Tudo o que eu conseguia pensar era em estancar o sangramento antes que ele perdesse muito sangue, em como diabos podia limpar a ferida, ou como os panos sujos que estava usando para fazer uma bandagem improvisada podiam lhe dar uma infecção e na rapidez e precisão que precisaria fazer uma sutura.
Por incrível que pareça o ataque de Monty na cozinha, os seus homens atrás da gente e os tiros, tinham ficado em segundo plano quando Ane nos fez notar que ele havia sido baleado. Por sorte a bala tinha passado direto pela lateral direita do abdômen, tinha sido tão perto de atingir órgãos importantes, mas o desgraçado teve sorte. Mesmo assim só de vê-lo daquela maneira me deixou em estado de alerta, o instinto de salvar uma vida correndo por minhas veias.— Vamos logo. — O homem que parecia não se afetar com meu contato falou. — Precisamos ir antes que eles mandem reforços.Eu me afastei dele pronta para dar a volta nos corpos no chão e correr para me esconder com Ane em casa até que tudo isso fosse algo do passado.Mas só consegui dar dois passos para trás, sendo capturada pelos olhos verdes antes que Monty saísse da lanchonete cambaleando e gritando.— Você vai me pagar sua vadia, você vai me pagar pelo prejuízo que o merdinha do seu homem me deu!De repente um tiro acertou o letreiro da lanchonete, o fazendo se abaixar no chão e entra de quatro no bar. Assustada com o disparo permaneci estancada no lugar, mas o maluco baleado riu me fazendo perceber que ele tinha feito o disparo, e ainda não se importava por estar com um buraco só ria descaradamente.Não vou negar que fiquei feliz ao ver a cara do Monty toda quebrada e o seu bar também, mas agora eu estava sem emprego e sendo caçada por seus homens.— Vamos com ele amiga, só por uns dias. — Ane falou, eu respirei fundo e a olhei pronta para negar seu pedido. Só podia ter perdido o juízo, que já não era perfeito, para falar algo do tipo.— Não Ane, nem conhecemos essas pessoas... — comecei minha negação, mas antes que eu conseguisse continuar Monty surgiu novamente, só que dessa vez armado.— Para o carro agora! — o bruto ordenou já me puxando pelo braço e correndo para o seu SUV preto.Ele me jogou no banco de trás do carro, entrando logo em seguida. De forma esquisita a garota que estava com eles, Mag, o encarou antes de sentar ao seu lado. O motorista só esperou que Ane sentasse a bunda no banco ao seu lado antes de arrancar com o carro de lá.Minha mãe se reviraria no túmulo se visse as burrices que estava cometendo, uma atrás da outra. Entrando no carro de estranhos, trabalhando naquela espelunca, me metendo em tiroteios, era uma enxurrada de más escolhas.Mas o homem ao meu lado gemeu de dor quando o motorista fez uma curva brusca, me ajudando a tirar aqueles pensamentos da cabeça.— Você precisa ir para um hospital. — Eu disse me aproximando dele para me certificar que os panos ainda estavam sobre o local.— Sem hospitais. — Ele murmurou ofegando com a dor. Seu sangue estava esfriando e agora ele começaria a sentir realmente o que a bala causara, me surpreendia que ele não tivesse apagado ainda. — O que o doutor falou? — ele questionou me deixando confusa.— Ele não está na cidade, mas vai fazer o possível para chegar o mais rápido que puder. — Seu motorista respondeu e o homem bufou de raiva.— Você precisa de soro, de remédios para infecção, morfina pra ajudar com a dor. — Eu tagarelei como forma de convencê-lo a ir para o hospital mais próximo. — Isso sem falar nos pontos.— Você pode fazer? — ele perguntou lançando os olhos inquisidores em minha direção. — Jack consegue tudo isso, você me garante que consegue fazer o que é preciso?Eu tremi diante do seu olhar, a intensidade com que ele perguntava me assustou, senti como se sua vida dependesse de mim, mesmo que não fosse o caso.Mas antes que pudesse racionar estava afirmando com a cabeça, aceitando o seu pedido, como se meu corpo fosse impelido a concordar com ele sem discutir.O homem ao meu lado estendeu o braço sobre o encosto do banco sentindo certa dificuldade em se esticar, mas me dando mais espaço para continuar pressionando a ferida. Então como se confiasse em minhas palavras ele apoiou a cabeça no banco e fechou os olhos.