Capítulo 2

O homem que falara era tão impressionante quanto o primeiro, mas este, no lugar do sorriso sedutor, havia apenas uma carranca. Ele estava vestido com uma camisa preta que grudava em seus músculos definidos como uma segunda pele e calças de couro da mesma cor. A roupa parecia uma espécie de armadura que terminava em duas espadas presas às costas em formato de X, o que lhe conferia uma aura de perigo. Ele a olhou de cima a baixo e estreitou os olhos amarelos em fendas enquanto ela erguia o punhal de prata.

— Pretende lutar contra mim com esta agulha, humana? — farejou o ar e coçou o nariz. — Você fede a medo e rosas, com certeza uma mistura irritante. — Suas palavras eram de puro desprezo e isso provocou nela ira; não pôde controlar o temperamento, mesmo que isso lhe custasse a vida.

— Cale a boca, vira-lata! Devo lembrá-lo o quanto fede a cachorro molhado — falou enquanto uma fina garoa começava a cair. A vontade que tinha era de feri-lo, assim como ele havia feito com ela. As palavras causaram um acesso de risos e tosse no primeiro rapaz que tentou, em vão, disfarçar, recebendo um olhar mortal de reprovação. — Deixe-me passar ou o chutarei como o cão que é — cuspiu cada palavra quando ele, rápido como um raio, se pôs no caminho, impedindo a passagem.

— Diz isso caçando em território alheio? Não lhe disseram a punição para o humano que entrar nas terras de Derién? — O sangue gelou nas veias quando uma dor terrível tomava conta do corpo dela, que em espasmos musculares desabou no chão. O peito doía como se estivesse sendo comprimido de dentro para fora. Choramingou quando um zumbido lhe invadia os ouvidos e a vista começava a escurecer com a falta de ar.

— Heron, isso não será necessário! Ela é apenas uma aldeã, não fez nada de errado, a não ser caçar em território da matilha. Não oferece ameaça, ela não resistirá à sua dominância. — O outro rapaz intercedeu por ela; agora parecia incrivelmente sério. — Deixe-a ir.

— Está apaixonado pela humana, capitão? As mulheres de nossa alcateia não lhe são suficientes? Devo lembrá-lo da lei? O lobo que se envolver com uma raça inferior será rebaixado a um serviçal. Mestiços são párias na alcateia. É esse o destino que pretende dar à sua linhagem? Afaste-se dela. Não sei que feitiço ela usou em você, então abra o olho, capitão, e volte ao seu posto, agora! — Tereze voltou a respirar quando a sensação de mil agulhas espetando sua pele começou a lhe abandonar. Ainda continuava no chão quando o primeiro rapaz, que havia sido chamado de Tarik, olhou uma última vez para ela, assentiu com a cabeça perante a ordem recebida e se transformou no lobo negro outra vez. Com um salto, desapareceu floresta adentro.

A floresta pareceu mas silenciosa que nunca,tereze teve a certeza que ele terminaria o que havia começado,tentou em vão se afastar quando o homem se agachou ao seu lado e rápido como uma cobra ao dar o bote apanhou seu pulso esquerdo.

A floresta parecia mais silenciosa do que nunca. Tereze teve a certeza de que ele terminaria o que havia começado. Tentou em vão se afastar quando o homem se agachou ao seu lado e, rápido como uma cobra ao dar o bote, apanhou seu pulso esquerdo.

— Me solte! — em vão, tentou livrar-se das mãos extremamente fortes. Com um puxão, ele arrancou o pedaço da manga da velha camisa e a faixa que ela sempre levava ali. Virou o pulso dela e seus olhos dourados se arregalaram; ali, Tereze possuía uma marca de nascença.

Um círculo perfeito dentro do qual havia, como um quarto de lua, um lado negro e o outro branco. Sempre havia se perguntado como aquilo um dia viera parar em sua pele.

— Não pode ser! Não uma humana! — Ele largou o pulso dela como se a pele lhe queimasse no momento em que a própria pele entrou em espasmos. A moça se encolheu ainda mais, protegendo a marca que nem ela mesma sabia por que estava fazendo. — Onde conseguiu isto? — ele perguntou, e seu olhar ameaçador percorreu cada centímetro da pele dela.

— Eu nasci com ela! — falou o que achou ser a verdade, já que pouquíssimas lembranças da infância lhe restavam na mente. A marca estava ali desde que Tereze se entendia por gente.

— Não a mostre a ninguém! Me ouviu? — Ele tinha as mãos em garras negras e do peito um rosnado sinistro ecoou; era como se a fera estivesse dominando o homem, que não iria conseguir segurá-la por muito tempo. O rapaz fechou os olhos, e as narinas dilatadas denotavam que respirava com dificuldade. — Agora vá, espero nunca mais vê-la por aqui! Se for inteligente o suficiente, fugirá do continente sem olhar para trás antes do auge da lua de Diana. Se a encontrar novamente, não haverá misericórdia. — A voz grave e animalesca fez com que recobrasse os sentidos em frangalhos e cambaleasse para longe dali.

— Corra, humana! Ou ele irá caçá-la e não gostará nem um pouco quando ele reivindicar o que lhe pertence. — Foram as últimas palavras que ouviu antes de correr como louca na direção que achava ser a certa. O som de um rosnado terrível foi ouvido por toda a floresta, seguido de um uivo solitário; era como se ele esperasse uma resposta, uma direção a qual seguir.

Com o peito apertado pela sensação dos três longos uivos, ela correu até o limite do vilarejo. O vestido e os outros pertences haviam ficado, só Deus sabe em que direção. Ainda tremia de medo e cansaço; mesmo assim, não parou. A fraqueza de dias de fome esgotava a pouca energia que ainda possuía. Não podia aparecer pela porta da frente vestida assim, muito menos com a vista a se apagar.

Respirou fundo uma, duas, três vezes e rodeou a antiga construção de pedra que era o lugar. Entraria pela cozinha; por sorte, Lise deixara as roupas que não haviam secado totalmente no varal. Rezou para que estivesse certa.

O local estava silencioso, sinal de que todos já haviam se recolhido, como sempre, a este horário. Tereza não viu nem sinal de Harry e quase chorou de gratidão ao deixar sobre a mesa a pele com a carne que havia trazido. Ainda existia alguma brasa no fogão a lenha. Ela apanhou um pedaço da carne, temperou-o e começou a assá-lo. Com o coração ainda martelando enlouquecido, comeu o suficiente e já se preparava para subir com um prato do assado para a irmã quando a porta se abriu e Harry surgiu dali, acompanhado de um homem. O sangue gelou quando as palavras chegaram a seu ouvido, e o pior de todos os seus pesadelos se tornou real com cada palavra pronunciada.

— Tenho duas irmãs! Creio que serão o suficiente para saldar a dívida. A mais velha é uma beldade! Se vier amanhã pela manhã, pode constatar com os próprios olhos. Com certeza, lhe renderá uma boa fortuna por um tempo; será sucesso garantido em sua casa de prazeres. Ambas são puras. Venha, vamos acertar tudo em meu escritório. — Tereze, com as costas coladas à parede, escorregou até o chão; precisava fugir dali.

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