Eu faço tudo por minha irmã, graças a isso estou metido dentro de um carro em uma viagem de seis horas. Quando eu a encontrasse iria matá-la. O que diabos ela tinha que vir fazer com as amigas em uma festa nesse fim de mundo?
Cheguei ao hotel de onde ela havia me ligado e a encontrei no saguão sentada em um sofá pequeno, encolhida no vestido minúsculo. Esquadrinhei o lugar que parecia mais uma casa de pulgas do que um hotel de verdade e me xinguei mentalmente por não ter colocado uma coleira nessa garota impulsiva. Como ela podia ser tão estúpida!— Mas que diabos você pensou que estava fazendo vindo para cá? — ela se levantou assim que escutou minha voz e correu em minha direção jogando seus braços ao redor do meu pescoço, me abraçando forte e isso me desarma.— Desculpa, desculpa. — Repetia ainda presa a mim.A afastei apenas para olhá-la melhor, seus olhos estavam vermelhos, mas com certeza era por não ter dormido a noite toda e não porque estava emocionada ao me ver. Ela adorava aprontar dessas sempre que tinha a chance.— Você está bem? Alguém fez alguma coisa com você? — perguntei examinando seu corpo.Que inferno essas garotas que não se vestiam direito, seu vestido não deixava muito para imaginação, o que me deixou ainda mais nervoso por saber o tipo de coisa que poderia ter acontecido com ela estando aqui sozinha.Peguei meu paletó e o coloquei sobre seus ombros enquanto a puxava para fora daquela espelunca.— Eu estou bem, quando chegamos a casa do cara eu percebi que o clima não estava legal e decidi vir procurar um hotel e parei aqui.— Que cara Magie? — rosnei com raiva por ter corrido riscos por causa de algum idiota.— Ashley veio atrás de um amigo dela, ela queria ficar com ele e...— Essa garota é louca, juro que eu ainda vou fazê-la ficar longe de você. — Essa maluca vivia metendo Magie no meio das suas loucuras. Se não tivessem praticamente crescido juntas eu já teria lhe dado um susto que a faria correr para o outro lado do planeta. — Vamos. — Murmurei calando meus pensamentos e a empurrando para dentro do carro, acreditando que aquela merda tinha acabado. Até que passamos em frente a uma lanchonete e ela implorou para parar. — Olha só pra esse lugar, não vamos parar aqui!— Eu não como nada há séculos, maninho. Por favor. — Ela insistiu com seu melhor modo dramático, aqueles olhos pidões e eu acabei cedendo, dizendo pra mim mesmo que era só por não querer que essa diaba passasse mal durante a viagem de volta.Pedi para Jack dar a volta e olhei bem para o lugar quando paramos em frente, esperava que ao menos tivesse algo descente para comer ali. Mag não esperou nenhum segundo entrou correndo, às vezes eu me perguntava como essa menina ainda não havia morrido, mas me lembrava rapidamente que ela tinha a mim, uma linha fina que a segurava de cair no abismo do mundo e continuaria assim.Quando entrei no bar não era tão terrível quanto parecia por fora, se você tirasse os móveis desgastados, a fumaça de cigarro barato, a luz baixa e os bêbados, ou seja, tudo. Nem mesmo para fechar negócios eu me enfiava em algum buraco assim.Peguei um guardanapo na mesa e passei na cadeira a frente de Mag antes de me sentar, enquanto ela observava tudo em volta com curiosidade notei que Jack tinha se sentado em uma banqueta de frente ao balcão do bar e conversava com uma mulher, que percebi ser a única garçonete do lugar.— O que vão querer? — como imaginava a mulher veio nos atender, bem pouco simpática.— Eu quero um hambúrguer com fritas, e um milk-shake. — Mag pediu com expectativa, quase salivando no lugar.— E você?— Uma garrafa de água. — A moça saiu ainda rabiscando em seu bloquinho.— Credo, você tem que comer alguma coisa. — Mag resmungou a minha frente, me fazendo bufar.— Eu vou comer, quando eu estiver na minha casa, que é limpa e posso confiar na procedência da comida.