— Você não pode...— Shiii. — Ele sussurrou com a voz de repente muito pesada. — Não é a primeira vez que passo por isso, vai ficar tudo bem. — Com isso ele entrou em um sono que durou toda a viagem.Meus olhos pesavam enquanto eu escutava a ladainha de Magie e Ane que não paravam de falar, como se tudo isso que tivesse acontecido fosse um dia comum pra elas. Me perguntava o que ele quis dizer com: não é a primeira vez que passo por isso? Ele já tinha sido baleado outra vez?— Meu nome é Magie, e o de vocês? — perguntou a menina animada. Como se aquilo fosse uma grande aventura.— Eu sou Ane e ela é Gabriela. — respondeu quando percebeu que não estava a fim de papo.Pareciam tão animadas quanto crianças em uma viajem de escola, conversando com Ane virada no banco, olhando para o banco de trás. Não sei como elas podiam estar relaxadas desse jeito depois de tudo o que houve hoje.Eu estava uma pilha, meus músculos estavam duros de tanta tensão, meu abdômen e rosto estavam doloridos pelos golpes de Monty, e minha cabeça começava a martelar com força, sem falar das emoções que pareciam prestes a desabar bem em cima de mim, fazendo com que toda a merda dos meus pânicos voltasse com força.— Esse é meu irmão Oliver e esse ai no volante é o Jackson, nosso amigo, mas todo mundo o chama de Jack.Ane e Magie não paravam de falar e eu de pensar, tentando me manter focada em qualquer coisa que não me deixassem cair no sono. Tentei ficar concentrada na respiração ritmada de Oliver ao meu lado, por vezes foquei em seu rosto que parecia preocupado apesar de estar dormindo.Ele tinha um emaranhado de tatuagens subindo pelo pescoço, um olho dentro de uma ampulheta, uma mulher com uma áurea de santa, todas coloridas assim como as da mão que sumiam no paletó, na mão esquerda estava tinha um coração enorme escrito mãe, enquanto na mão direita havia uma granada, escrito pai. Me peguei pensando o porque daquelas tatuagens.Não sei ao certo quando deixei que minha cabeça se recostasse em seu braço e peguei no sono, só acordei sendo sacudida por mãos grandes. Abri meus olhos me assustando com o balanço e dei de cara com aqueles olhos verdes a centímetros de distância dos meus, ergui a minha cabeça com rapidez pelo susto fazendo com que minha testa acertasse seu queixo em cheio.— Merda! — Ele rosnou se afastando já com a mão sobre a boca.Acho que tinha acabado de quebrar seus dentes, porque definitivamente os ouvi baterem um no outro com muita força.— Droga, desculpa. Te machuquei? — perguntei enquanto saía do carro.Tentei chegar perto para ver a boca que ele escondia com as mãos, mas sem sucesso ele apenas se afastou com brusquidão.— Não. — Foi tudo o que o ouvi murmurar enquanto subia com dificuldade os degraus em direção à porta de uma mansão, só então percebi que estávamos estacionados na frente da entrada de um casarão.Eu o segui subindo os degraus para dentro da casa que era realmente enorme. Um hall de entrada com uma pequena mesinha e um vaso era o que se via após a porta de entrada, depois de descer um pequeno degrau o espaço se abria, dando lugar a uma escadaria enorme do lado esquerdo e um piano de cauda do lado direito, bem de frente a uma parede de vidro.Ele continuou seguindo pelo corredor que tinha depois do piano sem nem parar para ver se eu o acompanhava. Mas me concentrei em segui-lo ao ver sua mão apoiando o lugar onde tinha sido baleado.Do lado esquerdo do corredor havia várias portas, aparentemente fechadas e ele continuou em frente até estarmos na cozinha, o lugar quase parecia não ter fim.Ane estava sentada na bancada com Magie.— O que aconteceu? — questionou correndo em direção ao irmão.