CAPITULO 07

“Carneirinho, carneirinho... Quantos seriam necessários?”

 

Minutos depois...

Baran Celikkol

Quando os meus olhos fizeram uma varredura pelo chão e se detiveram em uma única direção, uma onda de prazer e satisfação pairou sobre mim. Meus demônios, enfim, resolveram descansar e assim aguardar pela chegada de suas próximas vítimas. Em passos largos, fui em direção ao corredor onde aquela fedelha estava, será ela quem vai dar as informações que preciso.

Depois de algumas passadas, parei.

— Te achei carneirinho 81. Agora vou procurar o 82...

Fiquei observando o pequeno ser que mantinha o bracinho, curvando na testa servindo de suporte, enquanto ele estava junto à parede. Quando ela chegou ao número 100, se virou em minha direção, mas antes que dissesse algo, me antecipei.

— Até quanto você sabe contar?

— Eu sei até 300 — disse exibindo uma expressão de quem se achava muito inteligente. De certo era, já que falava perfeitamente bem para sua idade e não passou despercebido por mim, que era dona de um QI super avançado, só não conseguia entender por que ela, em vez de estar preocupada com aquela m*****a, se mostrava tão familiarizada com a minha pessoa, como se já me conhecesse há bastante tempo. Afasto as dúvidas quando ela voltou a falar.

— Minha mamãe me ensinou.

— Muito bom, quando você chegar nesse número, vou te ensinar uma brincadeira nova.

— Oba! — apesar da inteligência aguçada, é perceptível sua ingenuidade.

Ela ficou na mesma posição de minutos atrás e continuou.

— Carneirinho 101 eu já estou indo.

Com um giro nos calcanhares, meus pés me arrastam novamente até a cozinha e ao chegar ao ambiente, livro-me do meu sobretudo  e toda minha atenção se volta para o motivo pelo qual minha camisa branca estava sendo envolvida pelo líquido avermelhado. Retiro a peça de roupa do meu corpo, ligo o fogo e pego uma faca, enquanto o objeto esquenta, as lembranças de minutos atrás tomam conta da minha mente.

No exato momento que a bala rasgou a minha carne. Uma sensação intensa e avassaladora de raiva me dominou. A adrenalina percorreu meu corpo, queimando minhas veias e fervendo meu sangue. Meus monstros internos estavam duelando entre si e tentavam assumir o controle do meu corpo, mas o ódio que se acumulou em cada fibra pulsante do meu ser era descomunal, eu não precisaria deles para acabar com aquela miserável, sentir o líquido denso e quente encharcando a peça de roupa, devido a sua ousadia, era motivo mais do que suficiente para que eu sozinho, a enviasse para fazer companhia ao seu pai traidor.

Volto à realidade e olho o objeto que ganhou um tom alaranjado na ponta, olho em volta à procura de um pano de prato, quando encontro, Limpo o excesso de sangue do local, segurando a faca, conduzo-a até o buraco latejante em minha barriga, este, continua sangrando com certa abundância, é necessário estancar o quanto antes, mas antes... Sem hesitar, enfio-a em minha carne, movimentando-a sem parar, travo os dentes em desdém, sinto gotas de suor formar-se em minha testa pelo esforço em procurar a bala, e depois de alguns minutos, consigo extrair o projétil que estava alojado em meu abdômen. Embora pequeno, é capaz de fazer um belo estrago e algumas vezes podem ser letais. Com o procedimento feito, pressiono o pano, depois o deixo de lado, largo a faca e com a minha camisa em mãos, inicio uma compressão no local e logo depois vou à procura de alguma coisa que sirva de primeiros socorros, encontro uma maleta que estava em um compartimento do armário. Em posse do kit, entre alguns remédios que a maioria eram infantis, encontrei um antisséptico, que despejei todo no ferimento, gases, com as quais cobri o ferimento e uma atadura, fui enrolando-a em volta do meu corpo, cobrindo-o para conter a hemorragia que já não era tão forte.

Minutos depois

Já estava usando o meu casaco e fiz algumas ligações, então em breve a cavalaria iria chegar.  Voltei novamente para o corredor e a garotinha estava no último número.

— Acabei moço bonito — fala ostentando um largo sorriso e todo aquele magnetismo vindo de seu gesto causa-me um terrível desconforto.

— Então agora me mostre o seu quarto.

