Depois do nosso café, regado a muita animação sobre irem conhecer a cidade e Gabriela finalmente comendo algo substancial, fui para o escritório ainda sentindo a necessidade de trabalhar de casa, mesmo que elas fossem aparentemente inofensiva. Eu tinha lido o relatório completo, minunciosamente, Ane era de família rica o que explicava se sentir tão a vontade com Mag, já Gabriela sempre pertenceu a uma família humilde e aparentemente estava tendo uma maré de azar, desde que deixou a residência em medicina. Eu ainda estava tentando engolir que ela deixou o desgraçado que a atacou se livrar, se fosse por mim ele estaria agora se decompondo em um barril de ácido, mas ela tinha me parado antes que eu acabasse com o infeliz, então eu precisava a manter por perto para me sentir em paz comigo mesmo, tendo certeza que nada aconteceria. Depois de remoer boa parte da noite sobre como tratei Gabriela decidi que ela merecia um pedido de desculpas, deveria por um basta nisso, afinal ela não tinha
Afastei meu corpo com as mãos erguidas em uma demonstração de inocência e continuei a chamar seu nome para que ela voltasse a si, mas ela gritava com puro horror, até que Ane e minha irmã entraram correndo no quarto, desesperadas em descobrir o que estava acontecendo com a amiga que gritava incessantemente. — O que aconteceu? — Mag questionou antes que qualquer um de nós pudesse falar. As duas se jogaram ao lado da amiga que se acalmou ao ver as mulheres ao seu lado, para só então cessar o grito e fechando os olhos com força. — O que você está fazendo aqui? — Ane inqueriu abraçando a amiga de forma protetora. — Não é o que vocês estão pensando. Eu posso explicar. — Sério? — Ane cuspiu as palavras me cortando com sarcasmo e desprezo, apertando mais os braços em volta da amiga de maneira protetiva. — Você não está ajudando. — Mag avisou me lançando um olhar que eu nunca tinha recebido dela, que nunca havia recebido de mulher nenhuma. — Se acalmem vocês. Eu a encontrei na bibliote
Eu estava sentada na janela do quarto vendo a tempestade cair lá fora tentando colocar meus pensamentos em ordem. A luz tinha voltado e agora eu queria trazer também um pouco de clareza para a confusão que tinha se instaurado em minha cabeça. As imagens se misturavam entre Oliver em cima de mim segurando meus braços e me pedindo para ficar calma, alguns fantasmas ruins do passado tentavam ganhar a disputa e voltar a vida, eu estava uma verdadeira bagunça. Mas uma parte dentro de mim continuava a gritar que eu poderia confiar nele, que as palavras que ele gritou no quarto eram verdadeiras, sentia isso. Sem falar no fato de que todas as minhas barreiras pareciam inexistentes quando eu estava perto dele, como se nada pudesse me atingir porque ele estava lá. O que era uma tremenda ironia já que desde que nossos caminhos se cruzaram não tive um minuto de sossego. A visão dele pego de surpresa, segurando a toalha desajeitadamente tentando tampar seu pau, invadiu minha mente atropelando t
Os tiros lá fora não paravam, eu não tinha nem ideia de quem tinha sido estúpido o suficiente para atacar minha casa, a única certeza que eu tinha era de que o filho da puta não sairia vivo dessa história. Jack entrou na sala apressado prestes a falar alguma coisa muito séria, mas com um olhar eu o parei antes que ele abrisse a boca, nesse momento estávamos concentrados em salvar a vida de Max, depois me preocuparia com o resto. — Que bom que está aqui, preciso que segurem ele. — Gabriela disse assim que o viu parado na porta. — Segurem o forte, ele não pode se mexer. Ela se aproximou retirando minhas mãos e as afastando com cuidado, preparou o local colocando gases em volta do ferimento e com a pinça em suas mãos estava pronta para começar. Jack agarrou as pernas e eu segurei o tronco mantendo o corpo imóvel. — Não acho que precise disso, ele está desacordado. — Jack murmurou. — Não por muito tempo. — Ela afirmou, segurou firme em volta do ferimento e enfiou a pinça no buraco co
