“Carneirinho, carneirinho... Quantos seriam necessários?”
Minutos depois...Baran CelikkolQuando os meus olhos fizeram uma varredura pelo chão e se detiveram em uma única direção, uma onda de prazer e satisfação pairou sobre mim. Meus demônios, enfim, resolveram descansar e assim aguardar pela chegada de suas próximas vítimas. Em passos largos, fui em direção ao corredor onde aquela fedelha estava, será ela quem vai dar as informações que preciso.Depois de algumas passadas, parei.— Te achei carneirinho 81. Agora vou procurar o 82...Fiquei observando o pequeno ser que mantinha o bracinho, curvando na testa servindo de suporte, enquanto ele estava junto à parede. Quando ela chegou ao número 100, se virou em minha direção, mas antes que dissesse algo, me antecipei.— Até quanto você sabe contar?— Eu sei até 300 — disse exibindo uma expressão de quem se achava muito inteligente. De certo era, já que falava perfeitamente bem para sua idade e não passou despercebido por mim, que era dona de um QI super avançado, só não conseguia entender por que ela, em vez de estar preocupada com aquela m*****a, se mostrava tão familiarizada com a minha pessoa, como se já me conhecesse há bastante tempo. Afasto as dúvidas quando ela voltou a falar.— Minha mamãe me ensinou.— Muito bom, quando você chegar nesse número, vou te ensinar uma brincadeira nova.— Oba! — apesar da inteligência aguçada, é perceptível sua ingenuidade.Ela ficou na mesma posição de minutos atrás e continuou.— Carneirinho 101 eu já estou indo.Com um giro nos calcanhares, meus pés me arrastam novamente até a cozinha e ao chegar ao ambiente, livro-me do meu sobretudo e toda minha atenção se volta para o motivo pelo qual minha camisa branca estava sendo envolvida pelo líquido avermelhado. Retiro a peça de roupa do meu corpo, ligo o fogo e pego uma faca, enquanto o objeto esquenta, as lembranças de minutos atrás tomam conta da minha mente.No exato momento que a bala rasgou a minha carne. Uma sensação intensa e avassaladora de raiva me dominou. A adrenalina percorreu meu corpo, queimando minhas veias e fervendo meu sangue. Meus monstros internos estavam duelando entre si e tentavam assumir o controle do meu corpo, mas o ódio que se acumulou em cada fibra pulsante do meu ser era descomunal, eu não precisaria deles para acabar com aquela miserável, sentir o líquido denso e quente encharcando a peça de roupa, devido a sua ousadia, era motivo mais do que suficiente para que eu sozinho, a enviasse para fazer companhia ao seu pai traidor.Volto à realidade e olho o objeto que ganhou um tom alaranjado na ponta, olho em volta à procura de um pano de prato, quando encontro, Limpo o excesso de sangue do local, segurando a faca, conduzo-a até o buraco latejante em minha barriga, este, continua sangrando com certa abundância, é necessário estancar o quanto antes, mas antes... Sem hesitar, enfio-a em minha carne, movimentando-a sem parar, travo os dentes em desdém, sinto gotas de suor formar-se em minha testa pelo esforço em procurar a bala, e depois de alguns minutos, consigo extrair o projétil que estava alojado em meu abdômen. Embora pequeno, é capaz de fazer um belo estrago e algumas vezes podem ser letais. Com o procedimento feito, pressiono o pano, depois o deixo de lado, largo a faca e com a minha camisa em mãos, inicio uma compressão no local e logo depois vou à procura de alguma coisa que sirva de primeiros socorros, encontro uma maleta que estava em um compartimento do armário. Em posse do kit, entre alguns remédios que a maioria eram infantis, encontrei um antisséptico, que despejei todo no ferimento, gases, com as quais cobri o ferimento e uma atadura, fui enrolando-a em volta do meu corpo, cobrindo-o para conter a hemorragia que já não era tão forte.Minutos depoisJá estava usando o meu casaco e fiz algumas ligações, então em breve a cavalaria iria chegar. Voltei novamente para o corredor e a garotinha estava no último número.— Acabei moço bonito — fala ostentando um largo sorriso e todo aquele magnetismo vindo de seu gesto causa-me um terrível desconforto.