Cuidado com o que você deseja, porque pode se realizar.”
Baran CelikkolDepois de ter dado a ligação por encerrada, o carro percorria a estrada velozmente, o silêncio que pairava dentro do ambiente foi interrompido pela voz do homem que estava ao meu lado.— Passe-me às coordenadas que hoje mesmo eu darei um jeito na infeliz.— Não! Desta vez serei eu quem vai à caça e ninguém ouse a tocar nela, até o momento que eu decida.— Sua agenda está abarrotada de compromissos locais durante esses dias, uma viagem pode atrapalhar os seus planos — insiste.Seus olhos buscaram os meus e certamente ele pode ver a fúria contida neles.— De nada vai me adiantar seguir todo esse cronograma, se aquela m*****a conseguir fazer o que o seu pai pretendia — digo sentindo meu maxilar travar. — Fico surpreso que ainda não tenha feito, visto que, se as informações tivessem chegado até os russos, já teríamos tido uma amostra, então, desta vez ela não terá escapatória, pois os filhos de um traidor não merecem perdão, assim como o pai, ela cedo ou tarde agirá como uma víbora pronta para dar o bote.Lisa Evans
Com o coração batendo descompassado no peito, não consigo desviar os meus olhos do telão à minha frente. Ele era, definitivamente, o homem mais avassaladoramente lindo que eu já tinha visto na vida. Seus cabelos eram mais negros que as asas da graúna; lembro imediatamente de quando estava estudando com a Mel, aves originárias da América do Sul e vi a foto do pássaro exótico. Voltando a prestar a atenção na imagem à minha frente, observei que seus olhos eram lindos, com sua íris em um tom de verde avelã, que era uma mistura de pigmentação em castanho e verde, mas que em frente às câmeras, o castanho predominava e ficava numa cor tão intensa, que parecia a lua quando estava alaranjada. Sua barba um tanto longa e preta como ébano, faz um belo contraste com seu rosto perfeito. Sinto um formigamento nas pontas dos dedos, desejosa por saber se aqueles pelos negros de sua barba seriam grossos, como aparentava, ou se seriam macios ao toque.Suspiro fundo tentando controlar meu coração que parecia querer saltar para fora e tento afastar esses pensamentos indesejados. Embora tenha se passado algum tempo, não consigo superar os traumas do passado, pois as lembranças e os pesadelos sempre me atormentam, então, eu jurei que jamais confiaria em um homem. Entretanto, Baran Celikkol, o homem que nunca vi pessoalmente, apenas através da TV e revistas, e mesmo assim, é capaz de me transmitir sensações tão boas. Talvez se todos os homens fossem como ele, íntegros, solidários e não se preocupassem somente consigo mesmo, o mundo seria um lugar melhor de se viver. Eu espero do fundo do meu coração, que ele se torne o governante do nosso país. Não sei quanto tempo fiquei divagando, ainda mantinha meu olhar fixo em uma única direção, até que senti minhas bochechas esquentarem como se estivessem pegando fogo quando ouço a voz de Olivia.— Terra para Lisa, você não está no país das maravilhas... — ela exibe um sorriso largo em seu rosto e não se segura ao ver como a minha face ficou. — Você parece um tomate de tão vermelha — uma gargalhada gostosa toma conta do ambiente. Depois que parou continuou a me zoar. — Amiga você toda vez que o vê na TV, fica no mundo da lua. Aliás, quem não ficaria, esse homem é um deus grego, se cruzasse o meu caminho, eu dava sem arrependimento.Se eu já estava com o rosto ruborizado, ficou ainda pior com as palavras ditas por ela. Para mudar o foco, troquei de assunto e ficamos conversando por um tempo, porém, o movimento que antes estava fraco, começou a aumentar cada vez mais. Foram longas e árduas horas nesse ritmo, minha cabeça já estava a mil em razão do grande fluxo de veículos no estabelecimento. Contudo, assim que o movimento foi se dissipando, restando somente um cliente e os funcionários, um sorriso surgiu entre meus lábios por ter chegado ao fim de mais um dia de trabalho.