— Você parece uma madame fresquinha falando desse jeito, sabia? — provocou enquanto fuçava em seu celular começando a me ignorar.— Respeito Mag, respeito! — a avisei sério de mais, não estava feliz de estarmos longe do nosso território, podendo ser atacados a qualquer momento.Ela tinha saído da adolescência há pouco tempo, já tinha dezenove, mas o comportamento irritante de adolescente ainda continuava lá, seu comportamento só piorava se somado a inconsequência e ao fato de ter sido mimada. Com a idade dela eu já estava dirigindo os negócios da nossa família há um ano.Não demorou para que o cheiro vindo da cozinha me acertasse e fizesse minha barriga roncar, se ao menos eu tivesse comido em casa antes de sair em busca dessa maluca, mas não, tinha vindo direto do escritório quando soube que ela estava enfiada naquele buraco quase por um dia inteiro.Após alguns minutos ouvi uma voz feminina vindo da cozinha avisando a garçonete que o pedido estava pronto.— Um hambúrguer com fritas e milk-shake para a moça. — A garçonete disse entregando o pedido e se virou para mim. — E uma água para o garotão. — falou com deboche escorrendo de cada palavra quando colocou a garrafa na mesa.Ignorei a moça e foquei em Mag, a comida estava com uma cara ótima e o cheiro estava me matando. Peguei uma batata distraído ainda encarando o prato a minha frente, quando percebi Mag estava me olhando e sorrindo. Bufei para ela decidido a chamar de volta a moça e pedir algo.Estava terminando de explicar meu pedido quando ouvimos um barulho alto de algo caindo na cozinha, desviando toda a atenção da garçonete para à porta que dava dentro da cozinha, a janela que até um minuto estava aberta, agora se encontrava fechada e a mulher ao meu lado batia o pé impaciente me esperando terminar, então saiu correndo até a porta com uma expressão de desespero.Depois de algumas tentativas falhas em abrir ela se virou até a janelinha de madeira, que havia atrás do balcão, batendo desesperadamente.Encarei tudo intrigado enquanto ela batia. O que diabos podia estar acontecendo? A mulher se voltou para as pessoas do salão com um olhar aflito enquanto pedia por ajuda, mas nenhum dos bêbados do lugar lhe deram atenção.Até que ela conseguiu a atenção de Jack, quando implorou diretamente a ele. Inferno, por que ele tinha que se meter nisso?— Senhor, a moça disse que têm uma mulher trancada lá dentro com o chefe delas. — Ele comunicou quando se aproximou o suficiente da nossa mesa com a garçonete em seu encalço.— E o que eu tenho a ver com isso? — perguntei olhando para os dois, ora se um casal queria transar lá dentro eu não tinha nada a ver com isso, aliás, não ia nem querer mais a comida em que estavam transando em cima.— Mais que merda, você não entendeu, ela pode estar sendo estuprada agora! — a garçonete esbravejou irritada.— Porra. — Resmunguei irritado por ser incomodado esfreguei o rosto me levantando e já caminhando até a porta. Tentei abri-la e depois arrombá-la, mas nada funcionava, então me virei para a janela a fim de ter algum sucesso, mas só escutei barulhos de luta. Naquele momento eu vi vermelho. — Atire nessa porta Jackson! — rugi, ele atirou na maçaneta sem hesitar e eu entrei de uma vez.A cozinha era pequena e estava uma bagunça, havia uma panela no chão e um molho vermelho derramado por todo o lugar. Então nos fundos contra a parede avistei um homem magro abaixado sobre um corpo me olhando assustado.Não pensei duas vezes quando andei determinado a acabar com o rato. O arranquei de cima da mulher que estava encolhida no chão e acertei dois socos sem poupar a força que depositava nos golpes, só queria fazê-lo sangrar. Ele até tentou revidar, mas eu estava no modo endiabrado, apenas puxei seu braço para trás com toda força fazendo o gritar enquanto escutava algo se deslocar.