Capítulo 4

Tereze despertou com a fraca iluminação vinda de fora que adentrava pela janela da carruagem, e o sacolejar rítmico do trotar dos cavalos lhe revirou o estômago. Despertou apavorada; ainda estava vestida com o velho vestido poído em vários lugares, e apenas o casaco pesado cor de vinho lhe aquecia mais do que estava acostumada.

— Acalme-se, Tereze! Estamos quase chegando. Apenas não grite; estamos atravessando a floresta Derién. Amber disse que é necessário, pois é o único caminho por terra. Pelo mar, levaríamos dias até contornarmos a costa inteira. Precisamos apenas evitar determinados pontos da floresta.

O desespero era tudo o que restava. Estavam sendo comercializadas como gado, e tirar a falsa esperança que estampava o rosto de Selena foi a decisão talvez mais difícil que estava prestes a tomar.

Respirou fundo e segurou as mãos da irmã. Eram apenas as três dentro da carruagem. A loira, extremamente bonita, olhou para ela como se soubesse o que aconteceria em seguida.

— Selena, não existe tia alguma! Estamos sendo... — A conversa foi interrompida por um barulho alto, como se a madeira estivesse sendo quebrada brutalmente.

— Merda! — murmurou a loira ao olhar por uma fresta da cortina da carruagem. — Fiquem aqui! Em silêncio, ou serão estraçalhadas pelos malditos cães. Nem pensem em fugir. — Um tremor atravessou o corpo de ambas as irmãs, e tudo só piorou quando a mulher saiu para fora na completa escuridão. Estava muito escuro neste ponto, pois ali as árvores pareciam muito mais próximas, impedindo a passagem da luz do sol. Tudo ficou muito mais estranho com o silêncio que se seguiu, sendo substituído segundos depois por rugidos horríveis e sons de luta em meio à escuridão.

Por Deus, essa era a única alternativa que possuíam. Tinham que fugir dali e rápido. Tereza havia calculado que talvez mais dois quilômetros poderiam levá-las ao vilarejo vizinho. Não podiam se dar ao luxo de se preocupar.

— Vamos, Selena! — Não havia tempo para explicações.

— O que você está fazendo? Amber pediu para que esperássemos aqui. Lá, morreremos nas mãos dos lobos. — Selene não sabia da verdade e não a culpou pela ignorância.

— Não temos tempo para explicações! — segurou o rosto da irmã entre as mãos. Não existe família, é tudo uma mentira. Agora, vamos! — Praticamente arrastou a irmã para fora da carruagem. Ainda estava escuro e as duas mal conseguiam enxergar o caminho à frente. O som de animais grandes e rosnados assustadores era ouvido por toda a floresta. A única opção segura seria sair totalmente da estrada. A chuva havia tornado o solo escorregadio, o que fez com que praguejasse quando a saia do vestido quase a fez tropeçar pela milésima vez.

Ambas correram até estarem totalmente exauridas. Haviam conseguido. Tereze quase chorou de emoção ao ouvir a floresta silenciosa outra vez; apenas o som da respiração em frangalhos das duas denotava algum som ali.

— Precisamos continuar! Não é seguro ficarmos paradas aqui! — A jovem entrelaçou os dedos nos da irmã e iniciaram uma caminhada constante. Selena parecia em choque e, isso, por um lado, foi uma bênção; por enquanto, não precisaria responder perguntas que nem ela mesma havia respondido para si. Era simples: o que se poderia falar se a situação era algo que nem mesmo ela conseguia entender?

Envolta em pensamentos conflitantes, só percebeu quando já estavam cercadas por dois dos homens musculosos vestidos em couro negro, armados até os dentes.

— Ora, ora, ora, o que temos aqui! — Tereze conteve o grito, o que não aconteceu com Selena ao ver caninos enormes surgirem, deixando os lábios de ambos com aparência maligna. Os ferimentos daqueles homens se curavam a olhos vistos, deixando a pele tão lisa e sem cicatrizes como se nada tivesse acontecido. Tinham um olhar duro e cruel. — Humanas! Como chegaram tão longe em território de Derién? — O mais alto dos dois perguntou, sacando uma das armas. — De acordo com a lei, todo e qualquer humano encontrado em solo lupino deve ser eliminado. — Tereze se esquivou alguns passos, levando a irmã junto; sabia que eles as matariam ali. Não podia morrer, prometera cuidar de Selena a qualquer custo. Não havia nada que pudesse fazer, então, no desespero, disse o primeiro nome que lhe veio à mente no momento em que ele avançava para lhe dar um golpe fatal.

— Heron! Eu procuro por Heron! — O homem parou e a olhou surpreso; ela só precisava de mais tempo para bolar um novo plano de fuga.

— Como conhece o alfa?

— Não direi nada a você! Apenas me leve até ele; foi ele quem pediu para eu o procurar. — mentiu descaradamente e quase mordeu a língua no processo. — Se não acredita, pergunte a Tatik! — Por Deus, o lugar dela no inferno já estava preparado; nunca havia contado tantas mentiras em um espaço tão curto de tempo.

O tempo pareceu congelar até que ambas estivessem sendo conduzidas floresta adentro, sem mais uma palavra a respeito. Os homens pareciam soldados e tinham uma energia sem fim; já estavam caminhando há horas, e Tereze já não notava diferença nenhuma se estava andando em círculos ou não. Selena parecia perdida dentro da própria mente, e isso a preocupava. Rezou mentalmente para que acontecesse algo ao tal alfa que o impedisse de vê-la. O que diria a ele quando o visse? Lembrou das últimas palavras que ele lhe dissera ao olhar sua marca: não haveria misericórdia; ele até mesmo havia lhe dado um prazo para sair do continente, e onde ela estava, senão indo ao encontro dele.

O caminho se abriu em uma clareira; era linda, como um vilarejo gigantesco construído de chalés de madeira até onde a vista alcançava. Nenhum parecia em condições precárias como no próprio vilarejo delas. Tereze inspirou o cheiro de bolo e doces, que fez seu estômago roncar. Os homens olharam para ela; com certeza haviam ouvido. A essa altura, os primeiros raios de sol da manhã já estavam levando consigo o frio da noite. Tereze fechou os olhos, deixando a brisa acariciar sua pele e, por mais que a situação presente fosse incerta, pela primeira vez sentiu paz.

— Nem pensem em fugir! Aqui até o mais frágil pode dar fim à vida de vocês. — O aviso foi claro enquanto começaram a caminhar pela rua que levava à maior das construções. O sangue da jovem com certeza não estava chegando ao cérebro o suficiente, pois cada passo que dava fazia seu coração bater mais acelerado. Algo dentro de si, por instinto, lhe impulsionava a pôr um pé na frente do outro rumo a um destino que lhe era desconhecido.

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