Suas perninhas começaram a se mover pelo corredor e só parou quando chegou ao cômodo. Havia uma cama infantil toda rosa e outra de casal.

— Quem dorme ali? — apontei.

— A mamãe e quando quero ficar juntinho dela, eu durmo também.

Nos momentos seguintes, a garota que falava pelos cotovelos, me revelou que além dela e da mãe, só morava a tia Quelzinha, não sabendo ela que esta desgraçada já estava ardendo no fogo do inferno. Por alguns minutos, me vi confuso sobre o casal e a garota da foto que vi no porta retrato que tinha na sala, ela disse que era sua mãe e seus avós, que estavam agora no céu.  Olhei para a fedelha, que continuava falando, dizendo que já havia me visto várias vezes na TV e queria ser tão inteligente quanto eu. Sendo a tal Lisa sua mãe, esta logo estaria junto aos pais e o destino da faladeira a minha frente, vai depender de quão rápido sua mãe me entregar o que é meu e se realmente tiver entregado aos malditos russos qualquer informação, nenhuma delas duas sairá com vida.

Lisa Evans

Passei boa parte do percurso para casa, sentindo novamente aquele intenso desconforto, como uma sensação de mau presságio. 

Depois de entregar a sacola com a comida para as meninas, já que não gostava de jantar no serviço, continuo o meu caminho sentindo o chão duro sob meus pés. Quando me encontro a uns passos de distância da entrada da minha casa, de repente, eu me arrepio dos pés à cabeça, sinto um calafrio percorrer-me o corpo inteiro, deixando-o ligeiramente tremulo.

— O que está acontecendo comigo hoje?

Ignoro aquela inquietação e depois de algumas passadas, já estou em frente à porta. Assim que levo a chave de encontro à fechadura, acho estranho a porta estar somente encostada e ao adentrar o ambiente, meu corpo todo entra em alerta total. Meu primeiro pensamento é a Mel, minha garganta parece que tem um caroço enorme, sufocando-me e ao me deparar com uma poça de sangue no chão, meu coração sofre um baque e eu me preparo para o pior. 

À medida que vou andando, vejo que uma trilha se formar pelo corredor.

— Amiga? — chamo na intenção de acender alguma esperança em mim.

O silêncio é predominante, prossigo com passos vacilantes, e paro horrorizada, sentindo imediatamente meu estômago embrulhar. 

Eu engasgo uma e outra vez, sentindo que ia vomitar. Nada saiu, enquanto eu sufocava com minha própria respiração, desesperada.

— Raquel! — entro em pânico ao ver um braço sujo de sangue sobre o chão frio e mais adiante uma perna. Um choque violentíssimo me ataca o coração, fazendo meus batimentos acelerarem ainda mais, como se fosse saltar do meu peito. 

Paro por alguns segundos, e num esforço quase sobre-humano, continuei a caminhar, porém, mais adiante havia outro braço. Senti uma ânsia de vômito me invadir, subindo aquele amargo garganta a cima; fechei a boca apertando os dentes um contra o outro, tentando segurar-me para não vomitar, logo depois dei mais alguns passos adiante e quando chego à cozinha, no instante que vejo o que sobrou do corpo da minha amiga, caído em uma poça de sangue, sinto uma pressão pesada em meu peito, o que tornou ainda mais difícil a minha respiração, sinto minhas pernas pesadas e desabo sobre os seus restos com lágrimas transbordando pelo meu rosto.

— Melanie! — grito.

Meus membros inferiores, que estavam fracos, ganharam forças e saí correndo em busca daquela que é tudo em minha vida. Contudo, quando cheguei à sala, pensei em pedir socorro, mas engoli em seco a minha vontade, minha garganta ficou tão seca que queimava. Minhas pernas vacilaram, meu coração palpitou descompassado e quase saí do meu corpo, quando vi a imagem que se formou em minha frente. Meu coração parou de bater por alguns segundos, apertei os olhos, incrédula, e logo em seguida meus batimentos cardíacos dispararam.

— Mamãe!

Meu coração jamais havia batido tanto como estava batendo agora e um alívio que não sei dimensionar me invadiu ao vê-la. Todavia, estremeci em pavor, nunca senti um medo assim antes, causado somente pelo som da voz fria e raivosa que penetrou em meus ouvidos e passou por toda a minha carne como se a estivesse dilacerando.

— Então, você é o meu próximo alvo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo