Capítulo 3

Priscila

— Que dor de cabeça desgraçada — ouço Beatriz, reclamando deitada ao meu lado na cama, enquanto minha mente se encontra longe. Na verdade, meus pensamentos estão focados em uma pessoa específica. Será que ele vai ligar? Ou apenas fingiu anotar meu número porque eu deixei que me beijasse na noite passada? Como percebeu que eu não transaria de cara, fez toda cena de carinha legal para depois me dispensar? Priscila, como você é idiota e só pensa besteira.

— Tá ouvindo o que estou falando? — Beatriz pergunta, batendo no meu ombro, tirando-me do mundo dos sonhos em que estou neste momento.

— Que foi?

— Alguém te comeu ontem à noite para ficar com essa cara de idiota?

— Meu Deus, como você só abre a boca para ficar falando bobagens — retruquei, levantando da cama para pegar minhas coisas e voltar para minha casa. Conseguimos voltar cedo, bem, quero dizer que cedo é no sentido de entrar pela janela em casa antes das quatro da manhã.

— Se ofendeu porque fiz uma pergunta normal. Tá esquisita desde a hora que a gente voltou para casa, não quis contar do cara desconhecido que você encontrou na balada. Capaz de ter sido algum desses “Zé Droguinhas" e você ficou com vergonha de me dizer.

Beatriz zomba de mim, enquanto eu tiro minha camisola de algodão, vestindo um short jeans e minha camiseta.

— Não tem nada para contar, é apenas isso — achei melhor esconder meu encontro com Ethan. Eu conheço a amiga que tenho; vai começar a dizer que ele tem cara de playboy, que deve ter ido até a comunidade atrás de drogas, o que, vamos combinar, não é uma mentira, mas não foi ele, e sim o amigo que conheci rapidinho quando voltamos para a boate.

— Pensei que fosse sua melhor amiga, mas pelo jeito não sou — Beatriz, enrolada na coberta, fazendo drama. Dou um suspiro tentando manter a calma e volto para a cama, tirando o tecido do rosto dela.

— De verdade, não teve nada especial. A gente ficou só conversando besteira enquanto ele esperava o amigo dele voltar.

Estou mentindo não porque não confio na Beatriz, mas é que se depois conto sobre a noite e no final ele some e nunca mais o encontro. Melhor voltar para o mundo real.

Abaixo o meu rosto e dou um beijo na testa da minha amiga.

— É melhor você voltar a dormir. Eu vou embora agora, porque mamãe deve ter voltado da igreja e sabe que prometi que almoçava em casa.

Levanto da cama, despedindo-me dela, avisando que vou dizer para sua mãe que a filha estava com muita dor de cólica, dessa forma, tia Kátia não descobriria que, na verdade, era ressaca das grandes. Pego a minha mochila, mando um beijo para ela e saio do quarto.

Entro cozinha encontrando a tia lavando a louça.

— Bom dia, tia! — Digo colocando a minha mochila na cadeira ao lado.

— Bom dia, minha querida! Seu tio mal levanta e corre para o bar do José.

Tio Marcos ama jogar baralho e sinuca e sempre que tem uma folga ele vai para o bar que tem aqui na rua. Me sirvo de uma xícara de café com leite, enquanto tia Katia continua de costas para mim lavando a louça.

— Vocês duas não chegaram tarde da noite ontem?

Quase me engasgo com o pão, ao ouvir a tia perguntando.

— Tarde de aonde? — Me faço de besta para não demonstrar o susto.

— Da festa que as duas foram — ela se vira de frente segurando o pano de prato com um sorriso. Ao contrário da minha mãe, que era fechada, não gostava de festas e era do trabalho para casa e de casa para igreja, tia Kátia era muito mais moderna e sempre conversava comigo sobre homens e sexo.

— Tia, me desculpa…. — Começo a falar, mas sou impedida por ela.

— Tudo bem. Não vou brigar com as duas. Mas da próxima vez, quero que avisem, pois se algo acontece e a Lúcia vem aqui atrás de você?

Briga de forma carinhosa comigo, voltando sua atenção para o que estava fazendo. Eu terminei de tomar meu café, levantando da cadeira para ir embora para casa.

— Obrigada tia e desculpa de verdade — Dou um beijo em sua bochecha, antes de sair praticamente correndo da cozinha.

****

Assim que entro na varanda, escuto de fora a música vindo da sala. Mamãe deveria estar faxinando a casa. Estranho, pois esse horário ela costuma estar no culto das mulheres. Entrei tentando não fazer barulho, porém dou de cara com mamãe tirando a poeira da estante. Aqui em casa é proibido assistir novelas ou séries mundanas, como mamãe costuma falar. Meu telefone celular foi comprado depois da tia Kátia insistir muito, dizendo que era necessário, para que eu pudesse me comunicar com todos quando estivesse no cursinho. Eu estudo na parte da tarde, e de manhã, fico em casa arrumando as coisas antes de sair para estudar.

— Pensei que não voltava mais hoje — mamãe resmunga. Larguei minha mochila no sofá e vou até ela abraçando-a para não dar na cara que aprontei algo.

— Até parece, mãe. Eu avisei que voltaria para o almoço. E voltou cedo da igreja?

Perguntei com curiosidade.

— Hoje não fui para o culto. Passei a noite em claro, tendo pensamentos ruins em relação a você, então orei até o sol nascer.

Respondeu, pegando-me de surpresa com a resposta.

— Que pensamentos ruins a senhora se refere?

— Nem eu mesma sei. Mas entre ficar na dúvida e orar, eu prefiro a segunda opção. Agora vamos, vai trocar de roupa, tire esse short imoral, vista um dos seus vestidos decentes e venha me ajudar.

Reclamou, afastando-se de mim para ir até a cozinha. Eu faço o que ela mandou, pegando minha mochila e indo para o meu quarto me trocar. Entrei e fechei a porta, antes de escolher a roupa para usar em casa. Sinto vontade de olhar o meu celular, e para minha grande surpresa, eu vejo o SMS dele.

Oi princesa! Podemos nos encontrar amanhã, depois que você sair do seu cursinho? Manda o endereço que prometo estar te esperando na porta e vamos tomar um sorvete e bater um papo. Gostei demais de conversar contigo e quem sabe eu possa repetir os beijos.

Ethan

Leio a mensagem três vezes, e todas elas eu estou rindo como uma completa idiota. Ele mandou mensagem, quer me encontrar novamente e me levar para a sorveteria. Sentei na cama, tentando não gritar de felicidade, contudo, ao ouvir a voz da minha mãe gritando por mim, é como se um balde de gelo caísse em cima da minha cabeça. Como eu iria me encontrar com ele, sendo que tenho hora marcada para chegar em casa?

Pensa, Priscila! Use o seu neurônio para algo útil e encontre uma solução. Decido não responder à mensagem agora. Como acabei de dizer, vou pensar e depois encontrarei um meio de ver o Ethan novamente sem minha mãe desconfiar de algo ou brigar comigo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo