Vincenzo D' AngelisQuando recebi a confirmação de que tínhamos um ponto de partida, uma localização para onde Antonella poderia estar, algo dentro de mim mudou. Não era alívio completo, não enquanto ela ainda estivesse nas mãos daquele desgraçado. Mas, pela primeira vez em dias, senti que a incerteza começava a se dissipar. Agora, era hora de agir.Reuni os homens de confiança da família na sala principal da mansão: Guilhermo, meu braço direito; Alessandro, meu pai; Leonardo, meu tio; e Giuseppe, um dos nossos melhores estrategistas. O clima era tenso, mas todos estavam focados. Ninguém ousava subestimar a gravidade da situação.- Temos uma localização, - comecei, olhando cada um nos olhos. - Uma fazenda em uma cidade pequena, cerca de trinta minutos de onde estávamos escondidos antes. As informações vêm de fontes confiáveis, mas precisamos ser meticulosos. Este homem não é tolo, e não podemos permitir nenhum erro.Leonardo foi o primeiro a se manifestar, a voz calma, mas com um peso
Vincenzo D' AngelisO sol estava começando a nascer quando chegamos em casa. Antonella estava exausta, seus passos lentos e inseguros enquanto a conduzi para dentro. O peso das últimas horas ainda pairava sobre nós, mas o fato de tê-la de volta era um alívio que eu não conseguia descrever.Fechei a porta atrás de nós e a puxei suavemente para perto.- Você está bem? - perguntei, minha voz mais baixa do que o habitual. - Eles fizeram algo com você?Ela balançou a cabeça, os olhos cansados, mas firmes.- Eu estou... - começou, mas sua voz falhou. Ela respirou fundo e tentou de novo. - Estou melhor agora, Vincenzo. Você me salvou.Acariciei seu rosto, sentindo a textura das pequenas marcas deixadas pelos desgraçados que ousaram machucá-la. Meu coração apertou ao imaginar o que ela havia passado.- Você é mais forte do que qualquer um deles, - disse, tentando tranquilizá-la. - Mas, agora, quero que descanse. Não há mais nada com que se preocupar.Ela assentiu, mas não se afastou.- Posso
Vincenzo D'AngelisO peso do dia ainda estava em mim quando entrei em casa. Cada músculo do meu corpo doía, e minha mente ecoava as memórias das últimas horas. A sentença de Lionel havia sido executada, e o caos deixado para trás estava sendo resolvido por meu pai, meus homens e o conselho. Mas eu precisava me afastar. A única coisa que eu queria naquele momento era estar com Antonella. Ela era o meu refúgio, a única paz que eu conhecia.Subi as escadas lentamente, o cheiro de sangue seco ainda impregnado em mim, como uma lembrança vívida do que eu tinha feito. Ao abrir a porta do quarto, me deparei com o escuro confortável do espaço. Dei um passo adentro, tentando não fazer barulho.- Amore mio? - Sua voz veio suave, mas firme, cortando o silêncio como uma melodia.Meu peito apertou. Só de ouvi-la, a tensão diminuiu.- Oi, principesa, sou eu. - Minha voz saiu rouca, exausta. - Mas não venha até aqui. Estou... deplorável.Eu esperava que ela ficasse onde estava, mas deveria ter imagin
Vincenzo D'AngelisTrês meses depoisO salão da nossa casa estava repleto. Era minha festa de trinta anos, mas a celebração era muito mais do que um aniversário. Era o marco de um novo capítulo para nossa família, uma noite que ficaria gravada na história dos D'Angelis. Por todo lado, figuras proeminentes do nosso círculo estavam presentes, elegantemente vestidos, bebendo e conversando sob o brilho de lustres majestosos. As mulheres deslumbravam em vestidos finos, os homens trajavam smokings impecáveis. Eu observava tudo do canto do salão, sentindo o peso do momento.Antonella estava ao lado de Germana, Giulia e Camille, linda em um vestido azul que realçava a curva discreta de sua barriga de quatro meses. Mesmo com tudo o que havíamos passado, ela brilhava como sempre. Enrico, com dez meses, estava em seus braços, e os olhos dele pareciam iluminados pela mesma energia da festa. Meu filho. Minha vida.Meu pai, Alessandro, subiu ao palco erguido no centro do salão, chamando a atenção d