— Nada. — Ele resmungou novamente já abrindo a geladeira. Não duvidava que aquele fosse seu humor habitual, mas com certeza estava mais ácido pelo que tinha acontecido.— Como nada? Sua boca está sangrando.— Você está sangrando? — eu que até então estava parada na soleira da porta o perguntei assustada. — Você disse que eu não tinha machucado.— Eu estou com um buraco sangrando constantemente, te garanto que uma cabeçada no queixo não é nada. — Soltou sendo conciso com as palavras e pegando um punhado de gelo. — Você quer comer algo ou podemos ir logo com isso?Eu neguei a oferta, se é que foi uma, mas qualquer tempo perdido era crucial.— Vamos logo. Conseguiu tudo?Ele me levou até um quarto no mesmo andar onde uma senhora simpática ajudava a organizar tudo o que eu tinha pedido.Oliver se sentou na cama já começando a se livrar da camisa com certa dificuldade. Assim que ele estava livre e deitado eu me aproximei já com o soro e os remédios em mãos, pronto para aplicar.— Você já pode me dar a morfina, por Deus essa merda está ardendo como o inferno!Com cuidado eu peguei seu braço tateando em busca da veia, ele fechou os olhos fugindo do que eu faria a seguir.— Não me diga que você tem medo de agulhas? — perguntei achando graça.— Não, estou tentando apenas me acomodar para absorver o momento que a droga começar a fazer efeito. — Ele respondeu tentando ser sério e me espantando, mas logo em seguida sorriu abrindo apenas um olho para ver minha reação.— Muito engraçado. — Murmurei quando vi sua risada ficar mais forte diante da minha expressão.— Só estou cansado. Já passa das duas da manhã, meu corpo está reclamando pela falta de comida, então não vejo a hora de dormir profundamente.Observei seu corpo relaxar sobre minha mão quando abri a passagem liberando o remédio em seu sistema.Me movi na cama procurando a melhor posição para começar a dar os pontos e respirei fundo quando me aproximei de sua pele agora devidamente limpa.— Tudo bem aí? — ele perguntou enquanto eu pedia aos céus para manter minhas mãos firmes.Acenei concordando em resposta e comecei a dar os pontos, puxando a pele a atravessando com a agulha curvada para então uni-la ao outro lado.Oliver não reclamou em nenhum momento e por um segundo achei até que ele estivesse dormindo, mas quando ergui meu olhar para ele o peguei encarando o trabalho que eu fazia.Não precisei de muitos pontos, depois de remendado de um lado ele se virou me dando acesso ao outro, a todo momento sem dizer nenhum piu, imaginei se fosse já o efeito da morfina ou só porque ele era durão.— Prontinho. — Murmurei enquanto encarava os pontos perfeitamente alinhados sobre sua pele tatuada.Limpei devidamente e protegi o lugar antes de me levantar. O homem me acompanhou se sentando rapidamente deixando-me assustada enquanto tentava a todo custo ver o que seria sua nova cicatriz.— Comparada ao Doutor suas mãos são leves como uma pluma. — Ouvi sua voz e vi o exato momento que ele perdia o equilíbrio após levantar da cama.— Cuidado aí. — Corri dando apoio ao seu corpo. — Onde pensa que vai?— Comer alguma coisa e ir para minha cama. — respondeu como se fosse óbvio.— Ok, você vai ficar deitadinho aqui e vou ver o que tem na cozinha pra você comer, enquanto isso respire e curta a morfina um pouquinho mais.A contragosto, mas não tendo condições de discutir ele deixou ser amparado de volta para a cama. Quando tive a certeza de que ele estava confortável eu saí atrás de alguém que pudesse me ajudar.Encontrei Magie e Ane ainda na cozinha, comendo enquanto gargalhavam de alguma coisa. Como tinham pique pra isso depois de tudo o que aconteceu hoje eu não sei.A mesma senhora simpática que vi mais cedo correu até mim, tentando me fazer comer alguma coisa, mas minha preocupação com o que aquele maluco poderia fazer sozinho falava mais alto.Deixe que ela preparasse um prato com um caldo rápido, era leve, mas aquilo afastaria a fome.