Antonella FontanaNa manhã seguinte, o sol mal despontava quando me levantei. Meus pensamentos estavam tão inquietos quanto na noite anterior, mas agora havia uma firmeza em minha decisão. Eu sabia o que tinha que fazer, mesmo que isso significasse entrar de vez em um mundo que sempre me pareceu sombrio e ameaçador.Vesti-me devagar, respirando fundo, como se estivesse me preparando para uma batalha silenciosa. Saí do quarto, e meus passos me levaram direto ao escritório de Vincenzo. Ele já me esperava, como sempre fazia quando algo importante precisava ser resolvido. Vincenzo tinha essa habilidade de manter a compostura, mesmo quando o mundo ao seu redor parecia desmoronar. Mas hoje, havia algo diferente em seus olhos. Talvez fosse a incerteza sobre o que eu diria, talvez fosse o peso das decisões que estávamos prestes a tomar.Parei na entrada, e ele me viu. Levantou-se imediatamente, seu olhar firme e penetrante, mas carregado de uma tensão silenciosa. Eu podia ver que ele não sabi
Vincenzo D'AngelisEntro na cozinha, onde a pequena raposa está debruçada sobre uma massa, socando-a com toda a força. É fascinante como ela encara a tarefa com tanta determinação. Solto uma risada baixa, o suficiente para chamar sua atenção.— Raposa, é seguro me aproximar? — brinco, deixando um leve sorriso despontar no canto da boca.Ela ergue o olhar para mim, os olhos cintilando com uma leve irritação misturada com curiosidade.— Depende. Qual será a bomba da vez, mio cuore? — responde, a voz carregada de um humor irônico. — Não sei se meu pobre coração aguenta.Me aproximo dela, sentindo o aroma do molho que ela preparou. A cozinha está acolhedora, aquecida pelo cheiro da comida e pela presença dela. Apoio-me na bancada ao lado.— Na verdade — começo, com a voz baixa para que só ela ouça —, hoje à noite vou reunir nossas famiglias para anunciar oficialmente nossa decisão. No sábado haverá um evento. Vou te apresentar formalmente e também apresentar o piccolo Enrico.Ela suspira,
Antonella Fontana Estava na sala, o piccolo em meus braços, amamentando-o enquanto o observava com ternura. A cada dia, o sentimento de posse cresce, como se ele fosse parte de mim, como se sempre tivesse sido. Saber que, ao me tornar esposa de Vincenzo, estarei para sempre ao lado de mio bambino me traz um conforto imenso. Ouço passos leves, e a voz da senhora Camille surge, despertando-me dos pensamentos. — Cara mia, interrompo um momento delicado? — ela pergunta gentilmente, sorrindo ao nos ver. — Não, Signora, por favor, sente-se. — Aceno para a poltrona ao lado. Ela se acomoda com um ar sério, mas maternal. — Queria conversar com você sobre o casamento, capire melhor quais orientações você recebeu sobre as suas responsabilidades como esposa de um mafioso. E, acima de tudo, quero garantir que mio figlio não a tenha coagido a nada. Sua preocupação aquece meu coração. É raro encontrar uma sogra que se importe tanto, especialmente em nosso mundo. Decido ser honesta e direta. —
Vincenzo D'Angelis Eu estava exausto, ainda sentindo o sangue pulsando nas veias, os resquícios da raiva vívidos no meu olhar. Minha pele estava marcada pelo sangue, as roupas, o rosto, o pescoço. As palavras do interrogatório martelavam na minha cabeça. "Traidor entre nós." A frase reverberava como um sinal de alerta. Ao cruzar a sala, vejo uma luz acesa. Os olhos de raposa preocupada me observam. Antes que eu diga qualquer coisa, ela se levanta rapidamente e para à minha frente, pondo as mãos no meu rosto e ficando na ponta dos pés para chegar mais perto da minha altura. — Vince, você está bem? Dou um sorriso cansado, sem muita convicção. — O sangue não é mio, raposa. — Foi um interrogatório que acabou em tortura, não é? Assinto, mantendo meu olhar sério. Espero ver no rosto dela qualquer sinal de medo, alguma hesitação, mas Antonella continua firme, olhando diretamente para mim. — Esse é o meu mundo, Antonella — digo, meu tom mais grave, pesado de verdade. — Isso vai aconte
