05

Cecília

— Pronto, a gente pode conversar aqui.

Eu fecho a porta do meu quarto e o lugar parece muito pequeno. Não é, é bem espaçoso que nem todos os quartos dessa casa, mas Thomas é grande, alto e forte, e parece que toma todo o lugar. Ele está olhando ao redor, para a decoração do quarto, e eu não sei por que fico tão nervosa, mas fico. Ele anda pelo quarto e vai até a penteadeira que fica no canto da parede. Pega um porta-retratos com uma foto minha com meus pais e abre um sorriso que arrepia a minha espinha. Parece maldoso, mas não faz sentido que seja, já que ele sempre foi um ótimo amigo da família.

— Está tudo bem? — eu pergunto. Ele não fala nada. Só faz que sim com a cabeça e continua olhando para a foto por mais alguns segundos.

— Então seu pai não te ligou? — ele pergunta e eu começo a ficar preocupada. Pego o celular da bolsa e começo a ler rapidamente as mensagens que perdi nos últimos dias.

— Meu celular estragou há alguns dias, só consegui comprar outro

hoje — digo sem olhar para ele porque estou olhando para a tela. — Mamãe me mandou várias mensagens, mas só estou vendo agora. Aqui ela diz que precisa falar comigo sobre… você?

Olho para ele, confusa, e mostro o celular. Thomas coloca o porta-retratos de novo na penteadeira e vem até mim. Ele pega o celular, começa a passar o dedo pela tela para ver as mensagens e abre outro daquele sorriso que parece perigoso. Quando ele olha para mim, os olhos parecem estar pegando fogo.

— Sua mãe provavelmente só queria te avisar que eu vim te buscar, Cecília — ele diz e dá um passo para mais perto de mim. Quase prendo a respiração pela surpresa. Thomas nunca chegou tão perto de mim assim.

Quando eu vim para cá, eu era uma garotinha. Thomas me deu alguns presentes de aniversário, mas foi só isso. Não acho que ele ia saber nem dizer a cor dos meus olhos se precisasse. É a primeira vez que eu o vejo depois de… adulta. É estranho como eu o acho tão mais bonito agora.

Não posso mentir, eu tinha sim uma queda pelo amigo do papai. Mas era coisa de adolescente. É claro que eu tinha uma queda por ele. Thomas de Albuquerque é o homem dos sonhos de qualquer garota. Bonito, rico, com um olhar que faz as pernas de qualquer mulher ficarem bambas. Faz quase quatro anos que eu não o via e parece que ele só ficou mais bonito com o tempo.

— Me buscar… para quê? — pergunto com um fio de voz.

Seus olhos sobem e descem por mim e eu prendo a respiração quando Thomas estica a mão e toca uma mecha do meu cabelo.

— Você virou uma mulher linda, Cecília. Não estava esperando por isso.

— O-Obrigada — gaguejo. O sorriso dele se amplia.

— Agora entendo por que seu pai protege tanto você — ele diz e dá mais um passo para perto de mim. Eu prendo a respiração, sem entender o que está acontecendo, mas sentindo meu coração bater disparado no peito. — Mas você não precisa se preocupar. Vou cuidar bem de você, garota.

Mordo a ponta do lábio e tento manter os olhos presos no dele, mas a proximidade é demais. Principalmente quando vejo Thomas respirar fundo olhando para a minha boca.

Ele me solta bruscamente e eu quase caio porque me desequilibro pela surpresa. Thomas se afasta alguns passos e passa uma mão irritada pelo cabelo.

— Arrume suas coisas — diz, agora grosseiro, e me confunde. — Tenho alguns assuntos para resolver, mas o motorista vem te buscar daqui a meia hora.

— Arrumar minhas coisas? Para onde eu estou indo? — pergunto quando ele começa a ir em direção à porta para ir embora.

Ele suspira exasperado e olha para mim.

— Vou te levar para um dos nossos hotéis — explica. — Você vai ficar lá por um tempo, até tudo se acertar.

— Que tudo? — pergunto, cada vez mais confusa. — Eu tenho aula, tenho uma casa, eu não… O que está acontecendo? Não posso simplesmente ir embora com você assim sem saber o que está acontecendo.

Thomas aperta os olhos e abre um sorriso carinhoso. Abaixa a voz e pergunta:

— Você me conhece desde que nasceu, Cecília. Sabe que eu não faria nada para te machucar. Se estou aqui para te buscar, é porque é o melhor para você. — Ele tomba a cabeça para o lado e sorri ainda mais. — Você confia em mim, não confia?