Minhas mãos ainda tremiam, não acreditava no que tinha feito, uma voz na minha cabeça dizia “você salvou a vida de alguém” e eu sabia que tinha sido Oliver que me ajudou a enxergar a verdade, mesmo com a culpa querendo tomar conta, culpa de não ter podido salvar outras pessoas no meu passado. Tentei tirar o sangue que estava nas minhas mãos, mas minhas roupas estavam em um estado bem pior graças a chuva e ao sangue. As arranquei o mais rápido que consegui e joguei no cesto, então liguei o chuveiro testando a água antes de entrar. Estava fazendo tudo no automático, como se não estivesse em meu próprio corpo, só tinha a consciência de que precisava me manter em movimento, com a cabeça ocupada. Não sei por quanto tempo fiquei de baixo da água quente e reconfortante, tentando processar tudo o que tinha visto naquele dia. Mas só consegui ficar pulando de uma imagem para a outra sem realmente processar o que aconteceu. Era como se meu sistema estivesse sobrecarregado e se recusasse a proc
Fazia horas que eu remoía o que tinha dito para Gabriela, sim eu os fazia assinar contratos, todos que entravam aqui sabiam dos riscos. Podiam levar tiros, serem presos, pegos por inimigos, torturados, nada de polícia ou hospitais mesmo em situações extremas. Eles me davam sua lealdade e eu lhes dou a minha. Ainda tinha que pensar em Mag, se fosse qualquer outro no lugar ela ficaria abalada, mas se Max tivesse morrido ela nunca me perdoaria. Eles acreditavam que eu não sabia, mas estava ciente de tudo que acontece com a minha família. Max era um bom homem, e se ele viesse me contar que estava apaixonado por minha irmã e ela por ele eu ficaria feliz, teria que demiti-lo sim, mas não o mataria nem impediria o relacionamento deles como pensavam. Só iria garantir que ela não sairia da história com um coração quebrado ou de luto. Sabia que Mag estava muito preocupada com ele, mas tinha certeza de que Gabi o tinha salvado, ele não ia morrer. Doutor antes de ir embora só soube dar elogios
Já fazia tanto tempo que eu não derramava uma lágrima por me sentir daquela forma, bastou uma pequena discussão com Oliver para trazer de volta todo o sentimento de impotência, de culpa. Não importava quantas vezes eu repetisse para mim mesma que nunca tinha sido minha culpa, parecia que aquelas palavras estavam marcadas a ferro em minha mente “a culpa é sua, você queria, pediu por isso!”. Era como um parque do horror que estava adormecido até Oliver o despertar, me fazendo reviver dias horríveis. Deixei a comida e Max aos cuidados de Magie, eles dois não queriam se desgrudar e não seria eu a estragar os poucos momentos que eles tinham. — Ótimo, se ele vai estar em boas mãos vou tentar dormir. Qualquer coisa me chame, boa noite. — Murmurei rapidamente já saindo do quarto, não querendo que ninguém me visse com o rosto vermelho e inchado do choro. Quanto as minhas desconfianças o melhor a fazer era procurar uma pessoa que me daria as respostas certas, alguém nessa casa t
Eu adorava extravasar daquele jeito, tinha algo diferente em usar os punhos para torturar uma pessoa, era algo totalmente pessoal. Não vou mentir e dizer que não gostava de usar ferramentas, elas davam os detalhes em uma tortura bem-feita, mas quando você usa suas próprias mãos é como se estivesse totalmente conectado a pessoa, o sangue e suor da vitima se juntando ao seu, se misturando, os nós dos dedos sendo machucados com a intensidade de suas investidas contra a carne do outro. — Vamos lá infeliz, fala! — gritei com o imbecil que apanhei durante o ataque a minha casa. O homem era difícil, parecia inquebrável e tudo o que fez foi me olhar com um sorriso de escarnio com os dentes banhados em sangue. Tinha que admitir ele era duro na queda, mas eu estava adorando liberar a fera sedenta dentro de mim. Meu punho voou na sua cara novamente, esmagando sua carne e lhe tirando mais sangue, mas o homem nem sequer gemeu com a dor. — Ótimo, chega de ser bonzinho. — Resmunguei pegando um a