Priscila
Olhava a roupa que escolhi, pela terceira vez, indecisa se realmente estou bem. Beatriz aqui, seria de grande ajuda, porém não posso falar sobre o meu encontro com Ethan e a sua avó. Optei por uma calça jeans, uma camisa três quartos, azul clara e nos pés um sapato de saltinho, que ganhei no último natal. Geralmente uso ele quando vou aos cultos no domingo, entretanto ando um pouco desviada da igreja e nem sei como a mamãe deixou eu sair para me encontrar com os supostos amigos do cursinho. Ethan, achou melhor enviar um SMS, disse ter medo de que eu acabasse me complicando em casa, se fosse ligar então me mandou mensagem logo após o café da manhã. Portanto, limpei a casa, arrumei o meu quarto, tomei um banho demorado, até mesmo escovei os cabelos, coisa que raramente faço. Enfim, estava me sentindo bonita, tanto que deixei os cabelos soltos, caindo em cachos e a cor dele, estava um castanho mais brilhoso. Nos lábios um batom rosinha, maquiagem bem discreta, para não dar na cara que eu estava indo me encontrar com alguém. Pronta, verifiquei as portas e janelas, para poder sair tranquila, A julgar o horário, Ethan deveria estar me esperando no nosso ponto de encontro. Com a mochila do cursinho, celular com a bateria carregada, olho se meus documentos e o dinheiro da semana tá certinho em minha carteira. Com tudo organizado, saio de casa apressada para não encontrar ninguém pelo caminho. Estou praticamente correndo, virei na esquina de casa, caminhando até que avistei o carro dele, ligado me esperando. Rir da minha ousadia, pois as garotas da minha idade costumam sair com rapazes, enquanto eu….
Mal entrei no carro, sou pega de surpresa com um beijo apaixonado. A sorte é os vidros serem fechados, então ninguém vai ver quem se encontra no carro. Afastei-me, com o coração acelerado. Sei que estamos indo tão rápido e nós dois nem mesmo somos namorados, podemos nos considerar amigos que se beijam? Será que existe isso? Pensei, me arrumando melhor no banco.
— Fiquei a manhã inteira ansiosa para vir te buscar. Emma, também está feliz porque levarei uma garota para ela conhecer antes que ela morra.
Ouvir Ethan falando dessa forma da sua única parente viva, deveria ser engraçado, contudo, acho que ele em certos momentos, diz cada coisa que se fosse a minha mãe, iria chamar sua atenção praticamente todos os dias.
— Limpei a casa, arrumei umas coisas e agora estou aqui.
Digo, brincando com a alça da minha mochila, cabeça baixa e rosto vermelho.
— Você tá linda com essa roupa. Sou um cara de muita sorte, porque encontrei uma fada em meio aquele barulho e gritaria naquela balada.
Ethan, segura meu queixo, fazendo com que eu olhe em seu rosto.
— Penso o mesmo. Olha que nem queria ir até a boate, mas no final eu gostei.
Respondi, ousada demais nas respostas, porém o que posso fazer se gosto de conversar com ele? Ethan pegou a rodovia bem movimentada, que liga o bairro classe média com a classe alta. Para onde será que ele está me levando?
— Você vai se amarrar no casarão da Emma. Esqueci de te contar, mas a vovó foi uma bailarina bem famosa, na década de 70, depois que o marido dela faleceu, decidiu montar um estúdio de artes e dança na antiga casa que eles moravam. O lugar é bem bonito, você vai se apaixonar e não quer mais sair de lá.
Diz, voltando sua atenção para a estrada. Fizemos o trajeto em silêncio, somente o som da música tocando no rádio do carro. Olhando para a janela, observo a paisagem, fecho os olhos pensando em tudo que anda acontecendo entre a gente, sem saber qual nome dar para a nossa relação.
***
O carro adentrou uma rua, com casarões antigos em um dos bairros mais tradicionais de São Paulo. Pelo pouco que conheço, aqui a maioria das casas, são datadas da década de quarenta ou cinquenta. Estou nervosa, pois não tenho noção de como vou me portar na frente da avó dele. Será que ela é gente boa? Ou aquelas mulheres esnobes? Notei que Ethan vem de uma família com um poder financeiro melhor do que o meu. Entretanto, será que é somente avó e neto? Não existe outro parente na vida dele.
