HENRYA vida muda mesmo e de repente começamos a fazer coisas que nunca pensamos em fazer. Quando que eu pensei que estaria no meio de um monte de crianças fantasiadas, fazendo papel de pai, ou de bobo, como queira, recolhendo doces e ainda se divertindo com tudo isso?— Quantos doces você pegou, Bonequinha? Sua abóbora está quase cheia!— A sua também, papai! — ela responde sorrindo.— Obrigado por encher uma abóbora para mim. Vem cá!Pego os dois baldinhos em formato de abóbora e a puxo para um banco feito de tronco de árvore.— Olha, você tem marshmellows? Eu tenho Kit kat e... — enfio a mão até o fundo da abóbora de plástico e encontro o que estou procurando. — Uma maçã! — digo com a fruta na altura dos olhos dela, que gargalha jogando a cabecinha para trás.— Credo! — ela diz, finalmente.— Credo, nada! Você está com inveja da minha maçã. — finjo estar chateado e ela gargalha ainda mais.— Vejo que estão se divertindo, não é? — escuto a voz de Deena acima de mim.— Mais do que vo
DEENAPela janela da sala, observo os flocos finos de neve caindo lentamente. Durante a noite nevou mais pesado e o chão está coberto até a metade do segundo degrau da varanda. Ainda é quinta-feira, mas Welma nos deu uma folga, voltaremos na segunda. Deve ter, pelo menos uns oito dias que não vejo Henry, não sei como isso afeta o cumprimento de sua pena, mas ele não veio a fazenda. Tenho que confessar que essa distância tem me trazido muitas inseguranças quanto ao “o que quer que seja” o nosso relacionamento.Não é que não estejamos conversando ou coisa assim. Estamos conversando através do aplicativo de mensagens, porém, em nenhuma das mensagens ele disse muito sobre a sua ausência.“Bom dia, Boneca! Acordou bem?”“Com preguiça.” — respondo.“O dia está bem frio, queria estar aí, enroladinho com você.”Estremeço com a possibilidade de que isso possa acontecer.“Por que não está?” — espero que ele responda, mas ele nem visualiza.Espero por alguns minutos e, sem resposta, guardo o cel
HENRYSaio do banheiro com a toalha enrolada na cintura, sorrindo ao me lembrar de como me diverti na Fazenda, mesmo que, no final tenha encontrado aquele infeliz.— Finalmente! Você queria acabar com a água do mundo?— Pai? Mãe?Meu pai e minha mãe estão sentados confortavelmente no sofá da sala.— Precisamos conversar, Henry Denis. — meu pai declara de forma solene. Solene demais para conversar com um homem nu.— Posso apenas colocar uma roupa descente?— Não há nada aí que eu e sua mãe já não tenhamos visto. Senta aí!— Não quer ir ao escritório? — proponho com ironia.— Henry! Não acha que está muito tarde para formalidades? Viemos aqui durante o dia e você não estava, chegamos aqui a mais de uma hora e você estava no banho, um banho que demorou uma vida! Olha só, até me surgiu uma ruga nova nesse tempo. — lamenta a minha mãe.— Tá bom! O que vocês querem?Digo me sentando confortavelmente a frente a deles, fazendo minha mãe virar o rosto envergonhada. Após constrangê-los por algu
HENRY— Que história é essa?— Acabei de receber isso. — procuro meus óculos nas gavetas da escrivaninha, é verdade que eu preciso de óculos, só que nem sempre estou a fim de usá-los, mas, se existe um momento para colocá-los, esse momento é agora. Na mão dela, vejo um documento um pouco diferente, mas posso ver que é uma certidão de casamento.— Não! — exclamo incrédulo.— Sim, querido. Eles fizeram isso.— Não! Não posso... — me levanto rápido demais e tudo em volta escurece....Abro os olhos devagar porque a minha cabeça dói e minha boca está seca. Não foi um pesadelo, é real. Sou um homem casado com uma mulher com quem nunca estive. Me sento no chão e a raiva que cresce no meu peito se transforma em um rugido.— Ah! Sr. Denis, você acordou? Estava ligando para uma ambulância.— Estou bem, Margot. — digo impaciente, afastando a mão dela que queria pousar sobre a minha testa. Na tela do computador, uma notificação de um novo e-mail, me apresso para abri-lo e lá está! Como eles, meu
