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4 - Futuro do Herdeiro

Vincenzo D'Angelis

O dia amanheceu com o céu pesado, como se até mesmo o tempo soubesse da tensão que esse dia traria. A escuridão das nuvens refletia o peso que pressionava meu peito. Não é fácil lidar com os problemas que giram em torno da máfia, e as palavras da raposa — Antonella, a ruiva que agora cuida de mio figlio — não saíam da minha cabeça.

Ela falara com uma convicção que me perturbava. Por que ela acredita que uma vida fora da máfia seria melhor? Por que ela quer tanto proteger Enrico, um bebê que não é dela?

Há algo nela que me intriga e preocupa. Ela é leal ou uma ameaça? Preciso entender. Com esse pensamento, chamei um dos meus homens de confiança, Enzo, para investigar cada detalhe da vida de Antonella. Suas ideias sobre fuga e proteção podem ser perigosas, e qualquer fraqueza na nossa casa poderia ser usada pelos inimigos.

Depois de me preparar para o dia, saí do quarto e segui até a cozinha. A mesa estava posta com um modesto café da manhã. A raposa, como tenho chamado Antonella em minha mente, alimentava o bebê com delicadeza, como se o pequeno Enrico fosse a coisa mais preciosa do mundo. Seus olhos, sempre atentos, observaram cada movimento ao seu redor.

— Buongiorno, raposa — saí sem querer, percebendo que o apelido já havia escapado de meus lábios.

Ela ergueu uma sobrancelha, seu olhar afiado e curioso. — Raposa?

— Você está sempre alerta, com esses olhos espertos. Sempre na defensiva, como uma raposa... além de ser ruiva — expliquei, me corrigindo rapidamente. — Desculpe-me.

— Tutto bene, Signore Vincenzo — ela respondeu, com uma neutralidade que deixava transparecer um leve desconforto, mas sem dar sinais de ofensa.

Sentei-me para tomar o café, tentando afastar o nervosismo. Não demorou muito até que Germana, uma mulher leal à nossa família há anos, entrasse na cozinha, trazendo notícias.

— Bom dia, Signore Vincenzo. O resultado do teste de paternidade está com o senhor Alessandro. Ele pediu que o senhor se reúna com a famiglia para discutir o resultado.

Assenti em silêncio, um nó se formando em minha garganta. Eu sabia que esse momento chegaria, mas agora que estava prestes a acontecer, sentia o peso das responsabilidades se acumularem.

Cada decisão que tomarmos a partir de agora terá consequências duras. As palavras de Antonella cortaram o ar novamente, murmuradas para o pequeno Enrico em seus braços.

— Hoje saberemos se você faz parte dessa famiglia, piccolo.

Havia algo irônico e até triste na maneira como ela falava com ele. Um bebê tão pequeno, envolvido em um mundo de segredos e poder que ele nem sequer pode entender. Mas para nós, mafiosos, sangue e lealdade são tudo. Esse resultado pode mudar tudo.

A sala de reuniões do anexo dos meus pais era grandiosa, como toda a herança da famiglia D'Angelis, mas hoje parecia sufocante. O ar era denso, pesado com a expectativa. A presença dos membros da família mais velha, sentados em volta da mesa, fazia o ambiente vibrar com a história e a gravidade da situação.

Cada pessoa presente ali sabia o que estava em jogo: o futuro de Enrico, e o meu.

Papa estava no centro, segurando o envelope que continha a resposta para a questão que nos perturbava há semanas. Seus olhos varreram a sala antes de abrir o documento, uma última olhada em todos os rostos conhecidos, um gesto de liderança. Ele começou a ler com a voz firme, apesar da tensão. Mas eu mal podia ouvir. Meus pensamentos estavam concentrados em uma única frase que eu sabia que ouviria: "9,99999% de certeza que Vincenzo D'Angelis é o pai biológico de Enrico."

Assim que essas palavras foram ditas, uma onda de silêncio tomou conta da sala. Minha respiração pesava, mas por fora, eu permanecia impassível. Por dentro, sentia um misto de alívio e pavor. O pequeno Enrico era meu filho, e agora eu teria que lidar com as consequências dessa verdade. Uma verdade que poderia abalar as fundações da nostra famiglia.

— Não sei se fico feliz por o piccolo ser de nossa famiglia ou preocupada com o nosso destino — comentou Giulia, sua voz tensa, os olhos preocupados voltados para mim.

Meu pai, com sua habitual seriedade, se levantou.

— Figlio, convocarei o Conselho imediatamente. Quando a reunião for marcada, você será informado. Haverá muito a discutir.

Assenti em silêncio, sentindo o peso da responsabilidade se intensificar. Minha família veio até mim, um por um, me parabenizando com palavras rápidas e gestos de apoio. Mas tudo parecia distante, como se o mundo ao meu redor estivesse coberto por uma neblina pesada. Eu estava no automático, minha mente longe, já tentando imaginar como seria a reunião com o Conselho — e como eu enfrentaria o julgamento.

Quando finalmente todos saíram da sala, voltei ao meu anexo, sentindo o esgotamento mental. Antonella estava lá, claro, esperando por notícias. Ela me observava com seu olhar penetrante, sempre atenta, sempre alerta.

— Sei que não é da minha conta, mas... qual foi o resultado? — ela perguntou, sua voz calma, mas seus olhos traiam a curiosidade.

Respirei fundo, tentando manter a compostura. — Ele é meu filho. No fundo, eu já sabia.

Um sorriso aliviado se espalhou em seu rosto, um raro momento de vulnerabilidade. — Tutto bene, então. Os móveis chegaram e já foram colocados no quarto do piccolo. O pessoal arrumou tudo.

— Certo, continue o bom trabalho. Estarei no escritório — respondi, com um aceno de cabeça.

Ela assentiu e voltou sua atenção ao bebê, mas uma pequena sombra de preocupação passou pelo seu rosto. Ela sabia, assim como eu, que esse era apenas o começo. O verdadeiro desafio estava por vir: convencer o Conselho e a nossa famiglia de que o nascimento de Enrico não seria uma fraqueza a ser explorada por nossos inimigos. E, talvez mais importante, garantir que Antonella não fizesse algo precipitado, algo que colocaria em risco tudo o que eu e minha família construímos.

Ao caminhar para o escritório, a frase que ela sussurrou na noite anterior voltava à minha mente: "Você não vai para um orfanato, piccolo. Podemos ter uma vida mundana." Eu não podia permitir isso. Fugir não era uma opção, não enquanto eu tivesse o poder e a responsabilidade de proteger o que era meu.

traduções das palavras e expressões em italiano

• "mio figlio" – meu filho

• "Buongiorno" – Bom dia

• "Tutto bene" – Tudo bem

• "nostra famiglia" – nossa família

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