Assim que chegou à escola, Nice saiu correndo para abraçar-se com Lucinda, com saudades da amiga. Lucinda era uma loira magra e bonita, de olhos azuis e pele morena do sol. Apenas seus cabelos eram um pouco secos por causa das diversas descolorações em busca do loiro perfeito.
— Luci que saudades! — Nice se agarrou com a amiga.
— Eu também! — Lucinda a abraçou, pulando com sua saia jeans e meia calça marrom de fio grosso.
Bento parou sem graça fechando o guarda-chuva de Nice e fingiu que estava esperando Daniel guardar seu guarda-chuva na mochila. Ainda tentava se acostumar com a ideia de que Nice e Lucinda eram amigas apesar de tudo que aconteceu. Os dois terminaram durante a festa de Halloween da escola, quando Bento pegou Lucinda trocando beijos com o capitão do time de futebol e aluno do terceiro ano, Roberto. Apesar disso, agora só sobrava essa esquisitice entre os dois.
O celular de Daniel tocou e o garoto atendeu afastando-se da gritaria entre Lucinda e Nice, que pareciam duas malucas se abraçando e berrando de saudades.
— Alô? Ah, oi Sabrina, tudo bem? — e quando falou o nome de outra menina, Nice parou de se abraçar com Lucinda grudando os ouvidos na conversa.
— Quem é Sabrina? — Lucinda perguntou curiosa, virou-se para Bento, a única pessoa ali que não queria falar com ela.
Bento virou a face para o outro lado, fingindo prestar atenção em quem chegava da chuva, sendo um pouco grosseiro com Lucinda. Mas ao virar-se para a multidão que entrava na escola, não pôde acreditar no que seus olhos viram: a menina da internet, a que conhecera no shopping, entrando pelo pátio segurando um guarda-chuva vermelho e de vestido jeans, com sapatilhas pretas. Andava distraída, falando no celular enquanto caminhava em direção da entrada do prédio bem onde Bento estava.
Sabrina também viu Bento e arregalou seus amendoados olhos cor de mel em susto e surpresa, em um misto de alegria e desconforto, que foi muito estranho para ambos. No segundo seguinte, Daniel aproximou-se da garota e beijou sua face.
— Essa é a Sabrina. — Nice falou cruzando os braços enciumada. Deu uma rápida analisada em sua rival: Sabrina tinha os cabelos castanhos compridos precisando de tratamento, um pouco frisados por causa da estática do dia chuvoso. Não era das mais magras, tendo uma barriguinha saliente, mas era sem dúvida, uma garota muito bonita, até para Daniel.
— Oi. — Sabrina cumprimentou Daniel e deu as mãos com ele, evitando olhar para Bento.
Bento estava congelado e estático. Sentiu seus pés perderem o chão e o cérebro quebrar em mil pedacinhos tentando entender como foi que isso tinha acontecido: estava apaixonado pela namorada de seu melhor amigo!
— Essas são a Lucinda e a Nice, e o Bento, meu melhor amigo. — Daniel apresentou.
— Muito prazer. — Sabrina sorriu como uma verdadeira atriz, fingindo não conhecer Bento. Cumprimentou todos com dois beijos no rosto e um sorriso forçado.
— Seja bem-vinda. — Nice falou com um sorriso amargo, engolindo os ciúmes e depois, segurou no braço de Lucinda. — Vamos ver se caímos na mesma sala?
— Agora mesmo! — Lucinda não contou duas para apoiar sua amiga. Deixaram os três jovens para trás e subiram as escadas.
Bento ficou ali parado engasgado com as palavras e com medo de que se abrisse a boca para dizer alguma coisa, diria as coisas erradas e revelando que já conhecia Sabrina e não apenas isso, que tinha beijado ela no cinema durante o fim de semana! Ficou um pouco tonto, seus pensamentos voando de um lado para o outro em sua cabeça perdendo o sentido da lógica.
Daniel logo reparou que Bento ficou estranho, como se tivesse virado uma estátua de cimento, endurecido e sem expressão. Mas como desconhecia as reais razões, achou que talvez fosse timidez, pois Bento era um rapaz introvertido.
— Devíamos ver em qual sala estamos. — Daniel sugeriu, pela falta do que dizer.
— É, seria ótimo e depois você pode me levar em um tour pela escola. — Sabrina sorriu para ele, fingindo estar muito feliz, deu as mãos com Daniel.
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Como de praxe no mundo das meninas, na hora do intervalo Nice e Lucinda foram retocar a maquiagem no banheiro feminino antes de descerem para o pátio. Nice estava passando um gloss vermelho na boca, enquanto Lucinda retocava a máscara. Sabrina estava dentro do box, ensaiando sua cara de paisagem para encarar mais meio período escolar entre a cruz e a espada! Estava enrascada!
— Como foi que você conheceu o Daniel? — Lucinda quis saber, toda curiosa com a última fofoca da escola.