— Você também tem que comer mocinha. — Ignorei seu aviso com um aceno de mão, já me afastando atrás do meu paciente. Eu realmente não estava com fome.Me aproximei do quarto e observei Oliver e o motorista conversarem em voz baixa não queria atrapalhar seja lá o que estivessem conversando então me mantive parada na soleira da porta esperando.— Pode entrar agora. — Jackson falou em minha direção alguns minutos depois, quando saiu do quarto.— Vai me deixar morrer de fome? — Oliver resmungou se mexendo na cama. — Inferno! — gemeu quando o incomodo aumentou.— O que diabos está tentando fazer? — rosnei indo pra cima dele. — Quer abrir todos os pontos?— Você espera que eu durma desse jeito?— Você dormiu no carro, sentado e com dor, imagino que na cama não seja problema. — Rebati. — Não se atreva a descer esse tronco!Oliver bufou em resposta e me sentindo mal por seu estado fui ajudá-lo a conseguir uma posição melhor. Apoiei seu tronco com meu corpo e trouxe outro travesseiro para apoiá-lo melhor.Por um momento minhas mãos foram firmes contra sua pele e quando finalmente liberei seu corpo deixei que elas passeassem carinhosamente por suas costas. Senti seus músculos se endurecerem embaixo do meu toque, ergui meu olhar para ele e foi meu maior erro, pois seus olhos estavam cravados em mim.Encarei seus olhos naquele tom de verde que eu nunca tinha visto antes e suspirei ao me sentir tão hipnotizada por ele. Era como se uma força magnética me mantivesse presa ao seu olhar. Um vinco se formou em sua testa e meus olhos desviaram para o local, como se suas expressões fossem a coisa mais interessante do mundo.— Aqui está! — a senhora rechonchuda entrou abrindo a porta com o pé enquanto carregava uma bandagem. Não tive certeza se ela viu algo antes, mas sua entrada me mandou rapidamente para longe dele. O que eu estava pensando? — Vocês dois precisam comer.— Você não faz ideia do quanto Jenna. — Ouvi Oliver murmurar e um arrepio me subiu a coluna com suas palavras, quase como se suas palavras tivessem outro sentido.— Ei mocinha, deixe isso aí. — Ela disse vindo para perto da mesa onde eu fingia arrumar o que tinha usado. — Coma e vá descansar, está com uma cara tão tensa. — Eu quis rir daquilo, porque era exatamente como me sentia, mas por razões que ela desconhecia.Relutante larguei as coisas do mesmo jeito que estavam e me sentei pegando um prato com o mesmo caldo que ela havia preparado para Oliver. Me sentei na cadeira ao lado de sua cama e comecei a comer calada.Nos escaramos pelo canto de olho algumas vezes e eu já estava querendo sair dali. Sentia ele observar tudo o que eu fazia e aquilo me incomodava de mais, como se não soubesse o que deveria fazer ou falar, era irritante.— Quando acabar aí Jenna vai mostrar seu quarto. — foi tudo o que ele disse quando terminou de comer.— Você não quer que eu fique...— Que você fique aqui? Não, já sou bem grandinho e posso me virar qualquer coisa.Queria retrucar e dizer como não era bom que ele ficasse sozinho, mas me contentei em respirar fundo e ignorá-lo.Como ele falou depois que terminei de comer conferi novamente seus remédios e sua postura antes que Jenna aparecesse para me mostrar o quarto. Ela também me deu roupas para dormir e me desejou uma ótima noite.Já passava das quatro da manhã, e eu dei graças a Deus por poder tomar um banho e colocar a cabeça em um travesseiro em “segurança”.Deveria ter me preocupado antes com o tipo de pessoas que eles podiam ser, com certeza minha mãe me mataria, eu me mataria, se me visse fazendo isso. Dormir na casa de estranhos?A única certeza que eu tinha era que eles me ajudaram quando precisei, me livraram de uma coisa horrível e depois mataram pessoas para que eu e Ane não morrêssemos. Eu era grata por isso, então me apeguei aquele sentimento enquanto deixava o cansaço levar a melhor sobre minhas preocupações.Eu só podia estar ficando louco, trazer duas desconhecidas para casa. E como se isso já não bastasse fui baleado