Capítulo 8

Priscila

Olhava a roupa que escolhi, pela terceira vez, indecisa se realmente estou bem. Beatriz aqui, seria de grande ajuda, porém não posso falar sobre o meu encontro com Ethan e a sua avó. Optei por uma calça jeans, uma camisa três quartos, azul clara e nos pés um sapato de saltinho, que ganhei no último natal. Geralmente uso ele quando vou aos cultos no domingo, entretanto ando um pouco desviada da igreja e nem sei como a mamãe deixou eu sair para me encontrar com os supostos amigos do cursinho. Ethan, achou melhor enviar um SMS, disse ter medo de que eu acabasse me complicando em casa, se fosse ligar então me mandou mensagem logo após o café da manhã. Portanto, limpei a casa, arrumei o meu quarto, tomei um banho demorado, até mesmo escovei os cabelos, coisa que raramente faço. Enfim, estava me sentindo bonita, tanto que deixei os cabelos soltos, caindo em cachos e a cor dele, estava um castanho mais brilhoso. Nos lábios um batom rosinha, maquiagem bem discreta, para não dar na cara que eu estava indo me encontrar com alguém. Pronta, verifiquei as portas e janelas, para poder sair tranquila, A julgar o horário, Ethan deveria estar me esperando no nosso ponto de encontro. Com a mochila do cursinho, celular com a bateria carregada, olho se meus documentos e o dinheiro da semana tá certinho em minha carteira. Com tudo organizado, saio de casa apressada para não encontrar ninguém pelo caminho. Estou praticamente correndo, virei na esquina de casa, caminhando até que avistei o carro dele, ligado me esperando. Rir da minha ousadia, pois as garotas da minha idade costumam sair com rapazes, enquanto eu….

Mal entrei no carro, sou pega de surpresa com um beijo apaixonado. A sorte é os vidros serem fechados, então ninguém vai ver quem se encontra no carro. Afastei-me, com o coração acelerado. Sei que estamos indo tão rápido e nós dois nem mesmo somos namorados, podemos nos considerar amigos que se beijam? Será que existe isso? Pensei, me arrumando melhor no banco.

— Fiquei a manhã inteira ansiosa para vir te buscar. Emma, também está feliz porque levarei uma garota para ela conhecer antes que ela morra.

Ouvir Ethan falando dessa forma da sua única parente viva, deveria ser engraçado, contudo, acho que ele em certos momentos, diz cada coisa que se fosse a minha mãe, iria chamar sua atenção praticamente todos os dias.

— Limpei a casa, arrumei umas coisas e agora estou aqui.

Digo, brincando com a alça da minha mochila, cabeça baixa e rosto vermelho.

— Você tá linda com essa roupa. Sou um cara de muita sorte, porque encontrei uma fada em meio aquele barulho e gritaria naquela balada.

Ethan, segura meu queixo, fazendo com que eu olhe em seu rosto.

— Penso o mesmo. Olha que nem queria ir até a boate, mas no final eu gostei.

Respondi, ousada demais nas respostas, porém o que posso fazer se gosto de conversar com ele? Ethan pegou a rodovia bem movimentada, que liga o bairro classe média com a classe alta. Para onde será que ele está me levando?

— Você vai se amarrar no casarão da Emma. Esqueci de te contar, mas a vovó foi uma bailarina bem famosa, na década de 70, depois que o marido dela faleceu, decidiu montar um estúdio de artes e dança na antiga casa que eles moravam. O lugar é bem bonito, você vai se apaixonar e não quer mais sair de lá.

Diz, voltando sua atenção para a estrada. Fizemos o trajeto em silêncio, somente o som da música tocando no rádio do carro. Olhando para a janela, observo a paisagem, fecho os olhos pensando em tudo que anda acontecendo entre a gente, sem saber qual nome dar para a nossa relação.

