Antonella Fontana Estava na sala, o piccolo em meus braços, amamentando-o enquanto o observava com ternura. A cada dia, o sentimento de posse cresce, como se ele fosse parte de mim, como se sempre tivesse sido. Saber que, ao me tornar esposa de Vincenzo, estarei para sempre ao lado de mio bambino me traz um conforto imenso. Ouço passos leves, e a voz da senhora Camille surge, despertando-me dos pensamentos. — Cara mia, interrompo um momento delicado? — ela pergunta gentilmente, sorrindo ao nos ver. — Não, Signora, por favor, sente-se. — Aceno para a poltrona ao lado. Ela se acomoda com um ar sério, mas maternal. — Queria conversar com você sobre o casamento, capire melhor quais orientações você recebeu sobre as suas responsabilidades como esposa de um mafioso. E, acima de tudo, quero garantir que mio figlio não a tenha coagido a nada. Sua preocupação aquece meu coração. É raro encontrar uma sogra que se importe tanto, especialmente em nosso mundo. Decido ser honesta e direta. —
Vincenzo D'Angelis Eu estava exausto, ainda sentindo o sangue pulsando nas veias, os resquícios da raiva vívidos no meu olhar. Minha pele estava marcada pelo sangue, as roupas, o rosto, o pescoço. As palavras do interrogatório martelavam na minha cabeça. "Traidor entre nós." A frase reverberava como um sinal de alerta. Ao cruzar a sala, vejo uma luz acesa. Os olhos de raposa preocupada me observam. Antes que eu diga qualquer coisa, ela se levanta rapidamente e para à minha frente, pondo as mãos no meu rosto e ficando na ponta dos pés para chegar mais perto da minha altura. — Vince, você está bem? Dou um sorriso cansado, sem muita convicção. — O sangue não é mio, raposa. — Foi um interrogatório que acabou em tortura, não é? Assinto, mantendo meu olhar sério. Espero ver no rosto dela qualquer sinal de medo, alguma hesitação, mas Antonella continua firme, olhando diretamente para mim. — Esse é o meu mundo, Antonella — digo, meu tom mais grave, pesado de verdade. — Isso vai aconte
Antonella FontanaA música suave preenchia o ambiente, cada nota parecia ressoar em meu peito enquanto eu estava ali, nos braços de Vincenzo, dançando. O salão estava lindamente decorado para a ocasião, e todos os olhares estavam voltados para nós. Eu sabia que essa noite era crucial para nossa apresentação oficial como marido e mulher.O calor da mão dele em minhas costas era um lembrete constante de que, apesar de todos os desafios, estávamos juntos. Vincenzo inclinou-se levemente, sua respiração roçando minha orelha.— Você está magnífica esta noite, Antonella. — sussurrou, sua voz baixa enviando arrepios pela minha espinha.Senti meu rosto aquecer, e não consegui evitar sorrir. — Grazie, Vincenzo. Mas quem realmente impressionou foi você, com aquele discurso. Todos estavam pendurados em suas palavras.Os olhos dele brilharam com um orgulho contido, e por um momento, senti como se estivéssemos sozinhos no mundo, mesmo com todos os olhares atentos ao nosso redor.— Apenas fiz o que
Vincenzo D'Angelis Após a noite da apresentação, onde todas as máscaras caíram e os sorrisos aparentes deram lugar a tensões veladas, meu corpo mal conheceu o conforto do sono. A manhã chegou pesada, como um cobertor de chumbo que se recusa a ser retirado. Eu sabia que não poderia adiar o encontro com meu pai. O peso das minhas decisões já não era mais um fardo que eu pudesse carregar sozinho, não quando a honra e a sobrevivência da famiglia estavam em jogo.Assim que entrei no escritório de Alessandro D'Angelis, fui engolido pela penumbra opressiva do ambiente. As cortinas grossas bloqueavam a luz do dia, deixando apenas um fio de claridade que atravessava o espaço e iluminava a mesa pesada de madeira maciça onde meu pai se sentava. Sua figura era imponente, mas os ombros arqueados deixavam transparecer um cansaço que ele nunca admitiria em voz alta.Ele não levantou o olhar de imediato. Por alguns segundos, que pareceram horas, ele continuou a encarar um documento em suas mãos, com
