DEENAApós alguns minutos me afasto dele. “Que droga! O que há comigo?”Limpo minhas lágrimas com as costas das minhas mãos.— Deena... — ele começa.— Tudo bem, “tá” tudo bem! Não temos tempo para isso. Vamos pegar Eve.Digo enquanto já caminho silenciosamente, ouço seus passos nas folhas úmidas pelo chão, entretanto, não olho para trás, não consigo olhar para ele. Neste momento eu me odeio tremendamente por ser sempre essa figura vulnerável quando estou perto dele e fico remoendo a situação e me repreendendo por tanto tempo que acabo me esquecendo do verdadeiro motivo de estarmos ali, com tanta pressa. O que deve ter acontecido com Welma? Será algo grave? A preocupação com a Sra. Paterson volta a me assolar, por isso, aperto o passo ainda mais.— Ah! Srta. Hoyth, o que aconteceu com a Sra. Paterson? Estamos todos aqui, muito preocupados e as informações chegam todas pela metade. — é a recepcionista da Convivência que me bombardeia de perguntas, assim que abro a porta.Henry se adian
Capítulo 46HENRYEla me leva até a porta e eu imploro para que me deixe ficar.— Henry, por favor, não torne as coisas mais difíceis.— Nós podemos pelo menos conversar? — insisto.— Henry... — sua voz sai em meio a um suspiro. Após alguns segundos de reflexão, ela aponta a cozinha.Como uma criança ansiosa, me sento em uma das cadeiras de madeira clara.Ela suspira novamente enquanto despeja café em duas canecas. Desliza uma delas sobre a mesa em minha direção e sorve um longo gole da outra encostada ao balcão da ilha.— Não vai se sentar? — pergunto, puxando a cadeira ao meu lado.— Não. — diz friamente.— Deena, eu quero ficar com você.— Já sabemos disso. Vamos parar de andar em círculos?Me surpreendo com essa resposta. Não deveria ter forçado a barra, ela deve estar muito cansada do hospital e de toda essa confusão.— Eu sei que eu não deveria ter me mudado para cá, que eu deveria tê-la conquistado com calma, mas calma é uma palavra que não existe no meu vocabulário, só que o q
HENRYO quê? Meus ouvidos não acreditam no que estão ouvindo. Não quero mais falar, não quero mais me exaltar.— Tudo bem! Você está certa! Talvez eu esteja mesmo, apenas, perdendo meu tempo e energia com você. Com licença, tenho mais o que fazer, Deena.Saio daquele escritório bagunçado sem nem olhar para trás.A culpa é minha que tenho rastejado por ela como um cãozinho fazendo-a pensar que pode me tratar como quiser. Eu entendo todas as suas questões, mas essa mania que ela tem de desqualificar meus sentimentos me irrita profundamente. Ando a passos largos em direção ao galinheiro, pois me deram a incumbência de forrar os poleiros a moda antiga, com feno.As galinhas cacarejam apavoradas correndo de mim, assim que abro a porta e entro com o feno, talvez estejam sentindo a minha irritação. Jogo, ajeito e afofo o feno com o forcado com movimentos exagerados e brutos. Estou descontando no feno.— O que está acontecendo aqui? — escuto a voz feminina as minhas costas.— Ah, você é a vet
DEENA Pela primeira vez, desde que Eve veio ao mundo, a vejo muito quieta. Ficou quieta durante todo o caminho de volta, quando chegou, seguiu direto para a sala, ligou a televisão e está lá, afundada no sofá até agora.Henry está na varanda conversando com alguém no telefone. Queria poder expulsá-lo para sempre da minha vida, não aguento esse nó na garganta todas as vezes em que o vejo, sabe, essa vontade de pular em seu abraço, ao mesmo tempo que gostaria de ver uma bigorna caindo em sua cabeça, como nos desenhos animados. Estou tão confusa... o que mais me irrita é o fato de ele não ter nem se dado ao trabalho de me explicar o que aconteceu no galinheiro. Ele nem toca no assunto. Doeu tanto vê-los sorrindo daquela maneira tão íntima. Será que estavam rindo de mim? Será que sou uma piada entre eles?Estou terminando de guardar o último pacote de bolachas no armário quando escuto o clic da porta sendo fechada no hall. Como uma piada de mau-gosto, as batidas do meu coração sob