DEENA— Ah, você vai ver, Eve está tão ansiosa para a apresentação de balé, estava preocupada com que você não chegasse a tempo e...Paro de falar ao perceber que ele não está prestando atenção. Até agora estava tagarelando para não deixar espaços para esse elefante na sala, mas parece que ele está sentado nas costas de Henry e não há o que fazer. Pego a xícara fumegante e deslizo para ele sobre o tampo da mesa, depois pego uma xícara para mim.Ele está com o olhar perdido em seu smartfone, deslizando coisas para cima. Será que está arrependido? Será que não quer mais ficar comigo? Ou será que decidiu que Eve é muita coisa para ele, que talvez não queira ser pai. Pego em seu braço e o chacoalho levemente para que olhe para mim.— Henry... — começo.— Deena... — ele me interrompe hesitante. Engulo em seco, seu olhar é dolorido. — Não sei como começar a te explicar isso, não sei se será capaz de me entender... — ele apoia o rosto nas mãos em desespero.— Você pode me contar o que quise
HENRYNão sei se estou mesmo vivendo minha vida ou um espetáculo de circo, volto para o meu quarto a passos largos. Que absurdo! Ele quer ter certeza de que não vou voltar atrás, ele deve saber que estamos tentando a anulação do casamento, esse pessoal tem informantes em todo lugar. Eu não deveria ter vindo, caí na minha própria armadilha.— Como foi com o meu pai?Escuto assim que abro a porta, Katia está a janela. Ela é mesmo muito bonita e alta, temos quase o mesmo tamanho. Que pai serve a filha numa bandeja desse jeito para um desconhecido.— Pior, impossível. — digo passando por ela e indo me atirar na cama.— Por quê? Não podemos ir embora amanhã?— Ele disse que não podemos sair daqui enquanto não consumarmos o casamento.— Consumarmos? — ela está confusa.— Você sabe... ter a nossa noite de núpcias.Ela engole em seco e desaba na poltrona a frente da cama.— Que decepção! Não passa na cabeça dele que se a gente fosse mesmo adiante eu precisaria de um pouco mais de tempo? Vou c
DEENADe todas as palavras que eu esperava ouvir da boca dele, casado, nem de longe me passou pela cabeça. Fico sem reação por alguns segundos e tenho a impressão de que vou desmaiar.— Casado? — não sei se estou perguntando ou só repetindo.— Sim e não. Nossos pais nos casaram por Procuração, documento esse que nunca redigimos.— Procuração? — procuração? O que é isso? Por que nada mais está fazendo sentido?— Deena... estamos resolvendo isso. Fui para a Rússia para resolver isso, mas o pai dela não permitiu que saíssemos sem...— Sem o quê?— Bem, não importa. O caso é que fomos escoltados até o aeroporto para que não déssemos entrada ao pedido de anulação do casamento. Agora, bem... chegamos ontem e eu vim direto para cá.— Chegamos??? — pergunto um pouco mais alto do que deveria. Chegou com quem?— Com Katiana Petrenko, atualmente, minha esposa.– Sua... — não consigo terminar de falar porque a bola azeda de vômito sobe rapidamente pela minha garganta, acabando no carpete do meu
HENRYA fala de Deena sobre Eve me destruiu. Mesmo com toda essa confusão, a melhor coisa que me aconteceu foi o fato de Eve me adotar como pai, foi como um atestado de que algo em mim, finalmente valia a pena, até Deena me dizer que a pequena merecia mais, não que isso seja uma grande revelação, sempre soube disso, mas quis me iludir e pensar que eu finalmente era um homem respeitável, crescido e de família. Que espécie de homem deixa o pai cometer um crime contra si e fica quieto? Que tipo de homem eu sou?— Sr. Denis, este já é seu quarto copo de whisky, acho melhor tomar água e ir se deitar um pouco.É Margot, tentando tomar o copo baixo e pesado da minha mão para trocar pelo comprido, cheio de água.— Margot?— Senhor?— Que tipo de homem eu sou?A mulher parece não se abalar, mas queda-se reflexiva por um instante.— Não creio que eu possa avaliar o senhor dessa maneira, não seria ético de minha parte.Sorrio sarcástico, deixando o copo de água sobre a mesa da varanda e me dirig