— Pode gritar, seu desgraçado nojento!Acertei meu joelho uma vez no seu estômago e ele caiu de joelhos, então soltei seu braço e chutei seu rosto o fazendo cair estirado no chão com sangue fluindo de seu rosto que agora começava a ficar irreconhecível. Ele não se moveu, apenas continuou estático como um verme assustado diante de sua morte.— Chega! — ouvi uma voz fraca quando o puxei pelo colarinho.Não tinha terminado com ele, mas ergui minha cabeça em busca da voz que tinha me feito parar e avistei minha irmã, Jack e a garçonete assistindo a tudo, mas não havia sido nenhum deles.Virei para o outro lado e vi a mulher, que ainda há pouco estava encolhida no chão, agora de pé com os cabelos castanhos bagunçados, quase cobrindo todo o rosto, com um pedaço de sua blusa rasgada, ela parecia selvagem. Mas seu rosto estava assustado, exibia um tom avermelhado em sua bochecha e um filete de sangue no canto da boca.Larguei o homem no chão diante de seu pedido e ouvi o verme gemer de dor, me fazendo respirar fundo e me controlar para não começar tudo de novo. Queria saber o motivo de ter me pedido aquilo, quando claramente ela tinha sido machucada pelo desgraçado, o único indicio que ele não tinha estuprado ela era que suas calças continuavam no lugar, mas estava explicito que essa era a sua intenção e que teria conseguido se eu não tivesse chegado a tempo.No instante seguinte ela passou por mim tentando ser forte e andar reta, sem ao menos me olhar ou dizer mais nada.— É melhor levar sua vadia com você ou vou matar essa vaca! — o velho desgraçado gritou do seu lugar no chão e eu dei uma boa olhada no homem raquítico que era.O sangue que escorria por seu rosto nem de longe me deixava satisfeito. Eu queria esfolar os meus punhos de tanto socá-lo e quando o estrago estivesse grande poderia abrir seu corpo nojento ao meio.— Quebre tudo. — Sussurrei para Jack me afastando.Ele começou pelo bar jogando às cadeiras contra a parede de garrafas, depois jogando uma mesa contra a janela da entrada e quando vimos todos os bêbados estavam quebrando alguma coisa também.Procurei por Mag, no meio da confusão ela tinha conseguido se distanciar e tudo o que eu queria era dar o fora daquele lugar logo. A avistei perto da garçonete e da outra mulher já fora da lanchonete.Algo naquela mulher chamava minha atenção de uma forma estranha, eu podia ser um fodido gangster, mas não compactuava com estupro, era a coisa que eu mais detestava homens acreditando que poderiam forçar mulheres indefesas aquilo. Nada que uma boa tortura não resolvesse. Mas ela claramente não queria ajuda.— Magie! — gritei chamando sua atenção. — Vamos embora.— Ela está machucada, nós deveríamos levá-la pelo menos até sua casa. — Mag pediu chegando perto de mim.Não sabia o que ela estava pensando, mas aquilo não era uma brincadeira ou uma festa que tinha dado errado, não conhecíamos aquelas pessoas, estávamos fora de nossa área e sem nossos homens. Aquilo poderia ficar bem feio a qualquer momento.— Nós já fizemos de mais, se ela quisesse alguma ajuda teria pedido. — falei duro para que Mag entendesse e encerrasse o assunto.Mas só tive tempo de empurrá-la para dentro do carro antes que escutasse pneus queimando no asfalto graças a manobra rápida para fechar a rua, a caminhonete preta parado de frente as mulheres, às impedindo de seguir seu caminho. Ela se viraram para correr de volta para onde estávamos, mas dois homens armados saltaram para fora do carro, já apontando duas pistolas para elas, as fazendo paralisar no lugar.