— O que tá achando das ruas? Te disse que você curtirá muito a minha avó.
Ethan fala, voltei a minha atenção ao seu rosto feliz com a minha visita. O carro adentrou em uma casa, com várias plantas e flores logo na entrada. Chão de pedras, ao fundo um casarão pintado de branco com tons de dourado, o imóvel de dois pisos do lado de fora parece enorme, fico me perguntando se é grande por dentro.
— Não se assusta com a aparência, a Emma é bem de boa, te falei isso e torno a repetir.
Ethan, estacionou o carro na porta. Saio, observando tudo com tanta atenção. Alguns gatos andam pelo jardim e tudo é realmente bonito do lado de fora.
— Vamos! A casa da Emma fica nos fundos, aqui é a escola, mas ela mora mesmo na parte de trás do casarão.
De mãos dadas, sigo em direção ao corredor cimentado. Escuto o barulho de música clássica, vindo de dentro, porém as janelas se encontram fechadas e não consigo ver se tem alguém dentro. Logo chegamos onde a avó dele se encontra. De costas, uma senhora usando, um vestido azul-claro, cabelo estilo Chanel grisalho e uma rasteirinha nos pés. A mulher mexe em algo que se encontra em cima da mesa. Ethan aponta para a mulher com a cabeça, sorrindo por ela estar dando passinhos de dança, enquanto a música é ouvida de dentro da casa. Ele faz sinal com o dedo na boca de silêncio, solta a minha mão e vai andando devagar até abraçar sua avó por trás, beijando seu rosto.
— Garoto travesso! Qualquer hora dessas, você acabará matando sua avó.
É engraçado a bronca que Ethan levou da avó, eu sigo no mesmo lugar, apenas rindo dos dois discutindo, pois Emma não notou a minha presença ainda.
— Eu deveria te deixar de castigo, seu menino levado. Esqueceu que fico sozinha aos sábados aqui e ainda chega devagarzinho para me dar um susto desses. Emma se vira de frente, notando a minha presença.
— Então a sua fada realmente existe e é uma bela jovem.
A senhora sorriu para mim, fazendo sinal para que eu me aproxime. Caminho até ela, mãos entrelaçadas, para não demonstrar o nervosismo que sinto ao ser apresentada a avó de um garoto do qual estou interessada.
— Emma, quero te apresentar a minha garota, Priscila — Ethan fala para sua avó, que estende a mão direita para me cumprimentar — Linda, essa é a melhor avó que existe no mundo inteiro: Emma — apertei sua mão, sentindo a delicadeza em que ela me recebeu na sua casa.
— Obrigada por me convidar. Ethan fala muito bem da senhora.
É a primeira coisa que falo, pois não sei o que dizer no primeiro encontro com a família do garoto que você tá gostando.
— Fico feliz, por você aceitar o convite. Ethan me contou que sua mãe é bastante rígida com a sua criação. Porém, não falamos disso e entrem, eu preparei um bolo de milho com requeijão, o favorito do meu amado neto.
Emma comentou, apontando para dentro da casa. Ao entrar, percebi que estamos na cozinha. Ainda não havia entendido bem a arquitetura da casa, pois ao passar no corredor, notei que existia uma ligação entre a escola e a casa em que estamos agora.
— Sentem-se e fiquem à vontade, minha menina. Prepararei um chá para mim e uma limonada para vocês dois. Desse modo, podemos nos conhecer melhor e assim poderei saber mais sobre a menina que conquistou o coração do meu menino.
Emma diz, indo preparar o nosso lanche, Ethan sentou ao meu lado, segurando a minha mão com carinho, como se me dissesse que tudo ficaria bem.
