Caminhamos lado a lado até a padaria do seu Zé, durante o percurso procurei me concentrar em qualquer coisa que não fosse aquele perfume que, num sopro de ar invadiu as minhas narinas. Num certo momento, à medida que alcançávamos o lugar, ele, atrevido, tocou levemente o dorso da minha mão e eu logo abracei o corpo evitando o contato. O safado riu, pois percebeu como arrepiou cada pelo do meu braço. Iludida, talvez, mas o pensamento me acompanhou. O que o trazia em pleno domingo para frente do meu prédio, quando um mundo de glamour o esperava de braços abertos? Mulheres, boates, festas... lugares que muito provavelmente ansiavam por sua estada. No entanto, lá estava ele caminhando ao meu lado, como se guardasse o tempo na palma da mão, dilatando o momento no qual esquecemos quem somos, esquecemos a WUC. De soslaio, marquei o tempo de um sorriso faceiro, o sol alvorecendo em sua pele, em seus traços, nos castanhos dos seus olhos, tornando-o ainda mais lindo, como se fosse possív
— Sou apaixonada por musicais, acho que poderíamos fazer algo grandioso, como um flash mob[4] com uma música original, talvez o funk, que abordasse sonhos e os influenciadores, ou tik tokers, fazendo parte disso, incentivando seus seguidores a estudarem se quiserem chegar na posição que hoje eles estão. O que acha?O executivo franziu os lábios e permaneceu calado, o que fez com que eu me achasse ridícula.— Funk?— Ahaaa!— Gostei.Isso, garota!!!— Jura?— Sim, vou falar com o Orion.— Eeeeeee. — Bati várias palminhas animadas, porra, ter algo aprovado pelo David era sensacional. — Eu ia comentar com ele amanhã, mas já que você perguntou.— Quem leva a Aurora para casa, a venda ou a criação?Não entendi como investida, meneei a cabeça, pensando na resposta:— O marketing ou a publicidade? — Ele assentiu. — Os dois casam, no entanto, a publicidade ganha.— Sim, consigo ver nos seus olhos e nas
Cobri o rosto, enquanto minha mãe acenava para o safado que fez questão de ligar o carro numa lerdeza, adorando a atenção gratuita. Antes de seu carro cruzar a esquina, corri para dentro, pois o rosto da senhora assanhada mudou, não estava tão simpático.— Aurora, espere! — ela gritou, mas o elevador fechou. E a última visão que tive foi que nada ia me livrar de várias explicações.Entrei no apartamento e apelei para o café, um gole, nada além disso, e então a porta fechou, a testa enrugou e comecei a rezar.— O que o David Queen fazia aqui?— Já falei, mãe. — Contornei a bancada e me sentei no sofá. — Toda assanhada com o homem, ele é muito jovem para a senhora, não pretendo ter um padrasto com essa idade.— Um ponto que eu concordo, também não pretendo ter um genro com essa idade.— Assunto resolvido. — Levantei-me no ímpeto e me sentei no outro lado.— Sem gracinha, fica aí garota. — Ela cruzou os braços. — Eu quis ser simpática. A
— Como vai, David?— Tudo ótimo, Enrico. — Estendi a mão para um cumprimento e ele retribuiu. Virei-me para sua esposa. — Olive, que bom revê-la.— O prazer é meu, David. Estive com sua mãe há mais ou menos um mês, que palácio vocês têm na Califórnia! — elogiou a senhora elegante ao lado do marido, meu futuro investidor. — Que jardim impecável.— Eu realmente amo aquela casa, só não tenho tempo hábil para desfrutar do lar que meu pai construiu. — queixei-me.Eram raros os momentos que sentia saudade de casa, isso devido à mudança constante que meu cargo exigia, com o corpo em movimento o cérebro seguia o mesmo curso e o coração… esse não dava ouvidos há um tempo. Procurei construir pequenos lares que pudessem me acolher durante as viagens, espaços que recheava com fotos e recordações da família amorosa que Sara sempre zelou, mas que desmoronou na colisão desleal entre Nick e eu.— Todo sucesso tem um preço — comentou Enrico me arrancando do torpor.
