Capítulo 5

Priscila

A sorveteria se encontra lotada de jovens, conversando. Fiquei indecisa em entrar, mas Ethan me tranquilizou ao dizer que tinha dinheiro suficiente para pagar a conta e que se eu estava com medo disso, era para ficar “de boa” como ele falou. Mais relaxada, acabei pedindo um banana split com bastante calda de morango, enquanto Ethan pediu somente um milkshake de morango e notei como ele olhava tudo ao redor com bastante atenção.

— Então, linda, como foi o seu final de semana? Pensei em te ligar, mas não sabia se você estava ocupada em casa ou com alguém.

Ethan diz. Ainda nervosa, com tudo que vem acontecendo, eu dei um sorriso sem graça para ele.

— Fiquei auxiliando a minha mãe a limpar a nossa casa, depois passei a tarde na pastelaria com a minha melhor amiga.

Contei, vendo um sorriso se formando em seus lábios. Ele me olhou com carinho e isso foi motivo para me deixar com vergonha.

— Linda, você sempre fica vermelha igual um pimentão quando eu te encaro. Pode ficar despreocupada, mostrei que sou um cara tranquilo e não vou te fazer mal algum. Na verdade, eu tive que agradecer o Miguel por ter me arrastado até aquela boate. Porque eu nem estava no clima naquela noite.

Ele diz, sem deixar um segundo sequer de me olhar nos olhos.

Fomos interrompidos, pela chegada da garçonete com os nossos pedidos. A garota, atenciosa, se afastou nos deixando a sós.

— Sou viciado em doce. Emma fala que pareço uma formiga de tanto que como doce.

Ethan diz, ao provar o seu milkshake. Mas espera, quem será Emma? Como não consigo disfarçar nada, ele deve ter percebido a minha curiosidade.

— Emma é a minha coroa, quero dizer, é a minha avó paterna. Se você a conhecer um dia, vai gostar de conversar com ela.

Então Emma é sua avó. Gostei de saber essa informação e por enquanto ele não mostrou ter ninguém em sua vida.

— Eu não tenho avós, moro apenas com a minha mãe. Papai faleceu uns anos atrás e os parentes vivos da minha mãe, moram no Norte do país.

Comentei, curiosa para saber da vida dele. Mas não serei uma intrometida em ficar perguntando.

— Legal, linda. Eu não tenho parentes, é apenas a minha avó mesmo.

Ethan respondeu. Fiquei pensando se ele seria órfão de pais? Se for isso, deve ser triste não ter ninguém além da sua avó. Mesmo morando com a minha mãe, ainda tenho a família da Bia e os tios são como se fossem meus parentes de sangue e amo todos como tios de verdade.

— Você mora com a sua avó então?

Perguntei, sem esconder a curiosidade, enquanto presto atenção em seu rosto confuso. Ethan parece que está pensando em alguma resposta que possa me convencer.

— Na verdade, eu apareço na casa da Emma às vezes. A coroa é boa comigo e quando preciso de um lugar ela deixa eu dormir na sua casa.

A resposta é vaga para uma pergunta como a minha, porém deixo esse detalhe de lado e volto a focar em nós dois em um encontro como esse. Eu não tenho muito tempo para ficar sozinha com Ethan e nem sei quando poderei ter uma oportunidade como essa. Então passamos a conversar sobre o meu cursinho e minha vida na comunidade. Ethan não responde todas as perguntas que faço e acaba passando despercebido por mim esses detalhes que ao me ver são bobos. Saímos da sorveteria um pouco depois das seis e meia da tarde. Os minutos passaram depressa que quando dei por mim, era a hora de voltar. Ethan era engraçado e me fez rir das bobagens que dizia. Retornamos para o carro, de mãos dadas e isso para mim era um estranho bom. Quando Bia soubesse tudo do meu passeio com um rapaz, tenho certeza que iria me interrogar para saber todos os detalhes.

— Me passa o seu endereço, que jogo no GPS e assim consigo encontrar sua casa. Te disse que sou zero à esquerda, quando se trata de andar pelas ruas dessa cidade. Passo o endereço, Ethan digita no GPS do carro e logo a voz, surge dando as instruções. Ele saiu da vaga, pegando a rua principal. Sentada ao seu lado, ouço um rock suave que vem do rádio.

