CAPÍTULO 03

Um dia da caça, outro do caçador." 

(provérbio popular)

Baran Celikkol

Fecho a mão e dou um soco na mesa. O golpe é tão forte, que acabo derrubando todos os papéis que havia sobre ela no chão.

— Maldição! — grito furioso, pois a minha raiva é tanta que sinto um nó gigantesco se formando em minha garganta, sufocando-me ao ponto do meu rosto, enrijecido, ganhar um tom avermelhado e meus olhos ficarem flamejantes. Naquele momento, a minha vontade era avançar em cima do homem a minha frente e acabar com sua vida.

Assim como eu, Massimo foi treinado para ser um mercenário da máfia e sabe que um alvo jamais poderá escapar, no entanto, embora tenha aniquilado Guilherme Colombo e feito uma verdadeira chacina ao matar não somente ele, como sua esposa e todos os seus empregados. A herdeira do maldito escapou levando com ela a informação que ao chegar às mãos dos meus inimigos, pode ser um grande trunfo a ser usado, tanto sobre os interesses da nossa organização, como os meus planos em torna-me a autoridade máxima desde país, pode ser arruinado.

Se não fosse pela agenda de compromissos, eu mesmo iria atrás da m*****a fujona. Contudo, nem mesmo o demônio pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, eu passei anos respirando e vivendo pela nossa organização, porém, ao ter o controle das famílias que haviam se enraizado no solo americano e comandavam também o mundo obscuro. Eu, Baran Celikkol, decidi que não seria só temido por ser o dono do império mafioso, eu quero o poder em controlar a vida das pessoas, de ser admirado, idolatrado e respeitado por elas, e, sem perceberem, vão acabar se tornando somente fantoches manipulados por mim.

Acabo respirando fundo, meu olhar encontra o dele e antes que viesse com mais uma desculpa, eu me antecipo.

— Nem que seja preciso revirar o mundo pelo avesso. A desgraçada será encontrada, esteja onde estiver, e chegou a hora de Dimitri entrar em ação.

Meses depois...

Lisa Evans

Comecei a me remexer inquieta, de repente, senti um calafrio me envolvendo por inteira e um peso esmagador me deixando sem fôlego. Um cheiro forte de álcool invadiu minhas narinas, fazendo-me despertar, e nesse momento, totalmente alerta, o pânico tomou conta de mim e o ruído que escapou da minha boca, foi abafado pela mão grande e suada. Com os olhos muito abertos em meio à penumbra, senti minha garganta praticamente se fechando, pois, o nó que havia se formado, estava impedindo até a minha saliva de descer. Eu podia ouvir meu coração batendo forte e meu sangue pulsando freneticamente, comecei a me debater e estremeci de forma violenta ao ouvir a voz do homem que parecia carregada de desejo.

— Fique caladinha, eu sempre desejei você, pequena Vênus. Será tão gostoso que se tornará a minha putinha — grunhiu e arfando como um animal, ele escancarou as minhas pernas com força, deslizando uma de suas mãos pela  minha coxa direita. Sabendo qual seria o destino de sua mão diabólica,  eu comecei a espernear, tentando desesperadamente tirá-lo de cima de mim, porém, o brutamonte era muito forte.

De repente meu coração errou uma batida quando uma voz fraca ressoou no ambiente.

— Mãezinha...

Silêncio! 

Medo... Era tudo o que eu sentia naquele momento ao pensar que algo pudesse acontecer com o meu anjinho, mas, por ela, eu precisava reagir e aproveitando o momento de distração do infeliz que se virou rumo à cama onde minha princesa estava, era como se algo tivesse assumido o controle do meu corpo, me dando forças para empurrar o homem que caiu em um baque surdo no chão. Talvez pela sua embriaguez, eu tive uma chance de defesa, pois num pulo, me levantei e o abajur foi a única coisa que vi em minha frente. Contudo, o homem que até então estava esparramado sobre o chão frio, começou a se mexer e...

— Mamãe! Acorda! — a voz suave do anjo demostrava aflição e o meu corpo começou a ser sacudindo, arrancando-me das profundezas do meu desespero. 

Tudo foi um terrível e abominável pesadelo.

Meus olhos se abriram diante daquela ordem.  Meu rosto estava banhado pelo suor, meu corpo todo estava trêmulo e os batimentos ainda não tinham voltado ao normal.  Meu coração se apertou ao ver os olhos azuis arregalados e lágrimas transbordando deles.

— Ela estava com medo porque você não parava de se debater — disse Raquel, que estava ao lado da Mel.

— Deita aqui comigo, minha princesa — chamei com o coração apertado por ela ter presenciado minha aflição no pesadelo.

Todo o medo e as sensações ruins que me envolviam ao lembrar-me daquela m*****a noite, foram afastados quando ela subiu em cima da minha cama e o meu raio de sol, que nasceu para iluminar a minha vida, se juntou a mim. O calor do seu corpinho e o toque suave de sua pequena mão, alisando meu rosto, trouxe alívio ao meu coração.

— Está tudo bem, anjinho, você não precisa ficar preocupada — falei com a voz baixa para acalmá-la.