***

O carro adentrou uma rua, com casarões antigos em um dos bairros mais tradicionais de São Paulo. Pelo pouco que conheço, aqui a maioria das casas, são datadas da década de quarenta ou cinquenta. Estou nervosa, pois não tenho noção de como vou me portar na frente da avó dele. Será que ela é gente boa? Ou aquelas mulheres esnobes? Notei que Ethan vem de uma família com um poder financeiro melhor do que o meu. Entretanto, será que é somente avó e neto? Não existe outro parente na vida dele.

— O que tá achando das ruas? Te disse que você curtirá muito a minha avó.

Ethan fala, voltei a minha atenção ao seu rosto feliz com a minha visita. O carro adentrou em uma casa, com várias plantas e flores logo na entrada. Chão de pedras, ao fundo um casarão pintado de branco com tons de dourado, o imóvel de dois pisos do lado de fora parece enorme, fico me perguntando se é grande por dentro.

— Não se assusta com a aparência, a Emma é bem de boa, te falei isso e torno a repetir.

Ethan, estacionou o carro na porta. Saio, observando tudo com tanta atenção. Alguns gatos andam pelo jardim e tudo é realmente bonito do lado de fora.

— Vamos! A casa da Emma fica nos fundos, aqui é a escola, mas ela mora mesmo na parte de trás do casarão.

De mãos dadas, sigo em direção ao corredor cimentado. Escuto o barulho de música clássica, vindo de dentro, porém as janelas se encontram fechadas e não consigo ver se tem alguém dentro. Logo chegamos onde a avó dele se encontra. De costas, uma senhora usando, um vestido azul-claro, cabelo estilo Chanel grisalho e uma rasteirinha nos pés. A mulher mexe em algo que se encontra em cima da mesa. Ethan aponta para a mulher com a cabeça, sorrindo por ela estar dando passinhos de dança, enquanto a música é ouvida de dentro da casa. Ele faz sinal com o dedo na boca de silêncio, solta a minha mão e vai andando devagar até abraçar sua avó por trás, beijando seu rosto.

— Garoto travesso! Qualquer hora dessas, você acabará matando sua avó.

É engraçado a bronca que Ethan levou da avó, eu sigo no mesmo lugar, apenas rindo dos dois discutindo, pois Emma não notou a minha presença ainda.

— Eu deveria te deixar de castigo, seu menino levado. Esqueceu que fico sozinha aos sábados aqui e ainda chega devagarzinho para me dar um susto desses. Emma se vira de frente, notando a minha presença.

— Então a sua fada realmente existe e é uma bela jovem.

A senhora sorriu para mim, fazendo sinal para que eu me aproxime. Caminho até ela, mãos entrelaçadas, para não demonstrar o nervosismo que sinto ao ser apresentada a avó de um garoto do qual estou interessada.

— Emma, quero te apresentar a minha garota, Priscila — Ethan fala para sua avó, que estende a mão direita para me cumprimentar — Linda, essa é a melhor avó que existe no mundo inteiro: Emma — apertei sua mão, sentindo a delicadeza em que ela me recebeu na sua casa.

— Obrigada por me convidar. Ethan fala muito bem da senhora.

É a primeira coisa que falo, pois não sei o que dizer no primeiro encontro com a família do garoto que você tá gostando.

— Fico feliz, por você aceitar o convite. Ethan me contou que sua mãe é bastante rígida com a sua criação. Porém, não falamos disso e entrem, eu preparei um bolo de milho com requeijão, o favorito do meu amado neto.

Emma comentou, apontando para dentro da casa. Ao entrar, percebi que estamos na cozinha. Ainda não havia entendido bem a arquitetura da casa, pois ao passar no corredor, notei que existia uma ligação entre a escola e a casa em que estamos agora.

— Sentem-se e fiquem à vontade, minha menina. Prepararei um chá para mim e uma limonada para vocês dois. Desse modo, podemos nos conhecer melhor e assim poderei saber mais sobre a menina que conquistou o coração do meu menino.

Emma diz, indo preparar o nosso lanche, Ethan sentou ao meu lado, segurando a minha mão com carinho, como se me dissesse que tudo ficaria bem.

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