— Então agora me mostre o seu quarto.Suas perninhas começaram a se mover pelo corredor e só parou quando chegou ao cômodo. Havia uma cama infantil toda rosa e outra de casal.— Quem dorme ali? — apontei.— A mamãe e quando quero ficar juntinho dela, eu durmo também.Nos momentos seguintes, a garota que falava pelos cotovelos, me revelou que além dela e da mãe, só morava a tia Quelzinha, não sabendo ela que esta desgraçada já estava ardendo no fogo do inferno. Por alguns minutos, me vi confuso sobre o casal e a garota da foto que vi no porta retrato que tinha na sala, ela disse que era sua mãe e seus avós, que estavam agora no céu. Olhei para a fedelha, que continuava falando, dizendo que já havia me visto várias vezes na TV e queria ser tão inteligente quanto eu. Sendo a tal Lisa sua mãe, esta logo estaria junto aos pais e o destino da faladeira a minha frente, vai depender de quão rápido sua mãe me entregar o que é meu e se realmente tiver entregado aos malditos russos qualquer informação, nenhuma delas duas sairá com vida.Lisa Evans
Passei boa parte do percurso para casa, sentindo novamente aquele intenso desconforto, como uma sensação de mau presságio. Depois de entregar a sacola com a comida para as meninas, já que não gostava de jantar no serviço, continuo o meu caminho sentindo o chão duro sob meus pés. Quando me encontro a uns passos de distância da entrada da minha casa, de repente, eu me arrepio dos pés à cabeça, sinto um calafrio percorrer-me o corpo inteiro, deixando-o ligeiramente tremulo.— O que está acontecendo comigo hoje?Ignoro aquela inquietação e depois de algumas passadas, já estou em frente à porta. Assim que levo a chave de encontro à fechadura, acho estranho a porta estar somente encostada e ao adentrar o ambiente, meu corpo todo entra em alerta total. Meu primeiro pensamento é a Mel, minha garganta parece que tem um caroço enorme, sufocando-me e ao me deparar com uma poça de sangue no chão, meu coração sofre um baque e eu me preparo para o pior. À medida que vou andando, vejo que uma trilha se formar pelo corredor.— Amiga? — chamo na intenção de acender alguma esperança em mim.O silêncio é predominante, prossigo com passos vacilantes, e paro horrorizada, sentindo imediatamente meu estômago embrulhar. Eu engasgo uma e outra vez, sentindo que ia vomitar. Nada saiu, enquanto eu sufocava com minha própria respiração, desesperada.— Raquel! — entro em pânico ao ver um braço sujo de sangue sobre o chão frio e mais adiante uma perna. Um choque violentíssimo me ataca o coração, fazendo meus batimentos acelerarem ainda mais, como se fosse saltar do meu peito. Paro por alguns segundos, e num esforço quase sobre-humano, continuei a caminhar, porém, mais adiante havia outro braço. Senti uma ânsia de vômito me invadir, subindo aquele amargo garganta a cima; fechei a boca apertando os dentes um contra o outro, tentando segurar-me para não vomitar, logo depois dei mais alguns passos adiante e quando chego à cozinha, no instante que vejo o que sobrou do corpo da minha amiga, caído em uma poça de sangue, sinto uma pressão pesada em meu peito, o que tornou ainda mais difícil a minha respiração, sinto minhas pernas pesadas e desabo sobre os seus restos com lágrimas transbordando pelo meu rosto.— Melanie! — grito.Meus membros inferiores, que estavam fracos, ganharam forças e saí correndo em busca daquela que é tudo em minha vida. Contudo, quando cheguei à sala, pensei em pedir socorro, mas engoli em seco a minha vontade, minha garganta ficou tão seca que queimava. Minhas pernas vacilaram, meu coração palpitou descompassado e quase saí do meu corpo, quando vi a imagem que se formou em minha frente. Meu coração parou de bater por alguns segundos, apertei os olhos, incrédula, e logo em seguida meus batimentos cardíacos dispararam.— Mamãe!Meu coração jamais havia batido tanto como estava batendo agora e um alívio que não sei dimensionar me invadiu ao vê-la. Todavia, estremeci em pavor, nunca senti um medo assim antes, causado somente pelo som da voz fria e raivosa que penetrou em meus ouvidos e passou por toda a minha carne como se a estivesse dilacerando.