Ao fim do período letivo e ao chegar ao pátio da escola, Sabrina teve que se segurar quando viu Daniel e Nice conversando dentro da papelaria. Viu seu namorado pagar as compras e entregar a sacola para Nice, provavelmente pagando tudo para a ruiva magricela.
Sentiu uma raiva esmagar seu peito, definitivamente não ia com a cara de Nice e não gostava de ficar vendo a menina cheia de entrelinhas quando o assunto era Daniel. Ficou ali parada perto da saída, só olhando, e escutou a conversa dos dois enquanto eles saiam da papelaria:
— Péssimo mesmo é se aquele professor que parece uma tartaruga ainda for o nosso professor de biologia! Nunca mais vai ser a minha matéria favorita! — Daniel estava de braços dados com Nice, que balançava nas mãos a sacola com os presentes.
Sabrina reparou que eram algumas canetinhas coloridas e uns carimbos de menina, nada de muita importância.
— Eu gosto dele. Não gosto é daquele professor de história, um gordão que tem uma barba fedida!
— Você só diz isso porque ele te colocou pra fora no ano passado….
— Tudo culpa de certo alguém que ficou passando bilhetinho! — e deu uma pequena ombrada em Daniel, divertindo-se. — Oi Sabrina. — Nice quem a viu e a cumprimentou, meio em surpresa porque não a tinha visto antes por ali.
Sabrina analisou Nice que tinha um sorriso no rosto. Reparou também que Nice não soltou o braço de Daniel e encarou aquilo como uma espécie de aviso nas entrelinhas femininas.
— Oi. — Sabrina cumprimentou mais por educação e continuou segurando seu material de escola, com medo de tentar dar as mãos para Daniel e ele recusar, só porque estava de braços dados com Nice.
— Estamos indo até a sorveteria aqui do lado, é o máximo, quer ir? — Nice continuou com um sorriso no rosto. Sabrina entendeu aquilo como um desafio, ela estava convidando-a para um programa nitidamente programado a dois. — Nós vamos às vezes depois da aula.
— Aonde que vocês vão? — Bento perguntou aproximando-se e pegando a conversa pela metade. A primeira coisa que reparou foi nos quadris de Sabrina e depois viu Daniel e Nice de braços cruzados. Que droga! Agora eles eram como melhores amigos e isso o irritava. Sentia perder o amigo e a irmã… além é claro de Sabrina. — Posso ir junto?
— A ideia é irmos todos juntos. — Daniel deu de ombros.
— Olha o que eu ganhei, Gu! — Nice estendeu a sacola da papelaria para o irmão, que pegou curioso para olhar.
Bento remexeu nas coisinhas dentro da sacola e por fim, acrescentou:
— Que ‘bichices’ essas canetas e esses carimbos, nem deve funcionar essa porcaria.
— Funcionam sim e são fofos! — Nice esticou a manga esquerda do casaco de Daniel, mostrando para o irmão que tinha carimbado o braço do amigo para testar os carimbos da loja.
Sabrina quis morrer quando viu os carimbos cor-de-rosa, azul, vermelho, verde e roxo, todos com corações e “I love you” escritos. Teve certeza que Nice estava provocando-a da mesma forma que provocou no banheiro feminino antes do intervalo ao oferecer o gloss de morango. Isso era muito irritante e Sabrina enciumada, declarou logo guerra para a ruiva, que estava na cara querer roubar seu namorado!
Fingiu derrubar os cadernos que segurava nas mãos, parecendo a garota mais desajeitada do mundo, fazendo tanto Daniel quanto Bento se abaixar para pegar os cadernos dela do chão e devolverem para ela. Bento parou no meio do caminho, quando percebeu que não era seu papel ajudar a namorada do amigo.
— Ai desculpa, sou tão desastrada! — Sabrina acrescentou quando Daniel juntou todos os cadernos e ficou em pé. Segurou no rosto do namorado com as duas mãos e deu um selinho demorado que pegou Daniel de surpresa. — Obrigada, Dani.
Mas Sabrina foi ainda mais esperta, deixou Daniel segurando seus cadernos e deu o braço com ele, impedindo dessa forma que ele voltasse para Nice e fez questão de encarar Nice que já fingia não prestar atenção, tirando o celular do bolso.
