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3 - La famiglia

Vincenzo D'Angelis

O jantar estava à espera quando cheguei à cozinha para buscar Antonella. O cheiro da comida fresca impregnava o ar, e o silêncio que preenchia a mansão era quase ensurdecedor. O pequeno Enrico, deitado tranquilo no carrinho, fazendo seus sons de bebê baixinho enquanto eu guiava a jovem babá em direção ao anexo dos meus pais.

— Andiamo — disse, indicando com um gesto. Antonella sorriu, aliviada, talvez porque o carrinho ajudaria a mantê-la de olho no bebê enquanto comíamos.

Ao chegar na sala de jantar, todos estavam reunidos. A grande mesa estava elegantemente posta, como sempre. A famiglia, sentada com toda sua postura impiedosa, esperava por nós. O ambiente estava carregado, com olhares que pesavam mais do que palavras.

— Ecco qua! — Leonardo, sempre atrevido, foi o primeiro a falar. — O pequeno Enrico mal chegou e já conseguiu uma bela rapariga como babá! — brincou, sua voz carregada de sarcasmo.

— Basta! — cortei, minha voz firme ecoando na sala. — Quero respeito com a senhorita Antonella. Ela cuidará do bambino e estará sempre por aqui.

— Ah, tudo bem — Leonardo riu, mas não perdeu a oportunidade. — Se ela não tiver namorado, posso cortejá-la.

— Per Dio! — Tia Luiza bufou. — O que eu fiz para criar um garoto que não se controla? — Ela se virou para mim. — Não deixe o rapaz envergonhar a moça, Vincenzo. Já temos uma pretendente em vista para ele, e logo será anunciado.

Tentei segurar um sorriso diante da expressão de puro horror no rosto de Leonardo. Casamentos arranjados eram uma realidade inevitável em nossa famiglia. Logo, eu também esperava receber uma pretendente, mas esse pensamento ainda me incomodava mais do que eu gostaria de admitir.

— Vamos dar à senhorita Antonella um lugar para sentar-se — minha mãe interveio com sua voz calma, mas autoritária. — Todo esse zumzumzum pode acordar o pequeno e atrapalhar o jantar.

— Não se preocupem, Signora D'Angelis — Antonella respondeu educadamente. — Eu posso comer na cozinha com os outros empregados.

— De forma alguma. Faço questão que se junte a nós nas refeições. — Meu pai, o capo da famiglia, falou com um tom que não admitia contestação. — Você vai morar aqui, e queremos conhecê-la melhor. — Era óbvio que ele estava sondando a garota, querendo avaliar se podíamos confiar nela.

Nos sentamos à mesa, todos em seus lugares de sempre. O pequeno Enrico, deitado no carrinho, observava tudo com seus olhinhos curiosos. Antonella estava visivelmente desconcertada, as bochechas rosadas traindo a sua aparente confiança. Ela sabia que estava sendo avaliada, e a tensão no ar era palpável.

— Então, cara mia, quantos anos você tem? — Minha mãe perguntou com um sorriso curioso. — Parece tão jovem.

— Tenho dezoito, Signori. Acabei de completar a maioridade.

— E seus pais já falaram com você sobre casamento? — Tia Luiza interrompeu, com seu típico tom inquisitivo. — Aqui, as mulheres da máfia se casam cedo.

— Mio papà ainda não escolheu um pretendente — Antonella explicou com tranquilidade. — Ele prefere que eu escolha alguém por quem me interesse.

Ela falava com uma serenidade impressionante, mesmo sabendo que estava sentada à mesa com alguns dos nomes mais influentes do submundo.

— E viver sob nossas regras? Imagino que não seja fácil para uma jovem como você — comentou Tio Leonardo, com um tom que era, ao mesmo tempo, paternal e intimidante. — Já pensou em sair da máfia e viver uma vida mundana?

Antonella sorriu de canto, desconfortável.

— Acho que todas nós já pensamos nisso algum dia — admitiu. — Mas meu pai me deserdaria se eu tomasse essa decisão. E para isso, precisaria de muito dinheiro e coragem para viver longe dos meus pais.

— Sabe que uma vez fora da máfia, não há retorno, não é? — Eu intervi, meu tom sério. — Não seria uma decisão inteligente.

Ela assentiu, mas algo na forma como respondeu me incomodou. Parecia que suas palavras carregavam uma sombra de dúvida.