— Então, você é o meu próximo alvo.“Nem tudo o que queremos na nossa vida, vem da maneira que esperamos.” Lisa EvansMeu interior agitou-se, fazendo um arrepio desconhecido correr pela minha espinha. Os pelos dos meus braços se arrepiaram e o medo irradiou por todo o meu corpo. O homem que até então era objeto de minha admiração e que poderia trazer conforto diante de tudo o que presenciei em minha casa, ao contrário, trouxe um terror nunca sentido. Abri e fechei a boca, sem que saísse palavra alguma, meu pânico era palpável, pois estava incrédula e me negava a acreditar que o homem íntegro, um protetor, capaz de fazer tudo para salvar vidas, na verdade era um monstro. Eu fiquei gélida, sentia como se o sangue do meu rosto tivesse se esvaído ao ver que seus olhos ficaram flamejantes e aterrorizantes. Um exímio predador observando sua presa. No olhar que me avaliava da cabeça aos pés, fazendo-me sentir calafrios como se ele pudesse entrar em meu corpo e arrancar minha alma, eu podia ver um verdadeiro lobo em pele d
Capítulo 09“Por mais sombria que venha a se tornar a sua estrada, não pare de caminhar. Só assim chegará a luz.” Na manhã seguinte... Lisa EvansOs meus pulsos e tornozelos estão doloridos, sinto uma onda de frio por todo o meu corpo, um zumbido assola meus ouvidos e minha cabeça está doendo como se fosse estourar a qualquer momento. “Que tipo de pesadelo é esse que faz com que sintamos como se fosse real?” — penso tentando me mover, sem sucesso.Forço-me a abrir os olhos e lentamente eles vão se habituando a pouca claridade do lugar. A minha cabeça está pesada, minha mente completamente enevoada, de tal forma que nem eu mesma consigo me encontrar. Aos poucos as lembranças vão se tornando cada vez mais claras. E, com elas o medo que se apodera de todo o meu corpo. Não foi um pesadelo, estremeço dos pés à cabeça.— Mel! — seu nome sai como um sussurro rouco rasgando minha garganta.Desesperada, me levanto, sinto uma leve tontura, mas forço-me a andar, porém, não consigo ch
Nada é em vão. Nenhuma folha cai no chão sem motivo, da mesma forma que ninguém sofre à toa.”Baran CelikkolEstou nitidamente mal-humorado. Quando entrei no COVIL DA MORTE, já tinha visto pelas câmeras de monitoramento que aquela atrevida estava acordada. Passei alguns minutos me deliciando do seu desespero, do medo que a envolvia enquanto sua visão se ajustava à claridade ela foi percebendo alguns detalhes do lugar, porém, toda euforia que eu estava sentindo ao ver suas feições no momento que seus membros começaram a ser esticados, aos poucos foi dando lugar à raiva e esta me dominou. Uma boneca de porcelana, que erroneamente julguei que na primeira tentativa de obter a informação, ela se renderia, contudo, embora sentindo dor, ela mantinha-se inabalável, pois sua força interior era grande e poderosa.Foram minutos de pura agonia e em certo momento, ao olhar no fundo dos seus olhos e ouvir suas palavras, eu tive a constatação que a infeliz desejava era morte, isto eu lhe daria, ma
Lisa EvansO pânico que envolveu o meu corpo, está me impedindo de abrir os meus olhos. Eu senti que os meus braços e pernas estavam livres, porém, estão doloridos e pesados. Quando eu tinha seis anos, acabei caindo e fraturando o braço direito, eu chorei tanto que os meus pais começaram a chorar junto comigo e naquele momento, eu na minha inocência, acreditei que fosse a pior dor do mundo. Eu jamais havia pensado que um simples movimento, que mesmo continuando aparentemente intacto, eu pudesse sentir tanta dor e ao mesmo tempo, alívio, quando os movimentos calculados paravam. Prazer é a palavra que descreve as feições que vi no rosto do homem que emanava uma aura tão escura quanto seu coração. Teve momentos que eu achei que meus ossos seriam quebrados em vários pedaços, houve segundos que eu desejei a morte, só para encontrar o alívio eterno que almejava, mas, eu sabia que o diabo não iria me matar, não tão rápido. Baran, o nome que tem como significado "nobre guerreiro" e tal
