CAPÍTULO 04

Cuidado com o que você deseja, porque pode se realizar.”

Baran Celikkol

Depois de ter dado a ligação por encerrada, o carro percorria a estrada velozmente, o silêncio que pairava dentro do ambiente foi interrompido pela voz do homem que estava ao meu lado.

— Passe-me às coordenadas que hoje mesmo eu darei um jeito na infeliz.

— Não! Desta vez serei eu quem vai à caça e ninguém ouse a tocar nela, até o momento que eu decida.

— Sua agenda está abarrotada de compromissos locais durante esses dias, uma viagem pode atrapalhar os seus planos — insiste.

Seus olhos buscaram os meus e certamente ele pode ver a fúria contida neles.

— De nada vai me adiantar seguir todo esse cronograma, se aquela m*****a conseguir fazer o que o seu pai pretendia — digo sentindo meu maxilar travar. — Fico surpreso que ainda não tenha feito, visto que, se as informações tivessem chegado até os russos, já teríamos tido uma amostra, então, desta vez ela não terá escapatória, pois os filhos de um traidor não merecem perdão, assim como o pai, ela cedo ou tarde agirá como uma víbora pronta para dar o bote.

Lisa Evans

Com o coração batendo descompassado no peito, não consigo desviar os meus olhos do telão à minha frente. Ele era, definitivamente, o homem mais avassaladoramente lindo que eu já tinha visto na vida. Seus cabelos eram mais negros que as asas da graúna; lembro imediatamente de quando estava estudando com a Mel, aves originárias da América do Sul e vi a foto do pássaro exótico. Voltando a prestar a atenção na imagem à minha frente, observei que seus olhos eram lindos, com sua íris em um tom de verde avelã, que era uma mistura de pigmentação em castanho e verde, mas que em frente às câmeras, o castanho predominava e ficava numa cor tão intensa, que parecia a lua quando estava alaranjada. Sua barba um tanto longa e preta como ébano, faz um belo contraste com seu rosto perfeito. Sinto um formigamento nas pontas dos dedos, desejosa por saber se aqueles pelos negros de sua barba seriam grossos, como aparentava, ou se seriam macios ao toque.

Suspiro fundo tentando controlar meu coração que parecia querer saltar para fora e tento afastar esses pensamentos indesejados. Embora tenha se passado algum tempo, não consigo superar os traumas do passado, pois as lembranças e os pesadelos sempre me atormentam, então, eu jurei que jamais confiaria em um homem. Entretanto, Baran Celikkol, o homem que nunca vi pessoalmente, apenas através da TV e revistas, e mesmo assim, é capaz de me transmitir sensações tão boas. Talvez se todos os homens fossem como ele, íntegros, solidários e não se preocupassem somente consigo mesmo, o mundo seria um lugar melhor de se viver. Eu espero do fundo do meu coração, que ele se torne o governante do nosso país. 

Não sei quanto tempo fiquei divagando, ainda mantinha meu olhar fixo em uma única direção, até que senti minhas bochechas esquentarem como se estivessem pegando fogo quando ouço a voz de Olivia.

— Terra para Lisa, você não está no país das maravilhas... — ela exibe um sorriso largo em seu rosto e não se segura ao ver como a minha face ficou. — Você parece um tomate de tão vermelha — uma gargalhada gostosa toma conta do ambiente. Depois que parou continuou a me zoar. — Amiga você toda vez que o vê na TV, fica no mundo da lua. Aliás, quem não ficaria, esse homem é um deus grego, se cruzasse o meu caminho, eu dava sem arrependimento.

Se eu já estava com o rosto ruborizado, ficou ainda pior com as palavras ditas por ela. Para mudar o foco, troquei de assunto e ficamos conversando por um tempo, porém, o movimento que antes estava fraco, começou a aumentar cada vez mais. Foram longas e árduas horas nesse ritmo, minha cabeça já estava a mil em razão do grande fluxo de veículos no estabelecimento.  Contudo, assim que o movimento foi se dissipando, restando somente um cliente e os funcionários, um sorriso surgiu entre meus lábios por ter chegado ao fim de mais um dia de trabalho.

— Obrigada, Senhor — agradeci ao final do atendimento, dando por encerrado meu expediente.

