Alex Estava feliz com minha nova realidade: um apartamento pequeno com apenas um quarto, cozinha e banheiro. Ele, certamente, era do tamanho do meu antigo banheiro. O clima era agradável pois o piso em madeira clara e as lâmpadas amarelas me passavam conforto. Encarei minha mala ainda cheia no meio do quarto. Não tinha cama, tudo o que tive tempo de providenciar foi um futon, travesseiro e um cobertor. Tinha um pequeno armário que fazia parte do apartamento, também estava incluído um ar condicionado e aquecedor. Os armários da cozinha e geladeira também faziam parte do pacote, bem, mas não cabia muito no pequeno corredor. De certa forma, era funcional o mesmo corredor que trazia para o quarto ser a cozinha, o banheiro com a porta ao lado, tinha um tamanho suficiente para caber uma máquina de lavar. Uma pequena varanda é separada do quarto por uma porta de vidro. Nunca vivi em um lugar tão pequeno como esse e pensando bem… Por que as pessoas precisam morar em locais tão grandes
Alex Depois de minimamente apresentável, voltei para o quarto, Kaito já tinha retornado e os dois estavam sentados no chão, no meio, xícaras de café e a torta. Acompanhei e procurei uma posição confortável. Como eles podiam ficar tão relaxados no chão? Bem, eu era muito mal-acostumado. — Alex-san, trabalha com o quê? — perguntou Kaito. — Em uma agência de publicidade, no setor administrativo. — Yuki me disse que está há pouco tempo aqui. Está gostando do Japão? — Sim, apesar de não ter organizado meu tempo para sair e conhecer. — Podemos te dar umas dicas de lugares interessantes para ir. — Agradeço. Assim que organizar meus horários com certeza irei precisar. É bom ter uma amizade aqui, ainda mais vizinhos. — Peguei um pedaço de torta e levei à boca, suspirei com o sabor, estava muito bom. — Isso aqui está muito bom! — falei praticamente de boca cheia. — Yuki quem fez, ele é um ótimo cozinheiro. Bem, eu também me viro, mas ele tem um dom, eu acho. Não precisava o
Alex — Faz tempo que trabalha aqui? — Puxei assunto. — Sim, pouco mais de dois anos. — E seus pais? Sua família mora aqui nessa cidade? — Não, eles vivem em uma bem distante daqui. — Imagino que deva sentir falta. — Um pouco, mas nos acostumamos com tudo, até com a ausência. — Sim, é verdade. — E você? Por que o Japão? — Oportunidades. Surgiu a oportunidade de trabalhar aqui e achei que seria bom. — Está se adaptando bem? — Não tão rápido como gostaria. — Deve ser difícil manter contato com seus amigos e familiares, devido a diferença de horário. — Nem tanto, mas não tenho tantos amigos assim e minha família precisa se adaptar também. — Isso soa solitário. — De certa forma, sim. — Entendo, eu não ligo muito por não ter família por perto, é melhor assim. — Fiquei surpreso com seu pequeno desabafo. — Agora você é quem parece solitário. — Ri, devolvendo seu comentário. — Sempre fui assim, gosto de ficar sozinho a maior parte do tempo. — Quantos ano
Alex— E aí? Como foi a mudança? — Emi perguntou animada assim que entramos na minha sala.— Foi a mudança mais prática que já vi. — Ouvi o rangido da cadeira acolchoada quando joguei meu peso, relaxando as costas. — É muito fácil fazer uma mudança quando se tem apenas uma mala de roupas.— Certamente! Mas e o apartamento? É tão pequeno quanto as fotos mostravam? — Puxou a cadeira do outro lado da mesa para sentar-se.— É. Mas achei ótimo. — Liguei o computador e depois, olhei para minha chefe e sócia da minha mãe.Emi era uma mulher apenas alguns anos mais velha do que eu, mas sua aparência dizia que não. Seus cabelos curtos e lisos combinavam com a boa imagem que se orgulhava de conseguir manter. Era uma japonesa vaidosa, sempre de maquiagem, roupas elegantes e mais ousadas para o padrão feminino daqui, ela parecia uma artista. Nossa relação foi boa desde o primeiro dia, ela consegue me deixar à vontade e mostra sinceridade. Emi não tem meias palavras, ela também não segue os costu