— Vamos? Senão vai ficar tarde e tá começando a chuviscar! — chamou os amigos colocando-se a primeira a andar na direção da sorveteria.
Os amigos logo a seguiram. Bento foi o mais contrariado a participar do passeio, tendo que suportar ver Sabrina cheia de amores para cima de Daniel. Suspirou fundo e logo ultrapassou os dois para alcançar a irmã, que já acenava da porta da sorveteria. Não devia ter perguntado se podia ir junto e deveria ter inventado uma desculpa bizarra, como ter que passear com o gato da vizinha.
— Não acha que está meio frio para tomar sorvete? — Sabrina perguntou para Daniel assim que chegaram dentro da sorveteria.
— É quando é mais gostoso tomar sorvete! — Nice se intrometeu na conversa dos dois, guiando a turma para o guichê. — Hmmm! Vou querer com calda dupla de chocolate!
— Depois fica reclamando que tá gorda! — Bento provocou a irmã puxando sua mochila fazendo peso para baixo.
— Para Bento! — Nice riu e puxou de volta sua mochila ajeitando-a nas costas.
— Divide comigo, Dani? — Sabrina se encarregou de pagar de casalzinho. — Eu vou querer de abacaxi.
Bento imaginou Daniel reclamando, porque detestava sorvete de frutas e já se preparou para dizer que dividiria com Sabrina, apenas pela amizade, e assim enterrar de vez aquela estranheza que ficara entre eles depois das besteiras que falou e que pensou a aula inteira, arrependido.
— Tá bem. — Mas Daniel concordou com Sabrina, mesmo detestando o sorvete que ela escolheu, para a surpresa tanto de Nice quanto de Bento.
— Quero um de creme na casquinha. — Bento anunciou. A atendente anotou o pedido, enquanto a outra mocinha já preparava o sorvete. Bento pagou antes de ir buscar o seu sorvete nas mãos da mocinha que preparou.
— Eu vou querer de doce de leite com cookies e chocolate! — Nice foi a segunda no guichê. — Mas faz um duplo, hein!
— Credo Janice! — Bento assustou-se com o tamanho do sorvete da irmã. — Você não estava de regime?
— É só por hoje. Ah! E uma água, por favor. — Nice falou rindo e na hora de pagar, tirou a sua carteira vermelha da mochila e abriu ela de todos os lados procurando seu dinheiro. — Ué, eu deixei meu dinheiro em casa? — Fez uma cara tristinha.
— Ih nem vem que eu não vou pagar pra você. — Bento torceu o nariz. — Vou me sentar.
— Eu pago…. — Daniel ofereceu já pegando a sua carteira. Sabrina revirou os olhos.
— Não Dani…. Deixa pra lá, eu estou de regime mesmo. — Nice continuou com a carinha triste e guardou a carteira. — Só a água, moça.
— Deixa de ser boba, Nice. — Daniel insistiu. — Além do mais, eu quero uma colherada do seu sorvete!
— Se for assim, tudo bem. — Nice olhou para ele com aquele sorriso de acelerar o coração de novo. — Aproveita e já faz um de abacaxi para a Sabrina!
— Vai querer chantilly? — a atendente perguntou. Outra coisa que Daniel detestava era chantilly.
— Vou sim. — Sabrina concordou distraída da pergunta, pois olhava para Bento que largava a mochila em uma mesa e se sentava de qualquer jeito lambendo o sorvete.
Daniel pagou os sorvetes das duas e foi sentar-se ao lado de Bento, carregando os cadernos de Sabrina enquanto a namorada esperava seu sorvete ficar pronto.
Nice foi a primeira a pegar seu sorvete e sentou-se do lado de Bento colocando uma colherada bem grande na boca.
— Hmmm! — fez ao sentar-se, soltando a mochila vermelha no chão. Fez mais uma colher e ofereceu para Daniel. — Olha o aviãozinho!
Sabrina chegava com seu sorvete de abacaxi bem na hora em que Daniel era alimentado por Nice e teve até de prender a respiração de raiva, porque Nice não perdia tempo! Que garota mais oferecida!
