“O esperado nos mantém fortes, firmes e em pé. O inesperado nos torna frágeis e propõe recomeços.” (Machado de Assis)
Algumas horas atrás... Baran CelikkolDimitri havia me passado as informações exatas de onde a m*****a estava. Eu tinha que reconhecer que foi um golpe de mestre se esconder em Wyoming, já que o pessoal liderado por Massimo, acreditando que ela não havia ido tão longe, descartou a possibilidade de procurá-la nos estados que ficam a oeste dos EUA.Quando já estava prestes a deixar o meu escritório, Massimo surgiu em minha frente. — Eu irei com você. — Não! Você vai ficar, assim como não quero nenhum soldado comigo — falei taxativo. — A fera que habita dentro de mim, há muito tempo não participa de uma boa caçada, encurralando sua presa e hoje à noite, o predador vai saciar a sua fome. — Mas e... — insistiu e eu o cortei.— Assunto encerrado. Você deixou aquela infeliz escapar e não vou hesitar em acabar com a sua vida ou de qualquer outro, se cometerem o mesmo erro duas vezes — sua expressão mostrava que não gostou do que ouviu. — Portanto, para o seu próprio bem, é melhor que eu elimine logo o alvo. Dito isso, caminhei para fora do ambiente e segui para pista de pouso particular que fica do lado esquerdo da minha mansão, já que a piscina ficava do lado direito. Uns dez minutos depois, já dentro do avião, enquanto fazia os procedimentos de segurança do jatinho, que já estava com os motores ligados, logo este começou a taxiar pela pista. Transcorrido tempo suficiente para ganhar velocidade, saiu do chão e começou a subir sem parar. Escolhi viajar durante a noite, pois com tantos paparazzis à solta nesse país, era bem capaz de alguma informação sobre minha chegada em Wyoming, vazar; e aquela desgraçada escapar novamente. Um carro já estava a minha espera assim que cheguei a Wheatland, uma pequena cidade do estado norte-americano, no condado de Platte, que tinha quase quatro mil habitantes. Não demorou uma hora para chegar ao seu esconderijo. Antes de descer do veículo, olho ao redor, observando com atenção e calculando meu próximo passo. A casa simples, com pouca luminosidade não aparentava ter nenhuma segurança, seria muito fácil, sorrio cínico.Salto do carro e um vento frio sopra suavemente, com a baixa temperatura, ajeito meu sobretudo e sigo em direção à porta. Minha memória traz a tona, as caçadas que participei, fazendo meu sangue correr veloz pelo meu sistema, trazendo um calor bem-vindo nesse momento. Todavia, as lembranças desaparecem num estalar de dedos, quando a mulher que estava incrédula e até então tinha os olhos arregalados, com o medo brilhando dentro do par de olhos azulados, tentou escapar e, antes que ela chegasse até o corredor que dava acesso a outro cômodo, alcancei-a e minha mão direita se enroscou em seus longos cabelos que pareciam chamas de fogo, não dando tempo de ela imaginar o que estava por vir, girei-a de frente para mim e toda minha fúria ficou concentrada em seu pescoço, assim como minha mão esquerda. — Podemos resolver essa situação do modo fácil e acabar logo com isso ou farei dos seus últimos minutos um verdadeiro inferno. — Vai à merda, seu maldito! — diz num tom raivoso, o que só aumentou meu desejo em arrancar o seu coração, porém, quando seus lábios se movem, fecho uma de minhas mãos em punho e um soco duro e pesado é desferido contra seu rosto e imediatamente o sangue começa a escorrer pelos cantos da sua boca, em seguida, arremesso o seu corpo contra o chão, fazendo um gemido de dor e agonia preencher o ambiente ao meu redor, o que soa como música para os meus ouvidos. Enquanto ela se contorce aos pés, meus olhos vão direto para um porta retrato, onde havia a imagem de um casal e uma garota de beleza estonteante que deve ter por volta de uns quinze anos. — Pelo visto, você tem um aliado, e será muito bom ter mais pessoas para participar da festa. Um esboço de um sorriso aparece em seu rosto machucado. — Você jamais terá o que tanto almeja. Uma risada diabólica ecoa no