CecíliaNão sei o que é pior, se é a dor de cabeça que me faz querer chorar ou a vergonha que me impede de sair da cama. Meu Deus, onde eu estava com a cabeça? Tento me lembrar do que aconteceu na noite passada, mas só me lembro de alguns pedaços.Ouço a batida na porta e uma senhorinha entra trazendo remédio para dor de cabeça. Agradeço e fico olhando confusa para o comprimido na minha mão quando ela sai. Não achei que Thomas fosse mesmo trazer remédio para mim. Parece que existe uma pessoa decente embaixo daquela pose de homem arrogante, no fim das contas.Me arrasto para fora da cama e tomo um banho. Quase choro quando me olho no espelho e vejo o estado horrível que eu estou. Sofro para conseguir tirar a maquiagem toda borrada do rosto e desisto de tentar ficar pelo menos um pouquinho apresentável. Prendo o cabelo de qualquer jeito em um coque frouxo e visto a primeira coisa que vejo dentro da minha mala, uma blusa qualquer e calça jeans.Mordo a unha dentro do elevador enquanto de
Cecília Magalhães— Eu estava preocupada com você.Abraço o travesseiro e suspiro quando Kelly se arruma na cama do meu lado.Faz alguns dias desde que minha vida virou do avesso e eu estou sem saber o que fazer. Estou ficando desesperada por estar perdendo aulas, mas mandei e-mail para alguns dos professores e eles me deixaram repor depois. Só que eu quero minha vida de volta. Não quero ficar presa em um quarto de hotel esperando pela boa vontade de um tirano arrogante que decidiu me fazer de fantoche.Meu pai não para de ligar, mas não atendi o telefone nenhuma vez. Não quero falar com ele, não quero ouvir suas desculpas. Da última vez que falei com mamãe, ela disse que ele está sofrendo muito com toda essa situação, mas e eu? Estou pagando por um erro que não é meu e eles não estão fazendo nada para me ajudar.— Eu estou bem — minto e tento sorrir para a minha melhor amiga.— Não entendi nada quando aquele cara foi te buscar na festa. Só te deixei ir com ele porque ele falou o nome
Thomas de AlbuquerqueEspero por Cecília na sala de reuniões do hotel. O advogado está do meu lado, revendo a papelada que solicitei que revisasse e trouxesse pronta para hoje. A maldita garota está atrasada e preciso controlar a vontade de ir atrás dela e sacudi-la até que entenda que precisa agir diferente do que está acostumada a partir de agora. Não vou me envolver com alguém que corre o risco de manchar a boa imagem que sempre passei para a mídia. A garota vai ter que andar na linha.Escuto uma batidinha leve na porta minutos depois e sei que é ela.— Entra.Estou de costas para a porta e ouço os passos hesitantes se aproximando.— Você está atrasada, Cecília. Quando eu marcar um horário com você, chegue nele. Nem um minuto depois.— Eu me perdi. Não sabia onde era a sala de reunião — ela sussurra e anda até a cadeira do outro lado da mesa, oposto ao meu.Arqueio a sobrancelha quando vejo que ela se produziu toda. A roupa folgada não existe mais e muito menos o pijama horrível e
Thomas de AlbuquerqueAssim que cheguei a São Paulo, vim direto para a empresa porque agora, mais do que nunca, o descanso não faz parte da minha vida. Consegui investidores em Nova Iorque, mas a confusão está longe de acabar. O prejuízo deixado nos cofres da empresa foi grande. O homem além de roubar grande parte do caixa destinado à mão de obra, sabotou a compra dos materiais, trocando os de boa qualidade para uma inferior, mas não era isso o que apareciam nas notas fiscais.Só de pensar na pilantragem daquele desgraçado, fico mais motivado ainda a destruí-lo. A dor de cabeça que estou tendo agora não vai ficar por isso mesmo.Estou trabalhando concentrado, relendo e-mails, revendo relatórios, quando escuto uma batidinha na porta.— Pode entrar.— Senhor… — Diana parece agitada. — Os seguranças entraram em contato dizendo que César está tentando falar com o senhor lá embaixo. Ele parece furioso, e como proibiu sua entrada… — Pode o deixar entrar, Diana.Ela acena, prestativa, e sai