— Os pais dele são amigos dos meus pais. Eu o conheci em uma festa na minha casa…. — Sabrina contou, ainda dentro do box e sem coragem de sair. — Não foi nada assim romântico.
— É verdade que você pediu ele em namoro? — Nice provocou, com a informação secreta que tinha. Quando ouviu a frase, Lucinda fez uma careta de frente para o espelho, desaprovando a atitude de Sabrina.
Sabrina abriu a porta do Box, percebendo o tom provocante na voz de Nice. Sorriu meio sem graça:
— Pedi. Você acha que eu devia ter esperado ele fazer o pedido?
— O Daniel não é do tipo que pede em namoro. — Lucinda informou como se conhecesse Daniel há séculos e procurando deixar Sabrina desconfortável com isso.
— Não faz diferença. — Sabrina deu de ombros. Para a menina, não importava mais o que Daniel pensava, pois considerava que seu relacionamento com o garoto já estava fadado ao fracasso desde o dia que começara. Somente ela, tola, que não percebera. Mas estava preocupada com o que Bento estava pensando sobre ela. Aquela era uma verdadeira piada do destino!
— Você está apaixonada por ele? — Nice perguntou curiosa, olhando para Sabrina pelo reflexo do espelho. Sabrina a olhou de volta e notou que havia uma pequena nuance de preocupação em sua feição, com o cenho franzido.
— Começamos a namorar tem pouco tempo, ainda não me decidi. — Sabrina saiu pela tangente com sua resposta. Se dissesse que sim mentiria, mas se dissesse que não se entregaria. Estava muito confusa e perdida naquele momento.
— Ah. — Nice fez como quem está satisfeita com a resposta. Estendeu seu gloss para Sabrina. — Usa esse, o Daniel adora de morango.
— Ih, já vi tudo, tá gamadinha! — Lucinda concluiu equivocada.
— Obrigada. — Sabrina aceitou o gloss, mas detestou a atitude de Nice. Como assim ela queria dizer que Daniel gostava do gosto do seu gloss? Aquilo era uma provocação e Sabrina logo sacou. Se Nice queria ver Sabrina beijar Daniel com seu batom, ela veria o maior beijo da história!
Sem contar duas vezes, passou o batom na boca e depois devolveu para a menina.
♥♥♥
— E você gosta dessa Sabrina? — Bento perguntou para Daniel enquanto eles estavam na fila da cantina. Não estava perguntando aquilo por interesse nos sentimentos de Daniel, mas queria saber até onde tinha se metido e se devia contar para Daniel a verdade ou não.
— Ela é divertida. — Daniel fugiu do foco. Não sabia bem o que Bento queria perguntando aquelas coisas e não queria entrar em detalhes sobre seu relacionamento. — Eu já te disse que não é sério.
— Ah, mas pode virar não é? Estudando na mesma escola…. assim é fácil virar sério.
— Não é sério. — Daniel insistiu. — E nem caímos na mesma classe.
— Ela tá vindo ali. — Bento avisou para o amigo, quando viu Sabrina descer as escadas de cimento e andar até os dois que estavam na fila. Abaixou o olhar, mirando em seus tênis, procurando não olhar para os olhos chamativos e sexys de Sabrina. Sentiu borboletas na barriga e as faces esquentarem somente porque ela se aproximou.
— Ah, que bom que achei vocês, me perdi! Essa escola é muito gigante e as meninas foram lá para a quadra. — Sabrina falou com um sorriso de alívio nos lábios de batom, usando o gloss com cheiro de morango de Nice. Aproximou-se de Daniel para dar-lhe um selinho, mas o garoto esquivou-se.
— Esqueci minha carteira na sala, já volto. — e saiu deixando Sabrina e Bento sozinhos. Seria algo normal e sem perigo, era uma ação segura deixar a sua namorada aos cuidados do seu melhor amigo, mas às vezes, o seu melhor amigo quer roubar a sua namorada de você.
Bento reparou a esquiva de Daniel e logo associou ao que Sabrina contara-lhe na internet, sobre seu namorado não lhe dar atenção e visivelmente evitá-la, como se nem gostasse de namorar.
— Que coisa. — Sabrina falou puxando assunto, cansada do silêncio que se formou entre Bento e ela.
— É….
— Que jeito estranho da gente se encontrar, não é?
— Muito.
— Pena que não caímos na mesma classe….
— Nós dois ou você e o Daniel? — Bento não se segurou, falou com ciúme visível em sua voz e cruzou os braços.
— Eu vou terminar com ele essa semana, amanhã. Se você quiser.
— Não, não. — Bento a interrompeu e ergueu as duas mãos como um escudo à sua frente. — Olha, Sabrina…. o que aconteceu sábado, esquece.
— Como assim? Ontem no MSN você me disse que nunca sentiu algo especial desse jeito. — e as palavras sinceras de Sabrina lembraram Bento da verdade, da dolorida verdade de estar apaixonado.
— Isso foi antes de você ser a namorada do Daniel. Ele é meu melhor amigo!
— E daí?