e levei uma bela cabeçada.Tinha sido um dia de cão, a partir do momento em que sai de casa para ir atrás de Mag era como se toda minha vida tivesse saído do controle e eu só me fodi.Depois que aquela mulher de olhos perturbadores se foi eu pude respirar em paz, pois graças a sua presença no quarto era ficasse até difícil de respirar. Eu não era dado a carícias e cuidados, mesmo assim deixei que ela o fizesse.Se o Doutor estivesse aqui, seriam os pontos rápidos e secos enquanto eu resolveria coisas no telefone como sempre, depois tomaria um banho e iria para minha cama. Mas por algum motivo eu deixei que ela cuidasse de mim, cheia de frescuras e preocupação, não era sempre que se conseguia isso por aqui.Mas eu tinha que assumir, ter as mãos dela sobre mim era muito melhor do que de um médico bruto.Deixei que meu corpo relaxasse e se não fosse graças aos remédios com tod
Ane e Magie tinham decidido sair para uma festa altas horas da noite e eu preferi ficar em casa, estava tentando fugir de problemas e era isso o que essas duas atraiam. Aproveitei o tempo sozinha e liguei para Nana, ela me disse que realmente tinha ficado doente, uma febre repentina que a deixou de cama, após uma longa conversa contando a loucura que tinha sido o dia anterior ela me aconselhou a continuar longe da cidade, Monty não era um homem de perdoar e ela o conhecia bem. Nana me pediu para cuidar de Ane e conseguir um emprego aqui mesmo, para que pudesse começar a me erguer e prometeu que assim que se sentisse melhor pegaria um ônibus até a Filadélfia para ficar conosco. Era um bom plano, eu precisava focar em onde poderia conseguir um emprego, qualquer um que fosse, não tinha medo de trabalho duro e assim que conseguisse um pouco de dinheiro procuraria um lugar pequeno pra nós, até que tudo melhorasse. Eu estava empolgada com a ideia de um novo começo, longe de tudo o que h
Depois do nosso café, regado a muita animação sobre irem conhecer a cidade e Gabriela finalmente comendo algo substancial, fui para o escritório ainda sentindo a necessidade de trabalhar de casa, mesmo que elas fossem aparentemente inofensiva. Eu tinha lido o relatório completo, minunciosamente, Ane era de família rica o que explicava se sentir tão a vontade com Mag, já Gabriela sempre pertenceu a uma família humilde e aparentemente estava tendo uma maré de azar, desde que deixou a residência em medicina. Eu ainda estava tentando engolir que ela deixou o desgraçado que a atacou se livrar, se fosse por mim ele estaria agora se decompondo em um barril de ácido, mas ela tinha me parado antes que eu acabasse com o infeliz, então eu precisava a manter por perto para me sentir em paz comigo mesmo, tendo certeza que nada aconteceria. Depois de remoer boa parte da noite sobre como tratei Gabriela decidi que ela merecia um pedido de desculpas, deveria por um basta nisso, afinal ela não tinha
Afastei meu corpo com as mãos erguidas em uma demonstração de inocência e continuei a chamar seu nome para que ela voltasse a si, mas ela gritava com puro horror, até que Ane e minha irmã entraram correndo no quarto, desesperadas em descobrir o que estava acontecendo com a amiga que gritava incessantemente. — O que aconteceu? — Mag questionou antes que qualquer um de nós pudesse falar. As duas se jogaram ao lado da amiga que se acalmou ao ver as mulheres ao seu lado, para só então cessar o grito e fechando os olhos com força. — O que você está fazendo aqui? — Ane inqueriu abraçando a amiga de forma protetora. — Não é o que vocês estão pensando. Eu posso explicar. — Sério? — Ane cuspiu as palavras me cortando com sarcasmo e desprezo, apertando mais os braços em volta da amiga de maneira protetiva. — Você não está ajudando. — Mag avisou me lançando um olhar que eu nunca tinha recebido dela, que nunca havia recebido de mulher nenhuma. — Se acalmem vocês. Eu a encontrei na bibliote
