Alex
— Desculpe, não foi minha intenção invadir seu espaço. — Terminei de amarrar o lenço em sua mão. Ele sorriu levemente e puxou sua mão com calma, apesar de constrangido, foi gentil. — Obrigado, mas está tudo bem. Preciso ir, por favor me diga quanto foi o café. — Apressou-se pegando a carteira de dentro da mochila. — Deixe-me pagar pelo serviço da lavanderia também, sua camisa… — Não precisa, foi só um acidente — o interrompi. Seus olhos negros me encararm por um momento e achei intrigante a forma que me olhou. Era um rapaz bonito, devia ter seus vinte e poucos anos, claramente, um estudante universitário. — Desculpe-me. — Ele ajeitou sua bolsa em um dos ombros e saiu apressado. Olhei para o chão e percebi que havia um pequeno caderno. — Espere! — Tentei chamá-lo, mas ele foi rápido e já estava longe. Que japonês assustado! Mas me pondo em seu lugar, acho que também me assustaria se um homem estranho me tocasse no meio da rua. Bem, no fim, eu fui o errado que não prestei atenção. Peguei o caderno e tentei limpar os vestígios de café, felizmente, não manchou as folhas de dentro. E agora, como vou devolver? Recolhi as coisas do chão e suspirei, tinha ficado sem meu café e com minha camisa branca manchada, só me restava entrar novamente na cafeteira. O que era uma droga, estava lotada. *** Yuki Minha mão estava quente, nem tirei o lenço que aquele homem amarrou. Estava atrasado, ontem estudei até tarde, não ouvi o despertador e Kaito não me acordou, aquele idiota, me deixou dormindo e saiu para o trabalho com a conciência limpa. Nem sempre é bom ter ele como irmão. Fiz tudo com tanta pressa que saí de cabelos molhados e ainda esbarrei naquele homem. Foi tão vergonhoso, todos olharam. Pegar na minha mão daquela maneira foi inesperado, confesso que me assustei, mas ele com certeza não era japonês, os olhos tão azuis e os cabelos que pareciam ser loiro natural denunciavam isso. Um homem bonito. Respirei aliviado por conseguir chegar antes do professor. Ainda normalizando a respiração, depois de praticamente correr, procurei meus amigos na grande sala. — E aí? — Ito me comprimentou assim que sentei ao seu lado. — Oi docinho, chegou tarde. — Rina sorriu, ao lado de Ito. Eram um casal exótico. Ela com os cabelos pintados de vermelho e ele de azul. — Bom dia, perdi a hora. — O que foi isso na sua mão? — Rina puxou minha mão sem delicadeza. — Não é nada. — Yuki, isso está feio. O que foi? Se queimou? — Caiu café quente, mas já está melhor, sério, não precisa se preocupar. — Claro que precisa! Isso vai criar bolhas se não usar uma pomada. Vamos na enfermaria. — Rina, o professor já vai entrar — questionei, mas sabia que ela era insistente, tanto que me ignorou e apenas olhou para o namorado antes de dizer: — Explique que fomos na enfermaria, ele não pode nos impedir de entrar depois. Anda, vamos logo. Não adiantava discutir, Rina era simplesmente impossível quando queria e bem, realmente precisava cuidar daquilo, não queria que ficasse marcado. — Como isso aconteceu? — Rina olhou-me por um momento enquanto seguíamos pelo corredor. — Foi um acidente na rua. Esbarrei em um homem que estava levando um café quente. — E ele? Se queimou também? — Aparentemente, só sujou a camisa. Espero não ter causado problemas, ele devia estar indo para o trabalho. — Olhei o lenço que tinha uma delicada letra bordada. Seria a inicial do seu nome? Eu também não consigo esquecer aquela expressão preocupada. — Ele nem me deixou pagar pelo café e a lavagem da camisa, eu estava tão atrasado que aceitei. — Foi muito gentil da parte dele. — Mas a culpa foi minha. — Isso me deixava desanimada, detestava me meter nessas situações. — Você e seu coração mole! — Deu-me um leve empurrão em meu ombro. — Por isso que as pessoas querem se aproveitar de você e dessa sua carinha de anjo. — Não é assim — reclamei. Rina exagerava às vezes. — Eu tenho provas. Quer que eu cite cada uma? Quis revirar os olhos, mas não iria discutir sobre algo que ela tinha um pouco de razão. Só um pouco. Na enfermaria, foi passada uma pomada e depois, minha mão foi enfaixada para proteção, mas sempre que possível teria que tirar para minha pele respirar. Não pensei que fosse sério, mas aparentemente, minha pele era muito sensível. Aquela mão enfaixada iria me atrapalhar. Quando se trabalha em lojas de conveniências, acabamos fazendo de tudo. Não que fosse um problema, era um emprego bom para o momento, eu