ar, então me agacho para ficar perto de seu rosto e olhando em seus olhos, digo. — Eu sempre tenho o que desejo, nem que eu tenha que conseguir da pior maneira. — Achou mesmo, seu Devil, que eu seria tão idiota — passa as costas da mão no queixo para limpar o sangue que escorre. Afoita, continua. — A uma altura dessas, minha amiga Lisa já entregou às pessoas certas, as informações que o meu pai, hesitou em fazê-lo, e acabou tendo sua vida interrompida pelos seus homens. O ódio inflama em minhas veias, minha mandíbula começa a se contrair, levanto-me e dou-lhes as costas, volto a ficar de frente ao ser desprezível em minha frente e um chute é dado em suas costelas, fazendo-a ir parar próximo da mesa. Quando eu estava prestes a avançar em sua direção, todos os meus sentidos ficam em alerta, lanço meu olhar em direção à porta quando ouço uma voz suave e uma criança surgir em minha frente. — Quelzinha! — a menina vestida com um pijama de urso e limpando os olhos, ao focar em mim, diz. — Moço bonito? — faz uma pausa limpando os olhos novamente com as pequenas mãos. Poucas coisas me deixam sem reação e essa é uma delas, estou paralisado, olhando para aquele ser com voz de anjo. — Você veio conhecer a Mel? Quando ela retirou as pequenas mãos do rosto, me dando a visão perfeita dos olhos num tom azul que nunca tinha visto antes e que pareciam duas safiras gigantes, todo o meu corpo se retesou. Eu tentei me mexer, mas era como se os meus membros inferiores tivessem grudados ao chão abaixo deles, a menina embora tão pequena, emana uma luz que faz com que algo grite dentro mim. O brilho dos seus olhos graúdos é intenso e toda aquela luz estava causando um desconforto que sentia como se uma lâmina afiada tivesse rasgando-me por dentro. Meu corpo estremeceu, suspirei pesadamente e assumi o controle dele quando o impacto contra a minha pele fez meus demônios se descontrolarem ainda mais. A criança começou a gritar ao ver o sangue escorrendo da minha barriga e uma fúria incontrolável pairou sobre mim, enquanto a miserável mantinha um sorriso de satisfação, segurando uma pistola que tinha um silenciador. A m*****a havia acabado de acordar não só os monstros que habitam no meu interior, mas também havia despertado algo tenebroso, de natureza sangrenta que clama por sangue e antes que ela puxasse novamente o gatilho, um próximo disparo é feito, mas desta vez por mim, acertando sua mão. E, feito um tigre faminto, avanço de encontro ao seu corpo, jogando-a de encontro ao piso novamente.— Eu posso tornar isso menos doloroso. — Você acha que sou idiota? — ela retruca de imediato. — Desde que entrou aqui, eu soube que se não conseguisse escapar, o meu destino seria a morte, não importa se eu entregue ou não o que você está procurando, eu não sairei viva. Então vai para inferno, seu maldito — grita aos berros, assustando a menina, que estava em choque, porém, começa a chorar. — Garotinha! — digo, por entre o choro, ela mantém sua atenção em mim. — Vá até o corredor, fique olhando para a parede e conte vários carneirinhos ou o lobo mau vai te pegar. — Você vai depois salvar a Mel? — para minha total surpresa, ela pergunta limpando os olhos.Fiz um gesto com a cabeça e a menina de imediato me obedeceu e saiu correndo. Novamente meu olhar buscou o rosto da fujona.— Você é um desgraçado — murmura em meio à dor. — Você se acha muito esperta, assim com o maldito traidor que tinha por pai. Se ainda estava nesse lugar, é porque não conseguiu seu verdadeiro propósito ou caso contrário você já havia dado um jeito de desaparecer. Agora, m*****a, você já não me é mais útil, pois sei exatamente como conseguir o que me pertence.— Ah, é... — sua voz falha. — E como vai fazer isso?— Isso você nunca vai saber — minha voz sai gélida, como navalhas afiadas.Puxo a adaga e levanto mão. — Te encontro nas profundezas do inferno, sua infeliz. — Nãooooooooo... O aroma ferroso preencheu o ar, invadindo minhas narinas e um calor alucinante me satisfazia por dentro.De uma forma ou de outra, eu sempre cobro minhas dívidas.