PriscilaEmma, preparou limonada com bolo de milho para o nosso lanche, enquanto tomava o seu chá de camomila. Ethan tentava me tranquilizar com as perguntas que sua avó fazia. Por duas vezes, percebi que ambos trocaram olhares, como se escondesse algo, entretanto deve ser loucura minha.— Sua mãe é secretária em uma clínica popular?Emma questiona, bebendo um gole do chá me observando.— Sim, mamãe trabalha para o doutor Júlio há muito tempo. Moramos em uma comunidade, e eu estudo no cursinho pré-vestibular da prefeitura no período da tarde.Respondi, tentando não parecer nervosa na frente dela.— Ethan me contou que vocês se conheceram em uma festa. Realmente o destino se encarregou de colocar uma boa garota na vida desse garoto.Diz, sorrindo para o neto.— Te contei que fui lá acompanhando o Miguel — Ethan respondeu para a avó.— Que não passa de uma má companhia e você sabe disso. Perdoe-me Priscila, mas às vezes tenho que chamar atenção dessa cabeça dura. Ethan e esses amigos qu
Priscila— Vou esperar mais quinze minutos. Se o seu namorado imaginário não aparecer, ficarei muito irritada, porque você me fez comprar uma roupa nova para te acompanhar ao shopping para no final ser apenas um delírio seu.Beatriz e eu estamos aguardando a chegada do Ethan, na entrada do shopping. Hoje é domingo, consegui convencer minha mãe a deixar eu ir ao cinema com a minha melhor amiga. Ethan sumiu por uns dias, quando me ligou contou que teve alguns problemas que ele precisava resolver, mas que agora estava tudo bem e que ele estava animado para sair comigo e conhecer a minha amiga.— Deve ter acontecido algo, pois ele me garantiu que viria e ainda me avisou que traria um amigo. Teremos um encontro duplo hoje e ao invés de reclamar, me agradeça.Disse entre risos, observando a porta de entrada. Queria me sentir mal, por pedir dinheiro da minha mãe para o cinema, enquanto eu, na verdade, estou aguardando o garoto que pouco a pouco vem adentrando o meu coração, fazendo com que e
Priscila— Amiga, juro que estou processando a notícia da tia desencalhando. Se ajoelhou no meio do quintal e agradeceu aos céus por esse feito? Sua mãe, com um namorado, vai deixar de ser chata, amarga e quem sabe você pode apresentar o seu gatinho para ela.Beatriz e eu estamos em meu quarto, enquanto escolho a roupa que vou usar no jantar de hoje a noite. Mamãe e a tia Kátia se encontram na cozinha, terminando de preparar a comida. A mãe da minha amiga, não pensou duas vezes antes de ajudar mamãe na preparação de tudo.— Eu continuo pensando sobre esse namoro. Poucas vezes eu me encontrei com o doutor Júlio. Ele sempre foi educado comigo e não se importava com mamãe levando a filha para o trabalho.Comentei ao me decidir por um vestido florido de manga curta, um pouco abaixo do joelho.— Contou para o Ethan que sua mãe tá namorando?Bia perguntou, enquanto separava alguns cordões e brincos para eu escolher mais tarde.— Não falei nada ainda. Amanhã, vamos passar a tarde na casa da
PriscilaEthan e eu estamos em seu quarto. Meu namorado pelo jeito pensou em tudo, para que nós dois tivéssemos uma tarde romântica. As guloseimas que amo, suco de laranja, tudo organizado em uma bandeja. Decidimos assistir um filme romântico, sobre um casal que se conheceu em uma noite, se apaixonaram, se separaram por interferência de terceiros e a protagonista ficou grávida, sendo obrigada a entregar a criança para adoção.Sentada entre as pernas dele, prestava atenção a cena em que o protagonista canta a canção que escreveu para o seu amor. Não pude deixar de chorar ao ouvir a canção romântica, mas, ao mesmo tempo, melancólica.— Só você mesmo, para me fazer assistir aos filmes melosos.Diz, cheirando meu cabelo.— O filme é lindo e você não pode falar o contrário.Respondi, fazendo um carinho em sua perna.— Linda é você e agora que o filme terminou, será que podemos namorar um pouco? Não é sempre que eu tenho a sorte da Emma deixar eu usar a casa dela, para um encontro amoroso c
PriscilaEstamos na cozinha da casa da Emma. Sentados um do lado do outro com a avó dele, a nossa frente nos olhando como aquelas diretoras prestes a passar um belo sermão aos alunos. Me sinto tão envergonhada ao ser pega num momento tão íntimo com Ethan que penso que nunca mais vou colocar os pés aqui. Enquanto estou envergonhada, Ethan age como se o que fizemos fosse algo normal.— Não quero parecer a avó chata e careta, algo que meu neto sabe que eu não sou. Porém, não posso deixar passar o que quase aconteceu debaixo do meu teto.Emma diz, sinto meu rosto arder de tanta vergonha e humilhação e queria sumir da frente dela num piscar de olhos.— Parece até que os jovens não transam hoje em dia.Ethan respondeu com ironia recebendo um olhar de advertência da sua avó.— Nada de brincadeiras sem graça, garoto. Você sabe muito bem do que eu quero falar. Você nem mesmo conheceu a mãe da Priscila, como quer dormir com a garota, quando nem mesmo fez o papel de homem como se deve fazer.Emm
Priscila— Como assim, você está namorando?Mamãe se levantou do sofá, encarando-me com olhos raivosos. Abaixei a cabeça para que ela não notasse o medo em meu rosto.— Me explique, como a minha única filha tem um namorado, quando ela vive de casa para o cursinho? Que brincadeira sem graça é essa, garota?Com a voz alterada, mamãe me questiona, como sou uma boba por achar que minha mãe iria aceitar tudo numa boa.— Deixe eu explicar direitinho, por favor mamãe. O Ethan e eu estamos juntos há alguns meses, ele é um garoto legal e a senhora vai gostar dele.Digo, tentando fazer com que ela não fique com mais raiva do que já está.— Ele é alguém da igreja? Ou aqui da comunidade? Não costumo te ver conversando com os garotos daqui.Questionou, permaneço de cabeça baixa, ouvindo suas perguntas e nego ser alguém da igreja daqui.— Era só o que me faltava. Minha filha, envolvida com algum marginal que a seduziu e agora você me envergonha perante as pessoas.Ela sentou novamente no sofá, pass
PriscilaSentada na cadeira aqui da varanda de casa, aguardo a chegada do Ethan e da Emma. Júlio estava na cozinha com a minha mãe e o dia aqui foi num clima alegre e mamãe não demonstrou insatisfação enquanto eu auxiliava na preparação da comida. Optei em usar um vestido florido, cabelos soltos e nos pés uma sapatilha, quis ficar bem bonita para a primeira vez do meu namorado aqui em casa. Comentei que o prato favorito do Ethan é estrogonofe de carne com cogumelos e purê de batata e arroz branco. Ela então foi até o supermercado, comprou filé para preparar o jantar e disse que cozinharia com carinho a nossa comida. Com sorte eu consegui preparar mousse de chocolate para a sobremesa e Júlio escolheu um vinho suave para acompanhar. Mamãe perguntou se Ethan tinha carteira de motorista e eu respondi que sim, mas escondi a caminhonete que ele costuma dirigir. Observo as pessoas caminhando na rua de casa, até que notei um carro virando a esquina e logo estacionando na porta da minha casa.
PriscilaOs sonhos realmente se tornam realidade. Tive essa certeza hoje, depois do jantar com Ethan. Minha mãe, no final, tratou o meu namorado com mais cordialidade e o clima amenizou. Passava das onze da noite, quando Ethan foi embora com Emma. Júlio se deu muito bem com Emma, conversando sobre viagens e países que os dois conheceram. Estou em meu quarto, deitada na minha cama, sonhando acordada sobre tudo que vivi no jantar. Levantei-me da cama, para encher a minha garrafinha com água, sem fazer barulho vou para a cozinha, dando de cara com mamãe sentada no sofá da sala, sozinha e pensativa. Será que mamãe e o Júlio discutiram? Essa noite é a primeira vez que ele dorme aqui em casa e espero que os dois não tenham discutido por algo.— Mãe, a senhora está acordada nessa hora?Perguntei, deixando a garrafinha na mesa, indo me sentar ao seu lado.— Oi, meu amor.Mamãe respondeu com um sorriso para mim. A luz fraquinha vinha da cozinha, iluminando uma parte da sala de estar.— Por que