HENRYA vida muda mesmo e de repente começamos a fazer coisas que nunca pensamos em fazer. Quando que eu pensei que estaria no meio de um monte de crianças fantasiadas, fazendo papel de pai, ou de bobo, como queira, recolhendo doces e ainda se divertindo com tudo isso?— Quantos doces você pegou, Bonequinha? Sua abóbora está quase cheia!— A sua também, papai! — ela responde sorrindo.— Obrigado por encher uma abóbora para mim. Vem cá!Pego os dois baldinhos em formato de abóbora e a puxo para um banco feito de tronco de árvore.— Olha, você tem marshmellows? Eu tenho Kit kat e... — enfio a mão até o fundo da abóbora de plástico e encontro o que estou procurando. — Uma maçã! — digo com a fruta na altura dos olhos dela, que gargalha jogando a cabecinha para trás.— Credo! — ela diz, finalmente.— Credo, nada! Você está com inveja da minha maçã. — finjo estar chateado e ela gargalha ainda mais.— Vejo que estão se divertindo, não é? — escuto a voz de Deena acima de mim.— Mais do que vo
DEENAPela janela da sala, observo os flocos finos de neve caindo lentamente. Durante a noite nevou mais pesado e o chão está coberto até a metade do segundo degrau da varanda. Ainda é quinta-feira, mas Welma nos deu uma folga, voltaremos na segunda. Deve ter, pelo menos uns oito dias que não vejo Henry, não sei como isso afeta o cumprimento de sua pena, mas ele não veio a fazenda. Tenho que confessar que essa distância tem me trazido muitas inseguranças quanto ao “o que quer que seja” o nosso relacionamento.Não é que não estejamos conversando ou coisa assim. Estamos conversando através do aplicativo de mensagens, porém, em nenhuma das mensagens ele disse muito sobre a sua ausência.“Bom dia, Boneca! Acordou bem?”“Com preguiça.” — respondo.“O dia está bem frio, queria estar aí, enroladinho com você.”Estremeço com a possibilidade de que isso possa acontecer.“Por que não está?” — espero que ele responda, mas ele nem visualiza.Espero por alguns minutos e, sem resposta, guardo o cel
HENRYSaio do banheiro com a toalha enrolada na cintura, sorrindo ao me lembrar de como me diverti na Fazenda, mesmo que, no final tenha encontrado aquele infeliz.— Finalmente! Você queria acabar com a água do mundo?— Pai? Mãe?Meu pai e minha mãe estão sentados confortavelmente no sofá da sala.— Precisamos conversar, Henry Denis. — meu pai declara de forma solene. Solene demais para conversar com um homem nu.— Posso apenas colocar uma roupa descente?— Não há nada aí que eu e sua mãe já não tenhamos visto. Senta aí!— Não quer ir ao escritório? — proponho com ironia.— Henry! Não acha que está muito tarde para formalidades? Viemos aqui durante o dia e você não estava, chegamos aqui a mais de uma hora e você estava no banho, um banho que demorou uma vida! Olha só, até me surgiu uma ruga nova nesse tempo. — lamenta a minha mãe.— Tá bom! O que vocês querem?Digo me sentando confortavelmente a frente a deles, fazendo minha mãe virar o rosto envergonhada. Após constrangê-los por algu
HENRY— Que história é essa?— Acabei de receber isso. — procuro meus óculos nas gavetas da escrivaninha, é verdade que eu preciso de óculos, só que nem sempre estou a fim de usá-los, mas, se existe um momento para colocá-los, esse momento é agora. Na mão dela, vejo um documento um pouco diferente, mas posso ver que é uma certidão de casamento.— Não! — exclamo incrédulo.— Sim, querido. Eles fizeram isso.— Não! Não posso... — me levanto rápido demais e tudo em volta escurece....Abro os olhos devagar porque a minha cabeça dói e minha boca está seca. Não foi um pesadelo, é real. Sou um homem casado com uma mulher com quem nunca estive. Me sento no chão e a raiva que cresce no meu peito se transforma em um rugido.— Ah! Sr. Denis, você acordou? Estava ligando para uma ambulância.— Estou bem, Margot. — digo impaciente, afastando a mão dela que queria pousar sobre a minha testa. Na tela do computador, uma notificação de um novo e-mail, me apresso para abri-lo e lá está! Como eles, meu