HENRYO quê? Meus ouvidos não acreditam no que estão ouvindo. Não quero mais falar, não quero mais me exaltar.— Tudo bem! Você está certa! Talvez eu esteja mesmo, apenas, perdendo meu tempo e energia com você. Com licença, tenho mais o que fazer, Deena.Saio daquele escritório bagunçado sem nem olhar para trás.A culpa é minha que tenho rastejado por ela como um cãozinho fazendo-a pensar que pode me tratar como quiser. Eu entendo todas as suas questões, mas essa mania que ela tem de desqualificar meus sentimentos me irrita profundamente. Ando a passos largos em direção ao galinheiro, pois me deram a incumbência de forrar os poleiros a moda antiga, com feno.As galinhas cacarejam apavoradas correndo de mim, assim que abro a porta e entro com o feno, talvez estejam sentindo a minha irritação. Jogo, ajeito e afofo o feno com o forcado com movimentos exagerados e brutos. Estou descontando no feno.— O que está acontecendo aqui? — escuto a voz feminina as minhas costas.— Ah, você é a vet
DEENA Pela primeira vez, desde que Eve veio ao mundo, a vejo muito quieta. Ficou quieta durante todo o caminho de volta, quando chegou, seguiu direto para a sala, ligou a televisão e está lá, afundada no sofá até agora.Henry está na varanda conversando com alguém no telefone. Queria poder expulsá-lo para sempre da minha vida, não aguento esse nó na garganta todas as vezes em que o vejo, sabe, essa vontade de pular em seu abraço, ao mesmo tempo que gostaria de ver uma bigorna caindo em sua cabeça, como nos desenhos animados. Estou tão confusa... o que mais me irrita é o fato de ele não ter nem se dado ao trabalho de me explicar o que aconteceu no galinheiro. Ele nem toca no assunto. Doeu tanto vê-los sorrindo daquela maneira tão íntima. Será que estavam rindo de mim? Será que sou uma piada entre eles?Estou terminando de guardar o último pacote de bolachas no armário quando escuto o clic da porta sendo fechada no hall. Como uma piada de mau-gosto, as batidas do meu coração sob
HENRYA vida muda mesmo e de repente começamos a fazer coisas que nunca pensamos em fazer. Quando que eu pensei que estaria no meio de um monte de crianças fantasiadas, fazendo papel de pai, ou de bobo, como queira, recolhendo doces e ainda se divertindo com tudo isso?— Quantos doces você pegou, Bonequinha? Sua abóbora está quase cheia!— A sua também, papai! — ela responde sorrindo.— Obrigado por encher uma abóbora para mim. Vem cá!Pego os dois baldinhos em formato de abóbora e a puxo para um banco feito de tronco de árvore.— Olha, você tem marshmellows? Eu tenho Kit kat e... — enfio a mão até o fundo da abóbora de plástico e encontro o que estou procurando. — Uma maçã! — digo com a fruta na altura dos olhos dela, que gargalha jogando a cabecinha para trás.— Credo! — ela diz, finalmente.— Credo, nada! Você está com inveja da minha maçã. — finjo estar chateado e ela gargalha ainda mais.— Vejo que estão se divertindo, não é? — escuto a voz de Deena acima de mim.— Mais do que vo
DEENAPela janela da sala, observo os flocos finos de neve caindo lentamente. Durante a noite nevou mais pesado e o chão está coberto até a metade do segundo degrau da varanda. Ainda é quinta-feira, mas Welma nos deu uma folga, voltaremos na segunda. Deve ter, pelo menos uns oito dias que não vejo Henry, não sei como isso afeta o cumprimento de sua pena, mas ele não veio a fazenda. Tenho que confessar que essa distância tem me trazido muitas inseguranças quanto ao “o que quer que seja” o nosso relacionamento.Não é que não estejamos conversando ou coisa assim. Estamos conversando através do aplicativo de mensagens, porém, em nenhuma das mensagens ele disse muito sobre a sua ausência.“Bom dia, Boneca! Acordou bem?”“Com preguiça.” — respondo.“O dia está bem frio, queria estar aí, enroladinho com você.”Estremeço com a possibilidade de que isso possa acontecer.“Por que não está?” — espero que ele responda, mas ele nem visualiza.Espero por alguns minutos e, sem resposta, guardo o cel