Eu estava sentada na janela do quarto vendo a tempestade cair lá fora tentando colocar meus pensamentos em ordem. A luz tinha voltado e agora eu queria trazer também um pouco de clareza para a confusão que tinha se instaurado em minha cabeça. As imagens se misturavam entre Oliver em cima de mim segurando meus braços e me pedindo para ficar calma, alguns fantasmas ruins do passado tentavam ganhar a disputa e voltar a vida, eu estava uma verdadeira bagunça. Mas uma parte dentro de mim continuava a gritar que eu poderia confiar nele, que as palavras que ele gritou no quarto eram verdadeiras, sentia isso. Sem falar no fato de que todas as minhas barreiras pareciam inexistentes quando eu estava perto dele, como se nada pudesse me atingir porque ele estava lá. O que era uma tremenda ironia já que desde que nossos caminhos se cruzaram não tive um minuto de sossego. A visão dele pego de surpresa, segurando a toalha desajeitadamente tentando tampar seu pau, invadiu minha mente atropelando t
Os tiros lá fora não paravam, eu não tinha nem ideia de quem tinha sido estúpido o suficiente para atacar minha casa, a única certeza que eu tinha era de que o filho da puta não sairia vivo dessa história. Jack entrou na sala apressado prestes a falar alguma coisa muito séria, mas com um olhar eu o parei antes que ele abrisse a boca, nesse momento estávamos concentrados em salvar a vida de Max, depois me preocuparia com o resto. — Que bom que está aqui, preciso que segurem ele. — Gabriela disse assim que o viu parado na porta. — Segurem o forte, ele não pode se mexer. Ela se aproximou retirando minhas mãos e as afastando com cuidado, preparou o local colocando gases em volta do ferimento e com a pinça em suas mãos estava pronta para começar. Jack agarrou as pernas e eu segurei o tronco mantendo o corpo imóvel. — Não acho que precise disso, ele está desacordado. — Jack murmurou. — Não por muito tempo. — Ela afirmou, segurou firme em volta do ferimento e enfiou a pinça no buraco co
Minhas mãos ainda tremiam, não acreditava no que tinha feito, uma voz na minha cabeça dizia “você salvou a vida de alguém” e eu sabia que tinha sido Oliver que me ajudou a enxergar a verdade, mesmo com a culpa querendo tomar conta, culpa de não ter podido salvar outras pessoas no meu passado. Tentei tirar o sangue que estava nas minhas mãos, mas minhas roupas estavam em um estado bem pior graças a chuva e ao sangue. As arranquei o mais rápido que consegui e joguei no cesto, então liguei o chuveiro testando a água antes de entrar. Estava fazendo tudo no automático, como se não estivesse em meu próprio corpo, só tinha a consciência de que precisava me manter em movimento, com a cabeça ocupada. Não sei por quanto tempo fiquei de baixo da água quente e reconfortante, tentando processar tudo o que tinha visto naquele dia. Mas só consegui ficar pulando de uma imagem para a outra sem realmente processar o que aconteceu. Era como se meu sistema estivesse sobrecarregado e se recusasse a proc
Fazia horas que eu remoía o que tinha dito para Gabriela, sim eu os fazia assinar contratos, todos que entravam aqui sabiam dos riscos. Podiam levar tiros, serem presos, pegos por inimigos, torturados, nada de polícia ou hospitais mesmo em situações extremas. Eles me davam sua lealdade e eu lhes dou a minha. Ainda tinha que pensar em Mag, se fosse qualquer outro no lugar ela ficaria abalada, mas se Max tivesse morrido ela nunca me perdoaria. Eles acreditavam que eu não sabia, mas estava ciente de tudo que acontece com a minha família. Max era um bom homem, e se ele viesse me contar que estava apaixonado por minha irmã e ela por ele eu ficaria feliz, teria que demiti-lo sim, mas não o mataria nem impediria o relacionamento deles como pensavam. Só iria garantir que ela não sairia da história com um coração quebrado ou de luto. Sabia que Mag estava muito preocupada com ele, mas tinha certeza de que Gabi o tinha salvado, ele não ia morrer. Doutor antes de ir embora só soube dar elogios