— Mais que porra! — rosnei, bastou um olhar para Jack e já estávamos os dois com as armas em punho prontos para estourar os desgraçados. — Para o chão! — foi tudo o que gritei antes de afundar o dedo no gatilho.As duas tiveram a noção de sair do nosso caminho rastejando para longe quando os tiros começaram a soar dos dois lados.Os homens nos encaravam com espanto, obviamente não esperavam concorrentes a altura. Um dos disparos atingiu um deles no abdômen fazendo o homem cair no chão, enquanto Jack atirava em cheio no peito do outro sem parar até que o pente estivesse vazio, quando me virei para o carro o motorista cantou pneu indo para longe dali, deixando um de seus comparsas ainda com vida agonizando no chão.— Estão bem? — Jack perguntou quando chegamos até elas.— Agora você pergunta? Depois de ter atirado em nossa direção? — gritou furiosa a morena que tinha acabado de salvar a vida duas vezes. Agora sim ela parecia selvagem, com o medo aparecendo apenas no fundo de seus olhos.— Escuta aqui garota, nós salvamos sua vida, um obrigado seria o mínimo!— Ah claro. Muito obrigado por ferrarem minha vida, me deixarem sem emprego e na mira de criminosos. — Ela rosnou altiva.— Se você não trabalhasse para este tipo de gente não teria esse tipo de problema. — Rebati sendo direto.— A culpa é minha agora? — ela questionou chegando mais perto sem deixar de me encarar. — Eu nunca tive esse tipo de problema até hoje. Meus problemas eu poderia lidar, mas isso... — disse apontando para os corpos sem vida atrás dela.A morena estava tão próxima que seu hálito quente batia contra o meu e eu podia ver de perto os olhos castanhos malditamente expressivos e lindos.— Você está bem? — a garçonete perguntou interrompendo a amiga e apontando para meu abdômen.Até o momento eu não havia reparado, mas assim que puxei o paletó já manchado de sangue avistei a camisa branca banhada no líquido quente e avistei o buraco onde a bala tinha atravessado.— Que porra chefe. Precisamos ir logo, com urgência! — Jack gritou já puxando o telefone do bolso, provavelmente para chamar o médico que atendia nossos chamados.Eu ainda estava atordoado olhando o buraco em minha pele e me perguntando em como não havia sentido o disparo, quando as mãos da pantera selvagem seguraram o buraco da camisa e a rasgaram analisando melhor o ferimento.— A bala atravessou direto, por sorte não perfurou nada, mas você vai precisar de pontos. — Ela disse tirando a própria blusa e pressionando contra minha ferida me fazendo guinchar com a dor repentina, não se importando em ficar apenas de regata contra o vento frio da noite. — Ane me dê sua jaqueta. — Ordenou e a outra o fez sem hesitar enquanto eu acompanhava a tudo de cenho franzido desconfiado com sua atitude.— Ele está bem? — Mag questionou atrás de mim já se chocando com a cena a sua frente.— O que está fazendo fora da porra do carro? — eu rosnei com a raiva transbordando. Estávamos todos em campo aberto, podendo ser atingidos como patinhos.— Precisamos ir chefe! — Jack gritou impaciente.Eu encarei a mulher a minha frente que agilmente pressionou a blusa, enquanto amarrava a jaqueta da amiga para segurar sua blusa, que agora estava posicionada sobre a ferida.Duas desconhecidas, eu teria que estar louco se as levasse comigo. Especialmente sabendo que minha vida era bem mais perigosa do que apenas isso que elas acabaram de presenciar hoje. Aquilo estava fora de cogitação, ajudar de qualquer outra forma menos colocá-las para dentro de casa como se fossem dois cachorrinhos perdidos precisando de abrigo.Eu estava tentando racionalizar toda a situação, mas então por que quanto mais a encarava, enquanto ela tratava de parar o sangramento que eu tinha como se sua vida dependesse disso, eu sentia uma vontade de cuidar dela crescer? Por que a droga da ideia de deixá-la ali me parecia pior do que colocá-la em minha vida? Que porra é essa Oliver?Tudo o que eu conseguia pensar era em estancar o sangramento antes que ele perdesse muito sangue, em como diabos podia limpar a ferida, ou como os panos sujos que estava usando para fazer uma bandagem improvisada podiam lhe dar uma infecção e na rapidez e precisão que precisaria fazer uma sutura.Por incrível que pareça o ataque de Monty na cozinha, os seus homens atrás da gente e os tiros, tinham ficado em segundo plano quando Ane nos fez notar que ele havia sido baleado. Por sorte a bala tinha passado direto pela lateral direita do abdômen, tinha sido tão perto de atingir órgãos importantes, mas o desgraçado teve sorte. Mesmo assim só de vê-lo daquela maneira me deixou em estado de alerta, o instinto de salvar uma vida correndo por minhas veias.