Capítulo 7

Priscila

São Paulo amanheceu debaixo de chuva. Mamãe foi para o trabalho de táxi, pago pelo seu chefe, ou não iria conseguir chegar a tempo. A nossa rua não teve alagamento, entretanto a rua do ponto de ônibus se encontra interditada e dessa forma, não tenho como ir para o cursinho. Até pensei em pagar o táxi com as economias que tenho na minha poupança, porém se faço isso é capaz da mamãe engolir meu fígado por eu estar gastando dinheiro com bobagens. Voltando para casa, dou de cara com Beatriz virando a rua que dá para a parte central da comunidade.

— Voltou cedo ou tá matando aula?

Questionou. Bia, usava um short jeans curtinho, blusinha de alças e uma maquiagem forte no rosto e não eram duas horas da tarde.

— A rua do ponto de ônibus está interditada e eu não consegui chegar a tempo, então decidi voltar para casa. Quando a mamãe chegar do trabalho, explico certinho. E aonde vai essa hora toda arrumada?

Perguntei, vendo o sorriso no rosto dela.

— Me encontrar com o Juninho. Mamãe não está em casa, então aproveitei para ir até a casa dele.

Diz, sem um pingo de medo na voz.

— Amiga, não acha que você anda brincando com o perigo? O Juninho, não vive uma vida muito correta e você fica se encontrando com esse tipo de garoto. Não pensa na tia Kátia e na decepção, que será quando ela descobrir?

Digo, tentando colocar um pouco de juízo na cabeça oca da minha amiga.

— Que decepção? Ao menos não sou uma frígida como você, que nem mesmo deixa os garotos encostarem em você. Sou nova, bonita e gosto de viver a vida, se você quer ser uma freira ou a irmã da igreja é problema seu e não meu.

Respondeu rudemente para mim, dando um esbarrão em meu braço, caminhando em direção às casas no final da rua. Dou de ombros e de verdade não baterei cabeça com Beatriz e sua teimosia. Aproveito que estou em casa e finalizo algumas atividades, dessa forma eu adiando as tarefas do cursinho e posso aproveitar melhor o final de semana.

***

Um dia sem aula, acabou se transformando na semana inteira e só voltei para o cursinho na sexta-feira, mamãe também passou a semana toda, indo e vindo de táxi pago pelo doutor Júlio, que garantiu que não iria descontar um centavo do pagamento dela. Durante a aula, descobri que quase todos os alunos faltaram, devido aos estragos da chuva de terça-feira. A sorte nossa na comunidade é que não tem enchente e as casas ficam na parte alta e nem desabamento tem perigo de acontecer. O professor passou uma atividade valendo nota e que teríamos um simulado, parecido ao vestibular da federal do Estado. Eu teria que me desdobrar nos estudos e com certeza Bia ficaria chateada, por estragar o nosso passeio de sábado. Pois minha mãe iria para um retiro amanhã cedo e volta no domingo a noite, então eu havia combinado de dormir na casa da minha amiga. Mas eu precisava estudar. O professor encerrou a aula, guardei minhas coisas na mochila e saí apressada, para não perder o ônibus das cinco e trinta. Ao sair do prédio, sou pega de surpresa ao dar de cara com Ethan me esperando encostado em uma moto Harley Davidson? É isso mesmo? Ele apareceu aqui de moto, com sua roupa preta, coturno e cordões de prata envolta do pescoço. Será que Ethan é algum ladrão de bancos? Para andar por aí em uma moto dessas.

Atravessei a rua correndo, me aproximando dele, que deu um sorriso ao me ver chegando.

— O que você faz aqui?

É a primeira coisa que perguntei dele.

— Você já me perguntou, antes de me dar um beijinho ou perguntar como estou?

Rebateu a pergunta, puxando-me pela cintura, beijando a minha boca sem importar o local que estamos. Me afastei dele, olhando nervosa para os lados, dando um suspiro tranquilo por ter pouco movimento.

— O que aconteceu que você sumiu a semana inteira? Pensei que estivesse fugindo de mim.

Ethan diz. Eu então conto o motivo das minhas faltas.

— Deveria ter me ligado. Eu iria te buscar com maior prazer. Até queria te ligar, mas fiquei pensando se você não estava no clima para falar comigo, então resolvi aparecer hoje aqui. Se não conseguisse falar contigo, iria desistir de insistir em continuar saindo com a garota mais linda que eu conheço.

Respondeu com um sorriso, me deixando numa felicidade que eu não pensei que poderia existir.

— É melhor você ir agora. Preciso ir para a parada de ônibus ou acabarei chegando tarde em casa.

Disse, arrumando a mochila em meu ombro.

— Vamos! Eu apareci preparado, com dois capacetes e assim você não tem desculpa para não aceitar a minha carona.

— Essa moto é de quem? Desculpa, mas ela é muito chique para um cara como você pilotar e não posso ter problemas com a policial ou a minha mãe vai me matar se souber que eu andei em uma moto roubada.

Respondi, com medo de ter ofendido ele com as palavras. Mas sou obrigada a ser direta. Então vejo quando ele começa a rir do que eu falei.

— O que é engraçado?

— Você acha que eu sou um bandido porque estou pilotando essa moto. Linda, confia em mim, eu te disse. Eu não sou bandido nem ofereço perigo para a sociedade. Quero dizer, a Emma diz que sou um rebelde com causa, mas isso é um assunto para depois. Já que você acha que eu sou um estranho, aceitar sair comigo amanhã à tarde? Eu te levo para conhecer a minha coroa e você vai poder continuar se encontrando comigo, sem neuras ou desconfianças.

Pondero um pouco em aceitar, até porque eu preciso estudar e também não costumo sair de casa. Mas e se eu pedir da minha mãe? Atividade extra do cursinho, ela não iria brigar. Posso adiantar tudo a noite, mas digo que vou me encontrar com o pessoal em algum lugar e assim eu sei que ela vai deixar.

— Vou pensar e amanhã você me telefona na parte da manhã, tudo bem?

Respondi, recebendo um sorriso dele.

— Te garanto que você vai amar conhecer a Emma e a casa dela. Agora anda, sobe na minha garupa que eu te deixo uma rua antes da principal e ninguém vai ver que eu te trouxe em casa e amanhã eu te busco com o meu carro e assim você não vai ter problemas com a sua mãe em casa.

Ethan me entregou o capacete. Penso por alguns segundos, até que concordo com a carona. Com uma certa timidez, subi na garupa sem saber como segurar a cintura dele sem parecer avançada demais. Ele percebeu minha vergonha e pegou minhas mãos, colocando em sua cintura.

— Se segura bem firme que em menos de vinte minutos estamos em casa.

Eu assenti, fechando os olhos com medo mas ao mesmo tempo ansiosa por essa aventura ao seu lado.

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