“Carneirinho, carneirinho... Quantos seriam necessários?”Minutos depois...Baran CelikkolQuando os meus olhos fizeram uma varredura pelo chão e se detiveram em uma única direção, uma onda de prazer e satisfação pairou sobre mim. Meus demônios, enfim, resolveram descansar e assim aguardar pela chegada de suas próximas vítimas. Em passos largos, fui em direção ao corredor onde aquela fedelha estava, será ela quem vai dar as informações que preciso.Depois de algumas passadas, parei.— Te achei carneirinho 81. Agora vou procurar o 82...Fiquei observando o pequeno ser que mantinha o bracinho, curvando na testa servindo de suporte, enquanto ele estava junto à parede. Quando ela chegou ao número 100, se virou em minha direção, mas antes que dissesse algo, me antecipei.— Até quanto você sabe contar?— Eu sei até 300 — disse exibindo uma expressão de quem se achava muito inteligente. De certo era, já que falava perfeitamente bem para sua idade e não passou despercebido por mim, que era do
“Nem tudo o que queremos na nossa vida, vem da maneira que esperamos.” Lisa EvansMeu interior agitou-se, fazendo um arrepio desconhecido correr pela minha espinha. Os pelos dos meus braços se arrepiaram e o medo irradiou por todo o meu corpo. O homem que até então era objeto de minha admiração e que poderia trazer conforto diante de tudo o que presenciei em minha casa, ao contrário, trouxe um terror nunca sentido. Abri e fechei a boca, sem que saísse palavra alguma, meu pânico era palpável, pois estava incrédula e me negava a acreditar que o homem íntegro, um protetor, capaz de fazer tudo para salvar vidas, na verdade era um monstro. Eu fiquei gélida, sentia como se o sangue do meu rosto tivesse se esvaído ao ver que seus olhos ficaram flamejantes e aterrorizantes. Um exímio predador observando sua presa. No olhar que me avaliava da cabeça aos pés, fazendo-me sentir calafrios como se ele pudesse entrar em meu corpo e arrancar minha alma, eu podia ver um verdadeiro lobo em pele d
Capítulo 09“Por mais sombria que venha a se tornar a sua estrada, não pare de caminhar. Só assim chegará a luz.” Na manhã seguinte... Lisa EvansOs meus pulsos e tornozelos estão doloridos, sinto uma onda de frio por todo o meu corpo, um zumbido assola meus ouvidos e minha cabeça está doendo como se fosse estourar a qualquer momento. “Que tipo de pesadelo é esse que faz com que sintamos como se fosse real?” — penso tentando me mover, sem sucesso.Forço-me a abrir os olhos e lentamente eles vão se habituando a pouca claridade do lugar. A minha cabeça está pesada, minha mente completamente enevoada, de tal forma que nem eu mesma consigo me encontrar. Aos poucos as lembranças vão se tornando cada vez mais claras. E, com elas o medo que se apodera de todo o meu corpo. Não foi um pesadelo, estremeço dos pés à cabeça.— Mel! — seu nome sai como um sussurro rouco rasgando minha garganta.Desesperada, me levanto, sinto uma leve tontura, mas forço-me a andar, porém, não consigo ch
Nada é em vão. Nenhuma folha cai no chão sem motivo, da mesma forma que ninguém sofre à toa.”Baran CelikkolEstou nitidamente mal-humorado. Quando entrei no COVIL DA MORTE, já tinha visto pelas câmeras de monitoramento que aquela atrevida estava acordada. Passei alguns minutos me deliciando do seu desespero, do medo que a envolvia enquanto sua visão se ajustava à claridade ela foi percebendo alguns detalhes do lugar, porém, toda euforia que eu estava sentindo ao ver suas feições no momento que seus membros começaram a ser esticados, aos poucos foi dando lugar à raiva e esta me dominou. Uma boneca de porcelana, que erroneamente julguei que na primeira tentativa de obter a informação, ela se renderia, contudo, embora sentindo dor, ela mantinha-se inabalável, pois sua força interior era grande e poderosa.Foram minutos de pura agonia e em certo momento, ao olhar no fundo dos seus olhos e ouvir suas palavras, eu tive a constatação que a infeliz desejava era morte, isto eu lhe daria, ma