Baran CelikkolMeu olhar foi do pequeno objeto envolvido pelo sangue em minhas mãos, para o rosto da desgraçada. Seu corpo estava trêmulo, como se sua alma estivesse abandonando-a. Sua face ficou pálida como se o sangue estivesse sido drenado do seu rosto. Fui tomado por uma sensação prazerosa ao ver o sofrimento da infeliz, que até o momento não havia se demostrado tão frágil ao ponto de não conter suas emoções. Baran Celikkol, o garoto que vivia cheio de esperanças, mas que conheceu de forma dura e severa, o lado cruel da vida, transformou-se em um monstro. Dizem que ao matar alguém pela primeira vez, pode causar danos e te deixar assombrado, mas comigo foi diferente, pois derramar o sangue daquele tirano foi algo que me fez sentir um prazer colossal e inexplicável. Naquele momento, o pobre menino que nem sabia que tinha uma besta dentro de si, já não era somente um sobrevivente, um dia ele foi um anjo, mas sua escolha foi se transformar em um demônio capaz de tudo para jamais volta
Baran CelikkolSuas palavras entram cortando meus ouvidos de forma brutal e se espalham por todo o meu corpo, causando uma explosão em minhas veias. Foi inevitável ser torturado por lembranças que não posso controlar. Alguns anos atrás... Dois meses após ter meu corpo marcado por aquele animal, que começou a agredir com mais frequência a minha mãe, pela primeira vez em muitos dias, ela estava lúcida e se encontrava comigo no quarto, não que eu precisasse de ajuda para fazer o meu dever da escola. Mas eram momentos tão raros, que me fazia de desentendido, só para tê-la próxima a mim. Apesar de tanto sofrimento, ver o sorriso em seu rosto me fez lembrar como éramos felizes quando o meu pai estava vivo, seis anos de muito amor, onde ainda acreditava que estava no paraíso, no entanto, bastou somente dois anos para que eu viesse a conhecer o próprio inferno.Naquele momento, eu me encontrava feliz e foram os últimos momentos que passei ao seu lado. Aquele foi o último sorriso que ganh
Quando você chega ao limite de toda luz que conhece e está a ponto de ir de encontro à escuridão; Fé é saber que uma dessas coisas vai acontecer: vai haver chão para continuar ou aprenderá a voar.” Lisa EvansEu estava atônita diante das palavras do ser cruel por quem vinha a tanto tempo nutrindo muito mais que admiração, era um sentimento que fazia o meu coração disparar. Contudo, tudo que sinto agora é nojo e uma raiva que me queima por dentro, como se tivesse fogo no meu sangue, correndo em minhas veias, me incendiando por dentro. Ele deixou o ambiente e tudo que vinha em minha mente era o rosto da minha pequena, do seu primeiro sorriso, do quanto a sua chegada trouxe luz e vida a nossa família. Os meus pais a amaram muito e mesmo ela sendo tão pequena, aquele acidente que tirou as duas pessoas que tanto eu amava, mudou o rumo das nossas vidas. Eu falhei na promessa que fiz de que sempre iria protegê-la, que faria tudo para mantê-la a salvo, daria até minha própria vida pa
Antes de ferir alguém, pense na lei da ação e reação, pois um pedido de desculpas não fechará a ferida.” Baran CelikkolForam minutos de tortura. Embora, meu interesse não fosse matá-la naquele momento e sim mostrar o que acontece com quem cruza o meu caminho e abalar ainda mais o seu estado psicológico, fazendo com que ela acabe dando-me a informação que desejo. Porém, ao contrário de muitos que passaram pela tortura gelada e suplicavam pela sua miserável vida. Lisa, alguém fisicamente tão frágil, todavia, se mostrou uma verdadeira guerreira e os únicos sons que saíram da sua boca foram os gemidos de dor. Mas, nem mesmo isso, ou as lágrimas que sabia que estava derramando, iria me parar. Assim que aumentei a potência do jato de água, minha concentração se voltou para o alvo a minha frente, meu corpo todo estava vibrando e uma onda de prazer e satisfação pairou sobre mim. Contudo, depois que a água cessou e ao ouvir sua última palavra antes de ser envolvida pelas sombras, algo de