— Vamos logo. — O homem que parecia não se afetar com meu contato falou. — Precisamos ir antes que eles mandem reforços.Eu me afastei dele pronta para dar a volta nos corpos no chão e correr para me esconder com Ane em casa até que tudo iss
Eu só podia estar ficando louco, trazer duas desconhecidas para casa. E como se isso já não bastasse fui baleado e levei uma bela cabeçada.Tinha sido um dia de cão, a partir do momento em que sai de casa para ir atrás de Mag era como se toda minha vida tivesse saído do controle e eu só me fodi.Depois que aquela mulher de olhos perturbadores se foi eu pude respirar em paz, pois graças a sua presença no quarto era ficasse até difícil de respirar. Eu não era dado a carícias e cuidados, mesmo assim deixei que ela o fizesse.Se o Doutor estivesse aqui, seriam os pontos rápidos e secos enquanto eu resolveria coisas no telefone como sempre, depois tomaria um banho e iria para minha cama. Mas por algum motivo eu deixei que ela cuidasse de mim, cheia de frescuras e preocupação, não era sempre que se conseguia isso por aqui.Mas eu tinha que assumir, ter as mãos dela sobre mim era muito melhor do que de um médico bruto.Deixei que meu corpo relaxasse e se não fosse graças aos remédios com tod
Ane e Magie tinham decidido sair para uma festa altas horas da noite e eu preferi ficar em casa, estava tentando fugir de problemas e era isso o que essas duas atraiam. Aproveitei o tempo sozinha e liguei para Nana, ela me disse que realmente tinha ficado doente, uma febre repentina que a deixou de cama, após uma longa conversa contando a loucura que tinha sido o dia anterior ela me aconselhou a continuar longe da cidade, Monty não era um homem de perdoar e ela o conhecia bem. Nana me pediu para cuidar de Ane e conseguir um emprego aqui mesmo, para que pudesse começar a me erguer e prometeu que assim que se sentisse melhor pegaria um ônibus até a Filadélfia para ficar conosco. Era um bom plano, eu precisava focar em onde poderia conseguir um emprego, qualquer um que fosse, não tinha medo de trabalho duro e assim que conseguisse um pouco de dinheiro procuraria um lugar pequeno pra nós, até que tudo melhorasse. Eu estava empolgada com a ideia de um novo começo, longe de tudo o que h
Depois do nosso café, regado a muita animação sobre irem conhecer a cidade e Gabriela finalmente comendo algo substancial, fui para o escritório ainda sentindo a necessidade de trabalhar de casa, mesmo que elas fossem aparentemente inofensiva. Eu tinha lido o relatório completo, minunciosamente, Ane era de família rica o que explicava se sentir tão a vontade com Mag, já Gabriela sempre pertenceu a uma família humilde e aparentemente estava tendo uma maré de azar, desde que deixou a residência em medicina. Eu ainda estava tentando engolir que ela deixou o desgraçado que a atacou se livrar, se fosse por mim ele estaria agora se decompondo em um barril de ácido, mas ela tinha me parado antes que eu acabasse com o infeliz, então eu precisava a manter por perto para me sentir em paz comigo mesmo, tendo certeza que nada aconteceria. Depois de remoer boa parte da noite sobre como tratei Gabriela decidi que ela merecia um pedido de desculpas, deveria por um basta nisso, afinal ela não tinha