— Sabe como as coisas funcionam com Enrico, primeiro ele revira sua vida com perguntas para só então assinar o contrato.— O velhaco não perde sua astúcia, mas como sempre você fechou uma excelente negociação — felicitou-me falando com seu português arrastado.Mamãe tentou ao longo desses anos, casada com o meu pai, ensiná- lo a falar português, e conseguiu desenrolar 50% da língua do turrão. Embora minha primeira língua seja o inglês, tenho fluência no português, uma vez que Sara, apaixonada pela sua nação, sempre fez questão de que Nick e eu tivéssemos contato não só com o solo brasileiro, mas também com suas origens latinas.— Tudo saiu conforme o planejado — finalizei o uísque descartando o copo na mesa de centro.— Não esperava menos de voc&e
“Um sopro, Ana”— Qual o significado dessa frase, mãe? — perguntei, tentando capturar o olhar de mamãe. — Mãe, fale comigo.Ela soltou o buquê que se espalhou no chão, olhei para os botões de rosas vermelhas descartados aos meus pés e senti medo, muito medo. Mas não podia expor aquilo a ela. Voltei para a mulher que iniciou uma procissão árdua até o sofá, sentou-se e cobriu o rosto com as mãos. Ali a fortaleza Ana se desfez, um choro doído e agudo explodiu na sala.Meu coração partiu em mil pedaços.As rosas eram o aviso excruciante dado sempre que o diabo estava prestes a ser solto. Só que daquela vez tínhamos muita coisa em jogo, tudo que conquistamos nos anos anteriores não podia ser colocado dentro de uma caixa e transportado por um caminhão para outra
Meu coração acreditou na promessa, o apertei ainda mais contra meu corpo, sentindo seus dedos deslizarem pelos meus cabelos. Inconscientemente o choro voltou, dolorido, sussurrado, medroso. David não disse nada, só me manteve ali, protegendo-me de algo que nem ele mesmo sabia o que era. Passaram segundos, minutos, nem sei, até nos encararmos.— Quer dar uma volta? — ele inquiriu. — E se você quiser me contar o que aconteceu, tudo bem.Aquiesci, sentindo a confusão que devia estar no meu rosto.— Preciso de cinco minutos.— Ok. Não vou a lugar nenhum.— Obrigada! — Meu coração agradeceu um pouco mais brando. Esforcei-me em deixar um singelo sorriso antes de correr para dentro, espiei mamãe antes de ir para o meu quarto, graças a Deus ela dormia tranquilamente. Substituí meu pijama por uma calça legging e um moletom grande que passava do bumbum, calcei meu Converse, fiz um coque desgrenhado no cabelo e peguei meu celular. Quando pisei na calçada, Dav
O aroma delicioso que planava no ar quase me fez flutuar na direção dos carros assim que nos pusemos para fora, mesmo de longe identifiquei uma diversidade culinária para todos os paladares. Novamente muito íntimo, o executivo capturou a minha mão e me conduzindo entre os veículos até escolhermos um para comer.— Esse hot dog ao molho é bem grande para uma garota fitness que correu pela manhã — ele comentou sacana ao me ver abocanhar meu dog duplo.Mastiguei, contendo um sorriso.— Primeiro: não sou fitness. Segundo: eu não almocei, então estou morrendo de fome. E olha quem fala, pensei que o senhor CMO mantinha uma alimentação regrada.Ele estreitou os olhos.— Adoro um bom fast food, não nego.— Eu também.— Mas, sim, tenho uma alimentação regrada. Uma rotina de treinos diários, mesmo com as viagens…Era visível o resultado de todo cuidado, ele era gostoso pra caralho.Limpei a garganta, minha libido não me dava trégua