Faço que sim com a cabeça, porque é verdade. Papai sempre disse que se um dia alguma coisa acontecesse com ele e com a minha mãe, Thomas ia cuidar de mim.

— Tudo bem — concordo, e ele assente.

— Quando chegar lá, você liga para o seu pai e vocês conversam sobre o que está acontecendo — ele garante. — Vocês dois vão precisar ter uma conversa muito longa.

**

Eu reconheço o hotel, porque já fiquei aqui algumas vezes. É um dos mais luxuosos do centro de Nova Iorque, e um dos mais caros também. A recepção é grande e chamativa. Assim que eu entro, um dos funcionários vem para pegar a minha mala.

Ando até a mesa da recepção e uma mulher loira sorri para mim de um jeito profissional, mas antes que ela possa falar qualquer coisa, vejo seus olhos se arregalando e eu sinto uma mão na base das minhas costas.

— Cecília vai precisar de uma chave. — A voz de Thomas chega grave em meu ouvido e me arrepia. A mulher faz que sim com a cabeça e começa a digitar alguma coisa no computador. Meu corpo fica rígido quando sinto a boca dele na minha orelha. — Espero que a suíte presidencial seja boa o suficiente para você. Eu não ia querer que a princesinha do César ficasse desconfortável.

Não respondo nada, porque desaprendi a falar. Meu coração b**e tão rápido no peito que não sei nem explicar o que está acontecendo. A mão dele sobe e desce pelas minhas costas e meu corpo inteiro fica quente de um jeito que nunca ficou antes. Meu Deus, o que está acontecendo comigo?

— Aqui está, senhor — a recepcionista avisa e estende um cartão na direção dele.

Não consigo dizer nada no caminho até o último andar do prédio alto, porque estou estranhamente nervosa. Quando chegamos no quarto certo, minha mala já está lá e Thomas entra comigo. Ele se senta na cama enquanto eu continuo incerta sobre o que está acontecendo.

Nervosa, coloco o cabelo atrás da orelha e pego o telefone no bolso da minha calça mais uma vez. Tentei ligar para os meus pais enquanto vinha para cá, mas nenhum dos dois atendeu. Não sei se é por causa da diferença de horário entre Nova Iorque e São Paulo ou se eles tão ocupados com trabalho, mas nenhum dos dois pegou as ligações. Estou começando a ficar muito preocupada.

Thomas me olha como se analisasse cada movimento meu e é impossível saber o que ele está pensando. Ele usa o mesmo terno que estava usando mais cedo e afrouxa a gravata, ainda olhando para mim. É desconcertante, e eu desvio o olhar.

— Você vai ficar confortável aqui? — ele pergunta. Eu faço que sim com a cabeça e abro a boca para perguntar o que acontece agora, mas o celular dele começa a tocar. Olho para ele enquanto pega o aparelho dentro do bolso do paletó e abre um sorriso enorme. — Olha só quem resolveu ligar. É o seu pai. — Ele leva o celular à orelha. — César, meu amigo, você vai ficar muito satisfeito de saber que sua princesa está comigo, sã e salva.

Dou um passo para perto dele, e não sei o que papai diz do outro lado da linha, mas Thomas sorri ainda mais.

— É claro que ela está bem. Gostaria de falar com a sua filha? — ele oferece com uma risada. — Perfeito. Assim você pode explicar para ela o que está acontecendo.

Thomas se levanta da cama e vem até mim. Me entrega o celular e abaixa a boca até a minha orelha.

— Não é nada pessoal com você, Cecília. São apenas negócios — ele diz e a respiração quente no meu pescoço me faz arrepiar.

Dou um passo para trás e vejo seu olhar divertido e malicioso. Trago o celular à orelha com um pressentimento ruim.

— Pai? — digo ao telefone e ouço um suspiro pesado do outro lado da linha.

Cecília, meu amor, como você está? Você está bem? Onde você está?

Franzo o cenho, sem entender.

— Eu estou em um dos hotéis — explico, olhando para Thomas. — O que está acontecendo? Por que o senhor Albuquerque veio me buscar?

Oh, meu amor, eu sinto muito — papai diz do outro lado da linha.

Eu sinto tanto, querida.

— Você está me assustando — sussurro, mexendo no cabelo por causa do nervosismo. — O que aconteceu?

Cecília… Eu cometi um erro. E é você que vai ter que pagar por isso, meu amor.

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