Vincenzo D'Angelis Hoje era domingo, um dia sagrado para la famiglia. Mama Camille fazia questão de reunir todos à mesa. Para ela, o domingo era mais do que uma simples tradição; era um ritual que reforçava os laços da família. Quem ousasse faltar pagaria caro, não com dinheiro ou punições físicas, mas com os intermináveis sermões e olhares de desaprovação que só a matriarca sabia dar. O respeito por ela era absoluto, e até mesmo papa Alessandro, o capo da família D'Angelis, seguia suas ordens. Por mais que ele comandasse negócios, acordos e até exércitos, dentro de casa, era a voz de Camille que prevalecia. Estávamos todos reunidos, saboreando o final da sobremesa — torta di mele, como sempre no domingo. O ambiente era leve, as conversas fluíam, e por um momento, o peso da vida que levávamos fora dessas paredes parecia distante. Entretanto, a calma foi interrompida pela entrada discreta de dona Germana, nossa governanta de confiança, que se aproximou da mesa com um olhar preocupad
Antonella FontanaAssim que o senhor Vincenzo sai, aproveito o momento de paz para ir até o quarto onde o pequeno Enrico está. A cena é até cômica: uma pequena bolinha de bebê, bem embrulhada, deitada no meio de uma cama enorme. Sinto um misto de ternura e incredulidade ao vê-lo ali, tão indefeso e alheio ao peso que o nome D'Angelis carrega. Ele mal sabe o que o espera.Olho ao redor e faço uma análise rápida do que será necessário para transformar aquele ambiente impessoal em um quarto de bebê adequado. Anoto mentalmente: uma cômoda com trocador, uma poltrona confortável para amamentação, um berço decente, uma babá eletrônica e, claro, uma banheira. Também vou precisar de um carrinho. No quesito de móveis, isso deve bastar por enquanto.Fecho a porta com cuidado e sigo em direção ao meu novo quarto. Ele é grande, frio, sem personalidade. Embora a cama seja macia e confortável, o ambiente está longe de ser acolhedor. Não faço questão de pedir mudanças, sei que isso é temporário. No e
Vincenzo D'Angelis O jantar estava à espera quando cheguei à cozinha para buscar Antonella. O cheiro da comida fresca impregnava o ar, e o silêncio que preenchia a mansão era quase ensurdecedor. O pequeno Enrico, deitado tranquilo no carrinho, fazendo seus sons de bebê baixinho enquanto eu guiava a jovem babá em direção ao anexo dos meus pais.— Andiamo — disse, indicando com um gesto. Antonella sorriu, aliviada, talvez porque o carrinho ajudaria a mantê-la de olho no bebê enquanto comíamos.Ao chegar na sala de jantar, todos estavam reunidos. A grande mesa estava elegantemente posta, como sempre. A famiglia, sentada com toda sua postura impiedosa, esperava por nós. O ambiente estava carregado, com olhares que pesavam mais do que palavras.— Ecco qua! — Leonardo, sempre atrevido, foi o primeiro a falar. — O pequeno Enrico mal chegou e já conseguiu uma bela rapariga como babá! — brincou, sua voz carregada de sarcasmo.— Basta! — cortei, minha voz firme ecoando na sala. — Quero respeit
Vincenzo D'AngelisO dia amanheceu com o céu pesado, como se até mesmo o tempo soubesse da tensão que esse dia traria. A escuridão das nuvens refletia o peso que pressionava meu peito. Não é fácil lidar com os problemas que giram em torno da máfia, e as palavras da raposa — Antonella, a ruiva que agora cuida de mio figlio — não saíam da minha cabeça. Ela falara com uma convicção que me perturbava. Por que ela acredita que uma vida fora da máfia seria melhor? Por que ela quer tanto proteger Enrico, um bebê que não é dela?Há algo nela que me intriga e preocupa. Ela é leal ou uma ameaça? Preciso entender. Com esse pensamento, chamei um dos meus homens de confiança, Enzo, para investigar cada detalhe da vida de Antonella. Suas ideias sobre fuga e proteção podem ser perigosas, e qualquer fraqueza na nossa casa poderia ser usada pelos inimigos.Depois de me preparar para o dia, saí do quarto e segui até a cozinha. A mesa estava posta com um modesto café da manhã. A raposa, como tenho cham