Antonella FontanaA música suave preenchia o ambiente, cada nota parecia ressoar em meu peito enquanto eu estava ali, nos braços de Vincenzo, dançando. O salão estava lindamente decorado para a ocasião, e todos os olhares estavam voltados para nós. Eu sabia que essa noite era crucial para nossa apresentação oficial como marido e mulher.O calor da mão dele em minhas costas era um lembrete constante de que, apesar de todos os desafios, estávamos juntos. Vincenzo inclinou-se levemente, sua respiração roçando minha orelha.— Você está magnífica esta noite, Antonella. — sussurrou, sua voz baixa enviando arrepios pela minha espinha.Senti meu rosto aquecer, e não consegui evitar sorrir. — Grazie, Vincenzo. Mas quem realmente impressionou foi você, com aquele discurso. Todos estavam pendurados em suas palavras.Os olhos dele brilharam com um orgulho contido, e por um momento, senti como se estivéssemos sozinhos no mundo, mesmo com todos os olhares atentos ao nosso redor.— Apenas fiz o que
Vincenzo D'Angelis Após a noite da apresentação, onde todas as máscaras caíram e os sorrisos aparentes deram lugar a tensões veladas, meu corpo mal conheceu o conforto do sono. A manhã chegou pesada, como um cobertor de chumbo que se recusa a ser retirado. Eu sabia que não poderia adiar o encontro com meu pai. O peso das minhas decisões já não era mais um fardo que eu pudesse carregar sozinho, não quando a honra e a sobrevivência da famiglia estavam em jogo.Assim que entrei no escritório de Alessandro D'Angelis, fui engolido pela penumbra opressiva do ambiente. As cortinas grossas bloqueavam a luz do dia, deixando apenas um fio de claridade que atravessava o espaço e iluminava a mesa pesada de madeira maciça onde meu pai se sentava. Sua figura era imponente, mas os ombros arqueados deixavam transparecer um cansaço que ele nunca admitiria em voz alta.Ele não levantou o olhar de imediato. Por alguns segundos, que pareceram horas, ele continuou a encarar um documento em suas mãos, com
Antonella Fontana Eu estava cuidando de Enrico, lavando suas mamadeiras enquanto ele estava quietinho em seu carrinho. A rotina com ele já se tornara algo gostoso e natural. As pequenas coisas, como cantar para ele enquanto ele me observava, tornaram-se parte do meu dia. Me senti em paz, como se tudo estivesse no seu devido lugar. Mas então, senti os passos de Vince se aproximando. Sem virar a cabeça, sabia que ele estava ali, e logo ele me abraçou pela cintura, colocando a cabeça no meu ombro. Eu não esperava tanta proximidade, mesmo após o beijo tímido de ontem. Fiquei em silêncio, tentando processar o calor que tomava conta de mim, até que, sem querer, deixei escapar: — O que houve, amore mio? Ele suspirou, e pude sentir o peso em sua respiração. Não era o Vince de sempre. Algo estava errado, e ele não precisava dizer nada para que eu soubesse. Ele sempre foi bom em esconder os sentimentos, mas eu via além disso. — Você se importa se não juntarmos aos meus pais para o almoço
Vincenzo D'AngelisA sala estava mergulhada em uma penumbra quase opressiva quando a porta se abriu, revelando meu pai, seguido por Salvatore. A presença dos dois, lado a lado, trazia consigo um peso quase físico, sufocante. O velho Salvatore, chefe do conselho, era a figura mais temida da nossa organização. Um homem que, apesar da idade avançada, carregava um olhar tão frio e implacável que, ao encontrar o meu, parecia despir minha alma e escavar até o fundo de meus pensamentos. Hoje, ele havia vindo pessoalmente, o que só podia significar uma coisa: eu estava prestes a ser encurralado.Respirei fundo antes de me levantar para recebê-los. — Buongiorno, Dom. Papa. Mantive o rosto inexpressivo, escondendo o desconforto que sua presença provocava.Salvatore se acomodou pesadamente em uma das poltronas de couro, a sombra do final de tarde refletindo em suas feições marcadas. — Buongiorno, Vincenzo — sua voz era como um trovão que reverberava pelas paredes da sala, enquanto meu pai, até e