Vincenzo D'AngelisA segunda-feira chegou, trazendo consigo uma pesada atmosfera de expectativa. Acordei cedo, o sol ainda tímido, refletindo minha própria hesitação. Após o almoço em família ontem, um misto de alegria e alívio ainda pulsava em mim, mas hoje era diferente. A sensação de normalidade que havia experimentado com Antonella e minha família agora era apenas um eco distante, sufocada pelo peso das responsabilidades que estavam por vir.As horas pareciam arrastar-se, e minha mente estava a mil. Pensei no conselho, em como a reunião seria tensa, e como, mais uma vez, minha vida estaria nas mãos deles. O jantar com minha família me deixara contente, mas o retorno à realidade que a máfia exigia de mim era implacável. Eu sabia que estava prestes a enfrentar uma decisão que mudaria não apenas minha vida, mas também a vida de Antonella e Enrico.A casa do conselho tinha um ar imponente, com paredes decoradas com fotos de antigos chefes da máfia, cada um com seu olhar decidido e imp
Vincenzo D'AngelisChego do anexo dos meus pais e a cena diante de mim é familiar, quase reconfortante. A raposa está na cozinha, fazendo algo que se tornou parte do nosso cotidiano, enquanto Enrico está quietinho em seu carrinho, observando com curiosidade. Antonella canta suavemente uma canção infantil, seu sorriso iluminando o ambiente. O aroma do molho de tomate e manjericão é irresistível, e meu estômago ronca alto, quebrando a serenidade do momento.Ela para de cantar e me encara, seus olhos escuros cheios de preocupação.— Vince, por Dio! Estava preocupada. Como foi lá? O que decidiram? — Ela desliga a panela, seu olhar intenso me faz sentir como se estivesse sendo examinado.Suspiro, sabendo que a conversa que precisamos ter não será fácil.— Eles deram a decisão deles. Preciso me casar dentro de dois meses, mas tenho apenas uma semana para apresentar a noiva e Enrico formalmente para o conselho. A moça precisa ser virgem e ter vínculo com a máfia.O impacto das minhas palavra
Antonela FontanaOs dias passaram, e Vincenzo voltou à sua correria habitual. Nossas refeições com sua família eram frequentes, mas nossas interações se tornaram breves, quase mecânicas. À noite, depois que o piccolo dormia, assistíamos a algo na televisão, trocávamos algumas palavras, mas uma névoa de tensão pairava sobre nós. Era inevitável que tudo estivesse diferente. A distância crescia, mesmo que nossos olhares ainda se encontrassem com a mesma intensidade. Contudo, esses olhares agora estavam carregados de incertezas, de dúvidas não ditas... e de uma despedida silenciosa.Hoje era quarta-feira, e Vince parecia mais tenso que o normal. Voltávamos de um almoço na casa de seus pais, e o silêncio entre nós era mais pesado do que o habitual.— Vince, tutto bene? — sussurrei, tentando não quebrar o frágil equilíbrio entre nós.— Está sim, Raposa — ele me ofereceu um meio sorriso, mas seus olhos estavam longe. — Queria te dizer que hoje à tarde uma moça vai vir aqui, uma das escolhas
Antonella FontanaNa manhã seguinte, o sol mal despontava quando me levantei. Meus pensamentos estavam tão inquietos quanto na noite anterior, mas agora havia uma firmeza em minha decisão. Eu sabia o que tinha que fazer, mesmo que isso significasse entrar de vez em um mundo que sempre me pareceu sombrio e ameaçador.Vesti-me devagar, respirando fundo, como se estivesse me preparando para uma batalha silenciosa. Saí do quarto, e meus passos me levaram direto ao escritório de Vincenzo. Ele já me esperava, como sempre fazia quando algo importante precisava ser resolvido. Vincenzo tinha essa habilidade de manter a compostura, mesmo quando o mundo ao seu redor parecia desmoronar. Mas hoje, havia algo diferente em seus olhos. Talvez fosse a incerteza sobre o que eu diria, talvez fosse o peso das decisões que estávamos prestes a tomar.Parei na entrada, e ele me viu. Levantou-se imediatamente, seu olhar firme e penetrante, mas carregado de uma tensão silenciosa. Eu podia ver que ele não sabi