Algum tempo depois...

A van da empresa me deixou a alguns minutos de casa, já que ainda precisava deixar Olivia e o restante do pessoal. Enquanto caminho, sinto o vento frio tocando o meu rosto e embora cansada e com as pernas doloridas, nunca fiz questão que o carro me deixasse em frente à minha casa, até porque depois que eu e Melanie nos mudamos para cá, fiz algumas amizades e esse trajeto sempre foi feito por mim. Deixo os pensamentos de lado ao avistar duas mulheres se aproximando e quando elas param em minha frente, sua atenção ficou na sacola que estava em minhas mãos.

— Anjo!

Uma delas diz, pois era assim que me chamava desde que nossos caminhos se cruzaram. Amélia e Abigail são irmãs, e tem como profissão, ser garota de programa. Penalizada com a situação delas, sempre que voltava do trabalho, trazia algo para elas comerem, as duas viviam nessa vida desde adolescência, pois o padrasto tentou abusar delas e não tiveram alternativas, a não ser fugir, já que a mãe ainda insinuou que era culpa das duas e que viviam se oferecendo. Elas não desejaram viver à custa de seus corpos, mas as circunstâncias e as dificuldades enfrentadas as fizeram trilhar o caminho da luxúria.

As duas são bastante conhecidas no bairro e desde então, quando passo a noite por esse percurso, me sinto segura, pois em consideração a elas, ninguém jamais mexeu comigo. Entrego a marmita e prossigo adiante, ou é bem capaz de começar a sentir cãibras na rua. Uns cinco minutos depois, já estava em frente à minha casa, esta que acabei comprando com a venda da casa deixada pelos meus pais, um lugar que me trazia boas recordações, contudo, depois daquela noite que o pânico dominou todo o meu ser, eu não consegui mais ficar ali e tão pouco deixaria a Mel crescer naquele lugar, onde a qualquer momento, o dono dos meus pesadelos poderia aparecer.

Afasto as lembranças dolorosas, já que os meus olhos estavam ardendo e as lágrimas estavam prestes a se fazer presente. Assim que abro a porta, me deparo com Raquel sentada no sofá, com os olhos vidrados na tela da TV.

— Boa noite amiga.

— Boa noite, a Mel demorou a dormir, embirrou que ia esperar por você.

Minha bonequinha como sempre aprontando, vive lutando contra o sono, tentando esperar a minha chegada. Quando se empolga é como se tivesse no piloto automático. A menina desde o seu primeiro aninho de idade, começou a falar, mas depois da tragédia que se abateu sobre nossas vidas, acabou ficando um bom tempo em silêncio. Embora tão pequena, tudo que presenciou, a afetou bastante e o brilho dos seus olhos, que sempre foram tão intensos, desapareceu. Mas aos poucos ela foi voltando e agora está a todo vapor e fala até o que não deve. Sempre tenho muito cuidado nas coisas que falo em sua frente, pois aquele ser tão pequeno parece um gravador que vive reproduzindo tudo que ouve.

— Eu vou tomar um banho, estou morta de cansada — digo quando Raquel direciona sua atenção para o meu rosto, certamente estava se perguntando o que tanto eu estava pensando.

Com passos largos, caminho até o meu quarto e ao entrar no ambiente, fico assustada quando vejo sua cama vazia e ao girar o pescoço para o lado, a bonita está esparramada sobre a minha cama. Sorrio internamente e aproveito, corro para o banheiro para tomar o meu banho. Uns vinte minutos depois, já estava de pijama e até queria ficar conversando com Raquel, mas a dor em minhas pernas me deixa desmotivada. Após passar tantas horas em pé atendendo os clientes, tudo que desejo e dormir.

Acabo ajeitando a minha princesa e me deito ao seu lado. Tento dormir, mas os meus pensamentos se voltam para o homem que foi o único capaz de fazer o meu coração bater intensamente, a minha respiração ficar ofegante e me fez ter sensações inexplicáveis somente por saber da sua existência. Fiquei horas perdidas em meus pensamentos e antes de ser vencida pelo sono, eu só pensava e desejava uma única coisa.

"Algum dia eu terei o privilégio em conhecer pessoalmente Baran Celikkol e será um dia inesquecível em minha vida".

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