HENRYSaio do banheiro com a toalha enrolada na cintura, sorrindo ao me lembrar de como me diverti na Fazenda, mesmo que, no final tenha encontrado aquele infeliz.— Finalmente! Você queria acabar com a água do mundo?— Pai? Mãe?Meu pai e minha mãe estão sentados confortavelmente no sofá da sala.— Precisamos conversar, Henry Denis. — meu pai declara de forma solene. Solene demais para conversar com um homem nu.— Posso apenas colocar uma roupa descente?— Não há nada aí que eu e sua mãe já não tenhamos visto. Senta aí!— Não quer ir ao escritório? — proponho com ironia.— Henry! Não acha que está muito tarde para formalidades? Viemos aqui durante o dia e você não estava, chegamos aqui a mais de uma hora e você estava no banho, um banho que demorou uma vida! Olha só, até me surgiu uma ruga nova nesse tempo. — lamenta a minha mãe.— Tá bom! O que vocês querem?Digo me sentando confortavelmente a frente a deles, fazendo minha mãe virar o rosto envergonhada. Após constrangê-los por algu
HENRY— Que história é essa?— Acabei de receber isso. — procuro meus óculos nas gavetas da escrivaninha, é verdade que eu preciso de óculos, só que nem sempre estou a fim de usá-los, mas, se existe um momento para colocá-los, esse momento é agora. Na mão dela, vejo um documento um pouco diferente, mas posso ver que é uma certidão de casamento.— Não! — exclamo incrédulo.— Sim, querido. Eles fizeram isso.— Não! Não posso... — me levanto rápido demais e tudo em volta escurece....Abro os olhos devagar porque a minha cabeça dói e minha boca está seca. Não foi um pesadelo, é real. Sou um homem casado com uma mulher com quem nunca estive. Me sento no chão e a raiva que cresce no meu peito se transforma em um rugido.— Ah! Sr. Denis, você acordou? Estava ligando para uma ambulância.— Estou bem, Margot. — digo impaciente, afastando a mão dela que queria pousar sobre a minha testa. Na tela do computador, uma notificação de um novo e-mail, me apresso para abri-lo e lá está! Como eles, meu
DEENA— Ah, você vai ver, Eve está tão ansiosa para a apresentação de balé, estava preocupada com que você não chegasse a tempo e...Paro de falar ao perceber que ele não está prestando atenção. Até agora estava tagarelando para não deixar espaços para esse elefante na sala, mas parece que ele está sentado nas costas de Henry e não há o que fazer. Pego a xícara fumegante e deslizo para ele sobre o tampo da mesa, depois pego uma xícara para mim.Ele está com o olhar perdido em seu smartfone, deslizando coisas para cima. Será que está arrependido? Será que não quer mais ficar comigo? Ou será que decidiu que Eve é muita coisa para ele, que talvez não queira ser pai. Pego em seu braço e o chacoalho levemente para que olhe para mim.— Henry... — começo.— Deena... — ele me interrompe hesitante. Engulo em seco, seu olhar é dolorido. — Não sei como começar a te explicar isso, não sei se será capaz de me entender... — ele apoia o rosto nas mãos em desespero.— Você pode me contar o que quise
HENRYNão sei se estou mesmo vivendo minha vida ou um espetáculo de circo, volto para o meu quarto a passos largos. Que absurdo! Ele quer ter certeza de que não vou voltar atrás, ele deve saber que estamos tentando a anulação do casamento, esse pessoal tem informantes em todo lugar. Eu não deveria ter vindo, caí na minha própria armadilha.— Como foi com o meu pai?Escuto assim que abro a porta, Katia está a janela. Ela é mesmo muito bonita e alta, temos quase o mesmo tamanho. Que pai serve a filha numa bandeja desse jeito para um desconhecido.— Pior, impossível. — digo passando por ela e indo me atirar na cama.— Por quê? Não podemos ir embora amanhã?— Ele disse que não podemos sair daqui enquanto não consumarmos o casamento.— Consumarmos? — ela está confusa.— Você sabe... ter a nossa noite de núpcias.Ela engole em seco e desaba na poltrona a frente da cama.— Que decepção! Não passa na cabeça dele que se a gente fosse mesmo adiante eu precisaria de um pouco mais de tempo? Vou c