— Tá bom?
— Tá ótimo.
— Como vocês são bestas! — Bento reclamou no meio dos dois. — Parecem duas crianças!
— Nem disfarça, Bento! Eu sei que você tá doidinho pelo meu sorvete de doce de leite com cookies! — Nice brincou. — Mas nem vou te dar um pedaço porque você não quis pagar pra mim!
— Por que eu pagaria, se o Daniel sempre paga tudo pra você? Ainda economizo um troco e compro um tênis no fim do mês! — Bento enfiou o dedo no sorvete de Nice, pegando um teco.
— Ei, devolve!
Sabrina se sentou ao lado de Daniel e suspirou. Deu uma colherada em seu delicioso sorvete de abacaxi e por fim ofereceu uma colher para o namorado, para provar para Nice quem é que controlava a situação. Daniel não quis ser indelicado com Sabrina e por isso aceitou a colherada das mãos da namorada, mas não aguentou com o sorvete e chantilly na boca e pegou o primeiro guardanapo que viu para cuspir.
— O que foi? Tá ruim?
— Não…. A sorveteria é ótima… — Daniel tentou disfarçar, passando as mãos nos cabelos. — É que depois de doce de leite esse negócio ficou azedo.
— E não tem nada a ver com o fato de que era a Nice te dando o sorvete, não é? — Sabrina perguntou dando na cara que estava com ciúmes. Todo mundo olhou para ela assustado. — Você fica pagando tudo pra todas as amigas também ou é só pra Nice?
— Quê? — Daniel não entendeu a pergunta, mas assustou-se com a possibilidade de que Sabrina tinha desconfiado de que já havia rolado algo entre ele e Nice anteriormente.
— Calma Sabrina….
— Calma o quê, Nice? Você é muito dissimulada! — Sabrina comprou a briga, de saco cheio de ver Nice se fazer de inocente e levar a melhor.
Nice arregalou os olhos verdes e colocou uma colher de sorvete com calda de chocolate na boca, para não dizer mais nada. Engoliu o sorvete como se fosse uma pedra e abaixou a cabeça, chateada.
Bento por sua vez ficou perplexo com a explosão de Sabrina e não aguentou:
— O Daniel só detesta sorvete de morango e especialmente com chantilly, só isso! — intrometeu-se na briga, só porque Sabrina tinha ofendido sua irmã. Não era Sabrina que vivia reclamando que o namorado nunca dava atenção e vivia se esquivando? Pois ali estava Daniel tentando tomar um sorvete que odiava só para não desagradar à garota! Em sua opinião, Sabrina que era a maluca da história e ainda traía o namorado. No mesmo momento se sentiu um lixo, porque fora com ele que Sabrina tinha traído Daniel.
— Desculpa. — Nice largou o sorvete em cima da mesa, pegou sua mochila vermelha do chão e rapidamente saiu da sorveteria indo parar no meio da chuva, pois o chuvisco já evoluíra.
Daniel se levantou também, mas Sabrina o segurou no braço.
— Deixe ela, Dani.
— Que droga, Sabrina! — Daniel se soltou da garota com um puxão e correu atrás de Nice, largando sua mochila, Sabrina e Bento para trás.
Sabrina suspirou revoltada e soltou o sorvete.
— Que ótimo! Ele ainda foi atrás dela e me largou aqui! Você viu? — virou-se para Bento buscando um apoio moral, mas Bento estava boquiaberto sem entender o que tinha acontecido. — Você viu?
— É claro que ele foi! O que você queria? — falou de forma grosseira, abrindo os braços. — O Daniel é meu melhor amigo, consequentemente, da Nice também! Você que é toda ciumenta!
— Eu não sou ciumenta! — Sabrina se defendeu da acusação.
— E o que foi isso então? Essa cena toda foi ciúmes! — Bento ficou em pé e pegou a mochila. — Não foi você que hoje cedo disse que ia terminar com ele? E daí faz isso….
— Você vai mesmo defender ele? Ah, é, esqueci, a Nice é sua irmã, é claro que você vai defender o que a princesinha faz, mesmo ela sendo uma víbora!