AlexFoi uma manhã produtiva, saí uns dez minutos antes para chegar a tempo na estação, nosso ponto de encontro. Tinha apenas a hora do almoço. Podia ter resolvido pela Internet, mas não queria usar muito meu cartão e nem fazer transações bancárias. Eu tinha reservado uma boa quantia em espécie que separei com antecedência, me senti um foragido tentando não ser rastreado.De longe, avistei Yuki, era inconfundível e parecia despreocupado, pois mantinha as mãos nos bolsos. — Oi, desculpe a demora. Faz tempo que chegou? — perguntei, um pouco afobado devido a pressa.— Não, uns cinco minutos.— Que bom, podemos ir então, depois paramos para comer algo. Tudo bem por você?— Sim.Nós pegamos o metrô até a próxima estação, seguimos em um confortável silêncio. Quem diria que em algum momento na vida iria achar o silêncio confortável, mas era assim que me sentia ao lado dele.Yuki me levou a um grande shopping, deixei-o livre para escolher praticamente tudo, pareciamos recém-casados comprand
Alex Minha conclusão foi apenas para fortalecer o que eu já tinha pensado antes. Yuki realmente estava doando sua amizade e tempo para mim. Ele não sabia do meu status, para ele, eu era apenas uma pessoa comum e trabalhadora que estava lutando para começar sua vida em um lugar novo. Quando tirei um maço de dinheiro do bolso para pagar as compras, ele só perguntou porque eu não usava um cartão ou aplicativo. Eu desconversei na hora, disse que ainda estava resolvendo algumas burocracias e que esse dinheiro era minhas economias. Aparentemente, ele acreditou. Não gostava de mentir, mas era um mal necessário. Um "mal necessário" que me fez sentir muita culpa; o peso na consciência era enorme, uma voz martelava em meus pensamentos, dizendo-me o quanto aquilo era errado, que eu ainda ia me arrepender por mentir para ele daquela forma. Desejei tanto alguém honesto e agora eu que estava agindo errado. Yuki não parecia ter ambições complicadas, ele e o irmão tinham os pés bem firmes no c
Alex— Certo, não tenho como argumentar agora. — Sentei-me no chão ao seu lado. Como imaginei, o papel era o manual de montagem da escrivaninha. — Está muito difícil?— Um pouco, tem muitas peças. — Acho que devemos começar por aqui. — Apontei para uma parte do esquema descrito no manual.Yuki estava empenhado em montar aquele móvel, o mínimo que podia fazer era ajudá-lo, já que era meu. Depois de ler aquele manual do início ao fim, ele iniciou a montagem, começando pelas peças menores. Se o manual fosse seguido à risca, não teria erros, essa era a minha lógica, contudo, mais uma vez, eu nunca tinha feito nada parecido nessa vida.Senti vontade de rir de mim mesmo.Estava empolgado e atento a cada detalhe. A escrivaninha tinha gavetas e um pequeno armário, o material que imitava a madeira era claro e combinava com o apartamento, apesar
AlexMorar sozinho tinha alguns benefícios, muitos na verdade, mas também tinha desvantagens: como não ter para quem dar um bom dia, ou não ter companhia para o jantar. Porém, minha luta diária para curtir momentos sozinhos continuava.A rotina seguia igual há pelo menos vinte dias. Saía cedo para trabalhar e à noite, quando retornava, continuava a trabalhar, afinal, não pedi demissão da minha própria empresa. Meu pai era muito ativo, seguia no comando e não iria abrir mão do meu papel.Quando tomei a decisão de sair de Nova York, concordei em continuar com algumas obrigações, era o que eu fazia quando chegava em casa, sempre estava com minha caixa de e-mails abarrotada.Como fazia tudo isso?Dava um jeito. Havia decisões que só cabiam a mim.Eu me limitava até um certo horário, já que quando eu tinha que estar indo dormir, lá em Nova York estava a todo vapor, afinal, eram quatorze horas de diferença entre os dois lugares.Suspirei. Ainda era cedo, o clima estava bem agradável e um po