tinha um salário para custear o mínimo das minhas necessidades. Mesmo que tivesse bolsa integral, tinha despesas. Moro com meu irmão, é um apartamento simples em um condomínio, um bairro tranquilo. Kaito já se formou e atualmente está em busca de uma promoção na empresa que trabalha. Não podemos nos queixar do seu salário atual, mas ele almeja crescer profissionalmente e se esforça bastante, acredito muito que vá conseguir. — Cheiro de macho alfa — Rina murmurou ao meu lado e voltei à realidade. Franzi o cenho ao me dar conta que ela tinha cheirado o lenço. Olhei para trás no corredor vazio. Melhor que ninguém visse ela fazendo coisas estranhas. — Esse perfume tem cheiro de homem bonito e másculo. Ele é bonito? — Hã… acho que sim. — Fiquei um pouco constrangido ao dizer. — Acha? Conta logo, Yuki. Ele é bonito, não é? — Bom, sim, ele é bonito. — Meu rosto esquentou e quis escondê-lo do seu olhar cheio de interesse. Eu devia ter ficado calado.Yuki — Eu sabia! Um homem que usa um perfume desses tem que ser bonito. E como ele é? Quero detalhes. — E pra quê? Foi só um homem que esbarrei na rua. — Ah, nunca se sabe se vão se encontrar de novo. — Rina, não delire. Não há a menor possibilidade de vê-lo novamente. — Quem é que sabe? Às vezes ele pode ser seu verdadeiro amor. — Que frase mais brega. — Acabei rindo, sua imaginação não tinha limites. — De onde tirou isso? — Amor à primeira vista existe, sabia? Mas não desconversa, quero detalhes do tal homem, anda, estamos chegando na sala. — Ok — Suspirei em desistência. — Ele é alto, loiro e tem olhos azuis. — Só isso? — Só. O que mais você quer que eu diga? — Ah, sei lá! Poderia dizer que ele é um gato, um puta de um gostoso, que tem um corpo daqueles, a boca gostosa… — Por Deus, Rina. Não continue, sinto vergonha. — Yuki, só estou desempenhando meu papel de amiga. Há quanto tempo você não namora? Você precisa arrumar um amor, de preferência um homem lindo e gostos
Yuki — Bem… — Olhei-o um pouco perdido e ele tomou a frente ao responder com um grande sorriso. — Me chamo Alex. Não somos amigos. Ainda — enfatizou, o que aumentou meu constrangimento. — Apenas nos esbarramos hoje de manhã em um pequeno acidente. — Apresentou-se curvando seu corpo para frente levemente, mas era desajeitado, de certa forma, engraçado. — Me chamo Matsumoto Rina, este é meu namorado Takeru Ito, somos amigos do Yuki. E, bom, estamos com um pouquinho de pressa... então, com licença. Nós nos falamos depois, Yuki. Foi um prazer te conhecer, Alex-san. Rina acenou e simplesmente saiu arrastando Ito. Eu não sabia onde enfiar a cara, ela fez de propósito. — Desculpe por isso — meu murmúrio saiu um pouco pesado. — Não tem problema. Yuki, não é? — Meu nome soou um pouco diferente no seu sotaque e confirmei com um aceno estranhando a informalidade que somente meus amigos e família tinham comigo. — Eu vim devolver seu caderno, caiu naquela hora. Precisei abrir para p
Alex O almoço foi servido e conversamos um pouco mais. Desejei tê-lo como amigo. Apesar da nossa clara diferença de idade, nossos assuntos eram compatíveis, Yuki pareceu ser muito maduro para um jovem universitário, claro, isso era um julgamento errado da minha parte, não devemos generalizar, além disso, eu não podia comparar seus costumes com os do meu país de origem. — Você foi a primeira pessoa que tive uma conversa informal e fora do trabalho. — confessei já bem mais a vontade. — Apesar do encontro incomum. Foi desastroso. — Olhei sua mão enfaixada que segurava o hashi e senti a consciência pesar. — Mas diante de tantas coisas que preciso resolver no momento, relaxei um pouco com esse almoço. — Ah, falando nisso… seu lenço, ainda não pude lavar. Se não for um problema pode me passar um endereço? Gostaria de mandar entregar assim que possível. — Não precisa ter esse trabalho, só jogue fora. Eu ainda não tenho endereço, estou em um hotel enquanto procuro um apartamento. Está me
Alex Estava feliz com minha nova realidade: um apartamento pequeno com apenas um quarto, cozinha e banheiro. Ele, certamente, era do tamanho do meu antigo banheiro. O clima era agradável pois o piso em madeira clara e as lâmpadas amarelas me passavam conforto. Encarei minha mala ainda cheia no meio do quarto. Não tinha cama, tudo o que tive tempo de providenciar foi um futon, travesseiro e um cobertor. Tinha um pequeno armário que fazia parte do apartamento, também estava incluído um ar condicionado e aquecedor. Os armários da cozinha e geladeira também faziam parte do pacote, bem, mas não cabia muito no pequeno corredor. De certa forma, era funcional o mesmo corredor que trazia para o quarto ser a cozinha, o banheiro com a porta ao lado, tinha um tamanho suficiente para caber uma máquina de lavar. Uma pequena varanda é separada do quarto por uma porta de vidro. Nunca vivi em um lugar tão pequeno como esse e pensando bem… Por que as pessoas precisam morar em locais tão grandes
Alex Depois de minimamente apresentável, voltei para o quarto, Kaito já tinha retornado e os dois estavam sentados no chão, no meio, xícaras de café e a torta. Acompanhei e procurei uma posição confortável. Como eles podiam ficar tão relaxados no chão? Bem, eu era muito mal-acostumado. — Alex-san, trabalha com o quê? — perguntou Kaito. — Em uma agência de publicidade, no setor administrativo. — Yuki me disse que está há pouco tempo aqui. Está gostando do Japão? — Sim, apesar de não ter organizado meu tempo para sair e conhecer. — Podemos te dar umas dicas de lugares interessantes para ir. — Agradeço. Assim que organizar meus horários com certeza irei precisar. É bom ter uma amizade aqui, ainda mais vizinhos. — Peguei um pedaço de torta e levei à boca, suspirei com o sabor, estava muito bom. — Isso aqui está muito bom! — falei praticamente de boca cheia. — Yuki quem fez, ele é um ótimo cozinheiro. Bem, eu também me viro, mas ele tem um dom, eu acho. Não precisava o
Alex — Faz tempo que trabalha aqui? — Puxei assunto. — Sim, pouco mais de dois anos. — E seus pais? Sua família mora aqui nessa cidade? — Não, eles vivem em uma bem distante daqui. — Imagino que deva sentir falta. — Um pouco, mas nos acostumamos com tudo, até com a ausência. — Sim, é verdade. — E você? Por que o Japão? — Oportunidades. Surgiu a oportunidade de trabalhar aqui e achei que seria bom. — Está se adaptando bem? — Não tão rápido como gostaria. — Deve ser difícil manter contato com seus amigos e familiares, devido a diferença de horário. — Nem tanto, mas não tenho tantos amigos assim e minha família precisa se adaptar também. — Isso soa solitário. — De certa forma, sim. — Entendo, eu não ligo muito por não ter família por perto, é melhor assim. — Fiquei surpreso com seu pequeno desabafo. — Agora você é quem parece solitário. — Ri, devolvendo seu comentário. — Sempre fui assim, gosto de ficar sozinho a maior parte do tempo. — Quantos ano
Alex— E aí? Como foi a mudança? — Emi perguntou animada assim que entramos na minha sala.— Foi a mudança mais prática que já vi. — Ouvi o rangido da cadeira acolchoada quando joguei meu peso, relaxando as costas. — É muito fácil fazer uma mudança quando se tem apenas uma mala de roupas.— Certamente! Mas e o apartamento? É tão pequeno quanto as fotos mostravam? — Puxou a cadeira do outro lado da mesa para sentar-se.— É. Mas achei ótimo. — Liguei o computador e depois, olhei para minha chefe e sócia da minha mãe.Emi era uma mulher apenas alguns anos mais velha do que eu, mas sua aparência dizia que não. Seus cabelos curtos e lisos combinavam com a boa imagem que se orgulhava de conseguir manter. Era uma japonesa vaidosa, sempre de maquiagem, roupas elegantes e mais ousadas para o padrão feminino daqui, ela parecia uma artista. Nossa relação foi boa desde o primeiro dia, ela consegue me deixar à vontade e mostra sinceridade. Emi não tem meias palavras, ela também não segue os costu
AlexFoi uma manhã produtiva, saí uns dez minutos antes para chegar a tempo na estação, nosso ponto de encontro. Tinha apenas a hora do almoço. Podia ter resolvido pela Internet, mas não queria usar muito meu cartão e nem fazer transações bancárias. Eu tinha reservado uma boa quantia em espécie que separei com antecedência, me senti um foragido tentando não ser rastreado.De longe, avistei Yuki, era inconfundível e parecia despreocupado, pois mantinha as mãos nos bolsos. — Oi, desculpe a demora. Faz tempo que chegou? — perguntei, um pouco afobado devido a pressa.— Não, uns cinco minutos.— Que bom, podemos ir então, depois paramos para comer algo. Tudo bem por você?— Sim.Nós pegamos o metrô até a próxima estação, seguimos em um confortável silêncio. Quem diria que em algum momento na vida iria achar o silêncio confortável, mas era assim que me sentia ao lado dele.Yuki me levou a um grande shopping, deixei-o livre para escolher praticamente tudo, pareciamos recém-casados comprand