— Meu Deus, você tá ridículo. — Daniel deu um peteleco na aba do chapéu de mariachi que estava em cima da cabeça de Bento e riu. Ele deveria encaixotar as coisas do seu quarto para morar com o pai, mas não ia perder aquilo por nada no mundo.
O som estridente do despertador do celular prateado tocou anunciando seis horas da manhã. Bento despertou, mas não sentia a menor vontade de se levantar. Roçou os cabelos castanhos claros cacheados pela fronha branca, colocando a cabeça embaixo do travesseiro.A porta do seu quarto abriu, deixando a luz entrar. Bento não se mexeu, sabia que possivelmente era sua irmã Nice entrando no seu quarto — como fazia todos os dias que tinha aula — para pegar emprestado um par de meias. Nice tinha muitas meias, cor-de-rosa, azul, verde, listradas, de ursos
Assim que chegou à escola, Nice saiu correndo para abraçar-se com Lucinda, com saudades da amiga. Lucinda era uma loira magra e bonita, de olhos azuis e pele morena do sol. Apenas seus cabelos eram um pouco secos por causa das diversas descolorações em busca do loiro perfeito.— Luci que saudades! — Nice se agarrou com a amiga.— Eu também!
Enquanto Bento e Sabrina se desentendiam, Nice e Lucinda conversavam sentadas em um banco perto da quadra, embaixo de um toldo velho que ficava ao lado de um ipê-amarelo derrubando flores no chão, ainda chuviscava.— Eu não entendi qual é a do Daniel com essa Sabrina. — Lucinda bebeu do seu suco de caixinha com sabor de manga, tinha prendido os cabelos loiros em um coque com um lápis. — Vocês não tinham ficado no Ano Novo?
Ao fim do período letivo e ao chegar ao pátio da escola, Sabrina teve que se segurar quando viu Daniel e Nice conversando dentro da papelaria. Viu seu namorado pagar as compras e entregar a sacola para Nice, provavelmente pagando tudo para a ruiva magricela.Sentiu uma raiva esmagar seu peito, definitivamente não ia com a cara de Nice e não gostava de ficar vendo a menina cheia de entrelinhas quando o assunto era Daniel. Ficou ali parada perto da saída, só olhando, e escutou a conversa dos dois enquanto eles saiam da papelaria:— Nice descia a rua da escola correndo, Daniel correu atrás dela e alcançou sua mochila, segurando pelo chaveiro de ursinho de pelúcia, que estourou a correntinha quando ele puxou. Com o barulho que Nice parou, virou para Daniel com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.— Desculpa. — Daniel falou. — Eu não sei o que….— Vai emCapítulo 05
Daniel entrou na classe e reparou que Nice estava no mesmo lugar de sempre. Tinha na boca um pirulito de morango em forma de coração, vermelho como seu gloss.— Bom dia, Nice. — falou quando se aproximou.— Bom dia! — Nice o recebeu com um sorriso lindo. Ela estava especialmente bonita naquele dia, com um casaco de oncinha fofo e shorts curtos, com uma me
Quando o sinal do intervalo bateu, Sabrina parou bem na frente de Ângelo:— E então vamos lá?— Tem certeza? — indagou incerto. Esse negócio de encontro às cegas era sempre uma furada, sem contar que não pretendia arrumar uma namorada naquele momento. Fora isso, sobrava aquela impressão de ser uma pegadinha, uma piada, um trote
Ângelo ficou calado e sentou-se novamente no banco, para ouvir o que Nice tinha a dizer. A menina suspirou chateada, procurou encontrar as palavras certas para contar a verdade e enquanto desamassava a folha, disse:— É só que… A Sabrina é muito ciumenta e ontem ela deu um chilique por causa do Daniel e eu não queria que ela atrapalhasse a nossa amizade. O Daniel é o único amigo do meu irmão e ele já está superchateado com várias coisas que aconteceram… — confessou de uma só vez, enquanto o pátio já esvaziava com a m