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5 - Julgamento do conselho

Vincenzo D'Angelis

Os dias passaram como semanas. A espera pelo conselho que decidiria o meu destino e o do bambino parecia interminável. Na minha mente, as palavras da babá do meu filho ecoavam. Ela havia insinuado algo, algo que eu não conseguia entender completamente. Do que será que ela estava tentando fugir? Esse mistério rondava meus pensamentos enquanto aguardava, sem escolha, pelo inevitável confronto com o conselho.

A notícia não demorou a chegar. Meu primo, Leonardo, entrou no escritório com passos rápidos e expressão tensa, o que já me dava uma pista do que ele trazia consigo.

— Buongiorno, primo — começou ele, com a voz carregada de nervosismo. — O Capo pediu para avisar que a reunião do conselho será hoje à tarde. E que você esteja preparado, porque nada de bom sai daqueles abutres.

Suspirei profundamente. Preparar-se? Como se alguém pudesse se preparar para algo assim. Eu estava à beira de um julgamento que poderia definir o resto da minha vida.

— Cazzo, não tem como se preparar para esse tipo de coisa — resmunguei, sentindo o peso da responsabilidade afundar em meus ombros.

Leonardo deu de ombros, com uma expressão de simpatia que fez pouco para aliviar a pressão, e saiu do escritório. Continuei focado no trabalho até a hora de descer para almoçar. Ao descer, fui surpreendido pela visão inesperada da babá do bambino.

Ela estava na sala, colocando a mesa enquanto uma música infantil tocava suavemente do celular. Ela cantava junto com a melodia, de uma maneira que trazia uma estranha calmaria ao ambiente.

— Buona giornata, senhor Vincenzo — disse ela com um sorriso, interrompendo a música e se voltando para mim. — Tomei a liberdade de preparar a comida aqui mesmo. Se não quiser se juntar a mim, entenderei perfeitamente.

Observei-a por um momento, notando como o clima familiar daquela cena contrastava com o turbilhão que eu estava prestes a enfrentar. Decidi que talvez fosse melhor evitar o ambiente tenso na casa dos meus pais por enquanto.

— Vou me juntar à senhorita — respondi, sentando-me à mesa. — O clima lá no anexo dos meus pais não está dos melhores.

— O julgamento foi marcado? — Ela me olhou com uma expressão compreensiva.

Assenti, sentindo o peso de suas palavras.

— Sim, esses abutres estão loucos para tomar o poder. Não vai ser nada bonito se isso acontecer.

Ela franziu o cenho, parecendo compreender a seriedade da situação.

— Meu pai sempre disse que sua família comanda com firmeza, mas se os Vitorinos assumirem... tudo vai desmoronar. Eles não têm as mesmas ideologias.

— Acredite, raposa — disse, usando o apelido carinhoso que havia dado a ela —, se os Vitorinos estivessem no poder, você já estaria casada desde os 15 anos. Segundo eles, essa é uma idade aceitável para uma mulher se casar.

Ela soltou um suspiro profundo.

— Dio nos livre deles — murmurou. — Mas vai dar certo, senhor Vincenzo.

Não respondi. Não havia muito o que dizer naquele momento. Terminamos o almoço em um silêncio confortável, com os sons suaves do bambino resmungando enquanto sugava os dedinhos gordinhos.

A hora havia chegado. Estava ali, no salão do conselho, diante dos homens mais poderosos da máfia. O Conselho, composto pelos anciãos que comandavam com punhos de ferro, estava completo.

Ao lado deles, meu pai, o atual capo, me observava com uma expressão que me corroía por dentro.

Meu tio, subchefe, estava ao lado dele, sério e impassível.

Leonardo, meu primo, estava ao fundo, observando silenciosamente, com olhos que denunciavam preocupação. Eu, de pé no centro, me sentia esmagado pelos olhares.

Era como se eu fosse um menino, um bambino, sendo julgado por uma travessura que eu não conseguia desfazer. O peso da tradição, da honra, de séculos de regras, estava em cada sussurro que ecoava ao meu redor, como facas invisíveis cortando meu espírito.