Lisa EvansO pânico que envolveu o meu corpo, está me impedindo de abrir os meus olhos. Eu senti que os meus braços e pernas estavam livres, porém, estão doloridos e pesados. Quando eu tinha seis anos, acabei caindo e fraturando o braço direito, eu chorei tanto que os meus pais começaram a chorar junto comigo e naquele momento, eu na minha inocência, acreditei que fosse a pior dor do mundo. Eu jamais havia pensado que um simples movimento, que mesmo continuando aparentemente intacto, eu pudesse sentir tanta dor e ao mesmo tempo, alívio, quando os movimentos calculados paravam. Prazer é a palavra que descreve as feições que vi no rosto do homem que emanava uma aura tão escura quanto seu coração. Teve momentos que eu achei que meus ossos seriam quebrados em vários pedaços, houve segundos que eu desejei a morte, só para encontrar o alívio eterno que almejava, mas, eu sabia que o diabo não iria me matar, não tão rápido. Baran, o nome que tem como significado "nobre guerreiro" e tal
Baran CelikkolMeu olhar foi do pequeno objeto envolvido pelo sangue em minhas mãos, para o rosto da desgraçada. Seu corpo estava trêmulo, como se sua alma estivesse abandonando-a. Sua face ficou pálida como se o sangue estivesse sido drenado do seu rosto. Fui tomado por uma sensação prazerosa ao ver o sofrimento da infeliz, que até o momento não havia se demostrado tão frágil ao ponto de não conter suas emoções. Baran Celikkol, o garoto que vivia cheio de esperanças, mas que conheceu de forma dura e severa, o lado cruel da vida, transformou-se em um monstro. Dizem que ao matar alguém pela primeira vez, pode causar danos e te deixar assombrado, mas comigo foi diferente, pois derramar o sangue daquele tirano foi algo que me fez sentir um prazer colossal e inexplicável. Naquele momento, o pobre menino que nem sabia que tinha uma besta dentro de si, já não era somente um sobrevivente, um dia ele foi um anjo, mas sua escolha foi se transformar em um demônio capaz de tudo para jamais volta
Baran CelikkolSuas palavras entram cortando meus ouvidos de forma brutal e se espalham por todo o meu corpo, causando uma explosão em minhas veias. Foi inevitável ser torturado por lembranças que não posso controlar. Alguns anos atrás... Dois meses após ter meu corpo marcado por aquele animal, que começou a agredir com mais frequência a minha mãe, pela primeira vez em muitos dias, ela estava lúcida e se encontrava comigo no quarto, não que eu precisasse de ajuda para fazer o meu dever da escola. Mas eram momentos tão raros, que me fazia de desentendido, só para tê-la próxima a mim. Apesar de tanto sofrimento, ver o sorriso em seu rosto me fez lembrar como éramos felizes quando o meu pai estava vivo, seis anos de muito amor, onde ainda acreditava que estava no paraíso, no entanto, bastou somente dois anos para que eu viesse a conhecer o próprio inferno.Naquele momento, eu me encontrava feliz e foram os últimos momentos que passei ao seu lado. Aquele foi o último sorriso que ganh
Quando você chega ao limite de toda luz que conhece e está a ponto de ir de encontro à escuridão; Fé é saber que uma dessas coisas vai acontecer: vai haver chão para continuar ou aprenderá a voar.” Lisa EvansEu estava atônita diante das palavras do ser cruel por quem vinha a tanto tempo nutrindo muito mais que admiração, era um sentimento que fazia o meu coração disparar. Contudo, tudo que sinto agora é nojo e uma raiva que me queima por dentro, como se tivesse fogo no meu sangue, correndo em minhas veias, me incendiando por dentro. Ele deixou o ambiente e tudo que vinha em minha mente era o rosto da minha pequena, do seu primeiro sorriso, do quanto a sua chegada trouxe luz e vida a nossa família. Os meus pais a amaram muito e mesmo ela sendo tão pequena, aquele acidente que tirou as duas pessoas que tanto eu amava, mudou o rumo das nossas vidas. Eu falhei na promessa que fiz de que sempre iria protegê-la, que faria tudo para mantê-la a salvo, daria até minha própria vida pa