— A única víbora aqui é você. Você é louca! Quer saber, fica aí você e sua loucura! — Irritado, saiu da sorveteria, largando o sorvete em cima da mesa. Foi atrás da irmã. Não estava puramente defendendo Nice, mas ver Sabrina com ciúmes de Daniel era um martírio.
Nice descia a rua da escola correndo, Daniel correu atrás dela e alcançou sua mochila, segurando pelo chaveiro de ursinho de pelúcia, que estourou a correntinha quando ele puxou. Com o barulho que Nice parou, virou para Daniel com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.— Desculpa. — Daniel falou. — Eu não sei o que….— Vai em
Daniel entrou na classe e reparou que Nice estava no mesmo lugar de sempre. Tinha na boca um pirulito de morango em forma de coração, vermelho como seu gloss.— Bom dia, Nice. — falou quando se aproximou.— Bom dia! — Nice o recebeu com um sorriso lindo. Ela estava especialmente bonita naquele dia, com um casaco de oncinha fofo e shorts curtos, com uma me
Quando o sinal do intervalo bateu, Sabrina parou bem na frente de Ângelo:— E então vamos lá?— Tem certeza? — indagou incerto. Esse negócio de encontro às cegas era sempre uma furada, sem contar que não pretendia arrumar uma namorada naquele momento. Fora isso, sobrava aquela impressão de ser uma pegadinha, uma piada, um trote
Ângelo ficou calado e sentou-se novamente no banco, para ouvir o que Nice tinha a dizer. A menina suspirou chateada, procurou encontrar as palavras certas para contar a verdade e enquanto desamassava a folha, disse:— É só que… A Sabrina é muito ciumenta e ontem ela deu um chilique por causa do Daniel e eu não queria que ela atrapalhasse a nossa amizade. O Daniel é o único amigo do meu irmão e ele já está superchateado com várias coisas que aconteceram… — confessou de uma só vez, enquanto o pátio já esvaziava com a m
A cada pessoa que entrava no ônibus do planetário, Sabrina, uma das primeiras a chegar esticava o pescoço por cima dos assentos, esperando por Daniel e se decepcionava a cada vez que quem chegava lá era outro aluno.Já havia enviado três torpedos, ligado duas vezes e nada. Daniel não respondera e nem atendera aos seus chamados. Parecia até que estava fora de órbita. De certo, estava dormindo com o celular no silencioso.Viu quando Nice entrou no ônibus seguida de Bento. Os dois vieram juntos já que eram irmãos. Nice era
O passeio ao planetário não foi nada demais: entraram em uma sala escura e redonda onde projetou um filme com as imagens do satélite, explicando sobre a galáxia, os corpos celestes e estrelas. Mostrou os movimentos da Terra e algumas características e imagens de rotas celestes. O local ficou escuro como um cinema, só que a tela, era no teto.Nice assistia a tudo com a boca entreaberta e um sorriso de criança, empolgada com a projeção. Mas era a única que estava realmente se divertindo com o passeio do planetário. Ângelo estava achando tudo muito chato e sem graça, enquanto Sabrina e Bento estavam mais entretidos um com o outro, dando as mã
Sabrina estava com dor de barriga de ansiedade, de esperar por Bento sentada, em frente ao cinema. Pegou o celular para olhar a hora e encontrou uma mensagem de texto de Daniel, que dizia: “Desculpe, passei mal o dia todo, nos falamos na segunda.” E essa era a desculpa tola que ele tinha para dar e ainda aproveitar para dizer que eles não fariam nada juntos no domingo.Suspirou. O que ela tinha de tão ruim que Daniel simplesmente não suportava ficar ao seu lado?! Daniel era lindo, um namorado bonzinho, mas era pura formalidade! Sabrina não se sentia amada e nem desejada. Tentou falar que o amava uma vez, mas Daniel fingiu que não ouviu. Na segunda tentativa foi em uma mensagem de texto, q
Nice despertou com o celular de Daniel vibrando no armarinho, dentro da caneca. Piscou várias vezes para recobrar o foco e sentou-se. Percebeu que acabaram dormindo enquanto viam o filme, porque a televisão repetia em loopingÚltimo capítulo