— Obrigada, Senhor — agradeci ao final do atendimento, dando por encerrado meu expediente.Algum tempo depois...A van da empresa me deixou a alguns minutos de casa, já que ainda precisava deixar Olivia e o restante do pessoal. Enquanto caminho, sinto o vento frio tocando o meu rosto e embora cansada e com as pernas doloridas, nunca fiz questão que o carro me deixasse em frente à minha casa, até porque depois que eu e Melanie nos mudamos para cá, fiz algumas amizades e esse trajeto sempre foi feito por mim. Deixo os pensamentos de lado ao avistar duas mulheres se aproximando e quando elas param em minha frente, sua atenção ficou na sacola que estava em minhas mãos.— Anjo!Uma delas diz, pois era assim que me chamava desde que nossos caminhos se cruzaram. Amélia e Abigail são irmãs, e tem como profissão, ser garota de programa. Penalizada com a situação delas, sempre que voltava do trabalho, trazia algo para elas comerem, as duas viviam nessa vida desde adolescência, pois o padrasto tentou abusar delas e não tiveram alternativas, a não ser fugir, já que a mãe ainda insinuou que era culpa das duas e que viviam se oferecendo. Elas não desejaram viver à custa de seus corpos, mas as circunstâncias e as dificuldades enfrentadas as fizeram trilhar o caminho da luxúria.As duas são bastante conhecidas no bairro e desde então, quando passo a noite por esse percurso, me sinto segura, pois em consideração a elas, ninguém jamais mexeu comigo. Entrego a marmita e prossigo adiante, ou é bem capaz de começar a sentir cãibras na rua. Uns cinco minutos depois, já estava em frente à minha casa, esta que acabei comprando com a venda da casa deixada pelos meus pais, um lugar que me trazia boas recordações, contudo, depois daquela noite que o pânico dominou todo o meu ser, eu não consegui mais ficar ali e tão pouco deixaria a Mel crescer naquele lugar, onde a qualquer momento, o dono dos meus pesadelos poderia aparecer.Afasto as lembranças dolorosas, já que os meus olhos estavam ardendo e as lágrimas estavam prestes a se fazer presente. Assim que abro a porta, me deparo com Raquel sentada no sofá, com os olhos vidrados na tela da TV.— Boa noite amiga.— Boa noite, a Mel demorou a dormir, embirrou que ia esperar por você.Minha bonequinha como sempre aprontando, vive lutando contra o sono, tentando esperar a minha chegada. Quando se empolga é como se tivesse no piloto automático. A menina desde o seu primeiro aninho de idade, começou a falar, mas depois da tragédia que se abateu sobre nossas vidas, acabou ficando um bom tempo em silêncio. Embora tão pequena, tudo que presenciou, a afetou bastante e o brilho dos seus olhos, que sempre foram tão intensos, desapareceu. Mas aos poucos ela foi voltando e agora está a todo vapor e fala até o que não deve. Sempre tenho muito cuidado nas coisas que falo em sua frente, pois aquele ser tão pequeno parece um gravador que vive reproduzindo tudo que ouve.— Eu vou tomar um banho, estou morta de cansada — digo quando Raquel direciona sua atenção para o meu rosto, certamente estava se perguntando o que tanto eu estava pensando.Com passos largos, caminho até o meu quarto e ao entrar no ambiente, fico assustada quando vejo sua cama vazia e ao girar o pescoço para o lado, a bonita está esparramada sobre a minha cama. Sorrio internamente e aproveito, corro para o banheiro para tomar o meu banho. Uns vinte minutos depois, já estava de pijama e até queria ficar conversando com Raquel, mas a dor em minhas pernas me deixa desmotivada. Após passar tantas horas em pé atendendo os clientes, tudo que desejo e dormir.Acabo ajeitando a minha princesa e me deito ao seu lado. Tento dormir, mas os meus pensamentos se voltam para o homem que foi o único capaz de fazer o meu coração bater intensamente, a minha respiração ficar ofegante e me fez ter sensações inexplicáveis somente por saber da sua existência. Fiquei horas perdidas em meus pensamentos e antes de ser vencida pelo sono, eu só pensava e desejava uma única coisa."Algum dia eu terei o privilégio em conhecer pessoalmente Baran Celikkol e será um dia inesquecível em minha vida".“A jornada pode ser longa e demorada. Mas uma hora eu vou encontrar você. E aí será o fim...” Lisa Evans— Mel, você deve fazer uma bolinha em volta da letra que vem depois do M — falei calmamente, porém, a resposta veio logo em seguida.— Mamãe, eu sei fazer sozinha — disse a pessoa que se acha adulta, fazendo beicinho com uma pequena carranca.— Se é assim, não vou dizer a você que deve circular a letra P — disse segurando o riso quando ela começou a sacudir a cabeça em negativa.— Vou perguntar para tia Clara, se eu posso levar você comigo para escola.— Por que você vai fazer isso, Melanie? — faço uma cara de quem não sabe o verdadeiro motivo.— A senhora é grande, mas precisa aprender o alfabeto direito. Depois do M vem à letra N — coloca uma das mãozinhas no rosto, como se tivesse pensativa e depois prossegue. — Senta aqui que vou dizer desde o começo para você e a tia Quelzinha. A tia clara sempre diz que sou esperta, eu falei porque sou perita em falar. Pronto, tanto eu, co
“O esperado nos mantém fortes, firmes e em pé. O inesperado nos torna frágeis e propõe recomeços.” (Machado de Assis)Algumas horas atrás... Baran CelikkolDimitri havia me passado as informações exatas de onde a maldita estava. Eu tinha que reconhecer que foi um golpe de mestre se esconder em Wyoming, já que o pessoal liderado por Massimo, acreditando que ela não havia ido tão longe, descartou a possibilidade de procurá-la nos estados que ficam a oeste dos EUA. Quando já estava prestes a deixar o meu escritório, Massimo surgiu em minha frente. — Eu irei com você. — Não! Você vai ficar, assim como não quero nenhum soldado comigo — falei taxativo. — A fera que habita dentro de mim, há muito tempo não participa de uma boa caçada, encurralando sua presa e hoje à noite, o predador vai saciar a sua fome. — Mas e... — insistiu e eu o cortei.— Assunto encerrado. Você deixou aquela infeliz escapar e não vou hesitar em acabar com a sua vida ou de qualquer outro, se cometerem o mesmo erro
“Carneirinho, carneirinho... Quantos seriam necessários?”Minutos depois...Baran CelikkolQuando os meus olhos fizeram uma varredura pelo chão e se detiveram em uma única direção, uma onda de prazer e satisfação pairou sobre mim. Meus demônios, enfim, resolveram descansar e assim aguardar pela chegada de suas próximas vítimas. Em passos largos, fui em direção ao corredor onde aquela fedelha estava, será ela quem vai dar as informações que preciso.Depois de algumas passadas, parei.— Te achei carneirinho 81. Agora vou procurar o 82...Fiquei observando o pequeno ser que mantinha o bracinho, curvando na testa servindo de suporte, enquanto ele estava junto à parede. Quando ela chegou ao número 100, se virou em minha direção, mas antes que dissesse algo, me antecipei.— Até quanto você sabe contar?— Eu sei até 300 — disse exibindo uma expressão de quem se achava muito inteligente. De certo era, já que falava perfeitamente bem para sua idade e não passou despercebido por mim, que era do
“Nem tudo o que queremos na nossa vida, vem da maneira que esperamos.” Lisa EvansMeu interior agitou-se, fazendo um arrepio desconhecido correr pela minha espinha. Os pelos dos meus braços se arrepiaram e o medo irradiou por todo o meu corpo. O homem que até então era objeto de minha admiração e que poderia trazer conforto diante de tudo o que presenciei em minha casa, ao contrário, trouxe um terror nunca sentido. Abri e fechei a boca, sem que saísse palavra alguma, meu pânico era palpável, pois estava incrédula e me negava a acreditar que o homem íntegro, um protetor, capaz de fazer tudo para salvar vidas, na verdade era um monstro. Eu fiquei gélida, sentia como se o sangue do meu rosto tivesse se esvaído ao ver que seus olhos ficaram flamejantes e aterrorizantes. Um exímio predador observando sua presa. No olhar que me avaliava da cabeça aos pés, fazendo-me sentir calafrios como se ele pudesse entrar em meu corpo e arrancar minha alma, eu podia ver um verdadeiro lobo em pele d