— Vamos começar essa reunião — disse o mais velho dos conselheiros, sua voz carregada de autoridade. — Chegou ao nosso conhecimento que nosso futuro capo, prestes a assumir seu cargo, quebrou uma das nossas regras mais sagradas.

Teve um filho sem estar casado. Agora daremos a palavra a ele, para que conte sua versão dos fatos. Depois, deliberaremos qual será sua punição.

Engoli em seco. O silêncio era sufocante. Senti todos os olhares fixos em mim. Eu sabia que esse momento definiria minha vida e o futuro da famiglia.

— Cerca de um ano atrás — comecei, minha voz firme apesar do nervosismo que revirava meu estômago —, chegou uma nova prostituta a um dos bordéis do meu pai. Ela era virgem, loira, muito bonita. Pedi exclusividade. Tivemos nossos momentos e, em um deles, a camisinha estava furada, sem que percebêssemos. Depois disso, nos separamos. Não soube de mais nada até que, um dia, um bambino aparecera na minha porta. Junto com ele, uma carta da mãe, explicando toda a situação. Fiz o teste de DNA, e ele é realmente meu figlio. A mãe dele já não está entre nós, mas eu quero ficar com o bambino e assumir minha responsabilidade como pai.

O ar estava pesado. Eu podia sentir o julgamento, as críticas não ditas, as dúvidas. Quando terminei, os murmúrios começaram a crescer. E então, a primeira voz se ergueu, cortando o silêncio.

— Isso é inaceitável! — exclamou um dos conselheiros mais influentes. — Um filho fora do casamento, com uma prostituta? Isso afeta diretamente a reputação da nossa famiglia! Inimigos irão usar essa fraqueza. A D'Angelis tem uma imagem imaculada, e isso pode ser explorado para minar sua liderança.

Eu sabia que essa reação viria, mesmo assim, as palavras eram como punhaladas.

— Da mesma forma que confiaram em mio papà, o atual capo, devem confiar em mim — respondi, mantendo a calma. — Ele me ensinou os valores, as regras e como liderar. Sempre fui leal à nossa máfia, e meus deveres sempre vieram em primeiro lugar.

O Debate Acirrado Começa

As vozes começaram a se erguer. Havia uma clara divisão. Alguns conselheiros pediam punição severa, outros, mais compreensivos, sugeriam algo simbólico. Um dos conselheiros mais conservadores sugeriu que eu me casasse com uma mulher da máfia para compensar o erro. Outro propôs que eu ficasse afastado por uma semana, enquanto o Conselho decidisse meu destino.

— Vincenzo — disse um dos anciãos, sua voz firme —, sua lealdade nunca esteve em dúvida, mas este erro... não podemos ignorar o impacto disso. Você ficará afastado de todas as atividades por uma semana. Use esse tempo para refletir sobre suas responsabilidades. Enquanto isso, decidiremos qual será sua punição final.

Aquela frase ecoou na minha cabeça. Uma semana afastado. Parecia uma eternidade.

Saí de lá derrotado, frustrado e com uma sensação de vazio. A decepção nos olhos do meu pai e do meu tio era o que me destruía mais. Quando cheguei em casa, vi a babá deitada no sofá, com mio figlio dormindo em seu peito, coberto por uma mantinha amarela. Ela segurava um livro com um homem sem camisa na capa e me olhou, meio sem jeito.

— Desculpe a cena, senhor Vincenzo. O bambino estava com cólica e deitá-lo no peito foi a única coisa que o acalmou.

— Não tem problema — respondi, suspirando. — Você fez o que era necessário.

Ela assentiu e, hesitante, perguntou:

— Como foi a reunião?

Suspirei, passando as mãos pelos cabelos.

— Estarei afastado por uma semana, até que decidam meu destino final. Cazzo, aqueles abutres...

Ela sorriu levemente.

— Talvez isso seja bom. Uma oportunidade para se aproximar do seu bambino.

— Eu não sei cuidar de um bambino, e é por isso que você está aqui.

Ela me olhou nos olhos, com uma calma surpreendente.

— Bom, agora o senhor tem tempo. E eu posso ensinar, se for da sua vontade.

Não digo nada, não sei o que dizer.

Tradução das palavras:

Buona giornata: boa tarde.

Capo: chefe.

Cazzo: maldição (gíria italiana).

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