— É a primeira vez que o Daniel me apresenta uma namorada de verdade, ele só tem casinho, deve gostar muito de você! Não posso fazer isso com ele! — Bento sentenciou sério como se estivesse em um enterro, na verdade estava em um enterro: no dramático enterro do seu coração e do sentimento que havia dentro dele.
— Não fala besteira, Bento!
— Eu não vou trair meu amigo só por sua causa! Nenhuma menina vale tanto assim! No fim vocês são todas iguais que traem o namorado!
As palavras saíram da boca de Bento um pouco diferente de que ele queria dizer e sem querer, acabou ofendendo Sabrina. Os olhos de Sabrina encheram-se de lágrimas. Era isso que Bento pensava dela, então? Sem dizer mais nada, cobriu o rosto com as mãos e correu dali, fugindo.
Bento se sentiu um lixo por fazer Sabrina chorar e dentro dele seu coração estava dolorosamente rasgado. Mas não dava para se apegar a Sabrina e destruir o único relacionamento que Daniel se importara em levar adiante em um namoro. Abaixou a cabeça e engoliu em seco, enterrando sua tristeza.
Enquanto Bento e Sabrina se desentendiam, Nice e Lucinda conversavam sentadas em um banco perto da quadra, embaixo de um toldo velho que ficava ao lado de um ipê-amarelo derrubando flores no chão, ainda chuviscava.— Eu não entendi qual é a do Daniel com essa Sabrina. — Lucinda bebeu do seu suco de caixinha com sabor de manga, tinha prendido os cabelos loiros em um coque com um lápis. — Vocês não tinham ficado no Ano Novo?
Ao fim do período letivo e ao chegar ao pátio da escola, Sabrina teve que se segurar quando viu Daniel e Nice conversando dentro da papelaria. Viu seu namorado pagar as compras e entregar a sacola para Nice, provavelmente pagando tudo para a ruiva magricela.Sentiu uma raiva esmagar seu peito, definitivamente não ia com a cara de Nice e não gostava de ficar vendo a menina cheia de entrelinhas quando o assunto era Daniel. Ficou ali parada perto da saída, só olhando, e escutou a conversa dos dois enquanto eles saiam da papelaria:— Nice descia a rua da escola correndo, Daniel correu atrás dela e alcançou sua mochila, segurando pelo chaveiro de ursinho de pelúcia, que estourou a correntinha quando ele puxou. Com o barulho que Nice parou, virou para Daniel com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.— Desculpa. — Daniel falou. — Eu não sei o que….— Vai emCapítulo 05
Daniel entrou na classe e reparou que Nice estava no mesmo lugar de sempre. Tinha na boca um pirulito de morango em forma de coração, vermelho como seu gloss.— Bom dia, Nice. — falou quando se aproximou.— Bom dia! — Nice o recebeu com um sorriso lindo. Ela estava especialmente bonita naquele dia, com um casaco de oncinha fofo e shorts curtos, com uma me
Quando o sinal do intervalo bateu, Sabrina parou bem na frente de Ângelo:— E então vamos lá?— Tem certeza? — indagou incerto. Esse negócio de encontro às cegas era sempre uma furada, sem contar que não pretendia arrumar uma namorada naquele momento. Fora isso, sobrava aquela impressão de ser uma pegadinha, uma piada, um trote
Ângelo ficou calado e sentou-se novamente no banco, para ouvir o que Nice tinha a dizer. A menina suspirou chateada, procurou encontrar as palavras certas para contar a verdade e enquanto desamassava a folha, disse:— É só que… A Sabrina é muito ciumenta e ontem ela deu um chilique por causa do Daniel e eu não queria que ela atrapalhasse a nossa amizade. O Daniel é o único amigo do meu irmão e ele já está superchateado com várias coisas que aconteceram… — confessou de uma só vez, enquanto o pátio já esvaziava com a m
A cada pessoa que entrava no ônibus do planetário, Sabrina, uma das primeiras a chegar esticava o pescoço por cima dos assentos, esperando por Daniel e se decepcionava a cada vez que quem chegava lá era outro aluno.Já havia enviado três torpedos, ligado duas vezes e nada. Daniel não respondera e nem atendera aos seus chamados. Parecia até que estava fora de órbita. De certo, estava dormindo com o celular no silencioso.Viu quando Nice entrou no ônibus seguida de Bento. Os dois vieram juntos já que eram irmãos. Nice era
O passeio ao planetário não foi nada demais: entraram em uma sala escura e redonda onde projetou um filme com as imagens do satélite, explicando sobre a galáxia, os corpos celestes e estrelas. Mostrou os movimentos da Terra e algumas características e imagens de rotas celestes. O local ficou escuro como um cinema, só que a tela, era no teto.Nice assistia a tudo com a boca entreaberta e um sorriso de criança, empolgada com a projeção. Mas era a única que estava realmente se divertindo com o passeio do planetário. Ângelo estava achando tudo muito chato e sem graça, enquanto Sabrina e Bento estavam mais entretidos um com o outro, dando as mã