— Amo essa batida. O Serj tem uma voz muito louca — Ethan cita o nome do cantor e da banda. Como não conheço nada desse estilo de música, apenas escuto calada. Notei desde que nós nos conhecemos, como ele gosta de rock e além de ser fã e conhecer tantos cantores que eu nunca ouvi falar na vida.

Eu não acho que você acredite

I don't think you trust

No meu suicídio egoísta

In my self-righteous suicide

Eu choro

I cry

Quando anjos merecem morrer

When angels deserve to die

— Você curte uns tipos de músicas bem diferentes do que costumo ouvir.

Disse, vendo ele cantar o refrão da música.

— É que você não conhece os melhores do mundo. Um dia, te deixo ouvir todas as minhas bandas de rock favoritas e você compreenderá o meu vício por boa música.

Ele diz, sorrindo para mim, com seus olhos esverdeados que me conquistaram desde o primeiro segundo que nos encontramos. Ethan entra na rua principal da comunidade, porém notei que ele desviou do caminho virando em uma entrada paralela. Só então percebi que ele lembrou do que eu disse, sobre não poder chegar tardiamente em casa e ainda por cima acompanhada de um desconhecido. Esse horário não é perigoso ficarmos aqui no carro, contudo mesmo assim ainda é errado, pois se algum conhecido passar e me ver saindo do carro dele, alguém será capaz de contar tudo para a mamãe. Ele desligou o motor do carro, soltou o seu cinto de segurança, depois se aproximou de mim, fazendo o mesmo com o meu cinto.

— Vamos ficar um pouquinho aqui, depois a gente volta para a rua principal e eu te deixo perto da sua casa.

Ele diz, pegando-me de surpresa ao beijar a minha bochecha. Abaixo a cabeça envergonhada, Ethan segura meu queixo, fazendo com que eu olhe novamente para o seu rosto.

— Não precisa ficar com vergonha toda vez que eu te beijar. Como poderei tocar esse seu rosto lindo ou saborear seus lábios doces se você ficar um pimentão a cada carinho que faço.

Dou um sorriso para ele, tentando não demonstrar como sou inexperiente e ingênua na frente de um garoto como ele.

— Eu não tenho costume de sair em encontros, por isso que eu sempre fico assim.

Digo, sorrindo para ele.

— Comece a se acostumar a partir de hoje, porque vou te buscar e te deixar no cursinho todos os dias se quiser.

Como assim, levar e buscar? Ele ficou doido? Mamãe nunca deixará eu ter amizade com um garoto mais velho e vestido como um roqueiro.

— Ethan, obrigada por hoje, mas não posso ir e vir contigo diariamente. Se a minha mãe souber será uma confusão lá em casa.

Mal terminei de falar, o meu celular começa a tocar na mochila. Assustada, tiro de dentro e vejo o nome no visor e antes de atender peço que ele faça silêncio.

— Oi, mamãe!

Atendi, tentando não transparecer nervosismo em minha voz.

— Sim, senhora. Estou chegando em casa. Tudo bem, eu jantarei com a tia Kátia. A senhora se cuida, que ficarei esperando lá.

Desliguei o celular, guardando na bolsa. Ethan continua me encarando, então digo ser a minha mãe ao telefone e que eu precisava voltar.

— Preciso ir agora — digo arrumando a minha bolsa para sair do carro, mas antes ele impede segurando meu braço com cuidado.

— Sei que você precisa ir, mas aproveitamos só alguns minutos antes de você ir. Promete que amanhã você me espera no mesmo lugar de hoje e você chegará mais cedo em casa e ainda podemos ter um tempo para aproveitarmos juntos.

Ele me beijou com carinho, seus lábios tocando os meus, o cheiro da sua colônia, deixando-me inebriada com seu toque em minha perna. Retribuo o beijo sentindo algo explodir dentro de mim e sei que é uma felicidade que jamais pensei que iria sentir. Ficamos mais alguns minutos nos beijando, até que tive que voltar para o meu mundo real, no momento em que Bia me mandou SMS questionando onde eu estava e porque não havia chegado em casa.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo