— Aurora, só sei que tenho que finalizar essas planilhas no Excel para o Orion enviar para o David Queen, que ficará em home office hoje — ela explicou, com um sorrisinho zombeteiro que passei a odiar.
— Ele não vem hoje?
— Não, Aurora.
— Sabe por quê? — perguntei só para saber mesmo. Vai que estivesse doente, ou… sei lá, uma virose. Coisa do tipo.
— Provavelmente esteja muito cansado da noite… Arremessei três das minhas canetas nela e revirei os olhos. Raica realmente estava irritante.
(...)
- David Queen
Parei em meio à calçada e apoiei as mãos nos joelhos, quando o aplicativo apitou marcando meu tempo e quantos quilômetros havia percorrido naquela manhã, alcancei 15 km, era o bastante. Atravessei para comprar uma garrafa de água no bar da frente. Peguei uma banqueta do próprio lugar e fiquei por ali mesmo, enquanto o senhor dono do local finalizava a abertura das p
Ok, eu permiti.Ok, sou um filho da puta por isso. Contudo, nunca menti.Além do que a Ellen guardava meus segredos obscuros, covardes. Não me julgou quando devia ter julgado, ficou do meu lado quando eu merecia desprezo. Portanto, tinha que libertá-la desse círculo vicioso que nos colocamos.Ela merecia mais.— Quem é ela?— Não há ninguém.— Mentira, conheço você, distante e sem sexo. São os alarmes de que tem alguma vagabunda na vez, aí depois que você se farta com o novo, volta para quem? A Ellen!— Ellen, não tem ninguém, estou falando sobre nós. Porque a desculpa sempre é outra?— Sempre é assim, David. Quer que eu comece a lista?— Porra, não consigo dar o que quer. Qual parte você não entendeu? — gritei ferindo o meu autocontrole.Ela não disfarçou a surpresa com o tom, visto que nunca fui tão agressivo com ela. — Desculpe, não queria gritar com você. — Não entendia o porquê estava tão irritado se tivemos
No dia seguinte David também não apareceu na WUC, assim como nos outros três dias que restaram para completar a semana. Tudo era reportado por e-mail e, mesmo distante, era visível que seus olhos se mantiveram ligados. Orion não sabia o que fazer para agradar os pontos da campanha que o CMO não aprovava. Em contrapartida, sua ausência aliviou a pressão da sua presença, os momentos inesquecíveis do escritório eram frescos, ou melhor, eram tão vivos no meu peito quanto entre minhas pernas, provavelmente meu sistema entraria em colapso se a cada passo que desse tivesse sua estrutura atraente a me rondar.Ainda sentia o gosto da sua boca, assim como seu toque na minha pele.David avisou um pouco antes de tomar-me para si que se eu ficasse nunca mais seu nome sairia da minha cabeça, e ele não estava errado.— Sextooooouuu, Aurora. — Raica surgiu de repente, enquanto eu aguardava o elevador. — O que a senhora pretende fazer hoje?— Nada de novo. — Entramos quan
— Ellen, não! — Segurei seus punhos ao ouvir o barulho do elevador explodir no andar, parecia um sinal que devia parar aquilo, não queria ferir seus sentimentos, então estava disposto a seguir com o que achava certo, só que ela sabia ser vistosa com suas carícias. E não sou o tipo grosseiro e impetuoso, mesmo estando no meu limite.Tudo começou no jantar que sugeri para retomarmos o que iniciamos no meu closet, em público Ellen me pouparia de um desgaste, tudo correu melhor do que esperava, ela fingiu entender e aceitar, até que, por motivos fúteis, paramos para pegar documentos que, segundo ela, eram importantes.— Sei que quer…— Vem, levanta, alguém pode aparecer.— Qual é David, quantas vezes te chupei num expediente de trabalho?— Sério que tudo que falamos há minutos atrás no restaurante evaporou da sua cabeça?— David, não vou perder você. — Partiu para o outro extremo. — O que você precisa? Me fale!— Para, Ellen, você não é a
A mulher que me deu à luz conseguia ser extremamente irritante quando queria. Durante o café da manhã, a detetive Ana insistiu em reunir pistas, segundo ela havia acontecido algo muito sério, digno de um apocalipse para eu perder a fome e não me importar com o fato de ela comer dois dos meus chocolates preciosos. Embora achasse um absurdo todo o exagero, também buscava uma desculpa para me esquivar naquela manhã.Devo admitir, com um pesar doloroso, que quase presenciar Ellen pagando um boquete para David me golpeou. Ele confessou seu envolvimento com a executiva, bem como seu modo, momentos de viver, mas ver a olho nu tamanha intimidade mexeu comigo mais que devia, talvez se tivesse me excitado com a cena, me sentiria melhor. Não foi o caso. Fora o castigo que recebi pela curiosidade aflorada, o confronto na praça entregou a ele todas as minhas fraquezas. Só faltou eu escrever na testa o quanto me senti traída, mesmo não tendo direito algum a tal sentimento.Virei um
— O que você acha do Lucca?— Você disse que não gosta de branquelo. Ela revirou os olhos, divertida.— Estou revendo meus conceitos. — Rimos. — Fala, Aurora, o que acha dele?— Ele é um cara legal, foi a primeira pessoa que conheci na WUC.— Ela abraçou o próprio corpo e me olhou com certa dúvida. — Tá rolando algo entre vocês? — Quis saber, pois Raica parecia indecisa e as carícias dos dois na sala deram a entender que sim.— Ah, Aurora, ele tá de chamego com a preta aqui, mas não sei.— Então curte. — Olha quem estava aconselhando a irmã mais velha, a pessoa mais encrencada do universo. Aff! — Ou você não gosta de pegar sem compromisso?Ela uniu as sobrancelhas.— Sou moderna, Aurora, se eu quiser rola sem neuras depois — falou com uma segurança digna de inveja. — Só não tenho certeza se quero, estou confusa, difícil, fazer charminho deixa mais excitante.— Hahahaha! Charminho, tá bom! Não foi você quem disse ser mode
Cheguei em casa cerca de uma da manhã, quase não consegui me despedir dos irmãos, a cena lamentável, machista, homofóbica, traumatizou a todos. Deixá-los remoendo o acontecimento quebrou o meu coração em mil pedaços. Quando Raica mencionou a não aceitação dos pais, jamais calculei a gravidade da negação, até presenciar o episódio. O homem em seu porte troncudo lembrou Renan, e visivelmente o olhar de revolta também se compartilhou entre pai e filho.Num país racista, muitas vezes ou quase sempre impiedoso diante de escolhas que ferem o padrão imposto pela sociedade, é frequente assistir notícias desumanas, como mais um homossexual espancado, por si só já gera uma revolta. Imensurável, em todas as suas proporções, é testemunhar algo do tipo. Se colocar no lugar do agredido e sem tempo de recuperação, erguer a cabeça, consciente que irá encarar cedo ou tarde outra covardia como aquela.Evitando qualquer ruído, pisei de mansinho indo em linha reta para o meu quarto, assim
— As coisas não são bem assim, Aurora — ele sussurrou, e o pedido cálido que veio a seguir explodiu em faísca no meu corpo e, principalmente, no meio das minhas pernas. — Acha mesmo que foi só mais uma para mim? Garota, você realmente não compreende, seu gosto ainda alimenta o meu paladar, provar sua carne, definitivamente me tornou exigente. Eu quero você, preciso deliciar-me com calma do seu corpo e, quem sabe, talvez, consiga me liberar desse tesão.Oh, Deus!Esfreguei as coxas e umedeci os lábios, impossível controlar a devoção e a devassidão quebrando minha resistência, o ar vulcânico ultrapassando as linhas existentes da ligação.— Está no seu quarto agora? — Timbre rouco, exigente.— Por quê?— Só me responde em qual cômodo está?Arfei, onde
Domingo, dia de dormir até não querer mais, até parece, avisem a maldita insônia que não permitiu que eu pregasse os olhos me mantendo acordada até às seis da manhã, portanto, sem me prolongar na cama, levantei decidida a correr. Mamãe quase vomitou o café da manhã de tanto que riu quando me viu de calça legging e top. Precisava urgentemente liberar a adrenalina e uma atividade física faria o papel de esgotar o meu corpo, visto que minha mente tripudiava, me instigando a querer vocês sabem quem.Resumindo o rolê, eu estava a ponto de explodir.Nem cronometrei os quilômetros que percorri, parei assim que a exaustão fraquejou as pernas, apoiei a palma da mão em uma árvore, uma das poucas do meu bairro pobre em paisagismo e rico em poluição, deixando a cabeça pesar à frente do corpo. Tomei fôlego como se o ar me faltasse no peito. Em seguida, decidi caminhar tranquilamente de volta ao meu prédio. Isso se o universo não gostasse de gozar com a minha cara. Veja bem, a estrutura esgotada, s