Depois de Mel ter se acalmado, tomei um banho e juntas, seguimos para a cozinha. Raquel como sempre, já havia feito o café da manhã.

— Você sem dúvidas foi um presente que cruzou o meu caminho — disse ao ficar poucos centímetros à sua frente.

— Eu que preciso agradecer por ter encontrado você — ela me envolve em um forte abraço e nós duas começamos a sorrir quando um ser pequenininho não quis ficar de fora.

— Vocês precisam me dar um abraço também.

Algum tempo depois...

Melanie havia ido para escola, então seguimos nossa rotina que consistia em limpar a casa, lavar roupa e preparar a comida. Depois do almoço, aproveitei para dormir, pois passaria longas horas em pé, já que meu turno no trabalho começava das 18h00min e ia até às 00h00min, quando as atividades enceravam no posto de gasolina.  Sendo hoje sexta feira, eu estava me preparando mentalmente para aguentar o grande fluxo de veículos que seriam abastecidos, contudo, eu só tinha que agradecer por ter encontrado o emprego que acabou sendo a minha salvação para ter o meu raio se sol ao meu lado.

Baran Celikkol

Mulheres, idosos e crianças, todos estavam eufóricos com a minha chegada. Mas estes eram uma constante desde que me envolvi com a política, anos atrás, e eu já estava acostumado. 

Cumprir os três principais requisitos para estar na posição que me encontro hoje, de acordo com a constituição do meu país, foi fácil, afinal, sou americano por nascimento, possuo residência fixa desde que me lembro, e estou na idade ideal. Meu maior desafio é outro.

Cada estado tem uma quantidade de delegados e para o candidato a Presidente ganhar, tem que conseguir o maior número de delegados e por isso, como tem alguns Estados que têm mais delegados, estou na luta para ser eleitos nesses locais. Uma infinidade de eventos e jantares lotam minha agenda nessa época e eu estou mais do que disposto a cumprir cada um deles, já que faz parte do caminho que me levará a Casa Branca.

O poder absoluto é o meu desejo e farei o que for necessário para obtê-lo.

Minha atenção é voltada para os disparos de vários flashes que são dados em minha direção e assumindo a minha postura de um bom samaritano e cidadão modelo, como venho fazendo, a cada passo dado, ostentando um largo sorriso no rosto, fui acenando para a multidão até chegar à entrada principal. Quando entrei no salão, todos os olhares caíram sobre mim ao ouvirem a voz do homem que anunciou a minha presença.

— Eu peço a todos uma salva de palmas para o futuro presidente do nosso país. O Sr. Baran Celikkol, aquele que dará a todos nós, dias melhores. Sem violência, deixando a paz reinar novamente em nossa sociedade.

Sorrio por dentro ao ouvir suas palavras, não sabendo o infeliz que o verdadeiro caos em breve fará parte de suas vidas. Todos bateram palmas, enquanto fui andando até o palco e ao encurtar a distância, assim que o microfone me foi repassado, comecei agradecendo a todos.

— Muito obrigado...

Nos momentos seguintes, comecei a falar sobre os meus projetos e todos me olhavam com admiração. Mas foi, minhas últimas palavras, que fez os tolos ficarem emocionados.

— Eu não quero somente governar uma grande nação — fiz uma expressão ensaiada. — Eu quero aprender com o povo para ser um bom presidente e um homem melhor. Que nós, o povo, através do instrumento da nossa democracia, podemos formar uma união mais perfeita — faço uma pausa olhando para eles, olho no olho. — Estou pedindo para cada um de vocês acreditarem, não na minha capacidade de provocar a mudança, mas na sua. Pois cada um carrega uma força impar dentro de si e juntos nós podemos mais. 

— Sim, nós podemos — grita um admirador, corroborando com minha fala.

— Sim, unidos faremos mais... — aponto para ele e continuo. — Obrigado a todos. E que Deus continue a abençoar os Estados Unidos da América.

Os aplausos e gritos de satisfação tomaram conta do recinto, e meu coração começou a bater num ritmo alucinante. Diante do cenário a minha frente, onde todos, principalmente as mulheres, exibiam um sorriso de orelha a orelha, naquele instante eu tive a constatação do porque existem tantos políticos corruptos no mundo. Algumas palavras bonitas, com falsas promessas e uma dúzia de boas ações, acabam por iludir aqueles que estão em busca de um salvador.

Uma hora depois...

Depois de minutos que pareciam não ter fim, agradeço mentalmente quando ao lado de Massimo, sigo rumo ao veículo que nos aguardava. Quase um minuto depois, já me encontrava dentro do carro, antes do automóvel entrar em movimento, o meu celular começou a vibrar.

Vendo de quem se tratava, levei ao ouvido e antes que eu dissesse qualquer coisa, sua voz se fez presente.

— Chefe, eu tenho as informações sobre o paradeiro da fujona.

As palavras que ouvi ao atender a ligação, fez com que o meu interior ficasse agitado em antecipação pela expectativa de finalmente enviar a desgraçada direto para as profundezas do inferno.

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