Antonella Fontana Eu estava cuidando de Enrico, lavando suas mamadeiras enquanto ele estava quietinho em seu carrinho. A rotina com ele já se tornara algo gostoso e natural. As pequenas coisas, como cantar para ele enquanto ele me observava, tornaram-se parte do meu dia. Me senti em paz, como se tudo estivesse no seu devido lugar. Mas então, senti os passos de Vince se aproximando. Sem virar a cabeça, sabia que ele estava ali, e logo ele me abraçou pela cintura, colocando a cabeça no meu ombro. Eu não esperava tanta proximidade, mesmo após o beijo tímido de ontem. Fiquei em silêncio, tentando processar o calor que tomava conta de mim, até que, sem querer, deixei escapar: — O que houve, amore mio? Ele suspirou, e pude sentir o peso em sua respiração. Não era o Vince de sempre. Algo estava errado, e ele não precisava dizer nada para que eu soubesse. Ele sempre foi bom em esconder os sentimentos, mas eu via além disso. — Você se importa se não juntarmos aos meus pais para o almoço
Vincenzo D'AngelisA sala estava mergulhada em uma penumbra quase opressiva quando a porta se abriu, revelando meu pai, seguido por Salvatore. A presença dos dois, lado a lado, trazia consigo um peso quase físico, sufocante. O velho Salvatore, chefe do conselho, era a figura mais temida da nossa organização. Um homem que, apesar da idade avançada, carregava um olhar tão frio e implacável que, ao encontrar o meu, parecia despir minha alma e escavar até o fundo de meus pensamentos. Hoje, ele havia vindo pessoalmente, o que só podia significar uma coisa: eu estava prestes a ser encurralado.Respirei fundo antes de me levantar para recebê-los. — Buongiorno, Dom. Papa. Mantive o rosto inexpressivo, escondendo o desconforto que sua presença provocava.Salvatore se acomodou pesadamente em uma das poltronas de couro, a sombra do final de tarde refletindo em suas feições marcadas. — Buongiorno, Vincenzo — sua voz era como um trovão que reverberava pelas paredes da sala, enquanto meu pai, até e
Antonella FontanaDois meses depois...Os últimos meses passaram como um borrão. Entre as responsabilidades da famiglia e os preparativos do nosso casamento, parecia que o tempo havia escorregado pelos meus dedos. Vincenzo e eu, apesar da proximidade que construímos nos primeiros meses, agora estávamos mais distantes do que nunca. As obrigações com a máfia estavam consumindo cada segundo do seu dia, e isso estava afetando tudo — nós dois, nossa rotina, e até a nossa recém-formada família.Vince estava atolado em reuniões e operações, tentando segurar as rédeas da família enquanto o conselho lidava com uma onda crescente de traições e revoltas. As transações da famiglia vinham sendo cada vez mais sabotadas, nossos carregamentos interceptados, e os boatos de traição se alastravam como um veneno pelas ruas de Palermo. Eu via o cansaço nos olhos de Vincenzo sempre que ele conseguia passar alguns minutos em casa, mesmo que fosse apenas para jantar rápido e sair em seguida.Enquanto ele se
Vincenzo D'AngelisHoje era o grande dia, o dia em que eu me uniria a Antonella, corpo e alma, selando uma aliança não apenas conjugal, mas também uma parceria inquebrável dentro desse mundo brutal e implacável que é a máfia. Noi due contro il mondo, como dizemos.A igreja onde a cerimônia acontecia era imensa, com tetos altos e afrescos que pareciam tocar o céu. Uma grande ironia, considerando que mafiosos devotos ao catolicismo é uma contradição gritante. Mas, você sabe como é, a vida na famiglia está cheia dessas contradições. A aparência externa de santidade escondendo a escuridão em nossos corações.Eu estava em pé no altar, ajustando os punhos do meu terno preto de quatro peças. Ao meu lado, mio cugino Guilhermo e zio Leonardo, ambos com elegantes ternos azul-escuros e gravatas de um tom de rosa que contrastavam com a rigidez dos nossos semblantes. Do outro lado, onde Antonella se posicionaria, estavam mia sorella Giulia e zia Luiza, ambas radiantes em seus vestidos de madrinha