— Ah, mio figlio, para vocês, homens da máfia, tudo parece fácil — minha mãe suspirou, a voz tingida de frustração. — Muitos de vocês maltratam suas esposas, outros têm amantes escondidos, e tudo isso é varrido para debaixo do tapete. Nós, mulheres, somos criadas para ser submissas, para nos mantermos puras para um marido que talvez não amemos e que certamente não nos ama. É difícil. Entendo o que a bambina sente.

A sala ficou em silêncio por um momento.

— Não concordo — Tio Leonardo disse de forma incisiva. — Fazemos um juramento de lealdade no altar. Se não podemos ser leais às nossas esposas, como seremos leais à famiglia? E se um homem encostar numa mulher de forma desonrada, ele é punido. Nossas esposas devem ser protegidas, sempre.

Antonella sorriu, mas parecia forçado.

— Nasci aqui, meu destino é ficar aqui — murmurou, mas eu não acreditei em suas palavras. Algo me dizia que, se pudesse, ela escaparia desse mundo sem olhar para trás.

— E como está sendo com o pequeno? — Minha irmã, Giulia, perguntou, tentando aliviar a tensão crescente.

Antonella iluminou-se ao falar de Enrico.

— Ele é um bebê muito calmo, quase não chora. Observa tudo com atenção.

— Isso é uma surpresa — Tia Luiza comentou. — Os homens dessa famiglia costumam nascer com temperamentos difíceis, sempre chorando e com raiva.

— Talvez ele não seja da famiglia — Tio Leonardo provocou, e o comentário foi recebido com um silêncio pesado.

— Amanhã saberemos com certeza — respondi, minha voz firme. — Enquanto estiver sob nosso teto, ele faz parte da famiglia.

Antonella olhou para mim com olhos arregalados, como se não pudesse acreditar naquilo. Então, com um olhar afiado, como o de uma raposa, ela perguntou:

— E o que farão se ele não for filho do senhor, Signore Vincenzo?

— Se ele não tiver família, o destino dele será um orfanato mundano — respondeu meu pai, impassível. — Não podemos manter aqui alguém sem laços com a famiglia.

A resposta dele soou fria, mas era a verdade. Na máfia, tudo girava em torno da lealdade e do sangue. Qualquer desvio dessa regra poderia significar o fim da confiança que nos mantinha no poder.

— E se ele for seu filho? — Antonella continuou, a curiosidade evidente.

— Se for meu, aceitarei minha responsabilidade como pai — respondi, mantendo a compostura. — Me reunirei com o conselho, explicarei a situação e aceitarei a punição ou o veredito que for decidido.

— Espero que o conselho seja misericordioso com você, primo — Leonardo comentou, mas sua preocupação era palpável.

— Dio queira que sim — murmurei. — Mas as coisas ficarão complicadas quando isso vier à tona. A famiglia vai falar.

— Não entendo como um bebê inesperado pode causar tanta confusão — Antonella comentou, os olhos fixos no pequeno Enrico.

— Somos a família principal — Tio Léo começou a explicar. — Um filho fora do casamento, mesmo que seja um acidente, questiona nossa capacidade de liderança. Se Vincenzo de fato teve um herdeiro, a mãe do menino deveria ser sua esposa, e isso por si só já causaria problemas.

— Sem mencionar que ela era uma prostituta — meu pai interveio. — Isso é uma afronta às nossas regras.

O silêncio que se seguiu foi denso. A conversa, carregada de tensão, fazia o som dos talheres batendo nos pratos parecer ensurdecedor. Antonella olhava para o pequeno com uma mistura de dor e tristeza. Ela entendia as regras, sabia o que estava em jogo. Mas havia algo no seu olhar que revelava mais. Talvez ela também desejasse uma saída desse mundo.

Após o jantar, voltamos para o meu anexo. Antonella estava calada, claramente exausta após o interrogatório disfarçado de conversa. Quando nos despedimos, ela foi para seu quarto, mas algo me impediu de relaxar. Decidi checar Enrico uma última vez.

Ao abrir a porta do quarto, a ouvi sussurrar para o bebê.

— Você não vai para um orfanato, piccolo. Nós dois podemos ter uma vida mundana. Eu tenho dinheiro guardado, nós sobreviveremos.

Fechei a porta silenciosamente, sem que ela percebesse. Ela era corajosa o suficiente para planejar fugir, e, de alguma forma, isso me incomodava. Mas por quê?

Tradução das palavras em italiano

Andiamo - Vamos

Ecco qua - Aqui está

Basta - Chega

Per Dio - Pelo amor de Deus

Signora - Senhora

Signori - Senhores (plural de "senhor" ou "senhora")

Cara mia - Querida

Mio papà - Meu pai

Mio figlio - Meu filho

Bambina - Menina, garota

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