Capítulo 4

Priscila

Confiro meu reflexo no espelho do banheiro do cursinho. Hoje, tenho sorte, pois minha mãe vai chegar bem mais tarde do trabalho. Ela é secretária em uma clínica médica popular na Zona Norte há mais de quinze anos, sendo o braço direito do dono e responsável pela parte administrativa do prédio onde ficam os outros consultórios. Terei tempo mais do que suficiente para encontrar com ele, sair para um passeio e depois pegar o ônibus das seis e meia, chegando em casa antes das oito.

Passei o domingo ajudando na faxina de casa, ouvindo minha mãe reclamando. No finalzinho da tarde, Beatriz apareceu lá em casa, me convidando para comer um pastel. Na verdade, era uma desculpa esfarrapada; ela queria mesmo era saber com quem eu havia me encontrado. Perguntou tanto que acabei contando a verdade. Ela duvidou de mim, questionou o modelo do carro e a aparência de Ethan, até mesmo o nome dela achou falso, dizendo que não era comum no Brasil. Confesso que às vezes me sinto constrangida com as coisas que Beatriz fala, mas sempre tento relevar, pois sei que é o jeito dela e que ela me ama e se preocupa comigo.

Olhei mais uma vez o batom clarinho nos lábios e belisquei minhas bochechas para dar uma cor. Meu cabelo cacheado, hoje decidi prender de uma forma diferente, fazendo um penteado mais bonito para aparecer mais bonita na frente dele. Estou usando uma saia jeans um pouco acima do joelho e uma blusa de alcinhas com sutiã sem alça para não ficar estranho a alça aparecendo. Após gostar do que vejo, pego a mochila de cima da pia, tirei meu celular de dentro para conferir se ele não mandou mensagem desmarcando nosso encontro. Para minha surpresa, encontro uma mensagem dele avisando que me aguarda na entrada.

Estudo no cursinho bancado pela prefeitura de São Paulo. Para entrar aqui, além de ter feito todo o ensino médio na rede pública, as notas precisam ser todas acima de oitenta e cinco. Quando me inscrevi, confesso que não esperava passar, mas ao receber o resultado, foi uma festa lá em casa. Saio do banheiro, andando mais do que depressa, com medo de alguém contar algo para minha mãe. É estranha a sensação de quando você faz algo errado, parece que todos te olham com olhos de julgamento, como se apontassem o dedo dizendo: olha ali, ela tá enganando sua mãe. Com a mochila no ombro, passo pela saída, cumprimentando o vigia. Ao colocar os pés para fora da escola, meus olhos miram o carro estacionado do outro lado da rua, ele encostado na lataria, usando calça jeans rasgada, camisa de flanela, cabelo preso e coturnos nos pés, fumando. Meus pés congelam por um momento, fico em dúvida se devo ou não atravessar a rua. Mas mando o bom senso para um canto da minha mente e atravessei andando até ele.

Assim que ele me vê se aproximando, j**a a ponta do cigarro na lixeira ao lado. Pelo menos ele tem boas maneiras e não é como esses caras sem educação.

— Oi! — É a primeira coisa que eu falo assim que ficamos frente a frente. À luz do dia, seus olhos são mais lindos ainda, uma mistura de verde com azul que me deixa hipnotizada.

— Oi, linda! — Ele respondeu, dando um beijo casto em minha bochecha. — Vamos, que eu quero te levar num lugar bem legal hoje. Juro que não vamos muito longe e depois eu te deixo na sua casa.

Diz, abrindo a porta do carro para que eu possa entrar. Antes olho para os lados, vendo se não vou encontrar nenhum estranho. Me acomodei melhor no banco do carona, coloco o cinto de segurança, enquanto Ethan senta no banco do motorista, liga o carro e sai dirigindo sem prestar atenção à falta do cinto.

— Você esqueceu de colocar o cinto — digo apontando e ele se desculpa.

— Caramba! Sou muito distraído mesmo — notei que o seu rosto aparentava cansaço. Mesmo sorrindo percebi que hoje ele estava bem diferente.

— Foi difícil achar o endereço? Eu perguntei para tentar puxar assunto.

— Até que foi fácil. Antes eu pedi ajuda do meu amigo para procurar um ponto de referência. Eu não estou acostumado a dirigir nessa parte da cidade. Na real, não ando muito de carro por aqui.

Respondeu, tocando no meu joelho com carinho antes de voltar sua atenção para o câmbio para trocar de marcha.

— Encontrei uma sorveteria bem maneira aqui pertinho do seu cursinho — Ethan diz, virando a rua, entrando numa área mais movimentada.

Eu estava nervosa, mas ao mesmo tempo feliz, por ter aquele garoto misterioso se encontrando comigo novamente. Sei que é errado o que estou fazendo, pois se a minha mãe descobre seria uma confusão, capaz até de me deixar de castigo. Contudo, sair mais uma vez com um garoto que eu me interessei não era crime algum. Ethan me olha com um sorriso, segura a minha mão a levando até os lábios em um beijo. Não consigo esconder o vermelho no meu rosto de vergonha ao ter seus lábios tocando minha pele, mesmo em um beijo inocente como esse.

— Prontinho! Chegamos e você vai curtir demais aqui.

Ethan desligou o carro. Eu realmente estou surpresa ao encontrar a sorveteria que ele me trouxe. É um dos lugares mais caros da região e agora estou com medo dele, achar que eu tenho dinheiro para pagar pelo meu sorvete. Enrolei alguns segundos, até que Ethan deve ter notado a minha indecisão.

— Vamos gatinha! Eu prometo que você vai curtir muito o lugar.

Diz, me ajudando a tirar o cinto, descendo do carro primeiro que eu e depois abrindo a porta do passageiro para que eu descesse.

— Agora, quero ter um encontro legal contigo e você me conta mais sobre você. Depois eu te deixo em casa e só espero que hoje seja o primeiro de muitos encontros que desejo ter contigo.

Ele segura na minha mão e juntos entramos dentro da sorveteria de mãos dadas.

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