Afastei meu corpo com as mãos erguidas em uma demonstração de inocência e continuei a chamar seu nome para que ela voltasse a si, mas ela gritava com puro horror, até que Ane e minha irmã entraram correndo no quarto, desesperadas em descobrir o que estava acontecendo com a amiga que gritava incessantemente. — O que aconteceu? — Mag questionou antes que qualquer um de nós pudesse falar. As duas se jogaram ao lado da amiga que se acalmou ao ver as mulheres ao seu lado, para só então cessar o grito e fechando os olhos com força. — O que você está fazendo aqui? — Ane inqueriu abraçando a amiga de forma protetora. — Não é o que vocês estão pensando. Eu posso explicar. — Sério? — Ane cuspiu as palavras me cortando com sarcasmo e desprezo, apertando mais os braços em volta da amiga de maneira protetiva. — Você não está ajudando. — Mag avisou me lançando um olhar que eu nunca tinha recebido dela, que nunca havia recebido de mulher nenhuma. — Se acalmem vocês. Eu a encontrei na bibliote
Eu estava sentada na janela do quarto vendo a tempestade cair lá fora tentando colocar meus pensamentos em ordem. A luz tinha voltado e agora eu queria trazer também um pouco de clareza para a confusão que tinha se instaurado em minha cabeça. As imagens se misturavam entre Oliver em cima de mim segurando meus braços e me pedindo para ficar calma, alguns fantasmas ruins do passado tentavam ganhar a disputa e voltar a vida, eu estava uma verdadeira bagunça. Mas uma parte dentro de mim continuava a gritar que eu poderia confiar nele, que as palavras que ele gritou no quarto eram verdadeiras, sentia isso. Sem falar no fato de que todas as minhas barreiras pareciam inexistentes quando eu estava perto dele, como se nada pudesse me atingir porque ele estava lá. O que era uma tremenda ironia já que desde que nossos caminhos se cruzaram não tive um minuto de sossego. A visão dele pego de surpresa, segurando a toalha desajeitadamente tentando tampar seu pau, invadiu minha mente atropelando t
Os tiros lá fora não paravam, eu não tinha nem ideia de quem tinha sido estúpido o suficiente para atacar minha casa, a única certeza que eu tinha era de que o filho da puta não sairia vivo dessa história. Jack entrou na sala apressado prestes a falar alguma coisa muito séria, mas com um olhar eu o parei antes que ele abrisse a boca, nesse momento estávamos concentrados em salvar a vida de Max, depois me preocuparia com o resto. — Que bom que está aqui, preciso que segurem ele. — Gabriela disse assim que o viu parado na porta. — Segurem o forte, ele não pode se mexer. Ela se aproximou retirando minhas mãos e as afastando com cuidado, preparou o local colocando gases em volta do ferimento e com a pinça em suas mãos estava pronta para começar. Jack agarrou as pernas e eu segurei o tronco mantendo o corpo imóvel. — Não acho que precise disso, ele está desacordado. — Jack murmurou. — Não por muito tempo. — Ela afirmou, segurou firme em volta do ferimento e enfiou a pinça no buraco co
Minhas mãos ainda tremiam, não acreditava no que tinha feito, uma voz na minha cabeça dizia “você salvou a vida de alguém” e eu sabia que tinha sido Oliver que me ajudou a enxergar a verdade, mesmo com a culpa querendo tomar conta, culpa de não ter podido salvar outras pessoas no meu passado. Tentei tirar o sangue que estava nas minhas mãos, mas minhas roupas estavam em um estado bem pior graças a chuva e ao sangue. As arranquei o mais rápido que consegui e joguei no cesto, então liguei o chuveiro testando a água antes de entrar. Estava fazendo tudo no automático, como se não estivesse em meu próprio corpo, só tinha a consciência de que precisava me manter em movimento, com a cabeça ocupada. Não sei por quanto tempo fiquei de baixo da água quente e reconfortante, tentando processar tudo o que tinha visto naquele dia. Mas só consegui ficar pulando de uma imagem para a outra sem realmente processar o que aconteceu. Era como se meu sistema estivesse sobrecarregado e se recusasse a proc