Capítulo 09“Por mais sombria que venha a se tornar a sua estrada, não pare de caminhar. Só assim chegará a luz.” Na manhã seguinte... Lisa EvansOs meus pulsos e tornozelos estão doloridos, sinto uma onda de frio por todo o meu corpo, um zumbido assola meus ouvidos e minha cabeça está doendo como se fosse estourar a qualquer momento. “Que tipo de pesadelo é esse que faz com que sintamos como se fosse real?” — penso tentando me mover, sem sucesso.Forço-me a abrir os olhos e lentamente eles vão se habituando a pouca claridade do lugar. A minha cabeça está pesada, minha mente completamente enevoada, de tal forma que nem eu mesma consigo me encontrar. Aos poucos as lembranças vão se tornando cada vez mais claras. E, com elas o medo que se apodera de todo o meu corpo. Não foi um pesadelo, estremeço dos pés à cabeça.— Mel! — seu nome sai como um sussurro rouco rasgando minha garganta.Desesperada, me levanto, sinto uma leve tontura, mas forço-me a andar, porém, não consigo ch
Nada é em vão. Nenhuma folha cai no chão sem motivo, da mesma forma que ninguém sofre à toa.”Baran CelikkolEstou nitidamente mal-humorado. Quando entrei no COVIL DA MORTE, já tinha visto pelas câmeras de monitoramento que aquela atrevida estava acordada. Passei alguns minutos me deliciando do seu desespero, do medo que a envolvia enquanto sua visão se ajustava à claridade ela foi percebendo alguns detalhes do lugar, porém, toda euforia que eu estava sentindo ao ver suas feições no momento que seus membros começaram a ser esticados, aos poucos foi dando lugar à raiva e esta me dominou. Uma boneca de porcelana, que erroneamente julguei que na primeira tentativa de obter a informação, ela se renderia, contudo, embora sentindo dor, ela mantinha-se inabalável, pois sua força interior era grande e poderosa.Foram minutos de pura agonia e em certo momento, ao olhar no fundo dos seus olhos e ouvir suas palavras, eu tive a constatação que a infeliz desejava era morte, isto eu lhe daria, ma
Lisa EvansO pânico que envolveu o meu corpo, está me impedindo de abrir os meus olhos. Eu senti que os meus braços e pernas estavam livres, porém, estão doloridos e pesados. Quando eu tinha seis anos, acabei caindo e fraturando o braço direito, eu chorei tanto que os meus pais começaram a chorar junto comigo e naquele momento, eu na minha inocência, acreditei que fosse a pior dor do mundo. Eu jamais havia pensado que um simples movimento, que mesmo continuando aparentemente intacto, eu pudesse sentir tanta dor e ao mesmo tempo, alívio, quando os movimentos calculados paravam. Prazer é a palavra que descreve as feições que vi no rosto do homem que emanava uma aura tão escura quanto seu coração. Teve momentos que eu achei que meus ossos seriam quebrados em vários pedaços, houve segundos que eu desejei a morte, só para encontrar o alívio eterno que almejava, mas, eu sabia que o diabo não iria me matar, não tão rápido. Baran, o nome que tem como significado "nobre guerreiro" e tal
Baran CelikkolMeu olhar foi do pequeno objeto envolvido pelo sangue em minhas mãos, para o rosto da desgraçada. Seu corpo estava trêmulo, como se sua alma estivesse abandonando-a. Sua face ficou pálida como se o sangue estivesse sido drenado do seu rosto. Fui tomado por uma sensação prazerosa ao ver o sofrimento da infeliz, que até o momento não havia se demostrado tão frágil ao ponto de não conter suas emoções. Baran Celikkol, o garoto que vivia cheio de esperanças, mas que conheceu de forma dura e severa, o lado cruel da vida, transformou-se em um monstro. Dizem que ao matar alguém pela primeira vez, pode causar danos e te deixar assombrado, mas comigo foi diferente, pois derramar o sangue daquele tirano foi algo que me fez sentir um prazer colossal e inexplicável. Naquele momento, o pobre menino que nem sabia que tinha uma besta dentro de si, já não era somente um sobrevivente, um dia ele foi um anjo, mas sua escolha foi se transformar em um demônio capaz de tudo para jamais volta