Vincenzo D'AngelisEntro na cozinha, onde a pequena raposa está debruçada sobre uma massa, socando-a com toda a força. É fascinante como ela encara a tarefa com tanta determinação. Solto uma risada baixa, o suficiente para chamar sua atenção.— Raposa, é seguro me aproximar? — brinco, deixando um leve sorriso despontar no canto da boca.Ela ergue o olhar para mim, os olhos cintilando com uma leve irritação misturada com curiosidade.— Depende. Qual será a bomba da vez, mio cuore? — responde, a voz carregada de um humor irônico. — Não sei se meu pobre coração aguenta.Me aproximo dela, sentindo o aroma do molho que ela preparou. A cozinha está acolhedora, aquecida pelo cheiro da comida e pela presença dela. Apoio-me na bancada ao lado.— Na verdade — começo, com a voz baixa para que só ela ouça —, hoje à noite vou reunir nossas famiglias para anunciar oficialmente nossa decisão. No sábado haverá um evento. Vou te apresentar formalmente e também apresentar o piccolo Enrico.Ela suspira,
Antonella Fontana Estava na sala, o piccolo em meus braços, amamentando-o enquanto o observava com ternura. A cada dia, o sentimento de posse cresce, como se ele fosse parte de mim, como se sempre tivesse sido. Saber que, ao me tornar esposa de Vincenzo, estarei para sempre ao lado de mio bambino me traz um conforto imenso. Ouço passos leves, e a voz da senhora Camille surge, despertando-me dos pensamentos. — Cara mia, interrompo um momento delicado? — ela pergunta gentilmente, sorrindo ao nos ver. — Não, Signora, por favor, sente-se. — Aceno para a poltrona ao lado. Ela se acomoda com um ar sério, mas maternal. — Queria conversar com você sobre o casamento, capire melhor quais orientações você recebeu sobre as suas responsabilidades como esposa de um mafioso. E, acima de tudo, quero garantir que mio figlio não a tenha coagido a nada. Sua preocupação aquece meu coração. É raro encontrar uma sogra que se importe tanto, especialmente em nosso mundo. Decido ser honesta e direta. —
Vincenzo D'Angelis Eu estava exausto, ainda sentindo o sangue pulsando nas veias, os resquícios da raiva vívidos no meu olhar. Minha pele estava marcada pelo sangue, as roupas, o rosto, o pescoço. As palavras do interrogatório martelavam na minha cabeça. "Traidor entre nós." A frase reverberava como um sinal de alerta. Ao cruzar a sala, vejo uma luz acesa. Os olhos de raposa preocupada me observam. Antes que eu diga qualquer coisa, ela se levanta rapidamente e para à minha frente, pondo as mãos no meu rosto e ficando na ponta dos pés para chegar mais perto da minha altura. — Vince, você está bem? Dou um sorriso cansado, sem muita convicção. — O sangue não é mio, raposa. — Foi um interrogatório que acabou em tortura, não é? Assinto, mantendo meu olhar sério. Espero ver no rosto dela qualquer sinal de medo, alguma hesitação, mas Antonella continua firme, olhando diretamente para mim. — Esse é o meu mundo, Antonella — digo, meu tom mais grave, pesado de verdade. — Isso vai aconte
Antonella FontanaA música suave preenchia o ambiente, cada nota parecia ressoar em meu peito enquanto eu estava ali, nos braços de Vincenzo, dançando. O salão estava lindamente decorado para a ocasião, e todos os olhares estavam voltados para nós. Eu sabia que essa noite era crucial para nossa apresentação oficial como marido e mulher.O calor da mão dele em minhas costas era um lembrete constante de que, apesar de todos os desafios, estávamos juntos. Vincenzo inclinou-se levemente, sua respiração roçando minha orelha.— Você está magnífica esta noite, Antonella. — sussurrou, sua voz baixa enviando arrepios pela minha espinha.Senti meu rosto aquecer, e não consegui evitar sorrir. — Grazie, Vincenzo. Mas quem realmente impressionou foi você, com aquele discurso. Todos estavam pendurados em suas palavras.Os olhos dele brilharam com um orgulho contido, e por um momento, senti como se estivéssemos sozinhos no mundo, mesmo com todos os olhares atentos ao nosso redor.— Apenas fiz o que