia a minha espinha. Parece maldoso, mas não faz sentido que seja, já que ele sempre foi um ótimo amigo da família.— Está tudo bem? — eu pergunto. Ele não fala nada. Só faz que sim com a cabeça e continua olhando para a foto por mais alguns segundos.— Então seu pai não te ligou? — ele pergunta e eu começo a ficar preocupada. Pego o celular da bolsa e começo a ler rapidamente as mensagens que perdi nos últimos dias.— Meu celular estragou há alguns dias, só consegui comprar outrohoje — digo sem o
ThomasEscuto com atenção enquanto Cecília conversa com seu querido pai pelo telefone. Vejo o segundo em que seu rosto se transforma de preocupação para puro desespero. Sento, espero e olho para o relógio com impaciência. Estou entediado.— Como você pôde fazer isso, papai? — a garota sussurra em um fio de voz e as lágrimas escorrem pelo seu rosto pálido.Espero.Acompanho toda a raiva despejada de um jeito até meigo, até que Cecília desliga o telefone.— Oh, querida, eu sinto muito. Sabe que sempre tive seu pai como um irmão. Estou tão decepcionado quanto você. — Abro um sorriso cínico, porque sei que vou usar a tristeza que vejo no seu rosto agora contra seu pai.— Como você pôde? — ela explode enquanto limpa as lágrimas com raiva do rosto.— Como eu… — Olho para ela com surpresa pela explosão. — Como eu pude? Como o seu pai pôde seria a pergunta certa, garota!— Você se acha muito melhor do que ele, não é? Acha que pode simplesmente sair comprando as pessoas para pagar os erros das
Quando estou livre de todos os compromissos, volto para o hotel. Espero encontrar a ruivinha nervosa ali, então vou direto para a suíte presidencial onde ela está. Bato na porta, mas ninguém me responde. Volto a bater, impaciente com a atitude adolescente.— Cecília, abre essa porta!Como não tenho resposta, pego meu celular e ligo para o motorista que ficou encarregado de levar a garota até a sororidade onde ela mora. Ele atende no primeiro toque.— Sim, senhor?— Onde ela está? Onde está Cecília? — pergunto, impaciente.— Eu a deixei lá, senhor. Ela disse que ia precisar de tempo para organizar tudo, mas que depois me ligava.— E quanto tempo faz isso?— Al-Algumas horas, senhor — o idiota gagueja e eu praguejo. Desligo o telefone na sua cara e ando a passos largos até a saída do hotel.Pirralha irritante.O que era para ser uma coisa tranquila está se transformando em uma maldita dor de cabeça. Preciso que aquela garota entenda de uma vez que a vida do seu pai está nas minhas mãos.
CecíliaNão sei o que é pior, se é a dor de cabeça que me faz querer chorar ou a vergonha que me impede de sair da cama. Meu Deus, onde eu estava com a cabeça? Tento me lembrar do que aconteceu na noite passada, mas só me lembro de alguns pedaços.Ouço a batida na porta e uma senhorinha entra trazendo remédio para dor de cabeça. Agradeço e fico olhando confusa para o comprimido na minha mão quando ela sai. Não achei que Thomas fosse mesmo trazer remédio para mim. Parece que existe uma pessoa decente embaixo daquela pose de homem arrogante, no fim das contas.Me arrasto para fora da cama e tomo um banho. Quase choro quando me olho no espelho e vejo o estado horrível que eu estou. Sofro para conseguir tirar a maquiagem toda borrada do rosto e desisto de tentar ficar pelo menos um pouquinho apresentável. Prendo o cabelo de qualquer jeito em um coque frouxo e visto a primeira coisa que vejo dentro da minha mala, uma blusa qualquer e calça jeans.Mordo a unha dentro do elevador enquanto de