Cecília MagalhãesImaginei que fosse ficar mais fácil depois do primeiro porre, mas não ficou. Minha cabeça parece a ponto de explodir e tudo dói. Parece que está tudo claro demais, barulhento demais. Demoro alguns segundos para reconhecer onde estou e percebo que estou na minha cama na casa da sororidade.Desde que o arrogante de marca maior do Thomas voltou para o Brasil e me deixou em paz, voltei a morar aqui. Mas agora tudo parece meio estranho. Diferente. Como se minha vida fosse outra. E é outra mesmo. Tudo que eu conhecia ruiu como se fosse feito de areia e agora estou tão perdida que não sei o que fazer comigo mesma. Perdi a motivação de ir para as aulas que tanto amo. Para quê? Não vou nunca poder trabalhar na empresa de papai, se bobear não vou poder trabalhar nunca. Não duvido que o idiota do Thomas me tranque em casa como se eu fosse um enfeite de mesa.Ainda vou me formar, porque não vou jogar fora todo o meu trabalho duro. Vou terminar o semestre e pegar meu diploma, mas
Não sei se foi o álcool que ainda não saiu do meu organismo, a noite mal dormida, a preocupação com o que vai acontecer daqui para frente ou a completa vergonha que estou sentindo, mas estou a ponto de desmaiar.O jantar foi uma tortura e a viagem da casa dos pais de Kelly até o hotel também. Estou tonta e preciso me segurar na parede do elevador para não cair. Thomas manteve uma distância gigantesca de mim desde o… incidente no quarto mais cedo e mal olhou na minha direção. Acho que a primeira vez que tira a cara do celular e olha na minha direção.— O que foi? — ele pergunta com um vinco entre as sobrancelhas. —Você está pálida.— Não é nada — digo baixinho, sem querer dar o braço a torcer. Ele me olha de cima a baixo como se tentasse decidir se acredita em mim e dá um passo na minha direção.— Cecília? — pergunta e me segura bem a tempo antes que eu desabe no chão. — Puta que pariu, garota teimosa do cacete. Por que não disse que estava passando mal? — pergunta e me pega no colo.
Faltam cinco minutos para as oito horas. Estou parado, encostado no carro em frente ao hotel esperando por Cecília. Só espero que a garota não seja irresponsável além de inconsequente. São muitos defeitos de uma vez para aguentar.Estou prestes a ir buscá-la no quarto quando a vejo saindo do hotel. Eu a encaro porque quase não a reconheço olhando rápido demais. Se não fossem pelos cabelos ruivos naturais e exóticos teria passado batido por mim. Ela se aproxima devagar, usando um vestido preto colado, marcando todas suas curvas, e um salto alto da mesma cor. Usa uma maquiagem forte que tira um pouco dos traços de garota.— Não me atrasei, nem precisa me olhar com essa cara — fala quando chega perto e eu olho para o relógio. — E aí? Do seu agrado?Arqueio uma sobrancelha pelo tom de zombaria e passo a língua pelos lábios.— Você está bonita, Cecília — elogio sincero e ela parece surpresa com o elogio. — O que eu falei? Sei ser um doce com quem me obedece. Vamos?O manobrista abre a port
Thomas de AlbuquerqueA semana voa como sempre quando tem mil compromissos. As coisas estão ficando mais promissoras nos negócios e sinto que tudo vai dar certo. Consegui recuperar parte do prejuízo que César me deu com alguns investimentos.Me sinto até bem-humorado para variar. É sábado, mas acordo no mesmo horário de sempre. Vejo Cecília na outra cama, com a bunda arrebitada no pijama velho que insiste em usar. Visto um conjunto de moletom e saio para correr. O vento frio quase queima meu rosto, mas não paro. Perco a noção de quantos quilômetros corri e decido voltar. Gasto cerca de duas horas entre a ida e a volta. Sinto meu corpo quente e os músculos protestando pelo desgaste em excesso, mas nem isso abala meu humor.Eu sou bom pra caralho no que faço, isso já é motivo suficiente para que o sábado fique alegre.Funcionários do hotel me cumprimentam enquanto subo até o quarto onde estou morando. Cecília se acostumou a estar aqui, pelo que pude ver.Apesar de ter me evitado como di